quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Não ao cheque em branco, e sem fundos

As informações mais recentes – e não apenas os resultados das pesquisas de intenção de votos – trazem uma clara mensagem do eleitor: ele quer aprofundar a discussão sobre o futuro do país. Para os que já perfazem a maioria da população, a eleição presidencial não deve se encerrar no próximo domingo. Vamos a um desejável e necessário segundo turno para escolher o melhor para o Brasil.

Pesquisa do Datafolha mostra que em duas semanas a distância entre as intenções de voto em Dilma Rousseff e os demais candidatos diminuiu de 14 para dois pontos – ou seja, está agora dentro da margem de erro. A petista caiu em todas as regiões do país e notadamente entre as mulheres; entre os que têm curso superior, entre os quais José Serra lidera, ela já é hoje apenas a terceira colocada.

É a voz rouca das ruas se fazendo ouvir, a contragosto do PT. A partir de meados de agosto, a campanha petista tentara mergulhar o país num torpor paralisante, segundo o qual o destino da nação estava selado. Não contava que a realidade se interpusesse e, mais uma vez, o PT e seus candidatos tropeçassem em falhas morais. A face do petismo revelou-se e o eleitor abespinhou-se.

A descoberta do balcão de negócios montado na Casa Civil, chefiada até outro dia por Dilma, e a devassa fiscal feita por meio da Receita Federal na vida de adversários políticos levaram os cidadãos a dizer ‘não’ a esta escalada de desmandos. A candidata petista sofre neste instante uma sangria de votos – seis milhões de eleitores teriam desistido de votar nela nos últimos 15 dias, segundo o levantamento do Datafolha.

E quem são, majoritariamente, os que estão desembarcando da candidatura Dilma? Segundo as mesmas pesquisas, são, em grande medida, os que foram os maiores beneficiados pelas políticas de inclusão empreendidas ao longo dos últimos anos. Entre os estratos de renda de dois a cinco salários mínimos, Dilma teve a maior erosão nas intenções de voto. O recado desse grupo é evidente: não basta ter mais dinheiro no bolso, é preciso um país decente.

São justamente as camadas onde se forma a opinião pública que estão se voltando contra Dilma e os descalabros que ela encarna. Aos poucos, a mesma percepção vai se espraiando pelo resto da sociedade, numa resposta à arrogância do presidente Lula, que, na semana passada, arvorou-se “dono” do que pensam os brasileiros. A população dá cada vez mais mostras de que não aceita pratos feitos, tampouco a tutela de quem quer que seja.

É este estado de coerção que afugentou os eleitores. O Brasil com o qual se sonha é um país de liberdades e oportunidades, de esforços reconhecidos, de méritos recompensados. É o oposto do sistema de compadrio, de achaques, de mistificações e obscurantismos que a candidatura Dilma encarna. Um modelo em que um Estado agigantado solapa as alternativas dos que não são amigos do poder, como relata Miriam Leitão na edição de hoje de O Globo: “A mistura é explosiva: de um lado, um Estado com poder de vida ou morte sobre as empresas; do outro, emissários do partido do governo com ameaças embutidas na formulação de pedidos”.

Dilma Rousseff tentou a todo custo evitar o confronto direto de ideias, muito provavelmente porque careça delas. (Os cercadinhos que a separam do povo e da imprensa são a face simbólica desta postura.) Agora, assustada com a possibilidade de ter de defrontar-se sem subterfúgios com um adversário único e direto, apela mais uma vez ao patrono de sua candidatura para tentar se livrar do segundo turno. Não conseguirá.

A candidata do PT ainda não entendeu o recado do eleitor: ele quer vê-la exposta ao contraditório, sujeita a contestações, instada a explicar-se. Quer ver fluir um debate franco e aberto de ideias e propostas para fazer um país melhor, menos desigual, repleto de justas oportunidades. A sociedade brasileira deu-se conta de que estava prestes a assinar um cheque em branco, e recusou-se. Até porque ele podia estar sem fundos.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Uma escolha de bem

Faltando seis dias para as eleições presidenciais, o Brasil encontra-se em uma encruzilhada. Entre os caminhos divergentes, há pelo menos uma concordância: as preocupações com os avanços sociais e econômicos da população.

Mas, se há convergência nisso, um dos lados em disputa exercita diuturnamente seu desprezo debochado por valores cruciais como respeito às leis, à liberdade de imprensa, aos direitos constitucionais, à ética, à honestidade pessoal e à distinção entre Estado e partido. É a turma de Dilma Rousseff e José Dirceu.

Em contrapartida, entre os partidários de José Serra o governo não é usado como propriedade pessoal ou, pior ainda, para beneplácito de um grupo de amigos; os adversários políticos não são tratados como inimigos do país; não se vê condenações à imprensa como instituição; o respeito às leis e às instituições é cláusula pétrea.

Se Serra é certeza de um Estado a serviço de todos os brasileiros, a quem serve o governo do PT, de Lula e de Dilma? Aos companheiros, com certeza, como ficou flagrante no balcão de negócios montado na Casa Civil por Erenice Guerra, braço direito da candidata petista.

A lista de malfeitos parece não ter fim. O país chegou a um ponto em que um participante de esquema sujo, ex-diretor de uma estatal, os Correios, confessa publicamente que o gabinete chefiado pela candidata oficial à sucessão era palco de uma “roubalheira”, conforme mostra a edição da revista Veja desta semana.

O ilícito corria solto entre a equipe de Dilma e seus apaniguados. Sete pessoas já foram demitidas. Mas o governo age no sentido convencer a população de que nada demais ocorre. Houve uma banalização da degradação, contra a qual se batem a oposição e, principalmente, os meios de comunicação.

Contra este estado de coisas, jornais como O Estado de S. Paulo – e seus 135 anos de tradição, respeitabilidade e, inclusive, franca e corajosa resistência à ditadura militar – apontam Serra como a melhor alternativa para melhorar a vida da população brasileira.

Em editorial publicado no sábado, o Estadão defendeu que a opção é entre “quem trata o governo e o seu partido como se fossem uma coisa só, submetendo o interesse coletivo aos interesses de sua facção” ou quem “pode representar a recondução do país ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos”. Não se trata, então, de uma escolha de Sofia.

Sob o comando de Lula, a tentativa de fazer um país socialmente mais justo, infelizmente, ocorreu, como lembra o jornal, “paralelamente a tentativas quase sempre bem-sucedidas de desconstrução de um edifício institucional democrático historicamente frágil”.

O que houve, na verdade, foi uma política na qual os avanços sociais não eram o objetivo final, mas um meio para a permanência de um grupo político no poder. E esse pessoal trouxe para dentro do Palácio do Planalto alianças espúrias, tráfico de influência, fisiologismo e enriquecimento suspeito dos amigos. Promoveu uma verdadeira ressurreição de párias da política.

Também em editorial, estampado na primeira página de sua edição dominical, a Folha de S. Paulo alertou para o risco de um eventual governo Dilma impor controles sobre a atuação da imprensa, responsável pela revelação de seguidas maracutaias do governo petista.

O jornal também relembrou que Lula não conseguiria nem um pedacinho dos atuais índices de popularidade caso não contasse com um ambiente internacional favorável ou não tivesse mantido a política econômica de Fernando Henrique.

É por posicionamentos lúcidos como estes que a imprensa é vista pelos petistas como seu mais temido inimigo. Não deixa de ser uma manifestação do horror que os partidários de Lula nutrem pela transparência, pela lisura, pela prestação de contas e pelo respeito aos cidadãos no trato da coisa pública. A atuação isenta e vigilante dos meios de comunicação é a maior garantia que dispomos hoje de que os malfeitos não prosperarão. É uma escolha de bem, assim como a de José Serra.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Corolário da intolerância

Desde o escândalo do mensalão é assim: quando se vê acuado por denúncias e evidências de corrupção e malfeitos, o PT acena com a possibilidade de “mobilizar as massas” em defesa de seu governo “democrático e popular”.

Acontecerá de novo nesta quinta-feira, quando ONG, sindicatos, agremiações estudantis e entidades amaciadas pelo ervanário público protestarão contra o “golpismo midiático”. Mas o que se pretende é muito mais: caçar o direito de divergir do governo petista, algo que esse pessoal simplesmente não suporta.

O evento desta quinta-feira não é ato isolado. Há algumas semanas, desde que foram sendo reveladas as violações na Receita Federal e as falcatruas na Casa Civil, o próprio presidente da República partiu para o ataque contra a imprensa. Comício após comício, ato público após ato público, Lula vem insuflando seu público, afrontando a liberdade de informar dos meios de comunicação. A turma do protesto simplesmente seguiu a senha dada pelo líder. Encena agora o corolário da intolerância.

Os tais “representantes” de entidades civis cumprem o papel que o petismo lhes reservou na Era Lula: servir de vassalos de um governo que muitas vezes lhes paga o salário e noutras tantas lhes garante gordas verbas públicas em forma de polpudos convênios. O PT transformou centrais sindicais, MST, UNE e confrarias do gênero em correia de transmissão dos interesses oficiais: funcionam como cães de guarda que o petismo põe em campo toda vez que alguma de suas maracutaias é descoberta.

O protesto desta semana também tem lá seu caráter preventivo. É como se o petismo quisesse dizer: “Não nos venham querer derrotar nas urnas, porque, se assim for, não deixaremos pedra sobre pedra neste país.” Não foi uma nem duas vezes que já se ouviu de próceres do lulismo que os tais “movimentos sociais” não dariam sossego a um eventual governo de alguém da oposição – tendo, claro, Lula como maestro. É desta maneira que esta gente respeita a democracia e a vontade popular...

Nem sempre Lula e o PT viram a imprensa como sua inimiga nº 1. Na realidade, ela lhes foi, no mais das vezes e por anos a fio, companheira. Muito do mito erigido em torno do líder popular deve-se aos meios de comunicação. Muito do denuncismo que sustentou a atividade parlamentar dos petistas por décadas só prosperou em razão do espaço que os jornais lhes franquearam. Mas, para o petismo, isso ainda é pouco: só serve a unanimidade.

O ataque do PT em busca da concordância absoluta se dá em duas frentes. Por um lado, ataca-se a liberdade de a imprensa independente atuar, o direito de algumas cabeças pensantes divergir. É a elite intelectual que precisa ser exterminada.

De outro, instrumentalizam-se vozes chapas-brancas para defender o governo a qualquer preço e a toda hora. O governo montou uma barricada guerrilheira na internet (basta observar quem patrocina os blogs alinhados ao governismo), espraiou a subserviência por jornais do interior do país cevados a gordas publicidades oficiais e engendrou uma potente máquina de propaganda por meio de empresas públicas travestidas de jornalísticas. Uma estratégia de guerra para aniquilar vozes dissonantes e amplificar a de áulicos.

Tudo considerado, estamos diante de um dos piores legados da era Lula: a intolerância com o contraditório. Divergir do discurso oficial tornou-se crime no Brasil, coisa de quem “torce contra”, a ser punido com as garras do aparato estatal (a Receita Federal está aí para isso...). Uma verdadeira herança maldita que só encontra competidora à altura na leniência com o malfeito – algo que este governo não só pratica como tenta inocular na sociedade. Marcas de uma era que o país ainda demorará um tempo para eliminar, mas que é preciso começar já a varrer.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Um envelope fechado, recheado de dinheiro sujo

Parece não ter fim a torrente de escândalos que inunda o governo Lula e, mais especificamente, a pasta que até outro dia foi chefiada por Dilma Rousseff. A turma da ex-ministra e agora pretendente a presidente da República está enredada nas mais tenebrosas transações. Caraca!

Nas explicações do PT e do governo, a candidata não sabia de nada que acontecia em torno de sua antiga sala no Palácio do Planalto. Lula, muito menos. E eram coisas pesadíssimas, como tráfico de influência, cobrança de propina, nepotismo descarado e até mesmo a farta distribuição de pacotes de dinheiro vivo como pagamento de corrupção.

Ao mesmo tempo, a campanha eleitoral atribui à petista qualidades de grande executiva. Dá para acreditar? Das duas uma: ou Dilma é uma péssima administradora, incapaz de perceber o que se passa sob seu nariz, ou então tem tudo a ver com este mar de lama que assola o Planalto. Com qual versão ficar?

A mais nova reportagem da revista Veja joga mais luz nos subterrâneos petistas. Deixa claro que no governo Lula o país deixou de ter uma Casa Civil, substituída por uma verdadeira casa da mãe Joana – ou será da “tia” Dilma, como a chamavam os alopradinhos de Erenice Guerra?

A publicação mostra que, em julho do ano passado, o advogado Vinícius de Oliveira, recém-ingresso no ministério comandado pela dupla Dilma/Erenice, deparou-se com um envelope recheado com R$ 200 mil na gaveta de sua mesa. Tratava-se de uma espécie de corrupção preventiva: todos ali haviam recebido o seu, como parte de uma operação envolvendo a compra emergencial do Tamiflu, medicamento para combate à gripe suína, pelo governo brasileiro. Até da desgraça alheia esta gente tenta se aproveitar.

Entre os sócios desta quadrilha em ação dentro do Palácio do Planalto (será uma ramificação daquela do mensalão?) está uma lista de nomes que não para de crescer, formada por amigos e parentes de Erenice. Lá estão filhos, marido, irmãos, ex-cunhada e uma parentalha sem fim. Sempre envolvida em negócios cotados em bilhões de reais, Erenice é, desde já, responsável por dar uma nova acepção à Bolsa Família.

Nunca é demais lembrar que Erenice Guerra e Dilma Rousseff são unha-e-carne. Estiveram lado a lado desde os primeiros momentos do governo Lula, ainda antes da posse. São quase oito anos juntinhas. A pergunta que não quer calar é: onde estava Dilma enquanto esta rede de falcatruas se expandia? Na melhor das hipóteses, estaria inaugurando pedras fundamentais e obras inacabadas do PAC ou em algum palanque pelo Brasil afora. Seria, assim, uma administradora tremendamente incapaz.

A outra alternativa – que, convenhamos, é bem mais provável – é ainda pior: Dilma conhecia tudo o que se passava sob seu nariz. Já se sabe que muitas das reuniões ocorreram no quarto andar do Palácio do Planalto. Em sua edição de ontem, a Folha de S. Paulo mostrou que o nome de “tia” Dilma era utilizado pelos meninos de Erenice para avalizar as transações.

A candidata petista recusa-se a esclarecer as dubiedades que cercam o caso. Chama a descoberta do balcão de negócios montado na Casa Civil de “factóide”. Mostra-se, cada vez mais, um envelope fechado, que provavelmente esconde dentro uma má surpresa para o destinatário, o povo brasileiro.

Ninguém sabe ao certo o que Dilma pretende para o país, já que se recusa a pôr no papel e divulgar seu programa de governo – algo que “nunca” acontecerá, segundo o responsável por coordenar a sua elaboração, o czar obscurantista Marco Aurélio Garcia. É o velho horror petista à luz.

A forma mais efetiva de avaliar o que Dilma nos reserva é mirar suas atitudes pregressas e as escolhas que fez. Suas nomeações são um primor: Erenice, Silas Rondeau (defenestrado do Ministério de Minas e Energia sob suspeita de irregularidades), Milton Zuanazzi (responsável por lançar a Anac no voo cego que resultou na morte de centenas de passageiros nos dois maiores acidentes aéreos da história brasileira), Fernando Pimentel (o ex-prefeito de Belo Horizonte especializado em dossiês criminosos). E por aí afora.

Sobre o que esperar de um governo Dilma (toc, toc, toc, bate na madeira) há outras indicações, tão ou mais explícitas. Vocalizadas pelo “companheiro de armas” José Dirceu, elas dão conta de que, com Dilma, o PT vai finalmente implantar seu real projeto de poder, em que, entre outras coisinhas, provavelmente a imprensa não disporá de tanta liberdade quanto hoje. Palavras do “chefe da quadrilha” do mensalão petista.

Mesmo com todo o esforço do PT para esconder quem realmente é sua candidata, pouco a pouco os eleitores brasileiros tomam conhecimento de uma realidade nada agradável. Dilma revela-se péssima administradora, sem um programa de governo explicitado, aliada dos mais atrasados e danosos políticos do país, conivente por anos com um enorme esquema de corrupção montado dentro de seu gabinete. Isso não é café pequeno.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Horror à luz

Acuado por mais uma avalanche de escândalos, o presidente da República pôs todos os seus muitos subordinados em campo nesta semana para defender uma ministra de Estado cujos familiares montaram um balcão de negócios dentro do seu governo. Vale tudo, incluindo o uso descarado da estrutura pública para fins partidários – agora até notas com timbre oficial ocupam-se de fazer política eleitoral para o PT.

Mas o artifício central do estratagema petista é posar de vítima de um “golpe da imprensa”. O lulismo tem horror ao escrutínio dos meios de comunicação e detesta a fiscalização de quaisquer das instituições do Estado democrático de Direito. Contraditório, só vale se for o deles. A dura realidade é mero detalhe ou simples versão distorcida dos fatos na farsa asfixiante que o PT tenta nos impor.

O governo de Lula age com a desenvoltura de quem se acha inimputável ao deslanchar seus malfeitos. Transformou o ministério mais poderoso da Esplanada numa central de falcatruas. Ali se urdiram a aliança com bicheiros pelas mãos de Waldomiro Diniz; o assalto aos Correios e a uma penca de estatais para financiar o mensalão; a feitura de dossiês espúrios para caluniar adversários políticos; o armazém de secos e molhados que trafica influências a troco de “taxas de sucesso”. Bem ali, um andar acima de onde despacha o presidente.

Tudo isso sabemos hoje por causa da atuação vigilante e independente dos órgãos de imprensa. Foram eles que puseram no ar a grotesca cena em que o então assessor direto de José Dirceu embolsava maços de dinheiro. Foram eles que escancararam e escarafuncharam quando Roberto Jefferson expôs os meandros do pagamento de mesadas a parlamentares. Foram eles que demonstraram que assessores diletos de Dilma Rousseff produziam quilos de planilhas com dados protegidos por lei e viviam em gostoso conluio com lobbies. Foi, por fim, a imprensa que revelou que a campanha petista à presidência da República manipulava sigilos fiscais em associação com criminosos.

Dependesse do PT, nada disso seria sabido. Para os partidários de Dilma, imprensa boa é imprensa calada ou subserviente. Resumindo numa frase saída da boca de um prócer do partido, para eles “o problema do Brasil é o monopólio das grandes mídias, o excesso de liberdade e do direito de expressão e da imprensa”. Espantosa, a afirmação foi feita anteontem por um dos chefes da campanha dilmista: o onipresente José Dirceu. Será esta treva, a da mordaça, o que nos aguarda se a candidata de Lula triunfar nas urnas?

O PT convive mal com o contraditório, aceita com ressalvas os princípios democráticos, arrosta as liberdades. Só tolera opinião que é a favor – coisa que o petismo tem de sobra na rede espúria de vassalos que disseminou pela internet e em veículos de imprensa do interior do país cevados a gordas verbas de publicidade oficial. Esse é o mundo que o petismo tenta a todo o custo nos impor: críticos tratados como “inimigos da pátria”, áulicos mimados com benesses públicas.

“Aos críticos do ‘milagre lulista’ foi reservado o pior dos mundos. Criou o seu próprio ‘ame-o ou deixe-o’. Quem está com ele – e nessa categoria o arco é amplo, vai do MST ao grande empresariado – ‘ama’ o Brasil; quem está contra é inimigo e tem de ser destruído”, resume com precisão cirúrgica o historiador Marco Antonio Villa na edição de hoje da Folha de S.Paulo.

Não é de hoje que Lula mostra os caninos a quem se interpõe em seu caminho. A imprensa é o alvo mais reiterado, mas não é o único. Órgãos como o Tribunal de Contas da União, o Ministério Público e o Ibama, responsáveis por zelar pela coisa pública, já foram mil vezes enxovalhados pelo presidente da República sempre que apontaram malfeitos do governo. Dividem com os meios de comunicação o papel de bode expiatório pelos fracassos petistas.

Tivesse o dom divino que acredita ter, Lula não teria dúvidas: teria extirpado todos da sua frente, como sonha fazer com adversários da oposição, um a um. Seu pavor à luminosidade do escrutínio só tem similar na escuridão produzida pelos regimes ditatoriais. Mas tudo tem um fim. E o da era de trevas do governo Lula está próximo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Um imenso balcão de negócios

Há três semanas, uma das maiores ameaças de se ter Dilma Rousseff como presidente da República era não saber qual seria o papel de seus aliados barra pesada. O que farão no governo dela gente como Fernando Collor de Mello, José Dirceu, José Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho, Newton Cardoso, entre uma penca de outros?

Como a experiência de Dilma na seara política é algo próximo de zero, a força desse pessoal será enorme. Junto deles, virão históricos de corrupção, nepotismo, truculência, fisiologismo e uso da máquina pública para fins pessoais e familiares. Vote numa Dilma e ganhe esta turma toda de bônus.

Há duas semanas, com o escândalo da Receita Federal, ficou claro que os brasileiros ainda correm outro risco com Dilma no Planalto. O PT ressuscitou a abjeta prática de utilizar o Estado para investigar e acuar todos os que ousam fazer oposição ao governo. Coisa de ditaduras que se julgava morta e sepultada no Brasil. Os casos das quebras criminosas de sigilo fiscal da filha e do genro de José Serra não são apenas um problema pessoal do candidato tucano: são uma ameaça aos direitos fundamentais de cada um dos brasileiros.

Mas, por incrível que pareça, tudo isso ainda pode ser pouco. Caso sejam comprovadas as denúncias relatadas na edição desta semana da revista Veja, a roubalheira está no DNA do grupo de Dilma Rousseff. Na reportagem, a atual ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, é apontada como intermediária dos negócios escusos do próprio filho, Israel, envolvendo órgãos do governo e iniciativa privada. Vale recordar que Erenice, confidente de Dilma, só deixou a total obscuridade ao prestar bons serviços à hoje candidata. Agora dá para ter uma ideia de quais serviços são esses.

Segundo Veja, Israel Guerra atrairia empresários de olho em verbas públicas. A Erenice caberia dar aval às operações de tomada de assalto aos cofres do governo e mexer as peças, quando necessário. Custo ao empreendedor: 6% do valor do contrato, a título de “taxa de sucesso”. O dinheiro, segundo consta, serviria para “saldar compromissos políticos”. Um típico exemplo de tráfico de influência.

A revista relata um caso concreto. Em 2009, o empresário Fabio Baracat pediu a Israel Guerra uma maneira de sua empresa de cargas aéreas, a MTA, ampliar a participação nas operações dos Correios – órgão que, é bom não esquecer, foi desmantelado na gestão Lula.

Os ouvidos do empresário foram brindados com uma resposta que lhe soou como música: “Minha mãe resolve”, disse-lhe Israel. Ato contínuo, seu negócio decolou. A transação foi celebrada com goles de vinho no apartamento funcional da própria Erenice Guerra, então secretária-executiva de Dilma.

Como coadjuvantes dessa história corrupto-familiar-policialesca, também atuaram o assessor jurídico da Casa Civil, outro filho e irmãos de Erenice, como revela O Estado de S.Paulo em sua edição de hoje. Já Israel e Vinícius, os protagonistas do escândalo relatado por Veja, foram lotados na Anac – a quem cabe licenciar a operação de empresas como a MTA –, como mostra O Globo em sua edição de hoje. Mais republicano impossível.

Os encontros entre lobistas, empresários e traficantes em geral ocorreram no escritório do coordenador jurídico da campanha de Dilma, Márcio Silva. Mais um elo entre a bandidagem e a postulante ao Planalto. Mas não para a candidata, cuja reação ao episódio foi a mesma de sempre: desqualificar a imprensa, atacar a oposição, posar de vítima e gritar muito. Discutir os acontecimentos que é bom, nem pensar: os fatos, ah, os fatos são mero detalhe...

O episódio é apenas mais um – ou pelo menos o mais explícito deles – a ilustrar o imenso balcão de negócios em que o PT transformou o Estado brasileiro. Vende-se de tudo um pouco nesse armazém espúrio: o patrimônio nacional, benesses estatais, facilidades jurídicas, penduricalhos legais, financiamentos a preços módicos.

Em troca, cobra-se do agraciado apoio irrestrito ao projeto petista de perpetuação de poder – na forma de apoio$ financeiro$ e $ilêncio conivente. Olhe para o lado e responda: há um único grande empresário que se oponha ao PT hoje? Por que será? Já passa da hora de pôr, democraticamente, esta turma para correr.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O ventríloquo e o mutismo da candidata

Ontem, dia da Independência do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ocupou 2min15s de tempo de TV para se dirigir aos telespectadores. De terno, gravata e distintivo com a bandeira nacional na lapela, poderia facilmente levar ouvintes incautos a pensar que se tratava de um pronunciamento oficial, algo corriqueiro na mais importante data cívica do calendário brasileiro. Mas, não: Lula foi à TV fazer política eleitoral e defender a candidata do PT à presidência da República. Fez papel de ventríloquo.

Lula ocupou o horário eleitoral de Dilma Rousseff para falar do escândalo da quebra continuada de sigilos fiscais perpetrada por petistas lotados na Receita Federal. Mas não disse uma mísera palavra sobre o caso em si. Não lamentou o fato de alguns milhares de brasileiros estarem sendo vítimas de devassas ilegais, algo constatado pela própria Receita. Não teceu qualquer comentário sobre o fato de o órgão ter se transformado num “simples balcão de negócios”, onde vazamentos são rotina, conforme disse o ministro da Fazenda do governo dele.

Lula preocupou-se unicamente em falar pela sua candidata, livrá-la do contraditório, protegê-la de contestações. Para isso, usou no seu pronunciamento uma série de tapeações para levar seus ouvintes a crer que a oposição, ao bater-se contra as ilegalidades produzidas por petistas incrustados no aparato estatal, apela para “baixarias”, “mentiras”, “calúnias”. Coroou o logro dizendo que o que fazem os oposicionistas é “um crime contra a mulher brasileira”.

Aí é que reside o ponto: onde está a mulher que quer ser presidente da nação que até agora não disse uma palavra a respeito de um dos maiores escândalos recentes do país? Por que não vem a público para se pronunciar e condenar os aloprados – da Receita e de muitas outras repartições estatais – que agem contra os cidadãos e os transformam em vítimas da bisbilhotice mal intencionada? Por que se mantém muda?

Se Dilma não tem condições de manifestar-se numa situação destas, é de se pensar no que pode ocorrer se um dia vier a se sentar na cadeira presidencial e o Brasil se vir diante de uma crise sem precedentes, de um incidente diplomático, de uma emergência inapelável. Recorrerá ao seu mentor, ao eterno guia?

É difícil saber o que é mais deplorável em todo este episódio: se a pusilanimidade e flagrante inapetência da candidata do PT ou a postura nada republicana de Lula. Não é de hoje que Lula age desbragadamente como presidente de uma facção e não como presidente de todos os brasileiros. Há muito, afastou-se da figura de estadista que um dia pretendeu ser.

O pronunciamento levado ao ar ontem foi apenas o caso mais evidente e flagrante de uma extensa série. Desde que escolheu sua candidata, Lula passou a percorrer o país com Dilma a tiracolo, transformando jornadas de trabalho em caravanas de campanha. Foram anos, não só dias nem meses, assim. Pouco governo, muita politicagem. E o que a população ganhou com isso?

Não satisfeito, mais recentemente Lula montou acampamento em São Paulo para dia sim dia também aboletar-se sobre um palanque e lanhar a oposição. Joga-se sem pudor na peleja eleitoral e extrapola todos os limites aceitáveis. “Se conseguir eleger a sucessora, vai distorcer a realidade e atuar como se presidente fosse. Se não conseguir, não deixará o próximo governo governar”, resume Dora Kramer na edição de hoje de O Estado de S. Paulo.

Lula fala muito para deixar que sua pupila mantenha-se calada. É ilustrativo que a candidata do PT agora sequer entrevistas conceda. Atrás de púlpitos, protege-se de perguntas incômodas – a debates, como o de hoje na TV Gazeta, há muito deixou de ir. Para não falar, alega-se afônica em razão de compromissos eleitorais. Mas mais correto seria sublinhar seu mutismo, simbólico do que o país pode esperar caso ela saia-se vencedora da votação de outubro. Vamos às urnas daqui a 25 dias para eleger um presidente, não marionetes.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Os aloprados voltaram

Se ainda havia dúvidas sobre o envolvimento cabal do PT com a série de ilícitos perpetrada ao longo desta campanha eleitoral, eles se dissiparam nos últimos dias. Pessoas filiadas ao partido estão envolvidos na torrente de sigilos fiscais violados ao redor do país. Os alvos preferenciais são adversários políticos, mas ninguém está a salvo.

Os jornais informam hoje que mais um petista funcionário da Receita Federal acessou as informações fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas. É o analista tributário Gilberto Souza Amarante, que se junta a Antonio Carlos Atella Ferreira. O crime ocorreu no escritório do órgão em Arcos (MG). Os aloprados voltaram.

Já era sabido que, para ganhar a eleição, o PT não hesitaria em jogar na lata de lixo o respeito à lei. Os exemplos vão do uso descarado da máquina pública para eleger uma candidata sem biografia ou voz própria à transformação da campanha num balcão de crimes, com quebra em série dos sigilos fiscais da filha de José Serra e de outros cidadãos com alguma ligação com o PSDB.

Em tudo e por tudo, o episódio atual é ainda mais grave do que o ocorrido em 2006, quando um bando de petistas foi pego com R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo que seria usado para comprar documentos para tentar prejudicar a candidatura de José Serra ao governo de São Paulo. Tinha desde churrasqueiro e guarda-costas do presidente Lula a assessor do hoje candidato petista ao Palácio dos Bandeirantes. Todos identificados; nenhum punido.

Foi exatamente esta impunidade que permitiu ao governo petista continuar a agir sem qualquer pudor diante das irregularidades. Classifica o queijo suíço em que se transformou a Receita como “um simples balcão de negócios”. E trata a grita de quem chia e se bate contra as ilegalidades como “dor de cotovelo”, como fez, de maneira repugnante, o presidente Lula na sexta-feira em Esteio. (Veja o vídeo e tente não se indignar.)

Os petistas-violadores-de-sigilo formam no PT do subterrâneo. Mas há o PT da superfície, não menos pernicioso, que move todos os seus tentáculos sobre o aparato estatal para tentar perpetuar-se no poder. No mundo petista, ministros de Estado sentem-se liberados para fazer campanha usando despudoradamente a estrutura de governo.

Em sua edição de sábado, O Globo revelou que a agenda ministerial é uma farsa, montada para fazer campanha aberta pela candidata lulista. Um exemplo: entre maio e agosto, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e seus principais assessores viajaram nada menos que 44 vezes em busca de votos para a petista. A conta, paga você, leitor contribuinte.

A revista Veja desta semana traz boa pista para explicar o por que de tanta voracidade e falta de escrúpulos. Traduz em números o tamanho do assalto ao Estado que o PT empreendeu nos últimos sete anos.

Dos principais cargos de confiança do governo federal, 45% foram entregues a sindicalistas. Desses, 82% são filiados ao PT. Além disso, desde que o governo Lula tomou posse, 6.045 servidores federais filiaram-se ao partido. Entre eles, 70% foram premiados com promoções e aumento de salários. É gente capaz de fazer tudo, tudo mesmo, para manter seus privilégios. Agem assim porque perceberam que contam com proteção aberta de seus chefes. Lei para eles é mero detalhe.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Que país é este?

Parece não ter mais limites a sanha com que o PT se lança sobre a vida privada dos cidadãos brasileiros. Num Estado policialesco que vai se proliferando sob a gestão Lula, órgãos de governo são sistematicamente usados para investigar e coagir pessoas. Adversários políticos tornaram-se os alvos principais da versão tupiniquim da Gestapo, a polícia política do regime hitlerista. Salve-se quem puder.

Soube-se agora que as violações em série de sigilos fiscais perpetradas em balcões da Receita Federal atingiram a filha do candidato do PSDB à presidência da República. A lista é extensa, começa com indivíduos com alguma ligação direta ou mais longínqua com José Serra e atinge pelo menos outras 140 pessoas, entre elas Ana Maria Braga e os donos das Casas Bahia.

Tudo somado, resta claríssima uma constatação: nenhum de nós está livre desta escalada de bandidagem. Mas, para o PT, tudo não passa de armação dos partidos da oposição. É a velha tática do “pega ladrão”. Para os líderes petistas, os culpados são os de sempre: as próprias vítimas.

O sigilo de Verônica Serra foi quebrado em 30 de setembro de 2009, quando o pai dela liderava todas as pesquisas de intenção de voto. Oito dias depois, a espionagem se estendeu ao vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge; ao ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros; a Ricardo Sérgio, ex-dirigente do Banco do Brasil; e ao empresário Gregório Marin Preciado.

Um dossiê com o resultado da arapongagem foi elaborado na mansão que servia ao comando da campanha de Dilma Rousseff em Brasília. Parte da história vazou antes da hora e, para consumo externo, o plano foi abortado. Terá sido mesmo? Quem garante que o bunker da petista não está abarrotado de informações fiscais de quem quer que seja?

Democracia e respeito à lei horrorizam a turma de Dilma. Para eles, o Estado serve para esmagar quem ousa não baixar a cabeça. Trata-se de uma nova forma de tortura, sutil, mas quase tão perniciosa como os maus tratos físicos impingidos durante a ditadura, como bem definiu Mendonça de Barros.

Estamos diante de um fato estarrecedor, mas mais estarrecedora ainda é a forma como o presidente Lula está lidando com o caso, cujos primeiros atos foram revelados há três meses pela Folha de S. Paulo. O mínimo que se poderia esperar é que o responsável pela Receita já tivesse sido ejetado do cargo. Mas nada.

Instado a comentar a usina de crimes que se desenrola nos intestinos da Receita, Otacílio Cartaxo limitou-se a manifestar “constrangimento” diante do que considera uma “simples mercantilização de informações sigilosas”. Ah, Cartaxo é o chefe do órgão onde os meus, os seus, os nossos dados fiscais estão armazenados... Se continua no cargo após conformar-se com a desmoralização, é porque a devassa faz parte do jogo armado pelo petismo.

Não satisfeito, o governo tem se dedicado a atrasar as investigações dos crimes o máximo possível. A ordem é ser displicente, como revelou O Estado de S. Paulo. Nada de chegar aos mandantes; no máximo, apresentar peixes pequenos, como as funcionárias da repartição do Fisco em Mauá onde os crimes foram cometidos. Quem sabe os resultados cheguem – passadas as eleições, evidentemente.

Está evidente que o governo do PT age com a convicção de que a maior fraude já perpetrada na Receita Federal de que se tem conhecimento não será suficiente para alterar o humor eleitoral. Aposta na despolitização e na desinformação.

Mas os cidadãos já perceberam que, a continuar nessa direção, os próximos a ruir são seus direitos. Ou se altera já o rumo deste descalabro ou continuará a valer o que Renato Russo berrava ainda em 1978: “Ninguém respeita a Constituição/Mas todos acreditam no futuro da nação”. Que país é este?