Há muito que comemorar no levantamento publicado pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Na média, o IDH dos
municípios brasileiros subiu 47,5% desde 1991 até 2010, passando de 0,493 para
0,727. Com isso, deixou de ser considerado “muito baixo” para ser classificado
como “alto”. Progredimos.
Duas décadas atrás, o Brasil tinha 86% de seus municípios com
IDH “muito baixo”. Hoje apenas 0,6% ainda continuam nestas sofríveis condições,
levando em consideração as dimensões renda, longevidade e educação. Melhor ainda,
cerca de um terço das cidades do país já alcançaram status de “altamente
desenvolvidas”.
Entre as três dimensões, os municípios brasileiros saem-se
melhor em longevidade, com média de 0,816 e expansão de 23% em duas décadas.
Educação mantém-se como a mais baixa (0,637), embora tenha sido a de maior progressão
ao longo destes últimos 20 anos: evoluiu 128%. O avanço dos rendimentos foi o
menor (14%) do período, levando o indicador específico desta dimensão para 0,739.
O levantamento do Pnud permite analisar a evolução dos
municípios brasileiros dividindo-a em duas fases: de 1991 a 2000, período que praticamente
coincide com o governo de Fernando Henrique Cardoso, e 2001 a 2010, dominada predominantemente
pela gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Em quase tudo, o desempenho no
primeiro decênio supera o do segundo.
Na média, o IDHM geral saltou 24% de 1991 a 2000 e, no
período seguinte, melhorou mais 19%. Na educação, a diferença é cavalar: na primeira
metade das duas últimas décadas, ou seja, na fase predominantemente tucana, o
avanço obtido pelo país foi de 63%, percentual que caiu para 40% no decênio
seguinte.
Os avanços na renda praticamente se equivalem nos dois
períodos: 6,9% entre 1991 e 2000 e 6,8% de 2000 a 2010. Apenas a progressão no
indicador específico para longevidade foi mais elevada, ainda que levemente,
nos anos que coincidem majoritariamente com os da gestão petista: aumento de
12% no período mais recente, ante 10% no decênio inicial.
Ficar fazendo comparações pretéritas é como ficar olhando
para o retrovisor sem ver se o carro ruma para espatifar-se contra o muro. Mas este
é o esporte preferido dos petistas, como fez, novamente, a presidente Dilma Rousseff
na entrevista que deu à Folha de S.Paulo publicada
no domingo. É algo tão descabido que equivaleria a ver Fernando Henrique cotejando-se
a João Baptista Figueiredo lá na metade inicial de seu governo...
Em lugar de ficar contemplando o passado, o importante é
mirar no que o Brasil realmente precisa investir para construir seu futuro. E o
que o Pnud, mais uma vez, deixa evidente com o IDHM é que nosso grande gargalo
é a educação: entre nossos jovens de 15 a 17 anos, apenas 57% completaram o
ensino fundamental e, entre 18 e 20, só 41% concluíram o médio.
Conseguimos pôr praticamente todas as crianças brasileiras na
escola – hoje 91% delas estão nas salas de aula – mas não lhes oferecemos
educação de qualidade. Basta ver quais são os municípios mais desenvolvidos do
país – a paulista São Caetano do Sul continua liderando o ranking nacional – para
se constatar que a chave do sucesso é a aprendizagem bem feita.
“Os dados revelam uma defasagem no caminho seguido por quem
está na escola. É como se o estudante desistisse ano a ano. Especialistas em
educação sabem que escola boa segura o aluno, mas escola ruim o expulsa”,
analisa a Folha.
Para complicar, as diferenças regionais são ainda mais evidentes nesta dimensão:
localidades do Norte e do Nordeste saem-se bem pior que o resto do país.
Um último aspecto a considerar é a limitada influência do
quesito renda na melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. A queda na
mortalidade infantil – que influencia a dimensão longevidade – pesou muito mais
na expansão verificada nos últimos 20 anos do que, por exemplo, a universalização
de programas como o Bolsa Família.
A pesquisa do Pnud é riquíssima para apontar quais caminhos
o país precisa seguir para alcançar condições de desenvolvimento realmente mais
dignas. E serve, também, para mostrar quem mais fez pela melhoria da qualidade
de vida dos brasileiros nos últimos 20 anos. Se é para comparar, a vitória é
dos tucanos.