sábado, 28 de fevereiro de 2015

Dilma Mãos de Tesoura

A navalha impiedosa de Dilma Rousseff continua à solta. Para corrigir os erros que reiteradamente cometeu nos últimos anos, e nega-se a admitir, o governo da presidente está tendo que produzir um sangrento ajuste fiscal. Investimentos, benefícios sociais e medidas de incentivo ao emprego estão entre os alvos preferidos dos cortes.

O ajuste fiscal recessivo do governo do PT congelou um naco considerável do Orçamento da União. A novidade veio publicada no Diário Oficial da União de ontem; ninguém do governo teve coragem de pôr a cara para anunciá-la.

Quando o corte é projetado para o ano, as estimativas sobre o valor subtraído variam de R$ 57 bilhões a R$ 80 bilhões. Será o maior dos últimos 15 anos.

Em termos relativos, são cerca de 20% do orçamento federal, levando para o ralo vitrines que antes eram apresentadas pelo discurso petista como intocáveis, como o PAC e o Minha Casa Minha Vida.

Dilma não está para brincadeira. Mas, como manejar contas públicas com responsabilidade não é a praia dela, suas investidas vão deixando cicatrizes feias pelo caminho. É “de chorar”, segundo gente da cozinha do Palácio do Planalto ouvida por O Estado de S. Paulo. Os brasileiros que pagam a conta que o digam...

A presidente continua fazendo suas maldades sem assumir suas responsabilidades no ajuste fiscal, e sem sequer referendar publicamente as políticas recessivas que mandou Joaquim Levy tocar adiante. Sua relutância torna as “medidas corretivas”, como ela se refere às navalhadas, mais sangrentas.

Se o ajuste fosse crível, Dilma não teria de estar desdobrando as medidas fiscais de maneira a encontrar receitas que não existem ou cortar despesas que estão no osso – em janeiro, a arrecadação caiu, os investimentos despencaram 35% e o saldo fiscal foi o menor dos últimos seis anos.

Assim acaba sobrando para o contribuinte. Além do aperto nos gastos e dos cortes nos investimentos, hoje vieram mais maldades, saídas do saco da presidente na forma de aumento dos impostos sobre a folha de salários. As alíquotas mais que dobrarão a partir de junho. Reverte-se, desta forma, parte da política de desoneração adotada nos últimos anos.

Outras ações de incentivo ao investimento – como o PSI e o Reintegra – também irão retroceder, num vai e vem capaz de colocar mais trabalhadores sob o risco do desemprego – que já subiu com força em janeiro e deve continuar a escalar.

Estamos diante da confissão e da prova cabal de que a política econômica que vigorou nos últimos anos no país fracassou rotundamente. O comportamento irresponsável da presidente ora acaba por determinar o preço da desconfiança, aumentar o sacrifício da população e diminuir as chances de êxito. É difícil crer que agora vá dar certo.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Os bolivarianos daqui

Se é preocupante a escalada autoritária que vem acontecendo na Venezuela, não é menos temerário o que as forças de apoio ao governo do PT ensaiam fazer aqui no Brasil. Os bolivarianos daqui estão prontos para deflagrar guerras. A truculência é a arma preferida de quem perdeu a razão.

A estridência do petismo e de seus satélites ditos “sociais” aumenta à medida que explode a dimensão da roubalheira e do desgoverno. Sobe de tom na mesma proporção em que o governo reeleito revela-se um engodo absoluto. E vai às raias da loucura quando percebe que a sociedade brasileira cada vez mais rejeita o modo PT de governar.

Mas o fator com maior capacidade de incendiar a ira dos carbonários petistas são as ameaças a seu líder-mor, Lula. Bastou surgir e crescer o temor de que as investigações sobre a roubalheira na Petrobras poderiam chegar até as barbas do ex-presidente que a turma se assanhou para valer. Agora querem briga a qualquer custo.

Não chega a ser nenhuma novidade a beligerância de agrupamentos como o “exército do Stédile”, a CUT ou a FUP, sempre prontos a deflagrar confrontos com quem consideram adversários do projeto de poder que integram. Afinal, o que lhes interessa é manter azeitados os canais que irrigam sua contabilidade e financiam sua existência.

Grave mesmo é quando um ex-presidente da República resolve fazer as vezes de chefe deste tipo de falanges. Este é o papel a que Luiz Inácio Lula da Silva tem se prestado desde que abandonou a reclusão em que se manteve durante meses, enquanto a crise consumia Dilma Rousseff. Por que será? O que tanto ele teme para vociferar desta maneira?

Contra a triste realidade que se revela a cada dia, envolvendo não apenas a estatal de petróleo, mas também o imenso aparato corrupto instalado pelos petistas no seio do Estado, não se ouve argumentos. Só a tática do desespero.

Sobre a destruição da Petrobras, nenhuma manifestação razoavelmente equilibrada. Tão somente manifestos de “intelectuais” (haja aspas) faixa branca sempre dispostos a defender o indefensável. Será que padecem da “falta de conhecimento” sobre a situação da empresa que a presidente Dilma Rousseff atribui às agências de crédito que rebaixaram a companhia?

Agora já se cogita até a venda das sagradas reservas do pré-sal, aquelas mesmas que o PT acusava a oposição de querer “entregar” para estrangeiros e capitalistas insaciáveis. Já se fala também em novo socorro do governo à empresa, com farto recurso público. O que os bolivarianos daqui têm a dizer a respeito?

Quando o mau exemplo vem de cima, os partidários da truculência se sentem autorizados a partir para a “porrada”, como defende gente do primeiro escalão do PT. Mas o Brasil que não concorda com isso, e que é o Brasil da maioria, responderá à baixaria lutando por mais cidadania, mais democracia, mais decência, paz e mais respeito ao país. Aos bolivarianos daqui restará a Venezuela como consolo, ou como destino.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Petrobras em queda livre

Aconteceu o esperado e a Petrobras teve sua nota de crédito rebaixada ontem pela agência de classificação de riscos Moody’s. A maior empresa pública do Brasil é agora considerada investimento especulativo, no mesmo saco de outras moedas podres. O que já está ruim demais pode ficar muito pior.

A consequência imediata para a empresa é perder investidores, pagar juros mais altos, ver seu crédito na praça secar e ter seu plano de expansão ainda mais comprometido. Seu valor de mercado deverá continuar despencando. O futuro da estatal não é nada venturoso.

A Moody’s alegou três razões para rebaixar a Petrobras: atraso na divulgação do balanço, alto endividamento e corrupção. É, portanto, uma mistura indigesta de má gestão e roubalheira. A estatal já se tornou case global de como destruir patrimônio.

De uma vez só, a companhia decaiu dois degraus na escala de crédito da Moody’s, algo incomum. Desde 2005, a Petrobras desfrutava da condição de grau de investimento. Isso deixa claro, de uma vez por todas, que quem elevou a empresa a seu patamar mais alto foram as políticas públicas e estratégias de gestão implementadas no governo do PSDB. As da administração do PT a afundaram.

A perspectiva de a Petrobras retomar a condição de grau de investimento, ou seja, de empresa confiável aos olhos dos investidores, é distante e, analisada de hoje, pequena. O mais provável é a empresa descer ainda mais na escala, e ser também rebaixada pelas demais agências de riscos – o que deve acontecer em questão de dias.

A dificuldade de conseguir publicar um balanço confiável em tempo hábil também põe a companhia sob risco de ir à bancarrota, obrigada a adiantar pagamentos para os quais não dispõe de recursos. No rastro, cairá também a nota de crédito do país, como bola de neve.

A gestão petista jogou todas as suas fichas para tentar evitar o rebaixamento. Joaquim Levy hipotecou sua credibilidade junto à agência, mas de nada valeu. As garantias de socorro à Petrobras oferecidas pela equipe de Dilma em caso de insolvência foram rechaçadas. O ativo do governo brasileiro foi rejeitado e tratado como moeda podre.

A decisão da Moody’s também é a primeira reação explícita dos investidores às péssimas escolhas da presidente da República para o comando da estatal. Dilma perdeu chance de ouro para reverter expectativas deterioradas quando substituiu a diretoria envolta em corrupção. A opção pelo camarada Aldemir Bendine pôs tudo a perder.

A resposta petista à destruição da Petrobras vem na forma da truculência explicitada nas fotos estampadas nas primeiras páginas dos jornais de hoje. Se já não há mais argumentos racionais a sustentar o desastre e a defender a roubalheira, a ordem, endossada por Lula, é apelar para o grito e para a força. É o urro dos derrotados que se faz ouvir.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Não ao ‘impostaço’ do PT

O Congresso tem hoje excelente oportunidade para dar resposta a mais uma das maldades do governo do PT. Basta derrubar o veto da presidente Dilma Rousseff à correção de 6,5% da tabela do imposto de renda, aprovado por deputados e senadores no fim do ano passado. Os brasileiros não aguentam pagar tanto imposto.

O governo insiste na possibilidade de reajustar a tabela em, no máximo, 4,5%. Trata-se de proposta anunciada pela presidente em rede nacional de rádio e televisão em abril do ano passado, mas cuja medida provisória foi deixada ao relento pelo governo até caducar em agosto, sem ganhar eficácia.

Desde 2007, a tabela é reajustada apenas com base na meta de inflação. Desde então, só em duas ocasiões (2007 e 2009) não apanhou feio da escalada de preços. A defasagem acumulada no período soma 9,1%; só nos anos de governo Dilma, são 6,5%. É dinheiro tungado dos assalariados.

Na sexta-feira, a presidente disse que “nunca deixou de esconder” que só daria 4,5%... Em janeiro, Dilma vetou também o aumento da parcela de vencimentos isenta e dos valores deduzidos por dependentes e com despesas com educação. Sem a devida correção da tabela, mais gente passa a pagar imposto e gente que já pagava paga ainda mais.

O governo do PT argumenta que não tem dinheiro para bancar reajuste maior que os 4,5%. Ora, a diferença entre um percentual e outro é de R$ 2,6 bilhões, uma fração do que o petismo distribuiu nos últimos anos para os amigos do rei beneficiados com desonerações fiscais seletivas ou empréstimos camaradas do BNDES.

O discurso oficial alega que a arrecadação caiu em 2014, o que inviabilizaria a correção com base na inflação. É verdade, mas as razões da queda estão em escolhas do próprio governo – como a já citada política de desonerações, que levou R$ 104 bilhões – e na recessão econômica. Por que, então, o trabalhador é quem tem que pagar o pato?

impostaço já foi posto em marcha pela gestão petista. A alta do PIS/Cofins sobre combustíveis deixou a gasolina uns 9% mais cara neste mês. Também já subiu o IOF sobre créditos concedidos a pessoas físicas, o IPI sobre automóveis e, em junho, entrarão em vigor novas alíquotas de PIS/Cofins para importados e para produtos cosméticos. A mordida alcançará R$ 27 bilhões. A retomada da CPMF também está na mira.

Se não for posto um freio na sanha tributária petista – que já elevou a carga em cerca de três pontos do PIB desde 2011 – o céu será o limite. Quem mais sofre são os mais pobres. As próximas vítimas podem ser os prestadores de serviço, ameaçados pela ressurreição da famigerada MP 232, derrubada no Congresso em 2004 e ora reconsiderada. Não é nas costas dos mais fracos que deve recair a conta das irresponsabilidades cometidas pelo PT.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A mãe do petrolão

Dilma Rousseff finalmente deixou de lado um silêncio que já durava dois meses. Diante do que falou na última sexta-feira, porém, melhor teria feito se tivesse continuado calada.

Se ainda havia dúvidas, a presidente da República mostrou não estar à altura do cargo que ocupa e dos desafios que precisa vencer. Mais parece uma marionete, num momento em que o país clama por um líder.

Depois de seu mutismo, esperava-se que Dilma reaparecesse para dar ao país sua visão sobre os rumos que pretende imprimir ao governo para superar as enormes dificuldades que ela mesma criou para os brasileiros. Mas não; o que se viu foi uma presidente se comportando como animadora de auditório, líder de torcida, chefe de facção.

Afirmar que o problema da roubalheira da Petrobras repousa no que supostamente aconteceu na empresa quase duas décadas atrás é afrontar a inteligência dos brasileiros, desrespeitar a nação e zombar das instituições. Mais que isso, desnuda a inaptidão da presidente para estar na função que exerce. Dilma não está à altura do Brasil.

Culpar o passado é a saída mais óbvia de quem está mergulhado num presente de apuros. Como presidente do conselho de administração da Petrobras por quase oito anos, Dilma foi uma espécie de mãe do petrolão. Cabe a ela e ao PT responder pelos 12 anos de assalto do partido à empresa, durante os quais, segundo revelações da Operação Lava Jato, meio bilhão de reais foram desviados para os cofres petistas.

O PT teve três mandatos para apurar o que supostamente teria acontecido de errado no Brasil antes da chegada do partido ao poder, em especial na Petrobras. Se não o fez, das duas uma: ou não encontrou nada errado, o que é mais provável, ou não quis investigar e punir eventuais culpados, o que constitui crime de prevaricação. O óbvio: os problemas não estão no passado; estão no presente, vivíssimos.

A tática do “pega ladrão”, tão bem caracterizada pelo presidente Fernando Henrique, é usual no petismo. Sempre que flagrados com a boca na botija, o que tem sido cada vez mais comum, os partidários do mensalão e do petrolão dão um jeito de acusar seus acusadores e de culpar os mensageiros pelo teor ingrato das mensagens. Não cola.

O banditismo petista há muito deixou de ser novidade. O estarrecedor é a inépcia que a presidente da República demonstra para desempenhar suas funções e defender o interesse público. “Se não entendeu a dimensão e a natureza do ataque à Petrobras, como poderá sanear e proteger a empresa?”, sintetizou Miriam Leitão no domingo.

Dilma cumpre papel num script que lhe foi ditado pelo marketing e pelo seu tutor. Definitivamente não sabe o que fazer diante da roubalheira sistêmica que se espalhou no aparato estatal como cancro, sob seu nariz e com o seu beneplácito, institucionalizada pelo PT. Revela-se espectadora e não protagonista de seu governo.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Política deseducadora

Quando tomou posse em seu segundo mandato, Dilma Rousseff anunciou como seu novo lema “Brasil, Pátria Educadora”. Suas intenções, porém, não correspondem aos fatos. A educação tem sido reiteradamente maltratada pelo novo governo. A mentira deseduca.

Programas apresentados como vitrines na propaganda eleitoral do ano passado estão fazendo água: Pronatec, Ciência sem Fronteiras, Fies, além das bolsas concedidas pela Capes. Todos são vítimas da penúria orçamentária que Dilma 1 legou a Dilma 2.

Segundo a presidente, em seu discurso, o novo lema “reflete com clareza qual será a nossa grande prioridade e sinaliza para qual setor deve convergir o esforço de todas as áreas do governo”. Não é o que parece.

O Ministério da Educação foi o mais afetado pela tesoura do ajuste fiscal. Perderá nada menos que R$ 7 bilhões neste ano, como parte dos cortes no Orçamento da União para que o governo volte a produzir superávits.

Se, no atacado, o facão passou forte, agora se percebe que no varejo os cortes já estão deixando suas marcas. Repasses para cerca de 500 escolas técnicas do Pronatec estão atrasados desde outubro, informou ontem a Folha de S.Paulo. Depois do flagra, o governo prometeu liberar recursos emergenciais.

Tem mais. A partir deste ano, o acesso ao Fies, que financia cursos de graduação em faculdades pagas, será fortemente restringido, como parte dos cortes orçamentários definidos pelo governo do PT. Muitas instituições de ensino verão sua atuação inviabilizada, limitando o acesso de estudantes à educação superior.

Relatos de atraso no repasse de bolsas, seja da Capes, seja do Ciência sem Fronteiras, também tornaram-se comuns. Bolsistas de mestrado e doutorado não receberam o pagamento na data prevista entre novembro e janeiro. Mais de 423 mil educadores também estão sem receber bolsa desde novembro.

O beiço tornou-se prática corriqueira de gestão do governo Dilma. Segundo levantamento feito por Mansueto Almeida publicado na edição de hoje d’O Estado de S. Paulo, nada menos que R$ 6,6 bilhões em contas de custeio na área de educação foram empurrados de 2014 para este ano.

Despesas das áreas de saúde, trabalho e assistência social também sofreram calote, no valor total de mais R$ 11,3 bilhões, afetando programas como abono salarial e seguro-desemprego e ações como assistência hospitalar e ambulatorial.

Que a eleição de 2014 foi ganha à base de muitas mentiras já não é novidade. O que revolta é ver áreas fundamentais para a melhoria de bem-estar da população e para o progresso dos brasileiros serem impiedosamente trucidadas pela tesoura dos cortes petistas.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O advogado do diabo

Já há algum tempo José Eduardo Cardozo tem se notabilizado menos pelo cargo que ocupa há mais de quatro anos no governo federal e mais por sua postura como militante partidário. O ministro da Justiça mais parece o advogado do PT.

Nas últimas semanas, claramente como parte de uma tentativa palaciana de se contrapor ao descrédito que ronda a presidente Dilma Rousseff, Cardozo deu entrevistas em série aos jornais. Quase nada disse sobre sua função como ministro da Justiça; muito falou como articulador político.

Agora, com a revelação de que recebeu em seu gabinete advogados de empresas envolvidas em desvios de recursos públicos investigados na Operação Lava Jato, o papel de Cardozo como advogado do diabo se consolida. Sua missão é defender o PT.

A história veio a público no fim de semana pela mais recente edição da revista Veja. O ministro recebeu representantes de pelo menos três empreiteiras: a UTC, a Camargo Correa e a Odebrecht. Os encontros foram omitidos da agenda oficial, depois negados e só finalmente confirmados depois que a história vazou na imprensa.

Transparência, aliás, não é o forte da gestão Cardozo no ministério. Segundo a Folha de S.Paulo, sua agenda pública disponibilizada na internet não informa quais foram as atividades executadas pelo ministro em 80 dos 217 de trabalho transcorridos desde que a Operação Lava Jato foi deflagrada, em 17 de março de 2014. O que ele fez nestes dias?

Importantes assuntos à espera de Cardozo, o Ministério da Justiça tem aos montes. Desde a campanha eleitoral, promete-se um pacote de projetos de lei para coibir a corrupção entre agentes públicos. Nada sai. Da mesma forma, anuncia-se maior participação da União no combate ao crime, mas rigorosamente nada acontece.

Cardozo preferiu dedicar seu tempo a arrostar a oposição, quando tentou calar as legítimas críticas que ela faz ao governo e caracterizá-las como um “terceiro turno”. Dedicou-se a fazer proselitismo político, quando buscou misturar a roubalheira de agora com supostos episódios do passado.

É gravíssimo que o ministro da Justiça tenha entabulado com os advogados dos suspeitos uma dobradinha para que seus clientes desistissem de contar o que sabem sobre o esquema corrupto na Petrobras – como, por exemplo, ensaiava o empreiteiro da UTC. E pior ainda que tenha deixado no ar que, passado o Carnaval, as investigações irão se virar contra a oposição, “aliviando as agruras dos suspeitos”, segundo a revista.

Se quer mesmo atuar como político, melhor José Eduardo Cardozo fará se deixar o cargo que ocupa e dedicar-se à atividade partidária. Causas não lhe faltam no PT, atolado em processos volumosos e cabeludos nos tribunais. O partido do petrolão e do mensalão manterá seu causídico e o país poderá voltar a contar, enfim, com um ministro da Justiça.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Sombrias revelações

Mais uma vez em sérios apuros, novamente o PT tenta colocar de pé a teoria de que todos são iguais na imundice. Quando mais insiste em tentar nivelar a política brasileira por baixo, mais o partido do mensalão e do petrolão se vê enroscado em tenebrosas transações. Conosco não, violão!

Ontem veio a público novo depoimento de Alberto Youssef indicando que próceres de primeira linha do petismo eram responsáveis por recolher o dinheiro sujo desviado de contratos da Petrobras. Os drenos da corrupção não estavam enterrados apenas na lama; passavam dentro do Palácio do Planalto.

Segundo o doleiro, pelo menos dois ex-ministros da Casa Civil estiveram envolvidos no esquema: José Dirceu e Antonio Palocci. Diz muito de um governo e de um partido a revelação de que, no segundo cargo mais importante da hierarquia de poder, estava gente com este cabedal. (Não custa lembrar que uma terceira ocupante do cargo, Gleisi Hoffmann, também já caiu na rede dos investigadores.) O atual tesoureiro do partido também está enredado.

Não é de hoje que os petistas são matéria-prima do noticiário e de investigações policiais envolvendo roubalheiras, crimes e assaltos ao Estado. Desde que o PT só tinha logrado chegar ao poder em nível municipal, os escândalos se sucedem. Ganharam dimensão, aumentaram de proporção, mas a cepa marginal sempre esteve lá.

Nesta mesma semana em que novas transações tenebrosas envolvendo petistas vieram à tona, o Supremo Tribunal Federal arquivou inquéritos que investigavam a suposta participação de ex-secretários do governo tucano de São Paulo num suposto esquema de propina nas obras do metrô da capital. E o PT ainda quer misturar estes alhos com seus bugalhos.

Na campanha eleitoral, a candidata Dilma Rousseff ensaiou um mantra que repetia irritantemente a cada debate na televisão. Citava casos que supostamente indicariam corrupção em governos do PSDB e concluía, a cada um deles: “Todos soltos”. Buscava mostrar que, com ela, é tudo diferente: quem rouba é preso.

A diferença, porém, é de outra natureza: o grupo que está no poder desde 2003 tem no roubo seu modus operandi. Se noutros tempos a Justiça não mandou prender ninguém, é porque não encontrou o que justificasse a prisão. Se manda prender petistas agora à farta, é porque razões há. Esta é a diferença.

A retórica petista de que “faz o que todo mundo sempre fez” é velha. Desde que o PT foi flagrado no mensalão, os antigos vestais da política brasileira despiram a fantasia. O que aconteceu desde então não deixa dúvidas: o PT promoveu um carnaval no governo, esbaldou dinheiro público e montou no poder o maior bloco mafioso de que se tem notícia. Não adianta tentar arrastar todos para o mesmo buraco.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Bênção, padrinho

A presidente da República incluiu na sua agenda de compromissos para hoje, mas não o tornou público, um encontro com seu padrinho político. Dilma Rousseff parece não fazer a menor ideia sobre como exercer o papel para o qual foi reeleita em outubro. O que terá Lula a lhe ensinar, posto que carisma político não se transfere?

A princípio, Dilma tentou manter a conversa distante dos olhos da imprensa. Forjou uma agenda oficial em São Paulo no intuito de incluir o encontro com Lula entre um compromisso e outro, sem que ninguém soubesse. Como tem acontecido com tudo em que se mete, a presidente falhou no intento e a reunião dos dois petistas virou notícia.

Ao longo do primeiro mandato, foram frequentes estas sessões de aconselhamento. Quando o calo apertava, Dilma acorria a Lula. Passados quatro anos de gestão, a presidente parece ter aprendido pouco sobre o ofício e ainda depende do socorro do tutor. Pobre de um país que tem um governo assim. Nem 39 ministros dão jeito...

Mas, já que terá a oportunidade, Dilma poderá aproveitar a ocasião para aprender com Luiz Inácio Lula da Silva as artes de como pilotar a máquina de assaltar o Estado que ele instalou desde que o PT chegou ao poder. As recentes revelações da Operação Lava Jato mostram que o plano saiu fora do script e agora ameaça o projeto de poder petista. A presidente não tem sabido o que fazer.

Certamente Lula vai lhe sugerir as artimanhas que sempre adotou nos seus oito anos de governo: lotear cargos, distribuir benesses, ressuscitar párias da política, azeitar o balcão de negócios que une interesses privados a projetos políticos financiados com dinheiro público. Assim é o modelo de gestão de Lula.

É possível que o ex-presidente também avise Dilma que ele mesmo já está pondo em prática as velhas táticas de reação que usa quando vê o PT acuado: tentar igualar todos na lama; jogar o foco de denúncias no passado quando o presente está pegando fogo; posar de vestal e ameaçar com o rigor da Justiça quem ousa dizer a verdade. É o que capatazes do partido – com Rui Falcão e José Eduardo Cardozo à frente – já começaram a fazer.

Dilma está perdida, mas o PT não se dará por vencido. É quase certo que a presidente ouça de seu tutor que ele já se prepara para tentar voltar ao posto máximo da República daqui a quatro anos. A ela, cabe a função de fazer o serviço sujo, reverter os erros que cometeu e limpar o caminho para pavimentar a pretensão. Falta, porém, combinar com o eleitorado.

A narrativa faria todo o sentido não fosse por um motivo: a presidente é mera continuidade de Lula. Os equívocos, a corrupção e os descaminhos começaram lá. O ex-presidente se move para preservar o esquema criminoso de predação ao patrimônio público e manter o país na marcha a ré em que se meteu nestes últimos 12 anos. Dilma é coadjuvante.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O motor do emprego rateia

Durante muito tempo, o governo petista achou que a relativa higidez do mercado de trabalho seria seu salvo-conduto para manter os experimentos de laboratório no resto da economia. Com o fracasso, não só teve que revogar seu malfadado modelo, como vê agora a ameaça do desemprego despontar no horizonte.

Os números da Pnad Contínua para o desemprego em 2014 não foram o fim do mundo: a taxa média manteve-se em 6,8%, abaixo dos 7,1% de 2013. Indicam, contudo, que desde o segundo semestre a situação do emprego no país já vem mudando, para pior. No quarto trimestre, a desocupação já foi maior (6,5%) que a do mesmo período de 2013 (6,2%).

A qualidade do emprego no país está se deteriorando. As vagas geradas têm remuneração mais baixa e caráter mais precário. Nos dois últimos trimestres, foram eliminadas 374 mil postos de trabalho com carteira assinada. “O mercado não está favorável à geração de vagas”, resumiu a coordenadora do IBGE responsável pelo levantamento.

A população desocupada cresceu 6,6% no ano, o que significa mais 400 mil brasileiros sem emprego. O mercado já não consegue abrigar os novos contingentes que chegam à idade adulta prontos para trabalhar: no ano passado, enquanto a população ativa cresceu 2,7 milhões, a população ocupada aumentou apenas 993 mil.

A taxa de desemprego só não está mais alta ainda porque muita gente não se animou a ir em busca de uma oportunidade de trabalho. É o desalento. Com os dias mais duros que despontam à frente, devem ser forçadas a fazê-lo. Sem vigor, a economia brasileira não será capaz de absorvê-los e os índices subirão, infelizmente.

A taxa de 6,8% coloca o Brasil entre os países com nível de desemprego entre intermediário e alto – no Nordeste, a marca bate em 8,3%. O índice nacional está bem acima, por exemplo, do dos EUA (5,7%) e da Alemanha (4,8%) e próximo aos da Suécia (7%) e do Canadá (6,6%). Quando Dilma Rousseff diz que temos “uma das menores taxas de desemprego do mundo”, mente, mais uma vez.

Nas regiões metropolitanas, a situação é mais grave. Segundo o Caged, no ano passado a geração de empregos no país caiu 64% na comparação com 2013. O setor que mais sente o golpe é a indústria, que registrou queda de 3,2% na criação de vagas em 2014: 164 mil postos foram fechados. Foi o terceiro ano consecutivo de baixa e o pior desde 2009.

Caiu, portanto, o último bastião no qual o discurso petista se fiou ao longo dos últimos anos para, contra todas as evidências, tentar sustentar que estava fazendo o que era correto. Com o país a caminho da recessão, a melhoria das condições sociais estagnada e a economia parada, a máscara caiu. A experiência falhou e a conta sobrou para todos pagarmos. Sem emprego, vai ficar ainda mais difícil.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Dias piores virão

A avaliação que os brasileiros fazem da situação econômica e social do país está degringolando a olhos vistos. Infelizmente, porém, o pior ainda está por vir. O quadro atual está distante do que deverá ocorrer no país nos próximos meses, quando as maldades do governo petista estiverem valendo de verdade.

Por ora, os brasileiros vivem a ressaca de uma eleição vencida à base de muita mentira, promessas frustradas e uma prática de governo diametralmente oposta à discurseira dos palanques. Desde a reeleição, lá se vão cento e poucos dias de desmentidos quase cotidianos às promessas de campanha. O povo não aceita.

O corte de benefícios sociais, o aumento de impostos e tarifas públicas, a alta dos juros e da inflação, a elevação do desemprego apenas começaram a despontar no horizonte. Só irão se manifestar com cores realmente fortes daqui a algumas semanas. Aí o que hoje está no campo das expectativas passará a ser constatação: a vida no país está mais difícil.

Se o governo avalia que sua situação atual é ruim, é melhor estar preparado para enfrentar a tormenta que virá. Enquanto para os petistas o que está em jogo é popularidade e preservação de um projeto político, para a população o buraco é muito mais embaixo: o que está ameaçada é a sobrevivência diária.

Não surpreende o pessimismo dos brasileiros. Crescimento, investimentos e consumo estão se retraindo. Diante da avalanche de corrupção, cresce a sensação de desalento. Na eleição, Dilma Rousseff dizia que tudo isso não passava de esperneio artificial da oposição.

O mau humor se nutre de uma realidade que se deteriora a olhos vistos. A inflação de janeiro passado foi a maior em 12 anos e as previsões para este ano pioram a cada semana. Os prognósticos para o crescimento do PIB afundam e agora já estão zerados.

Segundo o Datafolha, para 55% da população a situação econômica do país irá piorar nos próximos meses. Trata-se do mais alto nível de pessimismo em relação à economia desde que a questão começou a ser abordada pelo instituto, em dezembro de 1997.

Oito em cada dez brasileiros esperam que a inflação vá aumentar; há dois meses, eram 54%. Desde que o país reconquistou a estabilidade com o Plano Real em 1994, nunca o temor diante da carestia foi tão agudo entre os brasileiros quanto agora. Pessimismo similar afeta as expectativas quanto ao desemprego: 62% acham que ele vai subir.

O governo apostou todas as suas fichas na sua capacidade de iludir os cidadãos. Fiou-se na preservação do emprego, que logo começará a ratear. O suposto poder ilimitado do marketing petista de manipular a realidade não é capaz de fazer frente ao duro dia a dia enfrentado pela população. O país está mergulhado num universo de desencanto, mas ainda vai piorar bastante.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O povo não é bobo

Nada melhor que a dura realidade para responder, pronta e adequadamente, as bravatas petistas. Menos de 24 horas depois de o partido do mensalão e do petrolão desfilar teorias conspiratórias na sua festa de 35 anos de fundação, o Datafolha mostrou com cores vívidas a ojeriza que a população cultiva atualmente em relação ao governo do PT.

O dado mais significativo é a monumental queda na popularidade de Dilma Rousseff. Somam 44% os que consideram o governo dela ruim ou péssimo. É a pior avaliação de um presidente da República registrada pelo instituto desde que este século começou. No início de dezembro, eram 24% os que se manifestavam assim.

Ao aumento da desaprovação corresponde, quase milimetricamente, a queda na aprovação da presidente, que baixou de 42% para 23% no período. Há um vaso comunicante ligando diretamente as duas curvas, sem paradas intermediárias – o percentual dos que acham o governo Dilma apenas regular não se alterou (33%).

Neste período de erosão de popularidade, a população deparou-se com uma Dilma muito diferente daquela que o marketing petista exitosamente construíra na campanha eleitoral. 

Há quatro meses, a presidente faz o oposto do que prometera em cima dos palanques. Ao mesmo tempo revela-se um país muito diferente do que o PT dizia ser o Brasil do momento, principalmente com imensas dificuldades econômicas, a começar pela carestia.

Também por esta razão, 60% dos entrevistados pelo Datafolha disseram que Dilma mentiu na campanha. Ou seja, o estelionato eleitoral não é figura de retórica da oposição, mas sim a percepção verdadeira da população brasileira hoje. Como seus principais atributos, a presidente carrega agora ser “desonesta” (47%), “falsa” (54%) e “indecisa” (50%).

O mar de escândalos que se sucedem nos últimos tempos também alçou a corrupção ao posto de segundo maior problema do país, atrás apenas da saúde, segundo os entrevistados pelo Datafolha. 

Para 52%, Dilma sabia da corrupção na Petrobras e deixou que ela ocorresse. A população parece perceber claramente que a roubalheira coincide com a trajetória política e administrativa da presidente; não há como dissociá-las.

Nestas horas de crise aguda, a resposta petista é sempre a mesma: acusar os críticos de “golpismo”, como fez Dilma na celebração dos 35 anos do PT na sexta-feira, ou tentar igualar a todos na lama, como buscou Lula na mesma ocasião. É a velha tática de quem foi pego na botija e imputa ao mensageiro o dissabor contido nas mensagens.

Diz-se agora que, à guisa de reação, a propaganda oficial vai tentar ressuscitar figurinos que a presidente envergou no início de seu governo e mostrar uma Dilma gerentona e eficaz, como forma de recuperar simpatia popular. Mas as condições de agora são muito distintas das de outrora: o que quatro anos atrás podia ser novidade hoje é história sobejamente conhecida, que o povo já sabe no que vai dar. A chapa vai ferver.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Partido dos Trambiques, 35 anos

O partido do mensalão e do petrolão comemora hoje seus 35 anos de fundação. Não será surpresa se a celebração de aniversário estiver sendo paga com parte do meio bilhão de reais recebidos como propina pelos petistas ao longo dos últimos dez anos. Assim é a festa do PT desde que chegou ao poder: bancada com dinheiro sujo.

A revelação de que US$ 200 milhões podem ter sido desviados de contratos da Petrobras para as contas do PT faz parte de uma espécie de linha evolutiva do partido. Tudo começou com licitações de ônibus e lixo quando os petistas só haviam conseguido governar municípios e, após a conquista do poder federal, foi ganhando proporção.

Desde a Land Rover de Silvio Pereira à dinheirama em profusão que a Polícia Federal e o Ministério Público desvendam agora, o que mudou foi a dimensão: o carro custava alguns milhares de reais e hoje só se fala em bilhões de dólares. Os negócios à sombra do poder prosperaram e os cofres do partido encheram.

As campanhas eleitorais petistas ilustram o enriquecimento. Quando Lula foi eleito, em 2002, o partido gastou R$ 21 milhões. Na reeleição dele, já com o poder à disposição, foram R$ 85 milhões, valor que chegou a R$ 350 milhões no ano passado, o dobro da primeira vitória de Dilma Rousseff. Parece bem claro o nexo causal entre as novas revelações da Operação Lava Jato e a escalada. Ou não?

Desde a chegada do PT ao poder, o pagamento de propinas dentro da maior empresa brasileira tornou-se “algo endêmico e institucionalizado”, segundo a delação feita por Pedro José Barusco, ex-gerente da área de Serviços da estatal. No centro das operações estava João Vaccari Neto, o tesoureiro que substituiu o hoje presidiário Delúbio Soares na função de arrecadador do partido.

O mesmo Vaccari já se meteu em desvios que lesaram mais de 3 mil mutuários do Bancoop em até R$ 170 milhões, quando era presidente do sindicato dos bancários de São Paulo. O mesmo Vaccari esteve na coordenação da primeira campanha de Dilma e até 15 dias atrás tinha assento no conselho de administração de outra gigante estatal, a Itaipu Binacional. Que funções ele cumpria lá?

As novas revelações da nona fase da Operação Lava Jato sugerem que o PT pode ter sido reincidente nos mesmos crimes confessados por Duda Mendonça quando flagrado na CPI dos Correios, em 2005: lavagem de dinheiro, crimes de ordem tributária e, sobretudo, eleitoral, pela suspeita de terem financiado as últimas campanhas petistas.

Assombra que, diante de tamanho descalabro, a presidente da República tenha buscado uma solução para a Petrobras para “agradar e não ferir suscetibilidades do PT”, enquanto os petistas hipotecam solidariedade e prometem desagravo a Vaccari, porque ele “nunca pôs dinheiro no bolso”.

Com tanta desfaçatez, o Partido dos Trabalhadores deveria aproveitar a festa de hoje e rebatizar-se. Fica uma sugestão: Partido dos Trambiques.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O conjunto da obra

Recomenda-se a quem for convidado para dirigir a Petrobras que se inteire antes sobre a visão que a presidente da República tem sobre a empresa e sobre a política que desenvolve para o setor de petróleo no país. Não precisa ir muito longe, porque há menos de dez dias ela a expôs em detalhes na Granja do Torto.

Se Dilma Rousseff acredita mesmo no que disse na reunião ministerial da semana passada, a nova diretoria da Petrobras terá poucas chances de êxito. Nada vai mudar, porque a petista crê que está fazendo tudo certo. O conjunto da obra é uma lástima.

Segundo a presidente, a empresa que ontem viu sua diretoria pedir demissão “vinha passando por um rigoroso processo de aprimoramento de gestão”. Esta mesma empresa vale hoje um terço do que valia cinco meses atrás e produz o mesmo tanto que previa produzir há nove anos, segundo o primeiro plano de negócios feito pelos petistas no poder.

Na Granja do Torto, disse Dilma que a estatal tem “a mais eficiente estrutura de governança e controle que uma empresa estatal, ou privada já teve no Brasil”. Esta mesma companhia reconheceu na semana passada ter se metido em maus negócios, corrupções e equívocos que podem ter lhe custado R$ 88,6 bilhões ou um terço do seu patrimônio.

A petista manifestou, ainda, profissão de fé no marco regulatório adotado no país desde 2010: “Temos de apostar num modelo de partilha para o pré-sal, temos de dar continuidade à vitoriosa política de conteúdo local”.

Esta ruinosa política está levando a Petrobras a rever seu padrão de exploração de petróleo “ao mínimo necessário” e a cortar seus investimentos em 30%, conforme o plano de ação expresso por Graça Foster há apenas uma semana – agora demitida por falar a verdade.

Foi responsável, ainda, por duas quedas seguidas na produção da companhia (em 2012 e 2013) e por repetidos resultados financeiros negativos, ao mesmo tempo em que a estatal se transformava na empresa mais endividada do mundo. O setor de petróleo como um todo está parado no Brasil.

A Petrobras é um dos equívocos, o maior deles, do governo do PT na área de energia. Justamente o feudo de Dilma. Justamente aquele setor em que tudo, absolutamente tudo, está dando errado. Onde a presidente pôs a mão deu choque.

Nem Dilma, nem o PT sabem como sair desta enrascada e, assim, vemos repetir-se na Petrobras o padrão de solução petista: quando a situação aperta, recorre-se a gente de fora do partido, incapaz de resolver os problemas que cria. Foi assim com Joaquim Levy, agora responsável até por dar jeito no balanço da estatal; deverá ser assim com a nova diretoria.

Depois de hesitar por meses, Dilma tem agora poucas horas para achar uma saída. Difícil. O PT e sua política equivocada para o setor do petróleo transformaram a Petrobras numa empresa sem credibilidade, sem crédito, sem sequer um balanço para chamar de seu e agora até sem comando. Um monstrengo sem pé nem cabeça, à beira da bancarrota.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Acabou a graça

A impropriedade de manter Maria das Graças Foster na presidência da Petrobras era flagrante há meses. Mas Dilma Rousseff, com sua peculiar inaptidão, a preservou no cargo, sangrando ainda mais a empresa. É mais uma das irresponsabilidades cometidas pela presidente da República contra a estatal, pelas quais ela terá logo, logo que responder.

A saída de Graça do comando da Petrobras pode representar novo alento para a empresa. Mas a simples substituição da presidente e da direção não dará jeito no descalabro que levou a companhia a erigir uma dívida de R$ 331 bilhões e a perder, em apenas cinco meses, R$ 205 bilhões, ou 2/3 de seu valor de mercado.

A Petrobras está vergada sob o peso da corrupção, de um modelo de negócios falido e do fardo regulatório que lhe embaça os horizontes. Dona de uma das maiores reservas de petróleo do mundo, não tem capacidade para extraí-lo – segundo Graça, com a crise em que a estatal se meteu, a exploração terá de ser reduzida “ao mínimo necessário”.

Sob a direção de Graça e o controle direto de Dilma, a Petrobras tem desempenho sofrível perto de suas concorrentes. Desde que as cotações de petróleo mergulharam em todo o mundo, as petroleiras têm tido dificuldades, mas nada que se compare com a empresa brasileira.

Segundo o CBIE, entre setembro e o fim de janeiro, o barril havia caído 44% (nos últimos dias, ensaiou uma recuperação), enquanto a Petrobras perdera 55% de seu valor. Suas principais concorrentes globais resistiram: Exxon, Shell e Chevron encolheram, em média, apenas 13%. Ou seja, mais do que à crise global, a Petrobras sucumbe a seus próprios erros e aos equívocos da política local.

O fundo do fundo do poço em que a Petrobras foi metida pelas escolhas do PT e as barbeiragens de Dilma suscitam a necessidade de se rediscutir o modelo de negócios adotado para o setor de petróleo no Brasil desde 2007. Não basta apenas profissionalizar a gestão da companhia.

É preciso também acabar com a obrigatoriedade de a estatal participar de todos os consórcios de exploração do pré-sal e ser a operadora única dos poços de águas ultraprofundas. Menos recomendável ainda é perseverar no modelo de partilha e na política de conteúdo nacional que torna os negócios de petróleo no país ainda mais custosos.

Em seu discurso de posse, Dilma Rousseff disse que a Petrobras é vítima de “predadores internos” e “inimigos externos”. A presidente não precisa dar sequência à sua teoria conspiratória. Basta que não faça com o resto do país o que tem feito com a estatal: esperar que ela chegue, degringolada, à beira do abismo antes de tomar alguma atitude.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Loucuras com o dinheiro público

O governo petista promoveu uma verdadeira farra do boi no ano passado com recursos públicos. O meu, o seu, o nosso dinheirinho foi usado e abusado para reeleger a presidente Dilma Rousseff. O exame dos resultados fiscais revela o tamanho da loucura e da irresponsabilidade.

Comecemos pelo aumento astronômico da dívida bruta do governo, melhor parâmetro para indicar a saúde financeira de um país. Em apenas um ano, a alta foi de 6,7% do PIB. O percentual, porém, diz menos que a cifra correspondente: a dívida cresceu incríveis R$ 504,4 bilhões em apenas 12 meses. Não é assustador?

Considerando os quatro anos do primeiro mandato, a dívida bruta saiu de 53,4% para 63,4% do PIB. Em termos nominais, subiu R$ 1,24 trilhão. A questão que fica é: onde foi parar toda esta dinheirama?

A escalada não deve parar aí: segundo o próprio governo, a relação entre dívida bruta e PIB deve subir para 65,2% até o fim deste ano, em função de um monte de esqueletos fiscais que estão sendo tirados dos armários onde foram guardados pela contabilidade criativa de Dilma e seus economistas de segunda linha.

As contas públicas fecharam o ano passado no vermelho, pela primeira vez desde que o país passou a adotar regras mais rígidas de responsabilidade fiscal. Com isso, o déficit nominal atingiu 6,7% do PIB. A maior parte do rombo deve-se a dinheiro gasto para pagamento de juros: em apenas um ano, foram R$ 311,4 bilhões, o maior valor da história.

Só com desonerações tributárias, o governo abriu mão de R$ 104 bilhões. A medida seria até bem-vinda num país de carga tributária recorde. Mas ninguém sabe, ninguém viu aonde foram parar estes benefícios, já que nem mais emprego nem mais renda produziram.

Tudo no desempenho fiscal da petista nos últimos anos é de amargar. Há R$ 226 bilhões lançados em restos a pagar no Orçamento da União para este ano. Ou seja, é como se houvesse um orçamento para o ano e outro vagando paralelo na estratosfera. Contas assim não fecham nunca.

Este verdadeiro descalabro administrativo e financeiro teve sua razão de ser: o governo abriu as torneiras dos gastos públicos para manter artificialmente políticas e programas destinados a gerar dividendos eleitorais na campanha pela reeleição de Dilma. A recessão de agora paga a gastança de outrora. É assim que governa o PT.

É preciso dar um basta a isso e começar a impor limites mais rígidos ao gasto público e ao endividamento do governo. A propaganda oficial pode até querer convencer a população de que ela sai ganhando quando a despesa aumenta. Mas no fim das contas é o contrário: o que sobra para o cidadão é a conta, e cada vez mais salgada.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Uma cunha no poder do PT

A vitória de Eduardo Cunha na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados é mais um fator de instabilidade para o governo Dilma Rousseff. Não bastassem as ameaças que veem da economia em recessão e dos temores das investigações na Justiça sobre o petrolão, falta-lhe também sólido apoio político no Congresso.

A derrota sofrida ontem na Câmara foi acachapante. Arlindo Chinaglia, o petista candidato do Planalto, recebeu apenas metade dos votos do pemedebista: 267 a 136. Parte dos deputados do bloco que o apoiou formalmente – que tem 180 parlamentares – sequer votaram nele.

Por pouco o candidato oficial não ficou atrás do nome do PSB, Julio Delgado, que obteve 100 votos, provando a coerência do apoio do PSDB ao socialista – praticamente toda a bancada dos quatro partidos que apoiavam o socialista, com 106 votos, votou nele. A disputa acabou em primeiro turno, com a vitória de Cunha.

A derrota petista revela-se ainda mais fragorosa em razão do empenho do entorno da presidente pela eleição de Chinaglia. Mais uma vez, métodos espúrios foram utilizados, com pressão de ministros, promessas de liberação de verbas orçamentárias e acenos de cargos. Como resposta, o candidato vitorioso prometeu aprovar o orçamento impositivo para emendas parlamentares.

O time de articuladores de Dilma, com Aloizio Mercadante à frente, padece dos mesmos males da presidente: a arrogância, a inabilidade, a inexperiência no trato político. Com o resultado colhido ontem na Câmara, parece claro que a petista terá dificuldades para fazer caminhar seus pleitos entre os parlamentares. No Senado, uma bancada de oposição fortalecida também não lhe dará refresco.

Dilma inicia este segundo mandato como uma presidente envelhecida. Não há vigor algum a impulsionar-lhe nos próximos quatro anos. Pelo contrário. O que há é o desgaste de uma administração que tem se mostrado inepta, corrupta e irresponsável. Os descalabros nas mais diversas áreas são reflexo disso.

O resultado da eleição na Câmara também permite alimentar a expectativa de uma relação mais equilibrada entre os poderes da República, sem a preponderância dos interesses do Executivo sobre o Legislativo, como tem sido a norma nos anos de poder petista. Para completar, da Justiça espera-se máximo rigor na apuração dos malfeitos que têm aflorado.

Há uma lista enorme de projetos de interesse da sociedade brasileira que precisam ser encaminhados e discutidos no Congresso, e que agora poderão ter tramitação mais desimpedida sem a ascendência excessiva do Planalto sobre a pauta legislativa. A começar por uma nova investigação sobre os descalabros na Petrobras.