Lula tem muito que
comemorar com a vitória de Haddad. Afinal, ela serviu para obscurecer derrotas
acachapantes sofridas pelo ex-presidente nesta eleição municipal. O caudilho
petista lançou-se alucinadamente em campanhas Brasil afora, mas acumulou mais
infortúnios que sucessos.
O ex-presidente subiu
em palanques, participou de carreatas e fez comícios em 17 cidades no primeiro
e no segundo turnos. Abertas as urnas, mais perdeu do que ganhou: foram oito
vitórias e nove derrotas.
Entre seus fracassos
mais fragorosos, em que o envolvimento de Lula foi direto, incisivo e pessoal, estão
Belo Horizonte, Recife, Manaus, Salvador, Diadema, Campinas, Feira de Santana,
Fortaleza, Cuiabá e Taubaté.
Quem tiver
curiosidade, pode olhar a página do ex-presidente no Facebook: as dezenas de fotos que
registram os passos de Lula em campanha – desde sua estreia, em 31 de agosto, com
Patrus Ananias na capital mineira – são uma coleção de insucessos. Vendo no conjunto,
Lula está mais para Mick Jagger e seu reconhecido pé-frio do que para o mítico
vitorioso ou o todo-poderoso ungido pelos deuses.
“Onde quem acerta é
o adversário, Lula e PT enfrentam as mesmas adversidades que qualquer outro
partido ou político quando o eleitorado resolve dar o próprio jeito”, comenta
Dora Kramer na edição de hoje d’O
Estado de S.Paulo.
A perda da força de
Lula e do PT é mais nítida nas regiões Norte e Nordeste, como mostra O
Globo. Entre capitais e cidades com mais de 200 mil eleitores nestas
regiões, que perfazem 21 municípios, os petistas só se saíram vitoriosos em Rio
Branco e João Pessoa. Com aliados, venceram apenas em Olinda (PE).
Em contrapartida, entre
as 13 maiores cidades nordestinas, a oposição ao governo federal, por meio do
PSDB e do DEM, administrará sete municípios, incluindo quatro capitais: Aracaju,
Maceió, Salvador e Teresina, além de Jaboatão dos Guararapes (PE), Campina
Grande (PB) e Feira de Santana (BA). Entre os oito grandes municípios da região
Norte, o PSDB terá três capitais – Manaus, Belém e Teresina – e mais Ananindeua
(PA).
Entre as 83 cidades de
todo o país com mais de 200 mil eleitores, os petistas só estarão à frente de 16
prefeituras, sendo quatro capitais: São Paulo, Rio Branco, João Pessoa e
Goiânia. Neste grupo, a oposição (PSDB, PPS, DEM e PSOL) terá muito mais
participação: cresceu de 10 em 2008 para 25 cidades agora, sendo oito capitais.
Os resultados de
domingo também apontam uma “onda de mudança”, na avaliação da Folha
de S.Paulo: entre as 85 maiores cidades, candidatos da situação foram
derrotados em 50 – proporção exatamente inversa à de quatro anos atrás. Dos oito
prefeitos de capitais que tentaram a reeleição, só metade venceu.
Pode estar no fator
econômico a explicação para o mau desempenho das candidaturas governistas nos
maiores centros. Seja pela queda no ritmo do PIB, seja pela diminuição
acentuada nos repasses constitucionais para as prefeituras – só em setembro,
foram 23% a menos, como mostra hoje o Valor
Econômico. Isto é, são elementos que, muito provavelmente, também
presidirão a disputa de daqui a dois anos.
É cada vez mais
evidente que o eleitorado se fia nas condições objetivas de vida na hora de escolher
seus candidatos. Não há divindade que lhe inspire o voto, mas sim a busca das satisfações mais imediatas. Ao longo de suas três décadas de existência, o PT
sempre baseou sua atuação eleitoral em cima de um mito. Mas, no último domingo,
as urnas deixaram claro que a luz de Luiz Inácio Lula da Silva está se apagando.