No Relatório de
Inflação divulgado
ontem, o BC reviu as projeções de crescimento da economia brasileira de 3,5%
para 2,5%. Confirmada a previsão, o Brasil avançará em dois anos o mesmo que o
governo Dilma Rousseff prometia crescer apenas neste. A gestão petista está
devendo, e muito.
Segundo o BC, o desempenho
de todos os setores econômicos será bem pior agora do que foi no fraquíssimo
2011. Para a agropecuária, a previsão é de queda de 1,5% – antes esperava-se
elevação de 2,5% no ano. O desempenho da indústria cairá à metade, para 1,9%
anual. O dos serviços será o menos afetado, passando de uma alta de 3,3% para
2,8%.
Até poucos dias
atrás, a Fazenda alardeava que o Brasil cresceria de “3% a 4%” em 2012,
percentual do qual o Planalto nunca divergiu. Em seguidas ocasiões, Mantega sustentou
que o patamar do ano passado – expansão de 2,7% – era ótimo “piso” para a
economia brasileira numa época de vacas magras como a atual. Resta saber o que o
ministro acha de tê-lo agora como teto inalcançável...
Depois de ter
chamado de “piada” a previsão de que o PIB só avançaria 1,5% em 2012, feita
pelo Credit Suisse na semana passada, Mantega agora terá de se contentar com o
que, seguindo o ponto de vista do ministro, seria uma pilhéria do BC. De forma
abrupta, a Fazenda também passou a falar dos mesmos 2,5% ora previstos no
Relatório de Inflação. Como se faz uma revisão tão súbita sem que o governo se
explique?
Infelizmente, é
possível que, assim como o errático Mantega, também o BC esteja equivocado. A média
dos prognósticos feita por mais de 100 instituições financeiras, estampada
semanalmente no boletim Focus, já
aponta para um crescimento de apenas 2,18% neste ano. A reversão das
expectativas foi fulminante: há um mês, esperava-se algo pouco acima de 3%.
Para que o país
cresça efetivamente os 2,5% previstos pelo Banco Central, a economia teria que
acelerar muito no semestre que começa no próximo domingo. A LCA Consultoria
estima que, para que o BC acerte, o ritmo de crescimento atual teria de ser
triplicado. Para a Tendências, significa atingir algo como 9,5% ao ano. Alguém crê
nesta possibilidade? Difícil.
A dura realidade econômica
que ora vai se consolidando no país resulta da dificuldade do governo petista
de agir adequadamente e na hora certa. A gestão Dilma demorou demais a baixar
os juros, insistiu além da conta no incentivo ao consumo e até agora não conseguiu
destravar os investimentos – alternativa que, de fato, teria o condão de
melhorar a situação geral do país.
“O governo Dilma
entendia que bastaria derrubar os juros, puxar as cotações do dólar e espremer
os bancos para que baixassem os juros para que o PIB disparasse. Não é o que
está acontecendo”, comenta Celso Ming no Estadão.
Para Miriam Leitão, n’O
Globo, “o problema não é apenas o mundo. É a qualidade da nossa
resposta. Ela tem sido fraca e sem nexo”. “O Banco Central exime com excesso de
condescendência a política econômica de responsabilidade pelo fraco desempenho
do PIB”, concorda o Valor
Econômico em editorial.
Mais indicadores reforçam
a percepção de que a resposta do governo do PT à crise é inadequada. O modelo
de expansão da economia a reboque do consumo caminha para a exaustão, se é que
ela já não chegou: o brasileiro nunca esteve tão endividado. Mostrou o BC ontem
que o valor das dívidas já corresponde a 43,3% da renda das famílias no ano, recorde
histórico desde 2005. Neste período, o endividamento mais que dobrou (era de 18,4%
há sete anos).
A ferocidade com que
os importados tomam conta do mercado brasileiro é outro agravante. No ano
passado, os bens vindos do exterior atenderam todo o aumento de consumo de bens
industriais verificado no país. Neste ano, contudo, estão indo ainda mais além:
enquanto a demanda interna por estes itens caiu 2,4% entre janeiro e abril, a
presença dos importados cresceu 0,4%, mostra o Valor
em sua edição de hoje.
A um quadro que
piora a olhos vistos, a presidente da República responde com o trivial simples
da receita petista: medidas a esmo, desconectadas, fragmentárias. Os pacotes se
sucedem e o país afunda, sem merecer do governo petista um plano de ação capaz
de efetivamente evitar que o pior aconteça. Agindo assim, Dilma Rousseff e sua
equipe brincam à beira do precipício.