O reajuste autorizado
ontem é de 6,6% para o preço da gasolina e de 5,4% para o do óleo diesel, ambos
nas refinarias. Para o consumidor final, a alta deve ser um pouco menor, em
razão, por exemplo, da mistura de álcool: estima-se que, nas bombas, o aumento
será de 4% para a gasolina e de 3% para o diesel.
Não é de hoje que o reajuste
tornou-se premente. Usada pelo governo como instrumento de controle da
inflação, a Petrobras vem sendo obrigada a importar gasolina – também se tornou
uma mega-compradora de etanol nos últimos anos – e vendê-la a preços bem mais
baixos no mercado interno. Há quase oito anos, o preço desse combustível ao
consumidor não era alterado.
Só no ano passado, a
defasagem entre o que paga lá fora e o que recebe aqui dentro rendeu prejuízo
de R$ 25 bilhões à estatal. As perdas não irão desaparecer: mesmo com a
correção dos preços a partir de hoje, a companhia deve continuar amargando rombo
de R$ 1,2 bilhão por mês. A gasolina continuará com defasagem de 11,8% em
relação aos valores internacionais e o diesel, de 12,2%, de acordo com o Valor Econômico.
O reajuste dos
combustíveis terá impacto na inflação, porém modesto: 0,3 ponto percentual, segundo
analistas. Mas o aumento só será possível em razão da redução das tarifas de
energia e a postergação de reajustes nos transportes públicos de cidades como São
Paulo. Ou seja, tanto num quanto noutro caso, com apoio de governos de oposição
ao PT.
O aumento chega às
vésperas da divulgação do resultado da Petrobras em 2012. Os números serão
conhecidos na segunda-feira e devem ser bem ruins, com queda de cerca de 15% no
lucro e de 2% na produção, segundo a Folha de S.Paulo. O governo antecipou-se para tentar evitar reações ainda
mais amargas dos investidores, já desiludidos com a companhia.
A outrora maior empresa
brasileira tem trilhado trajetória descendente nas garras do PT. A legenda de
Lula, Dilma e José Dirceu transformou a estatal num verdadeiro feudo político,
dobrando-a a frequentes investidas partidárias. Em dez anos, a Petrobras vergou
sob o peso da exploração petista.
A expectativa é de que,
daqui a cinco dias, a empresa anuncie a terceira queda anual de produção de seus 59
anos de história. Até agora, só Fernando Collor de Mello, em 1990, e Luiz
Inácio Lula da Silva, em 2004, conseguiram a proeza. Com os resultados de 2012,
Dilma Rousseff deve juntar-se a este nada memorável time: até novembro, a Petrobras
produziu 2,3% menos do que em 2011.
Nos últimos 12 meses,
a empresa perdeu R$ 86 bilhões em valor de mercado, anulando praticamente todo
o valor capitalizado em 2009, por ocasião da operação de reforço de caixa feita
com vistas à exploração do pré-sal. Ou seja, o que lá puseram, acreditando em
boas perspectivas, os acionistas perderam.
“O caminho tomado
até chegar a este ponto foi pavimentado por projetos com custos subestimados,
investimentos de necessidade discutível, falta de manutenção em equipamentos
estratégicos – dos quais depende a produção, em queda – e uma longa e
desastrosa defasagem entre o preço interno de combustíveis e o custo de
importação, mantida por Brasília”, analisou O Globo ontem em editorial.
A Petrobras tem um
plano de negócios de US$ 236,5 bilhões estabelecido para o período 2012-2016. Dele
depende, por exemplo, a expansão da exploração das reservas brasileiras do pré-sal.
Mas a má gestão e o uso da companhia como instrumento partidário têm atrapalhado
os investimentos nesta nova fronteira de produção, prejudicando o futuro do país
como um todo.
Garrotear os preços
dos combustíveis tem sido mais um dos artificialismos de que o governo petista
tem tido de lançar mão para impedir que a inflação, já alta, saia do controle. Mas
a incúria desta política está custando a saúde e a solvência da maior empresa pública
do país. O socorro de agora pode ter chegado tarde: à Petrobras é impossível suportar
os descalabros da gestão petista.