sábado, 28 de novembro de 2015

A cartilha do PT

Lula não tem dúvidas sobre o episódio que resultou na prisão do líder do governo da presidente Dilma no Senado: foi uma “burrada”. Não tivesse a trama urdida por Delcídio Amaral junto ao advogado de Nestor Cerveró sido flagrada, gravada e exemplarmente punida, é possível que o ex-presidente petista e seus comandados dispensassem ao senador tratamento bem distinto, o de herói.

O líder do governo no Senado não terá o mesmo destino de outros tantos petistas apanhados nos muitos escândalos de que o partido foi protagonista nos últimos anos. Não será um dos “guerreiros do povo brasileiro”. Simplesmente porque seu plano não deu certo. Tivesse conseguido silenciar Cerveró e tirá-lo do país numa fuga espetacular, teria feito o serviço dos sonhos dos petistas mais estrelados.

Não se viu até agora nenhuma voz petista se insurgir contra a afronta e o escárnio que a atitude do líder da presidente Dilma no Senado representa. Não se viu do governo que até anteontem ele representava no Congresso – e do qual tinha carta branca para agir – nenhuma manifestação pública repudiando sua iniciativa. O partido ao qual serviu nos últimos 15 anos apenas lavou as mãos.

Na nota que divulgou sobre o assunto, o PT diz que as tratativas de Delcídio não tinham “qualquer relação com sua atividade partidária”. Do que se depreende que todos os demais petistas apanhados em flagrante delito – ou seja, roubando recursos públicos, como ficou claro no mensalão e fica cada dia mais evidente no petrolão – atuavam em nome da causa partidária.

Relembrando: o PT tem dois ex-presidentes – um deles duplamente preso – e um ex-tesoureiro condenados por corrupção ativa; um ex-presidente da Câmara condenado por corrupção passiva e peculato. Tem um ex-dirigente condenado e preso por lavagem de dinheiro. Tem também encarcerado aquele que cuidou das finanças da campanha da atual presidente da República.

Vira e mexe, estes presidiários são saudados publicamente por petistas em suas celebrações partidárias. Na semana passada mesmo, ganharam faixas laudatórias estendidas em encontro da juventude petista ao qual Lula compareceu. O ex-presidente não apenas não os repreendeu pela atitude, como deu aos petistas mirins uma aula de como distorcer a realidade. É esta a cartilha pela qual reza o PT.

A experiência de 13 anos de governo petista vai deixando um legrado deplorável para o país. Assistimos não apenas a depauperação do Brasil, com a erosão diária das condições de vida da população. A maior vítima das atitudes petistas é a ética. O partido passará para a história como quem tornou a corrupção prática corrente, transformou o assalto ao Estado em método de gestão e dispensou a bandidos de carteirinha o tratamento de deuses.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Um dia histórico

A democracia brasileira viveu ontem um dia histórico. Com a força e a firme atuação das nossas instituições, avançou a marcha cujo destino é depurar a política, vencer a crise moral e ética e restaurar a supremacia do interesse público na gestão do Estado brasileiro. É preciso ir fundo para que todos os responsáveis pelo assalto aos cofres públicos que se tornou norma no país nos últimos anos paguem pelo que fizeram.

O líder do governo no Senado, Delcídio Amaral, foi preso com base numa gravação em que trama contra a apuração dos escândalos na Petrobras. O plano era evitar a delação de Nestor Cerveró, ex-diretor da estatal, promover sua saída do país e garantir-lhe uma mesada de R$ 50 mil como recompensa por não ter entregado os comparsas à Justiça. Uma estratégia, portanto, voltada a mostrar que o crime compensa. “Práticas tipicamente mafiosas”, na precisa definição do procurador Rodrigo Janot.

Junto com o senador líder do governo Dilma, foi preso o banqueiro André Esteves. Há quem sustente que sua prisão pode gerar “risco sistêmico” ao mercado financeiro, ameaçar o ajuste fiscal e agravar a crise econômica. Como se a saúde econômica do país prescindisse de instituições fortes, de um ambiente saudável e ético... Nada disso!

Numa sessão histórica, acompanhada em todo o país como se fosse uma partida decisiva de futebol, o Senado manteve a prisão de Delcídio. Horas antes, a pressão dos partidos de oposição fizera prevalecer a votação aberta e não secreta. Ainda assim, 13 senadores, dos quais 9 do PT, votaram pela libertação do líder do governo.

Decisiva, também, foi a postura do Supremo, dando firme apoio ao cumprimento da prisão determinada pela Lava Jato. Foi mais uma demonstração da força das instituições do Estado brasileiro, esteio que vai garantir ao país superar o momento de dificuldade que revolta a todos, dar fim a este ciclo perverso e iniciar uma nova etapa, pautada na ética.

Um dos aspectos mais importantes das revelações que vieram a público ontem é jogar nova luz sobre a ruinosa compra da refinaria de Pasadena, que gerou prejuízo de quase US$ 800 milhões aos cofres públicos. Nas anotações que constituem parte de sua delação premiada, Cerveró não deixa margem a dúvidas: Dilma “sabia de tudo”. Que se investigue a fundo, portanto.

Junte-se a isso o fato de que, até ontem, Delcídio era o líder do governo Dilma no Senado. Ou seja, tinha mandato do Palácio do Planalto para falar em nome da presidente da República. O que permite fazer a seguinte indagação: Até que ponto o que foi tratado na conversa gravada pelo filho de Cerveró também estava avalizado pela chefe petista?

Resta claro que esta gente não respeita as instituições, se lixa para a Constituição e acha que pode manipular decisões da Justiça, do Ministério Público ou da Polícia Federal. Acha que o Estado é propriedade de um partido e de seus aliados no núcleo de poder. Esta gente não entendeu o que é viver numa democracia e respeitar regras que devem valer para todos. É possível que ontem, finalmente, tenha lhes caído a ficha.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Organização Criminosa Ltda.

O amigão do ex-presidente Lula que tinha passe livre no Planalto foi preso ontem. O líder do governo no Senado foi preso hoje de manhã. O que mais falta para que fique comprovado, de uma vez por todas, que o país está sendo comandado por uma organização criminosa? O que mais falta para que esta nefasta experiência tenha fim, com a expulsão do PT do poder?

De personagem secundário, José Carlos Bumlai ganhou holofotes no governo petista por causa da sua proximidade com Lula. Era tamanha que, depois de ter sido inadvertidamente barrado por seguranças na entrada do Planalto, o cerimonial do palácio fez baixar um alerta avisando todas as portarias de que o pecuarista amigão deveria ter acesso irrestrito ao prédio, “em qualquer tempo e circunstância”. Os limites de atuação de Bumlai, contudo, eram muito mais largos do que se supunha à época.

A Operação Lava Jato suspeita que o amigão de Lula tornou-se um dos mais ativos pontas de lança no esquema de desvio de dinheiro público para os cofres do PT. Bumlai pode ter sido, nos anos recentes, o que Marcos Valério foi para o partido no auge do mensalão. Um sucede o outro, assim como o petrolão sucede o escândalo, já punido pelo STF, da compra de apoio parlamentar pelo governo petista no Congresso.

As fontes da grana eram diversas: empréstimos fictícios em bancos para pagar dívidas de campanha (qualquer semelhança com o mensalão não é mera coincidência), propina para obtenção de contratos públicos bilionários (o DNA do petrolão presente), concessão de financiamentos públicos para amigos do rei e de distribuição de benefícios financeiros para seus familiares (comprovando que o Estado petista esteve sempre a serviço dos “mais pobres”).

Também renascem nas atuais investigações as recorrentes suspeitas de que, desde que assumiu a primeira prefeitura no país, o PT vale-se de esquemas corruptos para levantar dinheiro para financiar seu projeto de poder. Foi assim em Ribeirão Preto, foi assim em Campinas, foi assim em Santo André, resultando, neste caso, na morte trágica de um de seus principais quadros à época. Com o tempo, o esquema só ganhou escala – e como!

A prisão de Bumlai ressalta, ainda, as suspeitas sobre os ataques petistas ao caixa farto do BNDES, onde a firma do pecuarista, mesmo falida, obteve empréstimos generosos e baratinhos. Reforça a convicção de que o assalto aos cofres do Estado brasileiro foi muito além do mensalão, ultrapassaram o petrolão e chegaram às demais joias da coroa, incluindo o banco e demais estatais. Há operações e beneficiários de sobra para investigar.

Foi do caixa do BNDES que saíram empréstimos bilionários nos últimos anos para azeitar a relação do petismo com empresários. Esta simbiose deu sustentação política aos governos de Lula e Dilma, ao mesmo tempo em que drenava os recursos do Estado brasileiro. São os mesmos recursos que hoje faltam para sustentar as políticas sociais ou para impulsionar o crescimento econômico de um país arruinado.

Por sua vez, a prisão, nesta manhã, do senador Delcídio Amaral, líder do governo no Senado, cria mais uma ponte direta (o Palácio do Planalto já está cheio delas) entre o escândalo que pode ter resultado em mais de R$ 40 bilhões desviados da Petrobras e a gestão da presidente Dilma Rousseff. O que mais é preciso para levar adiante o pedido para que ela seja, constitucionalmente, investigada e apeada de lá?

O preço da predação do aparato estatal por parte do PT está sendo pago cotidianamente pela população brasileira na forma de recessão, desemprego, desalento e inflação. A corrupção petista é a origem das mazelas que tornam a vida no país hoje um verdadeiro inferno. Não é preciso procurar mais razões para pôr fim a este ciclo.

Os nomes dos principais beneficiários diretos desta organização criminosa também são sobejamente conhecidos. Comprova-se que os processos eleitorais desenrolados sob o corrupto manto que a Operação Lava Jato ora descortina foram ilegítimos. Falta agora às investigações chegar ao amigão de Bumlai e apurar a fundo como se deram a eleição e a reeleição da amigona do amigão de Bumlai. Falta apenas chegar ao principal.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Governo da irresponsabilidade fiscal

Não pode ser sério um governo que, faltando pouco mais de um mês para terminar o ano, ainda não sabe qual meta fiscal irá perseguir na execução de seu orçamento corrente. Não pode ser responsável uma gestão em que isso acontece pelo segundo ano consecutivo. Não tem futuro uma nação que vive desta maneira.

A administração da presidente Dilma pretende votar nesta noite a alteração da meta fiscal para 2015. Sim, a meta de despesas e receitas do ano que está acabando! O governo começou o exercício prometendo economizar R$ 66 bilhões e deve fechá-lo produzindo um rombo – com eventual pagamento de pedaladas – de inacreditáveis R$ 120 bilhões.

Seria espantoso se fosse inédito; é chocante porque tornou-se recorrente. No ano passado, na primeira semana de dezembro, o governo Dilma aprovou no Congresso a revisão da meta de 2014. Comprometeu-se a entregar R$ 10,5 bilhões de superávit – até então, o saldo prometido era de R$ 80 bilhões. Mas nem isso conseguiu: o ano terminou com rombo de R$ 32 bilhões.

Se aprovada pelos parlamentares, esta será a terceira meta de superávit primário que o país terá em 2015. A gestão petista começou o ano prevendo um saldo de 1,1% do PIB. Em julho, diminuiu a meta para 0,15% do PIB e hoje a previsão é de déficit de 2% do PIB. Como um governante pode ser tão incompetente, imprevidente e irresponsável?

O país caminha para três anos seguidos no vermelho. Quando, em agosto, fez sua primeira estimativa para o ano que vem, o governo admitiu déficit de R$ 30,5 bilhões em 2016. O anúncio catapultou a deterioração das condições econômicas e levou o Brasil a perder o grau de investimento de uma das agências internacionais de crédito.

Agora, o governo promete saldo de 0,7% do PIB em 2016, mas nem sua base no Congresso acredita. “Superávit primário agora é delírio”, resume o senador Romero Jucá, do PMDB. De fato, todas as alternativas para produzir receita propostas pelo governo estão se frustrando: repatriação de recursos, aumento de impostos, venda de ativos, leilões de concessão. Nada que Dilma prevê ou projeta acontece.

Com o PT, o desempenho fiscal do país piorou a olhos vistos, seguindo a cartilha de que “despesa é vida”, pela qual Dilma Rousseff sempre rezou. O déficit nominal (inclui pagamento de juros) alcança incríveis 9,3% do PIB nos últimos 12 meses. A dívida bruta vem dando piruetas, pulando de 53% para 66% do PIB desde 2011.

Responsabilidade fiscal nunca foi a praia do PT. A Lei de Responsabilidade Fiscal foi duramente combatida pelo partido, inclusive nos tribunais. O resultado é que o país não tem mais um parâmetro fiscal crível. Não tem nem mesmo alguma meta, já que os objetivos mudam ao sabor dos ventos. É passo decisivo para dinamitar a credibilidade de uma nação e implodir qualquer ponte para o futuro.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Chore por nós, Argentina

Acabou ontem um dos mais longevos governos populistas da América Latina na história recente. A vitória de Mauricio Macri põe fim a três mandatos da família Kirchner, durante os quais a Argentina afundou numa crise econômica e social que parecia ter ficado no passado. Oxalá, signifique uma nova onda no continente, com reflexos diretos no Brasil.

Macri derrotou o candidato da situação, Daniel Scioli, com 51% dos votos válidos. A Argentina é exemplo de que o Brasil também pode sonhar com uma virada no seu rumo político. Quarenta dias atrás, o candidato kirchnerista recebeu apoio de Dilma Rousseff em Brasília. Pode ter sido a pá de cal em suas pretensões perante os eleitores argentinos...

O novo presidente argentino herdará um país muito parecido com o Brasil de hoje: em recessão, às voltas com inflação, aumento do desemprego e da pobreza, com violência ascendente. Uma das poucas diferenças está no fato de que a Argentina foi ainda mais longe e se isolou do mercado internacional de crédito. Não chegamos a tanto.

Lá como aqui, o candidato da situação usou as mesmas armas retóricas que o petismo empregou para vencer a eleição do ano passado. Transformou adversários em inimigos. Abusou da estratégia do medo, segundo a qual só o atual governo garantiria as conquistas sociais. O problema é que, tal como aqui, o presente dos argentinos já virou um inferno.

A vitória de Macri pode representar um primeiro passo para a derrocada dos regimes populistas na América Latina. No mês que vem, há eleições legislativas na Venezuela, com chances reais de o poder de Nicolás Maduro diminuir – tanto que o chavista impediu a presença de observadores estrangeiros.

A onda populista fez muito mal ao continente. Em sua maior parte, os países latino-americanos deixaram de aproveitar a bonança global criada com a alta recorde dos preços de commodities. Seu ritmo de crescimento, que se acelerara na década passada, já retrocede: segundo a Cepal, o PIB do continente deve cair 0,3% neste ano, travado principalmente pelo Brasil.

Com a vitória de Macri, abre-se, também, a possibilidade de o Mercosul voltar a integrar-se ao mundo. Durante anos, a retórica protecionista deu as cartas, tanto em Buenos Aires quanto em Brasília, e isolou o bloco do resto do mundo. O resultado foi a anemia econômica e a irrelevância geopolítica.

O fim de ciclo que a Argentina, para sua felicidade, experimenta hoje talvez só não tenha acontecido no Brasil um ano atrás porque foram usadas armas espúrias para garantir a vitória de Dilma Rousseff. Assim como os argentinos conseguiram reencontrar o bom caminho, os brasileiros ainda lutam na Justiça para fazer prevalecer a vontade popular usurpada. Enquanto não conseguirmos, que a Argentina chore por nós.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Está dura a vida

Ao longo dos últimos anos, foram várias as ocasiões em que se julgou que o Brasil atingira o fundo do poço. Para desalento geral, o pior sempre esteve por vir. Assim permanecemos. O país continua retrocedendo, sem enxergar no governo da presidente Dilma ações capazes de alterar as perspectivas.

Por onde se olha, percebem-se evidências da crise. A fila do desemprego, por exemplo, só aumenta. Nesta manhã, o IBGE divulgou sua pesquisa sobre mercado de trabalho relativa a outubro. Mais uma vez, a deterioração nas condições de ocupação e renda se acentuou. A taxa de desemprego subiu para 7,9%, a mais alta para o mês desde 2007.

Em 12 meses, o número de pessoas sem emprego aumentou em 771 mil. Nunca antes na série do IBGE, iniciada em 2002, houvera salto tão grande entre um ano e outro: o contingente de desempregados cresceu 67% no país – em São Paulo e Belo Horizonte, subiu mais de 80% em apenas um ano.

Não é só o emprego que escasseia. A renda de quem consegue manter-se ocupado também decai. Em um ano, o rendimento médio dos trabalhadores diminuiu 7%, já descontada a inflação do período – ou seja, em termos nominais, a baixa se aproxima de 17%.

Levantamento feito pelo banco Santander projeta dois anos seguidos de redução na massa salarial dos trabalhadores, considerando apenas as seis principais regiões metropolitanas do país. Isso significa R$ 42 bilhões a menos no bolso dos brasileiros. A tendência é a baixa já registrada neste ano se acentuar no ano que vem.

O emprego é o componente mais explícito de uma crise de largas proporções. Daqui a pouco mais de dez dias, o IBGE divulgará o resultado do PIB brasileiro no terceiro trimestre. Uma coisa já é certa: não será nada bom.

A prévia do PIB anunciada ontem pelo Banco Central mostrou baixa de 1,4% no período, ante o trimestre anterior. O país caminha para três anos de recessão, o que não acontecia desde os anos 1930. É muito tempo perdido.

Confirmados os números do BC, a economia brasileira estará agora em patamar inferior ao que estava quatro anos atrás, calculou a Folha de S.Paulo. Em termos per capita, ou seja, a renda dividida por indivíduo, o retrocesso será ainda mais acentuado, com baixas seguidas ao longo dos próximos anos até atingir, em 2020, o mesmo nível de 2010.

O problema maior é que não se vislumbram iniciativas capazes de recolocar o país no rumo do qual se desvirtuou. As experiências postas em prática nos últimos anos se mostraram um fracasso retumbante e o governo de turno não exibe capacidade mínima de convencer os agentes econômicos de que sabe o que fazer e tampouco para onde ir. À deriva, o Brasil ainda aguarda dias melhores, com a certeza de que, com o governo que aí está, eles nunca chegarão.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

De volta ao passado

Os limites da política social adotada no país nos últimos anos ficam muito evidentes quando se constatam os problemas com os quais o país continua a se deparar em áreas como a da saúde. Casos e epidemias decorrentes de más condições e falhas em estratégias antes vitoriosas comprometem avanços de décadas e põem em risco a vida das pessoas.

Neste momento, o país vive um surto de casos de microcefalia. Ontem, o governo admitiu oficialmente que é “altamente provável” que as ocorrências estejam relacionadas a um vírus, o zika, transmitido pelo mesmo mosquito que transmite a dengue.

Já há 399 crianças com suspeita de má-formação congênita. É quatro vezes a média de casos identificados anualmente até agora. A maior parte está em Pernambuco e demais estados do Nordeste. Há risco de as ocorrências se alastrarem pelo resto do país. No primeiro semestre já houve um surto do vírus, cuja presença foi constatada em 14 estados.

Crianças que apresentam o problema correm risco de ter deficiência mental, problemas de visão e audição, convulsões e dificuldade de locomoção. Em casos extremos, podem morrer em decorrência da doença. Ou seja, terão suas vidas severamente afetadas e seu futuro seriamente comprometido.

Até agora, o máximo que o governo federal conseguiu balbuciar como reação foi sugerir que mulheres que pretendam ser mães evitem engravidar neste momento, para que seus bebês não corram risco de contaminação pelo vírus. Bela política pública de saúde...

Doenças transmitidas por vetores como o mosquito Aedes aegypti são típicas de lugares em que predominam condições insalubres. Denotam descuido com saneamento, leniência na prevenção e, ao cabo, descaso com a saúde da população.

Nesta altura do campeonato, já deveriam ter sido seriamente enfrentadas, mas ocorre o contrário: no caso da dengue, este ano já registra recorde de ocorrências e mortes. O país vê-se obrigado a se defrontar com problemas que já deveriam ter ficado no passado.

Outro flagrante do fracasso das políticas públicas de saúde é o que está acontecendo com a vacinação infantil. Simplesmente não há doses – por exemplo, da pneumocócica e da tetraviral, entre outras – para cumprir o calendário básico. O governo culpa problemas na produção e sugere como solução aos pais “trocar as vacinas”.

A área de saúde é uma das maiores vítimas do arrocho fiscal patrocinado pela gestão petista. Quando não há boa gestão dos recursos recolhidos dos contribuintes na forma de impostos, as primeiras vítimas são justamente os cidadãos que mais precisam do suporte do Estado.

Resta claro que as ações sociais desenvolvidas nos últimos anos não conseguiram lograr melhorias reais e duradouras na qualidade de vida da população. Excesso de marketing mata.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Mariana sempre

A tragédia que destruiu uma comunidade inteira em Mariana, afetou milhares de famílias devastou centenas de hectares de biosfera e tornou moribundo um dos maiores rios brasileiros não pode sumir do mapa das preocupações do país como num passe de mágica.

Debruçar-se sobre a catástrofe que até agora deixou sete mortos e já é tratada como a maior da história da mineração no mundo precisa ser tarefa cotidiana de homens públicos e de todos aqueles que buscam um mundo melhor e mais sustentável, em todas as suas dimensões – ambiental, social e econômica.

Passados 12 dias do rompimento da barragem da Samarco, a extensão do episódio ainda não é de todo clara. Demorará a sê-lo. Os contornos da tragédia se revelam, se avolumam e atemorizam na forma do drama diário das milhares de famílias afetadas desde Mariana até o Espírito Santo, passando por todo o vale do rio Doce. Gente ainda sem casa, sem água, sem a comida que a natureza provinha.

O auxílio tempestivo às pessoas cujas vidas foram destroçadas deve manter-se no topo das prioridades. As empresas responsáveis devem agir o quanto antes para que a vida volte ao normal, pelo menos naquilo que está ao alcance humano. Devem, também, pagar pelos seus erros. O poder público precisa ser implacável e rigoroso para punir, e previdente para coibir a repetição da tragédia.

O episódio impõe a necessidade de novas posturas, procedimentos e normas diante dos riscos associados a atividades potencialmente danosas ao meio ambiente – e o Brasil, rico em recursos naturais, é pleno delas. Infelizmente, não é o que temos hoje. Longe disso.

A recuperação dos estragos espalhados por centenas de quilômetros, onde vivem perto de 3 milhões de pessoas, se estenderá por décadas e custará pelo menos R$ 14 bilhões, segundo estimativas preliminares. Deve ser muito mais. Mas nem toda reparação pagará a desgraça que se abateu sobre indivíduos cujas perdas jamais se apagarão.

Nos âmbitos político e econômico, as discussões no Congresso em torno do novo Código Mineral, que substituirá um arcabouço vigente há 50 anos, fornecem oportunidades ímpar de se traçar novos e rigorosos paradigmas.

Infelizmente, contudo, até agora as atenções estiveram voltadas a um único aspecto: o arrecadatório. A tragédia de Mariana ressalta e impõe a necessidade de posturas mais adequadas, seja na prevenção de riscos, na reparação de danos ou na proteção do meio ambiente, da fauna, da flora e dos seres humanos.

A tragédia de Mariana nos exige que o Brasil deixe, urgentemente, de ser o lugar do remendo, do jeitinho, da imprevidência, da reparação e da emergência. E começar a caminhar – ainda que este seja um processo que não se resolve em dias, mas em décadas de muito esforço – para tornar-se um país da prevenção, da previsibilidade, da regra, do respeito aos direitos e da valorização da vida.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Números miseráveis

Os resultados da Pnad divulgados na sexta-feira mostram o último suspiro de um ciclo que se exauriu. Revelam avanços tímidos, os limites do modelo petista de distribuição de renda e os imensos desafios que ainda persistem para que o Brasil se torne uma nação que ofereça condições de vida realmente dignas a todos os seus cidadãos.

Em linhas gerais, a pesquisa de domicílios feita anualmente pelo IBGE exibiu a exaustão de algumas conquistas recentes da sociedade brasileira. Felizmente, mais uma vez, a desigualdade diminuiu e a proporção de pobres e miseráveis também caiu, como parte de um ciclo virtuoso iniciado desde a estabilização da economia, com o Plano Real.

As notícias boas, porém, se esvaem aí. A pesquisa foi feita em setembro de 2014, na véspera das eleições presidenciais, quando o governo ainda se desdobrava para dar ares de normalidade ao país e mantinha os incentivos econômicos e as ações sociais artificialmente intactas. Sabemos o que aconteceu de lá para cá...

Um primeiro sinal de que a Pnad recém-divulgada é um retrato já amarelado na parede está na constatação de que, já no ano passado, a desigualdade de renda aumentou na região Sudeste, o centro nervoso do país. O que se observou nesta parte do Brasil em 2014 se estendeu ao país todo nos meses seguintes, e com muito mais ímpeto destruidor.

O analfabetismo continuou caindo, mas muito lentamente. O Brasil ainda tem 13,2 milhões de analfabetos, oitavo maior contingente do mundo. Pior ainda, continuamos com quase 18% da população formada por analfabetos funcionais, que mal sabem ler e escrever o nome.

Na safra de maus resultados, a Pnad mostrou que, depois de oito anos de queda, o trabalho infantil voltou a aumentar no país. Havia 554 mil crianças com idade entre 5 e 13 anos trabalhando, alta de 9,5% em apenas um ano. O governo, contudo, considera estes brasileirinhos que estão onde não deveriam estar meros “ponto fora da curva”.

Os limites do modelo distributivo pelo qual o governo petista orienta suas ações sociais – restringindo-as ao repasse de dinheiro a quem precisa – se manifestam com especial ênfase quando se consideram os pobres avanços dos serviços básicos que deveriam ser prestados à população.

Mais de um terço das famílias ainda não conta com nenhum tipo de esgotamento sanitário em casa. Na região Norte, quase 80% dos lares não têm o serviço. No ano passado, o governo cortou em 25% os investimentos na área, retrocedendo aos níveis de 2010.

Com a explosão da crise neste ano, a recessão, o aumento do desemprego e a inflação, as condições de vida da população pioraram a olhos vistos. O Brasil de hoje já não é o mesmo do passado. O país precisa estar preparado para, quando um novo ciclo virtuoso vier, promover um efetivo salto no desenvolvimento brasileiro, e não meros espasmos que duram pouco e acabam tão logo passam as eleições.

sábado, 14 de novembro de 2015

Dilma na lama

A foto em que Dilma Rousseff assiste do alto, distante, as cenas da maior tragédia ambiental registrada no país traduz à perfeição a forma como a presidente da República lida com os problemas do país e o sentimento dos brasileiros. À consternação teatralmente encenada para as câmeras não correspondem ações que se espera de um governo minimamente preocupado com seu povo.

A tragédia de Mariana aconteceu na quinta-feira da semana passada. Deixou, até agora, nove mortos – 19 pessoas ainda estão desaparecidas. Dilma demorou sete dias para sair dos gabinetes acarpetados de Brasília para se aproximar, ainda que das alturas, do drama vivido por milhares de famílias atingidas pela lama lançada após o rompimento da barragem da Samarco, mineradora controlada pela Vale e pela BHP Billiton.

Neste ínterim, a presidente encontrou tempo até para se confraternizar com artistas e fazer festinha no Palácio do Planalto, além de dedicar-se a arrochar caminhoneiros que protestavam contra ela. Preferiu manter os pés na lama de Brasília a embrenhar-se nos rejeitos que destroçaram a vida das famílias solapadas pela tragédia.

Quando agiu, manteve profilática distância do epicentro da catástrofe: pousou seu helicóptero a 365 km de onde a barragem se rompeu. A lama estourou em Mariana; Dilma desceu em Governador Valadares.

Nos gestos traduz-se o descaso que o governo do PT exibe em relação aos problemas reais do país. Uma administração pública existe para recolher dinheiro da sociedade e aplicá-lo de maneira a bem cuidar dos cidadãos, melhorar-lhes a vida. É o mínimo, é o básico. É tudo o que Dilma não consegue fazer.

O governo tem no Orçamento verba vultosa para prevenção, preparação e respostas a desastres e emergências, além de gestão de riscos. Dinheiro para evitar a tragédia não faltou. Foram R$ 17,5 bilhões disponíveis nos últimos quatro anos, dos quais R$ 7 bilhões simplesmente se perderam, por jamais terem sido aplicados.

A estrutura destinada a fiscalizar as atividades minerárias é, com o perdão do trocadilho, uma catástrofe. Nos últimos quatro anos, cada barragem passível de fiscalização recebeu, em média, uma visita de fiscais federais, informa a Folha de S.Paulo. Técnicos do órgão responsável por fiscalizar a mineração, o DNPM, acusam o governo de ser “negligente”.

Gastou-se neste ano menos da metade do que foi gasto em 2014, relatou O Estado de S. Paulo. Onde, diabos, vai parar a dinheirama que o governo cobra da sociedade? Percebe-se, sem dificuldade, que o inchaço do Estado não serve ao povo, mas sim ao partido.

A tragédia de Mariana exige dos governantes respeito ao drama das famílias, reparação integral de suas perdas (muitas delas, infelizmente, insanáveis) e obrigam uma mudança de atitude em relação às imensas dificuldades que a população enfrenta. Na ótica de Brasília, as catástrofes parecem sempre menores, porque sempre vistas do alto, à distância.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Quem governa o desgoverno?

O país vive hoje situação bastante parecida com a que experimentava exatamente um ano atrás na área econômica: conta com um ministro da Fazenda fraco, desacreditado e que praticamente apenas aguarda a hora de ir embora de Brasília. Se problemas assim se repetem, e com tamanha frequência, a culpa é menos dos titulares do cargo e mais de quem os nomeou.

Joaquim Levy está novamente sob intenso bombardeio. Seu arrocho fiscal, denunciado desde a primeira hora pela oposição, não mostrou até agora a que veio. Revelou-se rudimentar, baseado somente em alta de impostos e corte de benefícios sociais. Não produziu sequer um ensaio do equilíbrio nas contas públicas que prometia.

Nestes últimos 12 meses desde as eleições de 2014, a crise econômica só fez agravar-se, e muito. O país que começou o ano com a perspectiva de ter algum crescimento, mesmo mínimo, hoje afunda numa intensa recessão. Já se dá de barato que a queda não se limitará a este ano, estendendo-se também a 2016. Na soma, um tombo de uns 5% na economia.

A base política para as medidas do arrocho sempre foram gelatinosas. Levy foi obrigado a assumir a linha de frente de negociações, ao mesmo tempo em que a presidente da República retirava-lhe condições de trabalho. O governo nunca exibiu empenho necessário para efetivamente reorientar a política econômica que produziu a ruína atual.

O ministro expressa dificuldades de um governo que não tem convicção daquilo que faz. No fundo, a postura de Dilma Rousseff denota sua crença arraigada no modelo fracassado que levou o país à recessão, ao desemprego, ao descontrole fiscal e à escalada inflacionária. Levy já chegou com o barco afundando, e pouco conseguiu fazer para deter isso.

A provável queda de Levy, possibilidade que nos últimos dias alcançou níveis insuportáveis, consolida também a reassunção total ao poder por parte de Lula. Todos os principais cargos da República passarão a ser ocupados por gente da estrita confiança do ex-presidente, estendendo a tutela que paira sobre a mandatária também à parte mais relevante de sua equipe.

Fato é que nem Joaquim Levy nem quem vier a suceder-lhe consegue produzir o milagre de emprestar à atual presidente da República aquilo de que ela não dispõe: credibilidade e capacidade para recuperar a confiança no país. Trata-se de atributo intransferível do mandatário e de que, definitivamente, Dilma não desfruta.

Imerso em dificuldades sem precedentes no passado recente, o país vê a presidente da República apenas assistir ao desenrolar da crise. Não se notam atitudes capazes de remediar a penúria que milhões de brasileiros experimentam cotidianamente. Diante disso, é irrelevante quem esteja no Ministério da Fazenda. O nome pode até mudar, mas sob Dilma a perspectiva ruim não se altera em nada.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O PT quer acabar com o país

O PT está se lançando, mais uma vez, naquilo que mais gosta de fazer: reescrever a história. O partido dos mensaleiros e do petrolão acaba de divulgar um documento em que tortura os fatos até que eles confessem versões convenientes ao petismo. A verdade que os petistas tentam esconder é inescapável: nunca antes na história, o Brasil foi tomado de assalto por uma organização criminosa como esta.

A narrativa petista visa apresentar o partido no figurino que mais lhe convém: o de paladino da moralidade e vítima das elites, inconformadas com a ascensão social e com a abertura das portas do maravilhoso mundo de consumo a milhões de brasileiros pobres. Sobre o desemprego que assola 8,8 milhões de famílias, a recessão que fará a renda per capita retroceder uma década e a inflação que alcança níveis só vistos 20 anos atrás, nenhuma palavra.

Nenhuma novidade, o libelo do PT também avança contra as instituições, acusa magistrados, coloca sob suspeita iniciativas e investigações que estão passando o Brasil a limpo, em especial a Operação Lava Jato e o juiz Sergio Moro. Sobre a prisão de seus principais próceres, sobre a confirmação de que as estatais foram roubadas em bilhões de reais, sobre as provas contundentes de que o assalto serviu para perpetuar o projeto de poder dos petistas, nenhuma frase sequer.

Já se sabe que o petrolão desviou mais de R$ 20 bilhões da Petrobras e que a maior parte disso foi para o PT. Nacos ficaram com partidos aliados. Isso já está tão evidenciado que as legendas envolvidas devem ser acionadas judicialmente para devolver a grana surrupiada aos cofres públicos. Claro que, para os petistas, tudo isso não passa de conspiração golpista para “acabar” com o partido...

Depois de ter reduzido a Petrobras a pó, dizimado seu valor de mercado, quase inviabilizado a indústria do petróleo no país e desestruturado todo o setor elétrico, o PT prefere lançar suas críticas ao governo Fernando Henrique. Sobre comparar o salto que a estatal deu naquela época ao mergulho no qual naufraga agora, nem uma mísera vírgula.

Na tentativa suprema de distorcer a realidade, o PT sustenta que doações feitas por empresas a partidos da oposição deveriam ser tão suspeitas quanto as recebidas pelos petistas. Estranha lógica esta: quem está no comando do país e das estatais assaltadas no esquema do petrolão – assim como fora no mensalão – é o PT. E há 13 anos!

Não vai adiantar mais esta tentativa desesperada de fazer com que a mentira prevaleça sobre as verdades. As instituições do Estado brasileiro estão se encarregando de escrever a história e nela não cabe aos petistas o papel de mocinhos. O partido precisa, sim, ser dizimado. Mas não é por golpes, estratagemas ou armações. Será nos tribunais, nas cadeias e nas urnas. Porque o Brasil não merece o PT e o PT não merece continuar ainda mais tempo à frente do Brasil.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Os protestos de quem roda o Brasil

Caminhoneiros estão parando de norte a sul do país em protesto contra a presidente, sua política ruinosa e sua falta de palavra. O governo os trata como criminosos. As manifestações vêm de quem melhor conhece o Brasil profundo, que convive diuturnamente com as dificuldades de se produzir e trabalhar num país onde o poder público faz tudo o que pode para atrapalhar.

Segundo os balanços publicados nos jornais, a categoria conseguiu, de forma quase espontânea, espalhar seu protesto por pelo menos 14 estados. Foi mais longe do que seus organizadores, mesmo informais, estimavam conseguir chegar.

Os porta-vozes do governo dizem que “nunca viram greve cujo único objetivo é gerar desgaste para o governo”. Deveriam forçar um pouco a memória e lembrar-se de quando o PT ainda era oposição e, apenas por discordar de políticas implementadas, convocava manifestações e marchas sem pestanejar.

O governo trata os caminhoneiros como delinquentes, promete “agir com rigor” e multá-los em mais de R$ 1.900. Curiosamente, não dispensa o mesmo tratamento truculento aos petroleiros há duas semanas em greve com sua pauta carcomida, alinhada a bandeiras caras ao petismo – e que muito mais prejuízos econômicos vêm gerando à Petrobras e ao país.

Caminhoneiros estão entre as categorias profissionais que melhor conhecem os entraves de se produzir no Brasil. Rodando pelas estradas, sabem, como poucos, da sua condição lastimável, da insegurança a que também motoristas em viagens particulares com suas famílias estão diariamente sujeitos.

A infraestrutura brasileira está em frangalhos. No caso da malha rodoviária, a deterioração ganha contornos objetivos em pesquisa divulgada pela CNT na semana passada. Alguns resultados: 52% das estradas federais estão em situação ruim ou péssima; somente 12% das nossas rodovias são pavimentadas e menos de 14% são duplicadas.

Transitar pelo país é fazer uma viagem ao atraso e pelo incerto. Segundo o mesmo anuário, mais de 8,2 mil pessoas morreram em acidentes rodoviários no ano passado. Perde-se R$ 47 bilhões com a situação esfacelada das nossas estradas.

Caminhoneiros também estão entre os brasileiros que mais reconhecem quanto custa uma promessa não cumprida. São os que há anos veem obras serem repetidamente anunciadas, mas nunca executadas. Os exemplos se repetem por todo canto, agravados agora pelos entraves ao andamento dos programas de concessão que o PT mostra-se incapaz de tocar.

É legítima a manifestação de uma categoria profissional que, como milhões de cidadãos, está cansada de ver o Brasil andar para trás. No fim de semana, a fila de caminhões vai ganhar a companhia de multidões a pé que novamente devem ocupar ruas e avenidas para protestar contra o governo e pedir a saída de Dilma Rousseff. São brasileiros que, de norte a sul, no campo e nas cidades, não aguentam mais viver num país em rota de colisão.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Por que investigar Dilma na Petrobras

Veio em boa hora a decisão do Tribunal de Contas da União de investigar as atividades da Petrobras na época em que Dilma Rousseff comandava seu mais alto órgão de governança. Os anos em que ela presidiu o conselho de administração da estatal marcam a época mais ruinosa da companhia. Não dá para deixar impune quem destruiu assim o patrimônio do povo brasileiro.

Especificamente, o TCU quer que a Petrobras explique como se lançou na construção de duas refinarias e, anos depois, abandonou-as pelo caminho. Não sem antes torrar R$ 2,7 bilhões, fazer seguidas comemorações e lançamentos de pedras fundamentais em busca de votos no Maranhão e no Ceará, onde seriam erguidos os dois empreendimentos.

As duas refinarias são apenas a ponta de um iceberg de prejuízos produzidos durante a gestão do PT em nossa outrora maior companhia. Recorde-se que, em janeiro, a diretoria da estatal chegou a estimar as perdas com maus negócios e com a corrupção em mais de R$ 88 bilhões, número depois revisto para “apenas” R$ 6,2 bilhões só com a roubalheira.

A lista de ruínas é engrossada pela refinaria Abreu e Lima, que começou como um negócio em parceria com Hugo Chávez e terminou – ou melhor, ainda não terminou – sendo a mais cara indústria de processamento de petróleo já erguida no mundo. Há, ainda, o Comperj, de prejuízos igualmente bilionários e nenhuma perspectiva de conclusão à vista, e a enferrujada Pasadena.

Depois da passagem do tsunami Dilma por lá, financeiramente a Petrobras também foi liquidada. É, desde 2013, a empresa mais endividada do mundo, atualmente com passivo acima de R$ 500 bilhões. Já teve sua nota de crédito rebaixada à condição de grau especulativo por duas agências de crédito: a Moody’s e a Standard & Poor’s.

Durante sete anos, Dilma presidiu o conselho de administração da Petrobras. Foi sob o nariz dela que reinaram Paulo Roberto Costa, depois saudado por “relevantes serviços prestados” ao renunciar à direção da empresa, e Nestor Cerveró, que ganhou uma diretoria em outra estatal do grupo como prêmio de consolação ao se afastar da companhia.

Os anos Dilma na Petrobras também foram marcados por frustrações operacionais em série, com metas nunca atingidas. Mais recentemente, já com ela na presidência da República, a empresa apresentou duas quebras anuais de produção seguidas – algo que havia acontecido pela última vez na crise do petróleo dos anos 1970.

Diante de tamanha penúria, a Petrobras está sendo obrigada a se reinventar, a rever seu portfólio de negócios e a cortar investimentos – até agora – em cerca de 30%. A empresa tenta se desfazer de atividades deficitárias, ao mesmo tempo em que busca concentrar-se nas áreas mais rentáveis. O problema é que esta espécie de privatização branca acontece num período de vacas magérrimas no setor de petróleo, com os ativos sendo ofertados na bacia das almas.

Completam o quadro as imensas atribuições e encargos que o novo marco regulatório adotado no país desde 2010 jogou sobre a empresa. Os custos das caríssimas operações no pré-sal já esbarram no limite da viabilidade econômica, com risco de a imensa riqueza depositada no subsolo não vir a se transformar em realidade. A megalomania da política de construção de navios e plataformas também cobra seu preço na forma de milhares de desempregados no setor naval.

A empresa foi convertida, ainda, em esteio de uma política fracassada de controle artificial da inflação. Perdeu cerca de R$ 60 bilhões com o congelamento, ao longo de anos a fio, dos preços dos combustíveis, que comprava caro no exterior e vendia barato internamente – na contramão, inclusive, dos preceitos ambientais.

Um dos primeiros passos para que a Petrobras comece a recuperar a força que um dia teve é rever as obrigações do modelo de partilha, conforme já se discute no Congresso, com firme oposição do governo. Deve-se também afastar a empresa de negócios que só serviam mesmo para levantar dinheiro sujo para partidos políticos, como a Operação Lava Jato tem deixado claro a cada dia.

Durante anos, o PT apresentou-se como defensor inconteste da Petrobras. Dizia que seus adversários queriam dizimar a empresa em favor de interesses inconfessáveis. Viu-se, contudo, que quem tinha gana de transformar a estatal em butim e levá-la à lona eram os petistas e seus aliados no poder.

Os anos em que Dilma Rousseff esteve à frente da governança da empresa são uma “experiência para ser aprendida e nunca mais repetida”, como uma vez resumiu Graça Foster. Agora, o TCU tem a chance de passar a limpo a história desta ruína e punir quem viu o circo pegar fogo, sem reagir. A Petrobras foi o centro do esquema criminoso que o petismo montou para se perpetuar no poder. Quem foi conivente e omissa com isso não pode ficar sem castigo.

sábado, 7 de novembro de 2015

O dragão da maldade

A inflação deu mais um pinote e já está lambendo a faixa dos 10% ao ano. Vivemos a pior combinação possível: a recessão econômica rolando solta, o desemprego em disparada e a carestia se encarregando de tirar comida da mesa dos brasileiros. Não é qualquer governo que consegue produzir um feito destes.

Nesta manhã, o IBGE divulgou o índice oficial de inflação de outubro. Os preços subiram em média 0,82% no mês, praticamente o dobro de um ano atrás. Trata-se da mais alta taxa para o período desde 2002 – quando, recorde-se, o Brasil vivia o temor da eleição de Lula. É Dilma Rousseff, mais uma vez, fazendo história.

São recordes atrás de recordes. No acumulado em 12 meses, a inflação já chega a 9,93%. É a mais alta, nesta base de comparação, em quase 12 anos. Em cidades como Curitiba e Goiânia, o índice já ultrapassa 11%.

Desde 1996, ou seja, em quase 20 anos, a inflação acumulada entre janeiro e outubro não era tão elevada: 8,52%. Em todo o país, a alta da energia no ano beira 50% e a dos combustíveis supera os 20%.

Esta profusão de números fornece o tamanho da corrosão do poder de compra dos trabalhadores brasileiros decorrente da leniência com que o governo petista assistiu o dragão ganhar fôlego, sem nada fazer para impedir. Não há salário que consiga acompanhar a inflação.

Mais grave ainda, quem mais sofre são justamente os mais pobres. Para famílias que ganham até 2,5 salários mínimos, a inflação referente aos últimos 12 meses já alcança 10,67%. Há quatro meses, o índice, calculado pela FGV, vem batendo recorde histórico, situando-se na máxima da série iniciada em 2004.

Para complicar, não há refresco à vista no horizonte. Atônito, o Banco Central já se desincumbiu de trazer a inflação para a meta em 2016. Diz que conseguirá, no máximo, impedir que a carestia fique acima do teto estipulado pela política monetária para o ano que vem. Talvez, quem sabe, em 2017...

A desestruturação da economia brasileira neste momento é tão aguda que instrumentos clássicos de combate aos aumentos de preços já se revelam impotentes. Maior arma para impedir a alta da inflação, a política de novos aumentos de juros, por exemplo, hoje só serviria mesmo para elevar ainda mais a dívida pública.

Ao longo dos últimos anos, foram insistentes os avisos feitos por analistas, técnicos e pela oposição quanto aos riscos de descontrole inflacionário. A presidente e seu partido sempre desdenharam e, pior ainda, pisaram fundo em políticas fracassadas de controle artificial de preços. Graças à irresponsabilidade do PT, a maior conquista da sociedade brasileira nas últimas décadas encontra-se hoje mais ameaçada do que nunca.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O país da burocracia

Facilitar a vida dos cidadãos deveria ser objetivo básico dos governos. No Brasil, porém, acontece o contrário: sempre que pode, a administração pública dedica-se a transformar o dia a dia dos brasileiros num inferno. Vivemos na pátria da burocracia, num reino de ineficiência.

Aconteceu de novo agora com a implantação do eSocial, o sistema integrado para registrar pagamentos e benefícios de empregados domésticos. A plataforma que o governo petista pôs no ar simplesmente não deu conta da encomenda e tornou a tarefa dos patrões impraticável, lesando também o direito dos trabalhadores.

O governo demorou quatro dias para tomar providências em relação a um problema que se tornou evidente desde a primeira hora. A inconsistência do sistema disponibilizado pelo Serpro consumiu o descanso de contribuintes no último feriado, enquanto o governo dava de ombros, reafirmando que os prazos não seriam alterados.

Somente ontem, depois que apenas uma de cada quatro pessoas que deveriam se inscrever logrou êxito, as datas foram estendidas, com o governo admitindo que subestimou a demanda e superestimou a capacidade de seu sistema capenga. Nada muito diferente do que acontece no país cotidianamente.

Falhas em sistemas e serviços disponibilizados pelo governo são corriqueiras. Basta lembrar as agruras de milhões de estudantes brasileiros no início do ano para conseguir vagas no Fies, num misto de incompetência e perversidade – já que, viu-se depois, a intenção do governo era mesmo limitar o acesso e cortar as bolsas. Quase todo ano, acontece o mesmo com o Enem.

A verdade é que os brasileiros vivem em meio a um cipoal de burocracia. No cotidiano não é nada difícil perceber os contratempos em série para lidar com os deveres que o Estado nos impõe. Mas é quando os entraves são sistematizados e comparados a padrões internacionais que fica ainda mais evidente a distância que separa o Brasil do resto do mundo.

Há alguns dias, o Banco Mundial publicou seu relatório anual sobre facilidade de fazer negócios ao redor do globo. Entre 189 países, o país aparece em 116° lugar, cinco posições abaixo de onde estava em 2014. Em relação às dificuldades para abrir uma empresa ou pagar impostos, por exemplo, estamos entre os 15 piores do mundo.

O grau de empecilhos que os cidadãos encontram para tocar a vida no Brasil está intimamente ligado ao tamanho do Estado. Nos últimos anos, com o PT, o papel do poder público só fez aumentar, ao mesmo tempo em que a eficiência na prestação dos serviços só decaiu. 

As dificuldades para empreender, a burocracia insana na vida das pessoas e a incapacidade gerencial demonstrada pelo governo levaram o país ao inferno que ele hoje experimenta, até mesmo quando o assunto é fazer um simples cadastro.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Retrocesso social

A crise econômica começa a se apresentar com sua feição mais horrenda por meio do caos social que vai se instalando em todos os cantos do país. Bastou a fonte de dinheiro secar para que aquilo que era apresentado pelo discurso oficial como conquista perene ruísse como castelo de areia. Ficaram evidentes os limites da política praticada pelo PT nos últimos anos.

O baixo crescimento dos anos recentes, a recessão deste e do próximo ano, a incapacidade de gestão do Estado e a balbúrdia nas contas públicas estão se refletindo diretamente no dia a dia das pessoas. Os efeitos vêm na forma de desemprego, aumento da violência, falência da estrutura de proteção social e cortes profundos em áreas como saúde e educação.

Famílias que haviam melhorado seu rendimento e ascendido socialmente já estão voltando à pobreza. Segundo estudo feito pela Tendências Consultoria, 3 milhões delas devem retroceder às classes D e E até 2017. O “país de classe média” que o PT não se cansou de alardear – e ainda alardeia – nunca existiu.

Em termos de renda por habitante, teremos mais uma década perdida. De acordo com cálculos de Armando Castelar, da FGV, o indicador estará em 2020 no mesmo nível em que estava em 2010. Em dólar, a queda será ainda mais pronunciada, chegando a 50% até o fim deste ano na comparação com 2011.

O que as estatísticas econômicas apontam, os brasileiros sentem no dia a dia. O primeiro efeito é no emprego. A mais recente rodada da Pnad Contínua mostra que o número de desempregados aumentou em 2 milhões de pessoas no trimestre terminado em agosto, na comparação com mesmo período de 2014.

Como uma correia de transmissão, a falta de trabalho alimenta diretamente a criminalidade. Os levantamentos mais recentes – como os do Fórum Brasileiro de Segurança Pública – mostram uma onda de violência na forma de alta nas taxas de homicídios, principalmente em estados do Nordeste. As principais vítimas são negros e jovens.

O Estado revela-se impotente diante da desestruturação social. Os repasses de recursos públicos para as prefeituras minguaram e comprometeram ações e políticas nas áreas de assistência social, saúde e educação. Na hora em que mais precisa do apoio do governo, a população não encontra.

Nos últimos anos, os governos petistas se contentaram em fazer a gestão diária da pobreza. Jamais se preocuparam em perseguir estratégias de superação definitiva das privações ainda enfrentadas por milhões de brasileiros. 

Política social se faz ultrapassando o mero distributivismo. O brasileiro quer autonomia para caminhar com as próprias pernas, para que não viva à mercê de quem pretende tê-lo apenas como eterna massa de manobra.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Clube dos milhões

Na era petista, passar pelo governo tornou-se o caminho mais curto de ascensão social. As gestões de Dilma e Lula não conseguiram melhorar de maneira definitiva a vida de milhões de brasileiros, mas resolveram financeiramente a de afortunados que tiveram cadeira nos gabinetes mais importantes de Brasília, a começar pelo destinado à Presidência da República.

As investigações de duas operações importantes em marcha por parte da Polícia Federal estão revelando em detalhes como funcionava esta verdadeira indústria de produzir benefícios e fabricar milionários. A matéria-prima desta estrutura de negócios vem dos recursos públicos arrecadados com impostos e que deveriam servir a todos os brasileiros, mas atendem a poucos.

Segundo as investigações da Operação Lava Jato, os desvios de dinheiro nas estatais, em especial na Petrobras, envolveram, pelo menos, R$ 7,2 bilhões, segundo O Globo. Esta dinheirama foi destinada a pagamento de propinas a partidos da base de sustentação de Lula e Dilma e a dirigentes das empresas que atuavam em conluio com esta verdadeira gangue. Muito dinheiro jorrou deste propinoduto para irrigar as teias de interesse tecidas a partir da capital federal.

Em outra frente, a Operação Zelotes está conseguindo identificar como as ramificações da corrupção chegavam a quem detinha maior poder de mando nas gestões do PT. Servir ao governo petista tornou-se uma verdadeira mina de ouro, com garantia de negócios vultosos no setor privado.

A revista Época desta semana revela como Lula, Antonio Palocci, Erenice Guerra e Fernando Pimentel faturaram alto despois que ocuparam os principais postos de comando da República. Desde 2008, passaram pelas contas das empresas deles R$ 295 milhões. Pôr um pé em Brasília funcionou como o maior trampolim com que poderiam sonhar na vida.

Segundo a investigação do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, órgão de inteligência financeira do Ministério da Fazenda), “há indícios de irregularidades como transações financeiras incompatíveis, saques em espécie e incapacidade de comprovação da origem legal dos recursos”.

Diz o discurso petista que as políticas públicas dos últimos anos serviram para garantir conquistas sociais e beneficiar os mais pobres. Só acredita nisso quem quer. O Estado brasileiro foi posto de joelhos para auxiliar, na realidade, os amigos do rei e depois também os da rainha. Está cada vez mais claro que quem se locupletou da onda de bonança foram os mais ricos.

Se ainda há dúvida quanto a isso, mais um caso que veio a público no fim desta semana serve para dirimi-la. No domingo, a Folha de S.Paulo mostrou que José Carlos Bumlai, o amigo que está por trás de uma série de suspeitas envolvendo Lula e sua pródiga família, recebeu empréstimo de mais de R$ 100 milhões do BNDES com suas empresas falidas e sem que tivesse mínimas condições de honrar o pagamento. Não surpreende que o ex-presidente da República seja alvo de seis frentes de investigação abertas pelo MP e pela PF, como informa hoje o Valor Econômico.

Diante de tantas e tamanhas suspeitas e tantos e tamanhos indícios de enriquecimento ilícito, as instituições de fiscalização e controle, a Justiça, a PF e o Ministério Público precisam ir fundo e investigar, investigar e investigar. Mais uma vez comprovado que o Estado brasileiro foi tomado de assalto por uma organização criminosa, deve-se punir, punir e punir. Para que esta abjeta história não volte a se repetir.