sábado, 29 de agosto de 2015

A recessão, de fato

Foi pior do que o previsto. O resultado do PIB do segundo trimestre, divulgado nesta manhã pelo IBGE, revela crise ainda mais brava do que já se temia. A economia brasileira tombou em peso. A recessão, agora tanto de fato quanto técnica, é obra com selo de qualidade do PT.

A queda no trimestre foi de 1,9%, na comparação com os três primeiros meses do ano. É o pior resultado desde 2009, e muito acima do que previam analistas. Como já houvera retração no primeiro trimestre (agora revista para -0,7%), o Brasil está oficialmente em recessão.

Em relação a igual período do ano anterior, ou seja, o segundo trimestre de 2014, o tombo da produção brasileira de bens e serviços chegou a 2,6%, quinta retração consecutiva e a mais longa sequência de baixas da série iniciada há 19 anos.

Desta vez, pelo lado da oferta, nenhum setor de atividade resistiu. Ruíram todos, inclusive a agropecuária, que até o primeiro trimestre ainda vinha apresentando alta. A indústria foi a que se saiu pior, com baixa de 4,3% sobre o trimestre anterior. Do lado da demanda, só as exportações não recuaram no período.

Os investimentos tiveram baixa horrorosa, de 8,1% sobre o primeiro trimestre – a oitava retração consecutiva nesta base de comparação – e de 12% em relação ao segundo trimestre de 2014, quinta seguida e a maior desde 1996. A taxa de investimento como proporção do PIB despencou, para 17,8%, a menor desde 2007.

Antes esteio do modelo econômico petista, o consumo das famílias também desabou 2%, “explicado pela deterioração dos indicadores de inflação, juros, crédito, emprego e renda ao longo do período”, segundo o IBGE. O PIB per capita terá várias quedas anuais seguidas, empobrecendo o brasileiro – estima-se que, em dólar, a baixa chegue a 30% neste ano.

A economia brasileira é, de longe, a de pior desempenho entre os países da OCDE. Entre 25 nações que já divulgaram o resultado do PIB do segundo trimestre, apenas seis registraram queda. Nenhuma tão acentuada quanto a do Brasil.

Dilma Rousseff caminha para produzir o pior resultado econômico desde Fernando Collor e esmera-se em fabricar a recessão mais longeva dos últimos 80 anos. Desde a Grande Depressão, nos anos 1930, o PIB não tem duas quedas consecutivas, algo que agora parece líquido e certo com as perspectivas sombrias também para 2016.

Na realidade, o Brasil já está soterrado em recessão desde o segundo trimestre de 2014, de acordo com critérios técnicos usados pela FGV. A penúria atual tende a ser mais severa e sua duração, mais prolongada. Além disso, a crise é fruto de fatores estritamente internos. Não há tsunami, nem marolinha externa que justifiquem o mergulho da nossa economia.

Não adianta perguntar para a presidente da República por que estamos tão mal. Ela terá na ponta da língua algumas elucubrações, todas furadas. Pode tentar alegar que “não sabe”, como já fez noutra ocasião, ainda em meados de 2014. Pode querer dizer que “levou muito susto”, como na entrevista que concedeu a três grandes jornais nesta semana. Uma coisa é certa: Dilma Rousseff não faz a menor ideia de como nos tirar da enrascada em que colocou o Brasil.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Aumento de impostos, não!

O governo do PT não sossega. Depois de ter dedicado os últimos meses a promover um arrocho fiscal de péssima qualidade, prepara-se agora para voltar a avançar sobre o bolso dos contribuintes. Está em gestação mais um impostaço, começando pela ressureição da famigerada CPMF.

O plano da presidente Dilma é enviar ao Legislativo uma proposta de emenda constitucional recriando o imposto do cheque. O tributo foi cobrado dos brasileiros até 2007, quando foi derrubado pelo Congresso, numa vitória histórica da sociedade contra a sanha arrecadatória do PT. Incidia à alíquota de 0,38% sobre movimentações financeiras e chegou a render R$ 36 bilhões (ou R$ 58 bilhões em valores atualizados pela inflação).

A justificativa oficial é de que, sem avançar ainda mais no bolso dos brasileiros, a conta fiscal do ano que vem não fechará. São necessários mais R$ 80 bilhões para tapar o rombo da incúria petista. Os ministros chamados de “desenvolvimentistas” ou da “ala política” do governo defendem que a melhor alternativa para arranjar o dinheiro é esfolar ainda mais o contribuinte.

A carga tributária vem crescendo de forma contínua nas gestões do PT e hoje alcança perto de 34% do PIB. O brasileiro trabalha cinco meses do ano só para pagar impostos, segundo cálculos do IBPT. Em contrapartida, somos o país onde o retorno do que é recolhido pelos contribuintes ao fisco é um dos piores do mundo em termos de serviços públicos prestados.

Mas isso não é suficiente para frear os ímpetos arrecadatórios do governo petista. Além do aumento da CPMF, também está sob análise a mudança na forma de cobrança do PIS/Cofins, com impacto brutal sobre prestadores de serviço, em especial. O governo alega que quer “simplificar” o sistema, mas o resultado é bem distinto: com a medida, as alíquotas podem mais que dobrar e render uma arrecadação extra de R$ 50 bilhões.

Na realidade, os contribuintes brasileiros estão sendo chamados a pagar a conta dos descalabros promovidos pela gestão da presidente Dilma nos últimos anos. Com sua mal sucedida política de desoneração fiscal, voltada para atender os amigos do rei com fartos e baratos recursos públicos, as receitas tributárias vêm caindo. Já viu para quem vai sobrar a fatura, não é?

Além do impostaço, o governo já adiantou que o arrocho fiscal deverá se aprofundar no próximo ano, com mais cortes de benefícios sociais. Está em estudo dobrar a carência para concessão de aposentadoria por invalidez e tornar ainda mais severas as regras para concessão de auxílio-doença (já alteradas neste ano). Programas sociais também serão dizimados. Num país onde até doação de girafa é objeto das garras do leão nada mais surpreende. Segure sua carteira, porque o bicho está solto e faminto.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A contradição em pessoa

Pobre da presidente da República em cuja palavra não se pode confiar. Não é capaz de transmitir credibilidade, não consegue arregimentar apoios, é inepta em apontar rumos e soluções. Assim tem sido com Dilma Rousseff. O que ela diz não se escreve. Pobre do país que tem uma mandatária como esta.

As contradições da presidente vão surgindo aos borbotões, praticamente no ritmo de uma a cada manifestação pública. O país que ela dizia governar era um, o verdadeiro é outro. O que ela prometia fazer era uma coisa, o que está fazendo é outra. Pode ser apenas ignorância, pode ser má-fé, pode ser ambas, mas é certamente incompetência.

Dilma diz agora que não sabia o tamanho da crise, que “tomou susto” quando se deu conta das dificuldades, dos desequilíbrios, dos rombos, dos desperdícios, da roubalheira, da corrupção praticada por seus companheiros do PT. Dilma passou os últimos 13 anos, dia após dia, na Esplanada dos Ministérios e no Palácio do Planalto. Mais parece, contudo, ter aterrissado de Marte.

Os compromissos públicos firmados por Dilma caíram por terra, suas promessas viraram fumaça, suas previsões jamais se confirmaram. Sua palavra não tem valor algum. O que esperar agora quando ela jura soluções, prevê reviravoltas, anuncia mudanças? Nada, evidentemente. É mero discurso. São táticas para desviar o foco, é conversa para boi dormir. Não há liderança, não há credibilidade.

O mero alheamento – nem por isso aceitável – seria uma possibilidade se as palavras da presidente transparecessem sinceridade. Nem de longe. Sua tímida confissão de culpa, sua titubeante admissão de erros serve apenas como tentativa de atenuar a crise da qual ela não sabe como se safar. Pior, do buraco do qual ela não faz ideia de como tirar o país.

São estas mentiras, estas contradições, este abuso em fazer do Brasil um joguete nas mãos do partido da presidente e de seus aliados que precisam ser passadas a limpo, investigadas e, uma vez condenadas, punidas. É por isso que os brasileiros aguardam, ansiosos, a manifestação da Justiça e dos órgãos de controle sobre as práticas irregulares, ilegais e fraudulentas para reeleger Dilma.

As recentes declarações da presidente da República reforçam a convicção de que o Estado, as finanças, a máquina pública foram postos de joelhos a serviço de sua candidatura. Mais: a vida dos cidadãos foi tratada como mero ingrediente no experimento de laboratório que visava estender por mais quatro anos um projeto visivelmente falido.

Dilma Rousseff tem mais três anos e quatro meses de mandato pela frente. Não tem, contudo, a menor condição de continuar governando o país. O Brasil não precisa de mais contradições; precisa de respostas. Em mais algum tempo, a presidente da República estará falando completamente sozinha. De tanto se contradizer, nem ela vai acreditar nela mesma.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Aprendizes de feiticeiros

Parece que a ficha começou a cair para a presidente Dilma Rousseff. Mas ainda é cedo para saber se o ensaio da admissão de erros e se a adoção atrasada de medidas há muito defendidas pela oposição são iniciativas sinceras ou, mais provavelmente, meras tentativas de desviar o foco da crise que se agiganta. Uma coisa é certa: vieram tarde demais.

Em entrevista a três dos principais jornais do país, Dilma finalmente reconheceu que errou e, mais que isso, foi lerda para perceber a encrenca em que afundou o país. Sua admissão é patética, ao desnudar o despreparo da petista para presidir uma nação como o Brasil. Vindo de quem não conseguiu manter aberta nem uma quitanda de R$ 1,99, não é de causar surpresa...

Sempre precedido de um “talvez”, ela disse que seu erro foi “ter demorado tanto a perceber que a situação podia ser mais grave do que imaginávamos”. “Nós levamos muito susto. (...) Meu erro foi não ter percebido prematuramente que a situação (do gasto público) seria tão ruim como se descreveu”. São frases lapidares: a confissão da incompetência.

A entrevista de Dilma foi convocada de última hora, em paralelo a outro movimento mambembe: o anúncio do corte de ministérios e cargos comissionados. Tudo rescendendo a improviso. Nem ela nem seus ministros foram capazes de apontar o que e quando será limado. O que interessa, neste momento, é apenas criar uma cortina de fumaça para disfarçar o desgoverno.

Infelizmente, Dilma chega tarde a conclusões há muito tiradas pela oposição. Que o Estado é balofo, ninguém, exceto os apadrinhados do PT, questiona. Que a máquina pública é ineficiente, ninguém tem dúvida. Na campanha eleitoral do ano passado, este diagnóstico foi fartamente apontado pela oposição. Em resposta, Dilma sempre classificou a diminuição do aparato estatal de “cegueira tecnocrática” e de “lorota”.

A conversão tardia da presidente acontece no mesmo momento em que seus principais esteios no exercício do poder se esvaem. Michel Temer devolveu ontem a articulação política à presidente, depois de quatro meses de muito desgaste e pouco resultado. Também pendurado por um fio, Joaquim Levy pediu refresco e foi para os EUA, ver a família. Só restou Renan Calheiros, não se sabe até quando.

A entrevista de Dilma e as ações improvisadas de seu governo deixam claro, de uma vez por todas, a maneira inepta com que ela e seu partido vêm comando o país. O Brasil foi feito de laboratório por aprendizes de feiticeiro e o povo, transformado em cobaias de experimentos. Deu tudo errado: perdeu-se tempo demais e o país agora está às voltas com dificuldades imensas, agravadas pela crise que se anuncia na China.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Em queda livre

A economia brasileira vai de mal a pior. Em plena recessão, a atividade parou, os investimentos desapareceram e o desemprego decolou de vez, enquanto o governo assiste à crise se agravar. As medidas tomadas até agora em Brasília ou aprofundaram o arrocho ou ressuscitaram políticas fracassadas. Este buraco parece não ter fundo.

A crise econômica atual tem dimensões que a caracterizam como a mais grave das últimas décadas. O desempenho do Brasil com Dilma Rousseff só encontra paralelo na história recente na desastrosa gestão de Fernando Collor, eleito em 1989 e afastado da presidência da República em 1992. Ou seja, a petista é a pior mandatária em mais de 20 anos.

Mas a atual situação tem traços ainda mais ruinosos. Desde a semana passada, tornou-se consenso entre os analistas econômicos que a economia brasileira não irá recuar apenas neste ano. O PIB deve cair também em 2016. Caso se confirme, será a primeira vez que isso acontece desde a chamada Grande Depressão, a crise econômica mundial da década de 1930.

Semana após semana, os prognósticos ficam cada vez mais sombrios. Segundo o Boletim Focus, do Banco Central, desta semana, a aposta majoritária é de que a economia afundará 2,06% neste ano e 0,24% em 2016. Há quem preveja cenário bem pior: a FGV, por exemplo, já cogita uma queda de até 3% no PIB brasileiro até dezembro.

Na próxima sexta-feira (28), será conhecido o resultado do PIB do segundo trimestre do ano. Embora não se saiba que número sairá da contabilidade do IBGE, uma coisa é certa: a queda da produção de bens e serviços terá sido bastante feia, superando com folga a baixa de 0,2% registrada no país nos primeiros três meses de 2015.

Na semana passada, o BC divulgou seu levantamento mensal, que funciona como espécie de prévia do índice oficial. O resultado foi uma queda de 1,9% no trimestre, que se seguiu ao tombo verificado nos três primeiros meses do ano (0,9%, segundo o IBC-Br). Resultado: tecnicamente falando, o Brasil já está, de novo, em recessão.

Se o quadro em voga é ruim, piores ainda são as perspectivas. Desde a reeleição, Dilma e sua equipe econômica só conseguiram aprofundar a recessão por meio das medidas tomadas para corrigir a montanha de erros do primeiro mandato. Na semana passada, quando resolveu variar o cardápio, ressuscitou iniciativas que aumentam a intervenção do Estado na economia. Sem chance de dar certo.

O problema é que a presidente da República não tem para entregar o principal ingrediente de uma economia que precisa sair da crise: credibilidade. Sem confiança no futuro, sem crença nas regras e sem esperança de que o governo comece a acertar, ninguém se arrisca. Enquanto estivermos neste buraco, os investimentos não acontecerão, a atividade ficará parada e os empregos minguarão ainda mais. O país continuará em queda livre.

sábado, 22 de agosto de 2015

O exército do desemprego

Virou uma triste rotina: a cada mês, a taxa de desemprego fica ainda mais alta no Brasil. No país da recessão, da inflação e da crise generalizada, que se estende também à política e à ética, o maior desafio do brasileiro tem sido conseguir continuar trabalhando. Durou pouco, se é que um dia existiu, o sonho do pleno emprego por aqui.

No mês passado, a taxa de desemprego medida pelo IBGE alcançou 7,5% da população ativa. Deu um salto e tanto, subindo bem mais rápido do que qualquer um poderia prever: em dezembro, o índice estava em 4,3% e um ano atrás, em julho de 2014, em 4,9%.

O desemprego no país encontra-se agora no nível mais alto em cinco anos. Há sete meses sobe sem cessar, o que não ocorria desde 2002. E ninguém acredita que vá parar por aí – em cidades como Salvador, por exemplo, a taxa já chega a 12,3%.

Em números absolutos, o total de desocupados cresceu assustadores 56% na comparação com o contingente de julho de 2014, ganhou mais 662 mil pessoas em um ano e agora soma 1,8 milhão. No ritmo atual, todo santo dia mais 7 mil pessoas se juntam ao exército dos sem emprego no país.

Serviços e indústria, cujo nível de emprego cai há 44 meses consecutivos, lideram a derrocada. Para complicar, quem consegue manter-se empregado vê seus rendimentos diminuírem: a queda chega a 2,4% em um ano. Desde 2004, a renda não caía no país.

Em muitos aspectos, a situação do mercado de trabalho brasileiro já é pior que a de países que enfrentaram crises bem mais brabas no passado recente – EUA e Inglaterra, por exemplo, têm taxas ao redor de 5,5%. Entre mais os jovens, o desemprego já atinge obscenos 18,5%, ou seja, um de cada cinco brasileiros com idade entre 18 e 24 anos – em dezembro passado, a proporção era de um a cada dez.

Cada vez mais gente – principalmente jovens – procura uma vaga de emprego e cada vez menos conseguem encontrar. A saída, quando há, tem sido abrir mão da carteira de trabalho e correr para a informalidade ou para um negócio próprio. É a precariedade.

Num retrato mais amplo, o quadro revela-se ainda mais desalentador. Por meio de outra pesquisa, a Pnad Contínua, o IBGE afere a situação do desemprego em cerca de 3.500 municípios brasileiros e não apenas nas seis regiões metropolitanas alcançadas pela PME. Segundo esta metodologia, no trimestre encerrado em maio o desemprego já estava em 8,1%. O país abriga agora 8,2 milhões de desocupados.

O retrato do desemprego deverá ganhar mais um pincelada dramática hoje, quando o Ministério do Trabalho divulgar os resultados do mercado formal em julho. Já se sabe que, mais uma vez, as demissões superaram as contratações. Desde as eleições presidenciais, será o oitavo mês com saldo no vermelho, resultando em mais de 1 milhão de empregos eliminados desde a vitória de Dilma. É a face mais terrível da crise que ora vivemos e da qual, tudo indica, ainda vamos demorar a sair.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Mais um laço no pacotão de maldades

O governo conseguiu ver aprovada ontem a última medida do arrocho fiscal que dependia de aval do Congresso. Com o aumento de impostos sobre a folha de pagamentos das empresas, foi dado mais um laço no pacotão de maldades que Dilma e sua equipe embrulham desde o fim de 2014. O que produziram até agora?

Em linhas gerais, até o momento, o ajuste recessivo revelou-se mera combinação de tesourada em benefícios sociais, navalhadas nos investimentos públicos, impostaço e tarifaço no cangote dos contribuintes. Em síntese, um programa rudimentar de rearranjo das contas públicas deixadas em frangalhos pelas estripulias de Dilma desde 2011.

No rastro do arrocho, o acesso ao seguro-desemprego foi severamente dificultado, no mesmo instante em que milhares de pessoas são demitidas diariamente no país. O pagamento do abano salarial de cerca de 4 milhões de trabalhadores que ganham até dois salários mínimos foi adiado para o ano que vem. Benefícios previdenciários foram limados.

O aumento de impostos veio a granel. Subiram PIS, Cofins, Cide, CSLL e ontem, por fim, a contribuição previdenciária sobre a folha de pagamentos de empresas de 56 setores econômicos foi elevada em até 150% – com voto contrário de toda a oposição no Senado. Novos aumentos de tributos e cortes em programas sociais virão em 2016, diz O Globo.

Mas as maldades vão muito além das medidas que dependem de apreciação do Congresso. Saem como pães do forno do governo federal, dia após dia.

Como é o caso do cancelamento do pagamento antecipado de metade do 13° salário, que vinha ocorrendo em agosto, mas agora está ameaçado – só para os trabalhares em geral, é bom que se frise, porque Dilma e seus ministros já receberam os deles, em julho, revela O Estado de S. Paulo.

Os investimentos públicos simplesmente desapareceram, adiando a escola que poderia beneficiar a criança ou a estrada que poderia destravar a produção nalgum rincão do país. No ano, caíram 37% até julho, segundo a Folha de S.Paulo. O PAC virou fumaça de vez: metade das obras e ações do programa não receberam um centavo sequer de verba neste ano até agora, mostrou ontem o Estadão.

Na fornada de maldades, também subiram os juros da casa própria e o Minha Casa Minha Vida simplesmente deixou de contratar moradias para quem mais precisa. Os financiamentos estudantis caíram à metade, as verbas para educação foram as mais afetadas pelos cortes no Orçamento e o Pronatec demorou oito meses para oferecer uma única vaga neste ano.

Em contrapartida, dentro do jogo para salvar o mandato de Dilma, o governo agora torra bilhões de reais para socorrer empresas eleitas pelos donos do poder em Brasília – sabe-se lá segundo quais critérios inconfessáveis. Ou seja, a conta do arrocho sobrou mesmo para os de sempre: eu, você, todos os que vivemos de salário e do suor cotidiano do trabalho. Assim prossegue a marcha da maldade petista.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Tomou lá, deu cá

Desde a semana passada, está em marcha a costura de um acordo com intuito de dar alguma sobrevida ao governo da presidente Dilma Rousseff. A movimentação inclui parte do Congresso, alguns empresários e banqueiros de peso, entidades patronais e classistas, movimentos sociais e até parte da Justiça. Este toma lá dá cá não interessa à sociedade brasileira.

Os movimentos começaram de forma subterrânea e ganharam a luz do sol quando o presidente do Senado apresentou uma lista tão desconjuntada quanto oportunista com propostas de projetos e leis para o país. Em paralelo, manifestos públicos em favor da governabilidade começaram a circular, fazendo coro ao apelo do vice-presidente em favor da “unidade” nacional.

Ato contínuo, tribunais federais tomaram seguidas decisões que, de uma maneira ou outra, favoreceram a presidente da República. Primeiro, o TCU deu mais tempo para Dilma se defender das irregularidades identificadas na sua gestão. Depois, o STF determinou ritos mais restritos para aprovação das contas presidenciais pelo Congresso e, por fim, o TSE retardou a análise sobre as ilegalidades cometidas na campanha que reelegeu a chapa Dilma-Temer. Tudo isso em quatro dias.

Agora, fechando o ciclo, o governo anuncia que voltará a colocar dinheiro público para socorrer setores da economia em apuros. Começará pela indústria automobilística (sempre ela!) e caminhará para beneficiar mais uma dezena de segmentos, como construção civil, eletroeletrônicos, telecomunicações, papel e celulose, fármacos e químicos, alimentos, petróleo e gás, energia, máquinas e equipamentos.

Ressurge, desta maneira, um dos esteios da mesma política econômica que produziu a ruína do primeiro mandato de Dilma e legou ao país o desarranjo que hoje grassa nas contas públicas. O dinheiro do crédito barato para as empresas, mais uma vez, virá de fontes públicas, como o FAT e o FGTS – o mesmo que, até 2019, continuará pagando uma ninharia à poupança forçada dos trabalhadores...

Para o governo, isso é o de menos. O mais relevante parece ser que o acordo que começou a ser costurado há dez dias fechou um giro completo. A presidente ganhou fôlego, parte da base aliada no Congresso se realinhou, empresários ficaram felizes ao receber mais crédito e os tribunais tiraram o pé do acelerador. Faltou apenas combinar com os milhões de brasileiros insatisfeitos que voltaram a ocupar as ruas de todo o país.

Acordos políticos não são, necessariamente, deletérios. Desde que, efetivamente, levem em consideração os anseios da população e busquem produzir resultados em prol do país e dos cidadãos. Não é o caso deste.

Neste momento, o único acordo desejável é o que une a sociedade em defesa das instituições e da Constituição para que os erros, as ilegalidades e as roubalheiras ocorridas nos últimos anos no Brasil sejam rigorosamente investigados e exemplarmente punidos. Este, o governo e seus aliados certamente não querem.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A melhor saída

O tamanho das manifestações, a frequência dos protestos, o grau de insatisfação da população e a altíssima impopularidade da presidente da República e seu governo não deixam dúvidas: do jeito que está, o país não pode continuar. É preciso encontrar saídas, sempre respeitados os limites estritos da Constituição e o papel das instituições.

Os desfechos possíveis para Dilma Rousseff incluem o impeachment, em função dos reiterados crimes de responsabilidade cometidos por ela; a impugnação da chapa vencedora, em razão de ilegalidades praticadas na campanha eleitoral de 2014; ou a renúncia, decisão unilateral a ser tomada por uma mandatária que a cada dia se vê com menos condições de permanecer no cargo.

Ou, diferentemente de tudo isso, a petista poderia, finalmente, encontrar um rumo para seu governo, enveredar por direção oposta à que seguiu em seu primeiro mandato e comandar uma agenda de reformas que recoloquem o país na trilha do desenvolvimento com justiça social. É tudo o que Dilma demonstra, diuturnamente, não ter condições de fazer.

Ao contrário, o máximo que a presidente conseguiu até agora foi beneficiar-se de uma articulação lançada por parlamentares governistas no Congresso, e abraçada por parte do empresariado nacional, em torno de uma lista desconjuntada de propostas vagas que o governo do PT, certamente, não terá nem desejo nem condições de levar adiante.

Ante este estupor, o povo nas ruas e as forças políticas de oposição clamam por respostas objetivas aos problemas reais que se acumulam no país. O Brasil convive hoje com uma recessão inédita desde a Grande Depressão, nos anos 1930. Com uma inflação que encarece os alimentos e encurta os salários. Com o desemprego. Com juros altos que engordam as dívidas e alimentam a inadimplência.

Que réplicas o governo ofereceu aos brasileiros até agora? A adoção do maior arrocho que se tem notícia, com corte de benefícios sociais, aumento de impostos e diminuição brutal de investimentos públicos, paralisando obras e ações que poderiam melhorar a vida dos cidadãos e impulsionar a atividade produtiva no país.

Quem paga a conta são os desempregados que não podem mais contar com o seguro-desemprego; as mães de família que penam para fazer o salário chegar ao fim do mês; os aposentados que não terão mais sequer a antecipação do seu minguado 13° salário; os estudantes que vêm o sonho da formação acadêmica inviabilizada pelas portas fechadas do Pronatec e do Fies.

As saídas para a imensa crise estão dentro da lei, nos marcos das instituições, nas páginas da Constituição. Estas são as respostas que o povo nas ruas e as forças políticas que se opõem a Dilma Rousseff e seus métodos de má gestão exigem e buscam. Ninguém conseguirá aguentar mais tanto tempo submetido a um desgoverno deste tamanho.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

O Brasil sabe o que quer

Quase 1 milhão de pessoas voltaram às ruas ontem para manifestar seu repúdio ao rumo que os governos petistas vêm dando ao país nos últimos anos. Dilma, Lula e o PT foram os alvos prediletos dos brasileiros indignados com a corrupção, os descaminhos da economia e as mentiras do marketing oficial.

As manifestações não repetiram os números de março, mas superaram os de abril. Não é possível desprezar um movimento cívico que, em cinco meses, levou alguns milhões de brasileiros de volta a ruas, praças e avenidas pelo país afora, como há muito tempo não se via por aqui. Por quaisquer ângulos que se observe, é um sucesso.

Os cálculos sobre o número de manifestantes e cidades envolvidas divergem de acordo com as fontes. Segundo O Globo e o Valor Econômico, 879 mil brasileiros ocuparam as ruas de 205 cidades. O Estado de S. Paulo computou 790 mil em 168 municípios e a Folha de S.Paulo fala em 612 mil pessoas espalhadas por 169 localidades. Em alguns casos, havia mais gente nas ruas agora do que nos protestos de junho de 2013.

Discutir a quantidade de presentes é o que menos importa em relação às manifestações de ontem, assim como às anteriores. O que prevalece é o sentimento de cidadania que os brasileiros externam. “Impeachment já”, “Fora Dilma”, “Fora PT” e “Lula nunca mais” foram as palavras de ordem dominantes. O povo sabe bem o que quer.

A indignação verdadeira dos brasileiros de norte a sul do país também serve como contraponto às estéreis respostas que o governo tenta ensaiar em Brasília, acreditando que pode enganar a população com a fumaça de agendas pré-fabricadas. As dificuldades do Brasil não se resolvem com passes de mágica, tampouco com oportunismo.

Os cidadãos continuam cobrando soluções para problemas que são reais, em especial os assaltos aos recursos públicos perpetrados pelo grupo que se sustenta no poder nos últimos 13 anos. Os mesmos governos e governantes que se ocuparam unicamente de garantir a sobrevivência de seu projeto político descuidaram da carestia, do emprego, dos serviços públicos. O povo percebe.

As manifestações deste domingo reforçam o ímpeto das forças políticas de oposição para manter a pressão sobre o governo, cobrar da presidente da República respostas às agruras que a população sente na pele, defender a atuação rigorosa das instituições e exigir que se cumpra regiamente o que a Constituição determina.

A cidadania provou, mais uma vez, estar vivíssima no país. É vívida uma democracia que consegue levar, periodicamente, cidadãos às ruas para exigirem seus direitos, manifestarem suas opiniões, buscarem um país mais justo e defenderem os interesses legítimos da nação, em oposição àqueles que só a querem predar. Restou claro, mais uma vez, que não há golpismo algum no ar; apenas a luta verdadeira em favor de um Brasil melhor.

sábado, 15 de agosto de 2015

Vamos, de novo, pra rua!

No próximo domingo, a cidadania voltará a ocupar ruas, praças e avenidas pelo Brasil afora. Brasileiros de todas as classes, regiões, idades, ideologias, crenças irão manifestar sua indignação com os rumos do país, com o desgoverno, com a roubalheira, com a mentira, com a truculência e com o descaso pela população. Nada mais legítimo numa democracia. Nada mais adequado na defesa dos interesses da nação.

Os protestos miram a evidente degradação das condições de vida no país, representada por uma crise econômica, política, social e, sobretudo, moral como há muito tempo não se via. Todos sentem na pele as dificuldades causadas pela falta de emprego, pelo aumento absurdo dos preços, pela queda brutal da renda, pelo serviço público que não cura, não protege nem ensina.

Os brasileiros que sonham com um Brasil melhor se indignam com a corrupção, deploram os assaltos aos cofres públicos revelados cotidianamente pela Justiça, pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, abominam as ilegalidades identificadas pelo TCU e rejeitam as irregularidades eleitorais hoje sob escrutínio do TSE.

Enquanto, sob abrigo de cerimônias oficiais realizadas em palácios, ativistas e partidários da presidente da República ameaçam se “entrincheirar” e brandir “arma na mão” em defesa do governo do PT, neste domingo o PSDB e os brasileiros que se cansaram de ver o país sendo usurpado pelo grupo encastelado no poder renovarão sua profissão de fé nas leis, na democracia e nas instituições. Contra a intolerância dos que perderam seus argumentos, levantaremos a Constituição.

Os brasileiros que ocuparão as ruas, praças e avenidas em centenas de cidades do país neste domingo não precisam, necessariamente, querer o fim do governo da atual presidente. Mas se cansaram dos descaminhos em que ela lançou o país e buscam, certamente, uma saída, uma luz no fim do túnel que o atual governo – também com absoluta certeza – perdeu as condições de apontar. Mesmo os que não estarão nas ruas compartilham desta insatisfação.

Não são, portanto, golpistas, antidemocratas, pessimistas ou derrotados os brasileiros que irão às ruas neste domingo. São, ao contrário, os que comungam do Estado democrático de direito, os que respeitam e confiam nas instituições, os que repelem qualquer solução que não seja regiamente amparada na Constituição. São os que continuam a alimentar a esperança numa mudança por um país melhor para todos os brasileiros.

O PSDB, legitimamente, tomará parte nas manifestações do próximo domingo. Como partido político que representa uma parte relevante da sociedade brasileira, estará nas ruas lutando por um país mais próspero, mais justo, mais limpo. Não se trata de opção; é dever da maior força de oposição ao governo que aí está. Vamos, de novo, para as ruas. A favor do Brasil.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Empulhações elétricas

O governo petista não aprende mesmo. Depois de toda a lambança promovida no setor elétrico, que resultou num dos maiores tarifaços da história e na desestruturação completa de um dos segmentos de infraestrutura mais fundamentais para o país, volta a fazer proselitismo político e prometer, novamente, redução nas contas de luz. Só quem não conhece é que compra.

A promessa agora é baixar a bandeira tarifária, cobrada desde março em razão de repasse de custos explosivos com a geração de energia por meio de usinas termelétricas para os consumidores. Na melhor das hipóteses, as faturas receberiam um alívio de R$ 1,10 a cada 100 kWh consumidos. A hipotética redução ainda será objeto de análise pela Aneel.

A média de consumo residencial no país encontra-se atualmente em 153 kWh por mês. Isso significa que, se realmente o custo da bandeira baixar nos percentuais prometidos pelo governo (até 20%), a fatura média paga pelo consumidor brasileiro cairá R$ 1,68. No frigir dos ovos, a queda seria de mais ou menos 1%.

Com isso, o governo se animou a vir a público dizer que “o Brasil começa a entrar novamente em um ciclo de redução de tarifas”, como afirmou o ministro Eduardo Braga, ao lado da presidente da República, na cerimônia de lançamento do Programa de Investimento em Energia Elétrica nesta semana. Pera lá!

Basta fazer as contas para ver que o governo não devolve com uma mão nada do que surrupiou com a outra. Desde janeiro de 2014, as tarifas residenciais de energia ficaram 73% mais caras no país, segundo o IBGE. Em alguns casos, mais que dobraram nos últimos dois anos. Ou seja, é no mínimo zombaria o governo vir agora dizer que começa a reduzir as explosivas contas de energia dos brasileiros.

Igualmente jocosas foram as manifestações da presidente sobre o tarifaço em marcha – apenas nos primeiros sete meses de 2015, a alta da energia residencial no país é de 48%. Dilma voltou a culpar a falta de chuvas e chegou ao desplante de dizer que, não fossem as mudanças resultantes da MP 579, as tarifas estariam ainda mais altas.

A presidente simplesmente omite que parte relevante da conta que chega hoje aos consumidores – que torna a vida dos brasileiros ainda mais árdua e piora as condições de competitividade das empresas – decorre da intervenção intempestiva e eleitoreira patrocinada por ela no setor em 2012, a fim de baixar as tarifas na marra. O desarranjo deixou uma conta de, pelo menos, R$ 114 bilhões que ora vem sendo paga pelos consumidores.

Imaginava-se que o petismo houvesse aprendido com a crise que ele mesmo eletrizou no setor de energia, depois de ter prometido baixar as tarifas e ter colhido uma alta de custos sem precedentes. Mas não. Bastou surgir uma nova oportunidade para que o governo reincidisse em suas fantasias, sempre tendo o povo como principal vítima de suas empulhações.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Até notícia ruim vira festa

A situação no país está tão desalentadora que até notícia ruim agora está sendo motivo de comemoração em Brasília. O Brasil foi novamente rebaixado por mais uma agência de classificação de riscos, mas isso foi visto com alívio pelas autoridades da administração Dilma. São traços de um governo que se contenta com o “menos pior”.

Ontem, a Moody’s rebaixou a nota de crédito do Brasil. Com a decisão, mais uma agência de rating deixou os papéis brasileiros a um degrau da classificação de especulativos, ou seja, pouco confiáveis aos olhos dos investidores. Em julho, a Standard & Poor’s já havia colocado a avaliação da dívida brasileira em perspectiva negativa.

A notícia, porém, foi recebida com festa em Brasília. Explica-se: o cenário é tão ruim que a expectativa era de que a Moody’s não só rebaixasse a nota brasileira como também a mantivesse com perspectiva negativa, ou seja, com chance de nova baixa no curto prazo. Mas a agência mudou o viés para “estável”. Com isso, a classificação não deve se alterar pelo menos nos próximos seis a nove meses.

O rebaixamento decidido pela Moody’s decorre da seguinte equação: baixo crescimento da economia, sem perspectiva de melhora até o fim do mandato da atual presidente; gastos públicos em alta, sem que o governo demonstre capacidade de freá-los; uma total ausência de iniciativas para reformar o país e uma completa falta de liderança política do governo no Congresso. Alguém discorda da avaliação dos analistas da agência?

Para que o pior não aconteça, ou seja, para que o Brasil não passe a ser considerado um porto inseguro para investidores globais, a economia nacional teria que crescer 2% ao ano e o governo teria que produzir superávits fiscais da ordem de 2% do PIB, segundo a Moody’s. Difícil, não?

Basta ter presente que a perspectiva realista e predominante entre os analistas é de recessão neste – podendo chegar a uma queda do PIB próxima a 3% até dezembro – e no próximo ano e que as metas fiscais do governo são de 0,15% do PIB neste ano e 0,7% em 2016 para aferir a distância entre realidade e desejo.

Na prática, o Brasil já remunera os investidores com juros tão altos quanto se o país já fosse classificado como uma economia de grau especulativo. O que se recebe para pôr dinheiro aqui é mais do que em lugares com reputações tão ruins, em termos financeiros, quanto a nossa, como a Índia, a Indonésia ou a Turquia. Com a perspectiva de alta da dívida pública, a tendência é pagarmos ainda mais.

Na prática, a decisão da Moody’s representou um gesto de boa vontade com o país, tendo como único fiador o ministro da Fazenda. Mal sabe a agência que hoje Joaquim Levy se fia numa parte do PMDB e depende da boa vontade de um partido cindido para que o governo encontre uma agenda positiva, ainda que improvável.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Um inferno lotado de intenções

Dilma Rousseff parece estar ensaiando um discurso para reagir à crise. Pena que ele contradiga tudo o que a presidente e seu partido fizeram nos últimos anos para chegar e se manter no poder.

O governo parece ter achado uma agenda para suplantar o ajuste fiscal e repor o país nalguma rota de crescimento. Pena que ela colida com tudo o que o PT pratica à frente do país e contenha medidas contra as quais o partido de Lula, Dilma e José Dirceu sempre se bateu.

Este talvez seja o maior problema da narrativa petista: entre a intenção e a prática vai longa distância, numa estrada esburacada por contradições, subterfúgios e mentiras. Torna-se, portanto, difícil crer que haja boa-fé nos propósitos patrocinados pelo Planalto e seus aliados.

Aboletada em palanques país afora, Dilma agora repete que não se pode admitir “vale-tudo”, nem torcer pelo “quanto pior, melhor”. Será que ela se lembra do que seu partido adotou como modus operandi durante toda sua existência até chegar ao poder? Será que se recorda de como ela mesma obteve seu segundo mandato, na mais suja eleição da história?

Se Lula se dizia a “metamorfose ambulante”, Dilma se revela a contradição em carne e osso. Um dia acena com diálogo, no outro arrosta com ameaças e enfrentamentos. Afirma a plateias que se deve pensar primeiro no país, mas age sempre privilegiando o projeto político de seu partido. Em suma: diz uma coisa, mas faz outra.

Distância parecida separa a prática de governo da agenda de medidas que o Planalto ensaia patrocinar a partir de sugestões feitas por senadores liderados por Renan Calheiros. Não é que sejam erradas; é que colidem com a atitude e a visão de mundo que o PT professa. Difícil crer que transponham o campo das boas intenções.

Como esperar que o governo que promoveu, por meio de uma embolorada matriz econômica, uma intervenção tão exagerada quanto desastrada na economia seja capaz agora de garantir segurança jurídica, regras estáveis e ágeis para o investimento privado?

Como crer que o governo do partido que promoveu a maior pilhagem dos cofres públicos da história comungue da aprovação de uma lei de responsabilidade para estatais? (Sem falar que, no passado, este mesmo partido foi às raias dos tribunais tentar impedir que regras de responsabilidade no trato do dinheiro público fossem adotadas no país?) Ou aprove mudanças na Previdência que rejeitou quando era a oposição do “quanto pior, melhor”?

O governo está se esforçando para encontrar uma narrativa, mas carrega um déficit de credibilidade de tal ordem que será preciso muito mais para alterar os humores dos brasileiros e ressuscitar a confiança numa mudança do país para melhor. Por enquanto, não passa de conversa fiada.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Desafios da Petrobras

Não foi desta vez que a Petrobras voltou a dar alegrias a seus acionistas e aos brasileiros em geral. A outrora maior companhia do país continua devendo bons resultados, ainda sob os escombros da pilhagem de que foi vítima nos últimos anos pela gestão petista. Seus próprios gestores atuais admitem: a recuperação vai demorar a vir.

Na semana passada, a Petrobras anunciou seus resultados no segundo trimestre do ano. O mais impactante foi a queda de 89% nos lucros em relação ao período de abril a junho de 2014. No semestre, a baixa foi menor (43%), mas nem por isso menos expressiva: sobraram quase R$ 5 bilhões a menos no caixa nestes seis meses.

Quem acompanha o dia a dia da companhia contava com um lucro que poderia ultrapassar R$ 4 bilhões, mas a estatal só entregou R$ 531 milhões. Resultado: as ações despencaram depois da divulgação dos resultados e das explicações dos gestores da companhia. No ano, ainda sobra um magérrimo ganho de 3,5% – que não dá nem para cobrir a inflação...

O que mais impactou o resultado da estatal no trimestre não foi a sua operação (que melhorou, com alta na produção). A Petrobras resolveu pagar impostos em litígio com a União e provisionou R$ 4,4 bilhões para quitar IOF em atraso. A ajudinha veio justamente no momento em que o Tesouro (ou seja, o governo) caça dinheiro de todo tipo para tentar engordar o resultado fiscal. Todo mundo achou estranho.

Na realidade, a companhia revelou que tem uma montanha de passivos fiscais entocados na sua contabilidade. Somam R$ 96 bilhões, capazes de deixar analistas e investidores de cabelo em pé com as perspectivas sombrias que levantam sobre a saúde da empresa. O montante praticamente equivale ao atual valor de mercado da Petrobras.

O endividamento da empresa também continua monstruoso. A dívida bruta ultrapassou R$ 415 bilhões. Em seis meses, aumentou 18% e já é superior ao patrimônio da companhia. A dívida líquida subiu para R$ 324 bilhões, mantendo o risco de rebaixamento da avaliação de crédito sobre a cabeça da Petrobras – algo que poderia lhe tirar mais uns 30% de valor de mercado, segundo analistas.

O estrago que a empresa sofreu nestes anos em que foi transformada em butim repartido pelo PT com seus aliados demorará a ser superado. Segundo Aldemir Bendine, presidente da Petrobras desde fevereiro, é serviço para, no mínimo, mais cinco anos. Isso dá a dimensão do tempo perdido por este patrimônio dos brasileiros depois que o governo resolveu intervir fortemente no setor de petróleo e mudar as regras de exploração no país.

A situação da Petrobras reforça a conveniência de rever os marcos legais e retirar da empresa os cabrestos que a gestão petista lhe impôs. O balanço geral indica que as obrigações do pré-sal e do modelo de partilha só lhe causaram perdas. Em boa hora, o Congresso deve aprovar proposta do senador José Serra que retira a obrigatoriedade de a Petrobras participar de negócios para os quais demonstra, a olhos vistos, não ter fôlego.

sábado, 8 de agosto de 2015

O réquiem do PT

O programa que o PT veiculou ontem em rede nacional de rádio e televisão deixa claro, de uma vez por todas, que o partido que levou o país à mais grave crise social, econômica, ética e política das últimas décadas não tem mais nada de sério a dizer aos brasileiros. O partido de Lula, Dilma e José Dirceu é incapaz de dar as respostas que os cidadãos cobram de um governo em processo de desintegração. Prepara seu testamento.

Novamente faltaram-lhe, no programa, humildade, autocrítica, sinceridade, coragem e espírito cívico. De novo, sobraram arrogância, covardia, mentira e manipulações ao partido que protagoniza o maior escândalo de corrupção da nossa história, produz a mais grave recessão em décadas e desfere na população o mais severo arrocho de que se tem notícia.

Para quem esperava uma prestação de contas, o programa partidário petista assumiu ares de campanha eleitoral. Deixou claro, definitivamente, que o maior objetivo dos petistas neste momento é tão-somente continuar a enganar os brasileiros, como fez no pleito de 2014. Pelo jeito, o PT já está se preparando para disputar novas eleições presidenciais...

O programa do PT tenta iludir os brasileiros sobre a profundidade e a extensão da crise. O partido do mensalão e do petrolão chama de “crise política” o que tem outro nome: os desdobramentos das revelações do maior esquema de corrupção que o país já viu e que financiou a chegada e a manutenção do PT e seus aliados no poder nos últimos 13 anos.

O PT fala em crise política, minimiza a crise econômica, mas omite-se em relação ao que de mais grave ocorre hoje no Brasil: a crise social, fruto do aumento do desemprego, da queda recorde da renda, da alta da inflação, da falta de perspectivas de recuperação e melhoria das condições de vida.

Mesmo acuado, o PT não busca conciliação, mas o enfrentamento direto com os que lhe fazem oposição. Na realidade, contrapõe-se mesmo é à larga maioria da população brasileira, que tornou a presidente Dilma e seu governo o mais execrado da história, como atestou, mais uma vez, a pesquisa do Datafolha divulgada ontem.

Depois de ensaiar afagos, a mão petista volta a apedrejar. No programa partidário, chega a sugerir ameaças golpistas e fomentar espectros da ditadura militar para produzir medo no povo e incitar mais instabilidade. O lobo que se faz de cordeiro demonstra que só se interessa mesmo em tentar salvar a própria pele.

Para completar, de forma acintosa, o PT ainda ironiza os que legitimamente manifestam insatisfação e indignação com o estado das coisas que aí está. Atitudes assim só podem ser interpretadas como o réquiem do partido. O PT não merece respeito nem consideração dos brasileiros que lutam por um país melhor, como ficará claro, mais uma vez, nas manifestações marcadas para o próximo dia 16. O panelaço de ontem foi só um ensaio.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A pior da história

Quando o assunto é Dilma Rousseff e o governo do PT, nada é tão ruim que não possa piorar. A petista ostenta agora o título de presidente da República mais mal avaliada, mais rejeitada e, por que não dizer, mais odiada da história brasileira. Sua ficha de serviços prestados à nação justifica com sobras a baixa popularidade.

Segundo pesquisa do Datafolha divulgada hoje, 71% dos brasileiros consideram o governo atual ruim ou péssimo. Nem Fernando Collor às vésperas do impeachment foi tão rejeitado. Na ponta oposta, apenas 8% ainda avaliam a gestão Dilma como ótima ou boa. Nunca tão poucos foram favoráveis a um governo.

A ojeriza a Dilma é ampla, geral e praticamente irrestrita. Em todas as regiões, em todas as faixas de renda e em todas as idades, a presidente é majoritariamente rejeitada. Na média e em todos os estratos, dois de cada três brasileiros rechaçam o governo dela – no Nordeste, a desaprovação chega a 66%; entre os mais pobres, alcança 69%. Este beco parece não vislumbrar saída.

O Datafolha perguntou a 3,3 mil brasileiros se consideram que o Congresso deve abrir processo de impeachment da presidente. 66% responderam que sim, com alta de três pontos percentuais em relação ao levantamento anterior, realizado em abril. 38% creem que Dilma será afastada do cargo – eram 29% há quatro meses.

Não se pode dizer que Dilma Rousseff não seja inteiramente responsável pelo inferno em que se encontra. O desastre foi ela quem lavrou. Esta erva daninha, foi ela quem semeou.

A crise econômica é fruto de escolhas equivocadas que ela aprofundou – e produzirá dois anos de recessão, como não ocorria no país desde a Grande Depressão, nos anos 1930. A desagregação política decorre da arrogância com que Dilma tentou administrar o país. A conflagração social é o estuário dramático de mentiras e erros cometidos em série.

Nem seus pares veem na presidente condições de superar as dificuldades. Como quem não enxerga na petista a líder que o momento clama, o vice-presidente está em busca de “alguém (que) tenha capacidade de reunificar a todos”. Até Lula parece entregar os pontos: nem uma improvável recuperação econômica é capaz de salvar Dilma e seu partido.

A crise aumenta de tamanho a cada mês, a cada semana, a cada dia. Pode ficar “desagradável”, no dizer de Michel Temer, para quem, duas semanas atrás, só havia uma “crisezinha”. Não: já está bem pior que desagradável. Quem trabalha, quem produz e quem investe no país – ou pelo menos tenta – sabe bem disso.

Nesta noite de quinta-feira, a legenda que produziu esta desestruturação e a chefe de governo que a levou ao paroxismo irão à TV defender seu projeto. Serão recebidos com a trilha sonora de milhões de panelas país afora, em repúdio à presidente da República e ao partido que têm muito a pagar e nada mais a oferecer ao país e aos brasileiros.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Crise de proporções industriais

O fracasso amplo, geral e irrestrito do governo Dilma Rousseff acaba de ser atestado, mais uma vez, com os números desastrosos do desempenho da indústria nacional. A crise no setor é cada vez mais aguda, a despeito de inúmeras iniciativas – todas inteiramente mal sucedidas – empreendidas pela gestão do PT nos últimos anos.

Junho registrou mais uma queda (-0,3%) na produção industrial, a 16ª seguida. Com baixa de 6,3%, o primeiro semestre foi o pior desde 2009. Destaque para a retração de 20% na produção de bens de capitais – o que indica pouca disposição dos empresários em investir no aumento da capacidade de produção – e de 14,6% na fabricação de bens de consumo duráveis – que sugere que o dinheiro está curto no bolso dos consumidores.

Ambas sinalizam menor potencial de crescimento da economia; ambas demonstram falta de confiança na recuperação do país. A queda da atividade no semestre foi generalizada, atingindo 24 dos 26 setores pesquisados pelo IBGE e 70% dos produtos acompanhados. De janeiro até maio, 105 mil empregos foram eliminados no setor.

É o retrato pronto e acabado do fracasso das seguidas medidas que o governo petista tomou para incentivar o setor secundário da economia. Deram em nada, exceto em torrar dinheiro do contribuinte para atender alguns poucos amigos do rei e em criar distorções ainda maiores no mercado, que prejudicam a competição e penalizam o consumidor.

Nos quatro primeiros anos do governo Dilma, a indústria registrou duas altas anuais (0,4% em 2011 e 2,1% em 2013) e duas quedas (-2,3% em 2012 e -3,1% em 2014). Na soma, encolheu e produz hoje 10% menos do que produzia em 2008. O segmento de transformação, mais dinâmico e modernizador, equivale agora a cerca de 10% do PIB, ante quase 20% há duas décadas. E continua a diminuir.

A expressiva elevação dos custos, na esteira do aumento de impostos e da tarifa de energia, o arrocho dos juros, a incerteza no cenário político e econômico e a deterioração do mercado de trabalho não deixam dúvida: a indústria vai continuar na pior. “2015 será um dos piores anos da indústria brasileira, mais grave que a crise de 2009”, analisa o Iedi.

É caro produzir no Brasil, as condições de infraestrutura não ajudam, a burocracia enlouquece qualquer um e, com seu intervencionismo excessivo, o Estado dá um jeito de sufocar o resto de ímpeto que ainda possa existir nos investidores. Além disso, a produção nacional não se beneficia de acordos globais e perde o bonde da competitividade – crescente, o déficit na balança de manufaturados chegou a US$ 110 bilhões em 2014.

O comportamento da indústria ilustra o buraco sem fundo em que a economia brasileira se encontra, jogada pelo PT. O país vive uma recessão que começou, segundo critérios técnicos da FGV, no segundo trimestre de 2014 e tende a durar pelo menos até o fim deste ano. É o mais duradouro ciclo de baixa desde 1999 e a pior retração desde Fernando Collor. É, portanto, uma crise de proporções industriais.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

O ‘guerreiro’ voltou... pra cadeia

José Dirceu foi novamente preso. Ninguém foi às ruas para defender o “guerreiro do povo brasileiro”, como os petistas se acostumaram a saudar um dos mais fortes dirigentes que o partido sempre teve. O PT calou-se a respeito. O envolvimento direto do petismo com a corrupção tornou-se tão umbilical, que nem a prisão de uma liderança de primeiríssimo escalão como Dirceu causa surpresa, senão resignação.

O ex-“capitão do time” de Lula foi novamente preso ontem sob acusação de receber propina. Numa frase, segundo a precisa definição d’O Globo: “Suspeita-se de que ele tenha dedicado os últimos 12 anos à corrupção”. A temporada coincide com os períodos em que o líder do PT, e ex-presidente do partido, foi ministro-chefe da Casa Civil de Lula, com o de seu julgamento, condenação e prisão pelos crimes do mensalão.

Dirceu é acusado de receber propina para financiar o projeto de poder do PT e para enriquecimento pessoal. De 2007 a 2014 teriam sido movimentados R$ 90 milhões, de acordo com O Globo, vindos de empresas que prestavam serviços à Petrobras e destinavam parte do dinheiro desviado ao partido de Dilma e Lula – no montante de até 20% de alguns contratos, segundo O Estado de S. Paulo. Antes, Dirceu coordenara a máquina de corromper montada pelo petismo para azeitar o apoio político a Lula no Congresso.

Dirceu talvez seja caso único de político duplamente preso. Ainda cumprindo, em casa, a pena de sete anos e 11 meses pela condenação no mensalão, teve de ser novamente encarcerado, porque continuava a delinquir. Já fora do governo, ele faturou R$ 39 milhões com sua empresa de consultoria de mentirinha, parte disso enquanto já estava na cadeia. Não é motivo suficiente para, pelo menos, suspender o benefício da prisão domiciliar de que Dirceu goza?

Os procuradores dizem que Dirceu criou o esquema de corrupção na Petrobras. Mas agia sozinho? Sua criação beneficiava diretamente a quem? A Operação Lava Jato talvez esteja ingressando agora no andar de cima da cadeia de comando que vem assaltando os cofres do Estado brasileiro ao longo dos últimos 13 anos. Oxalá assim seja.

Dirceu, certamente, não é o topo desta pirâmide. No mesmo período em que ele agia e enriquecia, Lula se locupletava do apoio parlamentar lubrificado com a corrupção e Dilma Rousseff presidia o conselho de administração da Petrobras, de onde saia o grosso do dinheiro que irrigava a compra de voto no Congresso, financiava o PT e enriquecia seus próceres. Há muito a investigar.

Segundo uma autoridade da Lava Jato ouvida pelo Valor Econômico, Lula entrou “no radar” das investigações em razão de dinheiro recebido de empresas investigadas pelos desvios na Petrobras sem a devida comprovação dos serviços supostamente prestados pelo ex-presidente. Já no Planalto, o maior temor, segundo os jornais, é de que as investigações subam a rampa do palácio e também passem a atormentar ainda mais a vida já nada fácil da atual presidente da República.

Junto com a prisão de Dirceu, a Lava Jato também revelou ontem, a partir da delação do lobista Milton Pascowitch, que o PT recebeu R$ 10 milhões em dinheiro vivo desviados da Petrobras e entregues na sede do partido. As sacolas de dinheiro eram o “pixuleco” que o partido sangrava do povo brasileiro para sustentar seu projeto de dominação total.

Está claro que o petrolão não apenas reproduziu o mensalão. Eram ambos parte de um sistema maior de assalto ao Estado, que também inclui as empresas do setor elétrico investigadas no “eletrolão”. Desde que chegou ao comando do país, o PT pôs a estrutura que deveria servir ao público, ou seja, aos cidadãos brasileiros, para servir ao projeto de poder do partido. É isso que apenas se desvelava no mensalão e que agora a Lava Jato vem desnudando cotidianamente com todas as cores.

O juiz Sérgio Moro descreveu a atuação de José Dirceu como atos de “profissionalismo e habitualidade” na arte de corromper. No universo do petismo, certamente assim é que se espera que faça um “capitão do time”. Recentemente, a presidente da República afirmou, numa entrevista, que o petrolão era fruto da ação de uns quatro ou cinco delinquentes. Não disse quais. Mas, com a nova prisão do ex-presidente do PT e ex-ministro da Casa Civil de Lula, é possível que as investigações estejam começando a se aproximar deles.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

A vez do ‘eletrolão’

Primeiro foi o mensalão, depois transformado em troco pela roubalheira que vem sendo desnudada com o petrolão. Agora chegou a vez dos negócios na área de energia. Dilma Rousseff pode até não ter participado do primeiro, mas esteve em posições de proa no segundo e pode estar enredada de vez no terceiro megaescândalo da era petista.

Na semana passada, a Operação Lava Jato começou a desbaratar a teia de corrupção dos negócios no setor elétrico federal. Iniciou pelas obras de construção da usina nuclear de Angra 3 e deve se espraiar por um latifúndio de R$ 28,6 bilhões em empreendimentos tocados pela Eletrobrás. Não há limite para a sanha corruptora petista.

O negócio em questão tem todos os ingredientes típicos das roubalheiras anteriores. Parada há 25 anos, a construção de Angra 3 foi retomada quando Dilma estava na Casa Civil e Lula na presidência da República. Já deveria estar pronta, mas seu custo dobrou para R$ 15 bilhões e o término da obra só deve acontecer em 2018 – e olhe lá.

A lista de obras com suspeitas de desvios é muito mais extensa. Também inclui, para ficar nos exemplos mais vistosos, as hidrelétricas de Belo Monte – cujo valor saltou de R$ 19 bilhões para R$ 33 bilhões, mas teve apenas 2/3 concluídos até agora – e Jirau, e até a fabricação de submarinos nucleares, cujo projeto beira R$ 30 bilhões.

Por ora, a Polícia Federal prendeu o presidente licenciado da Eletronuclear, mas dois diretores da Eletrobrás suspeitos de envolvimento nos desvios também pediram licença do cargo na semana passada. Um deles tem notórias ligações com a presidente da República: Valter Luiz Cardeal, diretor de Geração da estatal, que acompanha Dilma desde os tempos do governo do Rio Grande do Sul.

Cardeal personifica a relação umbilical de Dilma com o setor que ora é objeto de escrutínio do Ministério Público, da Justiça Federal e da PF. Mas há muito mais. Há mais de uma década, a hoje presidente tem seu nome atrelado ao setor elétrico nacional, que comandou no início do governo Lula e depois tutelou como ministra-chefe da Casa Civil e, posteriormente, como presidente da República.

O envolvimento de Dilma com a corrupção não passa de suposição. Mas é notório que, de forma progressiva, os negócios investigados estiveram ou estão muito próximos dela. Enquanto a Petrobras era assaltada em pelo menos R$ 19 bilhões, a petista presidia o seu conselho de administração e aprovava empreendimentos ruinosos. Na área energética, tudo passava por ela – supostamente sob mãos de ferro.

Como constatou um dos procuradores da Lava Jato, a roubalheira vem se espalhando por toda a administração pública federal, num deplorável “processo de metástase”. São as consequências do modo petista de administrar, que transformou o aparato estatal num balcão de negócios e alçou a corrupção à condição de método de governo. Já faz 13 anos que é assim.