quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Sem medo de mitos

A vitória de Fernando Haddad em São Paulo salvou Luiz Inácio Lula da Silva de uma derrota retumbante. O mito do líder imbatível, que manda e a população obedece, não resiste ao exame das urnas. O PT não apenas encolheu em regiões em que tivera muita força nas últimas eleições, como também viu sua participação nas maiores cidades do país diminuir bastante. Não dá para temer um monstro tão frágil.

Lula tem muito que comemorar com a vitória de Haddad. Afinal, ela serviu para obscurecer derrotas acachapantes sofridas pelo ex-presidente nesta eleição municipal. O caudilho petista lançou-se alucinadamente em campanhas Brasil afora, mas acumulou mais infortúnios que sucessos.

O ex-presidente subiu em palanques, participou de carreatas e fez comícios em 17 cidades no primeiro e no segundo turnos. Abertas as urnas, mais perdeu do que ganhou: foram oito vitórias e nove derrotas.

Entre seus fracassos mais fragorosos, em que o envolvimento de Lula foi direto, incisivo e pessoal, estão Belo Horizonte, Recife, Manaus, Salvador, Diadema, Campinas, Feira de Santana, Fortaleza, Cuiabá e Taubaté.

Quem tiver curiosidade, pode olhar a página do ex-presidente no Facebook: as dezenas de fotos que registram os passos de Lula em campanha – desde sua estreia, em 31 de agosto, com Patrus Ananias na capital mineira – são uma coleção de insucessos. Vendo no conjunto, Lula está mais para Mick Jagger e seu reconhecido pé-frio do que para o mítico vitorioso ou o todo-poderoso ungido pelos deuses.

“Onde quem acerta é o adversário, Lula e PT enfrentam as mesmas adversidades que qualquer outro partido ou político quando o eleitorado resolve dar o próprio jeito”, comenta Dora Kramer na edição de hoje d’O Estado de S.Paulo.

A perda da força de Lula e do PT é mais nítida nas regiões Norte e Nordeste, como mostra O Globo. Entre capitais e cidades com mais de 200 mil eleitores nestas regiões, que perfazem 21 municípios, os petistas só se saíram vitoriosos em Rio Branco e João Pessoa. Com aliados, venceram apenas em Olinda (PE).

Em contrapartida, entre as 13 maiores cidades nordestinas, a oposição ao governo federal, por meio do PSDB e do DEM, administrará sete municípios, incluindo quatro capitais: Aracaju, Maceió, Salvador e Teresina, além de Jaboatão dos Guararapes (PE), Campina Grande (PB) e Feira de Santana (BA). Entre os oito grandes municípios da região Norte, o PSDB terá três capitais – Manaus, Belém e Teresina – e mais Ananindeua (PA).

Entre as 83 cidades de todo o país com mais de 200 mil eleitores, os petistas só estarão à frente de 16 prefeituras, sendo quatro capitais: São Paulo, Rio Branco, João Pessoa e Goiânia. Neste grupo, a oposição (PSDB, PPS, DEM e PSOL) terá muito mais participação: cresceu de 10 em 2008 para 25 cidades agora, sendo oito capitais.

Os resultados de domingo também apontam uma “onda de mudança”, na avaliação da Folha de S.Paulo: entre as 85 maiores cidades, candidatos da situação foram derrotados em 50 – proporção exatamente inversa à de quatro anos atrás. Dos oito prefeitos de capitais que tentaram a reeleição, só metade venceu.

Pode estar no fator econômico a explicação para o mau desempenho das candidaturas governistas nos maiores centros. Seja pela queda no ritmo do PIB, seja pela diminuição acentuada nos repasses constitucionais para as prefeituras – só em setembro, foram 23% a menos, como mostra hoje o Valor Econômico. Isto é, são elementos que, muito provavelmente, também presidirão a disputa de daqui a dois anos.

É cada vez mais evidente que o eleitorado se fia nas condições objetivas de vida na hora de escolher seus candidatos. Não há divindade que lhe inspire o voto, mas sim a busca das satisfações mais imediatas. Ao longo de suas três décadas de existência, o PT sempre baseou sua atuação eleitoral em cima de um mito. Mas, no último domingo, as urnas deixaram claro que a luz de Luiz Inácio Lula da Silva está se apagando.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Uma oposição vitoriosa

Para quem está há dez anos longe do poder federal, o PSDB obteve nestas eleições municipais um excelente resultado. O partido avançou muito nas capitais, retomou seu ímpeto nas regiões Norte e Nordeste e demonstrou que acumula forças para contrapor-se ao projeto hegemônico que o PT busca levar adiante.

Neste domingo, o PSDB venceu na maioria das cidades onde concorreu no segundo round das eleições. Foram nove triunfos em 17 disputas, sendo três delas em importantes capitais: Manaus, Belém, Teresina, Pelotas (RS), Blumenau (SC), Campina Grande (PB), Franca, Taubaté e Sorocaba (SP).

No cômputo geral de mais uma eleição para as prefeituras brasileiras, o PSDB terminou com 702 municípios governados, onde vivem 18,3 milhões de eleitores. São 700 mil eleitores a mais do que em 2008.

No primeiro turno, o PSDB recebera 13,94 milhões de votos e ontem foram 5,64 milhões, num desempenho só inferior ao dos petistas. Em 7 de outubro, os tucanos também já haviam eleito 5.250 vereadores, só abaixo do PMDB.

No grupo das 85 cidades com mais de 200 mil eleitores, o PSDB agora tem 15 cidades sob sua gestão, das quais quatro são capitais: as três conquistadas ontem mais Maceió. As demais deste porte são Betim (MG), Piracicaba (SP), Santos (SP), Ananindeua (PA) e Jaboatão dos Guararapes (PE), com vitórias em primeiro turno. Trata-se de avanço significativo em relação a 2008, quando o partido conquistara nove prefeituras deste grupo e apenas uma capital, Curitiba.

Completando o quadro com as vitórias já consolidadas no início do mês, nas médias cidades (75 mil a 200 mil eleitores) o número de prefeituras do PSDB subiu de 24 em 2008 para 29 agora; nas pequenas (de 15 mil a 75 mil eleitores), passou de 217 para 176 e nas menores localidades, de 537 para 482.

Ontem, o partido pôde comemorar a importante vitória do ex-senador Arthur Virgílio para a prefeitura de Manaus. De nada adiantou o empenho direto da presidente da República e a ira de Lula: o tucano obteve o dobro de sufrágios de sua adversária, com 65,95% dos votos válidos, num triunfo histórico.

Em Belém, Zenaldo Coutinho consolidou a supremacia tucana no Pará, onde o PSDB já tem o governador Simão Jatene e os senadores Flexa Ribeiro e Mário Couto. Depois de ter terminado o primeiro turno em segundo lugar, o deputado em quarto mandato recebeu ontem 56,61% dos votos válidos.

Já Teresina terá novamente Firmino Filho como prefeito, que ocupará o cargo pela terceira vez, depois de um interregno de oito anos. Ele foi eleito ontem com 51,54% dos votos válidos, derrotando o atual prefeito.

Às vitórias tucanas soma-se o bom desempenho de outros partidos de oposição ao governo Dilma Rousseff, contra toda a força da máquina federal. DEM (Salvador e Aracaju) e PPS (Vitória) conquistaram mais três das 26 capitais brasileiras. O PSOL, também na oposição à gestão federal, elegeu o prefeito de Macapá. Ou seja, somam oito os bastiões oposicionistas.

No cômputo geral, a eleição resultou numa fragmentação jamais vista nos municípios. As 26 capitais serão governadas por 11 diferentes legendas nos próximos quatro anos. Quando se amplia a análise para os 85 maiores municípios com mais de 200 mil eleitores, 16 partidos dividirão o poder.

O maior triunfo do partido de Lula e Dilma foi a vitória em São Paulo. Sem ela, poder-se-ia dizer que o PT saíra das eleições por baixo. O êxito na maior cidade do país deu aos petistas um contrapeso a fragorosas derrotas, como as de Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, Salvador e Campinas. Cabe lembrar que, das 17 cidades em que o ex-presidente envolveu-se, em nove ele saiu derrotado.

A força que a oposição demonstrou nestas eleições municipais permite ao PSDB, ao DEM, ao PPS e até mesmo ao PSOL sustentarem, sem pestanejar, que contam com apoio decidido da população brasileira para continuar a serem polos antagônicos ao projeto de poder do PT. O partido dos mensaleiros sempre sonhou em ser hegemônico, mas, cada vez mais, viu este seu delírio distanciar-se. Para o bem da democracia.

sábado, 27 de outubro de 2012

De apagão em apagão, PT escurece o país

De apagão em apagão, o país vai vivendo na escuridão. Poderia ser só uma rima paupérrima, mas se tornou rotina no Brasil: as quedas de energia têm sido cada vez mais frequentes, cada vez mais prolongadas e têm prejudicado cada vez mais pessoas.

Nesta madrugada, mais uma vez, um apagão atingiu todo o Nordeste e parte das regiões Norte e Centro-Oeste do país. Ficaram no escuro Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Alagoas, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, além de porções de Pará, Tocantins e Distrito Federal.

A população destas regiões ficou cerca de quatro horas na escuridão. Mais de 50 milhões de pessoas podem ter sido atingidas, já que o apagão não se limitou a áreas isoladas: foi uma escuridão completa, maciça, disseminada. Nos estados de Pernambuco, Bahia e Paraíba, por exemplo, todos os municípios ficaram às escuras.

Este foi o quarto apagão ocorrido no país desde setembro, numa triste rotina que se acentuou no governo Dilma. Em 22 de setembro, oito dos nove estados nordestinos já haviam ficado sem luz. No início do mês, a falta de energia afetara Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Acre e Rondônia, além de parte da região Centro-Oeste. É escuridão de norte a sul.

A situação é bem distinta do que a presidente Dilma Rousseff e seus assessores gostariam que fossem simples “apaguinhos”, como um deles se referiu à ocorrência de 3 de outubro. A gestão petista pode até ser boa para fabricar eufemismos, mas é bastante ruim para solucionar problemas.

Na realidade, as condições do parque elétrico nacional vêm se deteriorando há alguns anos. É consenso entre especialistas que falta manutenção no sistema, que é gigantesco e muito sujeito a riscos. Mas faltam também investimentos em modernização e expansão.

Desde setembro, ocorreu em média um corte de energia a cada dois dias no país. Ao longo de 2012, até o último dia 15, haviam sido registradas 63 ocorrências. No ano passado, foram 97 cortes, com alta de quase 30% em relação a 2007, informou O Estado de S.Paulo há uma semana.

Em cada um dos últimos três anos, o país ficou mais de 18 horas sem energia. É bem mais que o limite estabelecido pela Agência Nacional de Energia Elétrica, que é de 16,23 horas, revelou O Globo.

O problema é generalizado. De acordo com a Aneel, pelo menos 15 das 33 distribuidoras de grande porte extrapolaram as metas contratuais de cortes no ano passado. “O pior caso é o da Celpa, no Pará, que registrou 99,5 horas de cortes no fornecimento”, segundo o Valor Econômico.

Nesta manhã, diante de mais um apagão cujas explicações não convencem – desta vez, a razão da queda generalizada de energia em 12 estados teria sido um incêndio em um equipamento localizado entre duas subestações – o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico admitiu: “Dizer que não vai ter [novo apagão] é impossível”.

É justamente o contrário do que Dilma Rousseff vem afirmando em diferentes ocasiões – para ser mais preciso, a cada vez que um novo apagão a desmente. Com a autoridade de quem esteve à frente do Ministério de Minas e Energia e acompanhou com mão de ferro as ações da pasta desde então, seja na Casa Civil, seja já como presidente da República, ela parece não ter ideia do que está falando ou fazendo.

O país está encurralado pelos apagões e também refém da geração de energia por termelétricas, mais caras e poluentes. Sem conseguir gerar energia suficiente em suas hidrelétricas por causa da estiagem, a partir deste sábado todas as usinas movidas a óleo combustível e a diesel disponíveis no sistema elétrico nacional entrarão em operação ao mesmo tempo, a fim de tentar recuperar o volume de água dos reservatórios, destaca hoje o Estadão.

Mais preocupante é que, com toda esta fragilidade evidenciada, a presidente Dilma lançou-se agora numa cruzada que está desorganizando o setor elétrico e pondo em risco bilhões de reais em investimentos que, efetivamente, poderiam livrar o país da escuridão. Num setor em que as ações se planejam com décadas de antecedência, com a insegurança que se abateu sobre as concessões de energia ninguém sabe ao certo se haverá luz amanhã.

Lula disse recentemente que “de poste em poste o PT está iluminando o Brasil”, numa referência a candidatos inexperientes e incapazes que, com sua lábia, ele tem ajudado a eleger por aí afora. Quando se observa o que está acontecendo de verdade no país, mais adequado é dizer que, de apagão em apagão, o PT está escurecendo o país.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Caminho esburacado

Entra ano e sai ano, a situação não muda: as rodovias brasileiras continuam em estado lastimável, pondo vidas em risco. Apesar das promessas, o governo federal não consegue fazer as melhorias necessárias e nem executar o que prevê o Orçamento. É a velha prática petista em ação: muita propaganda, pouca realização.

Ontem a Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgou sua pesquisa anual sobre as condições das rodovias brasileiras. Pelo segundo ano consecutivo, o levantamento aponta piora na situação geral das estradas do país.

A deterioração recente coincide com o tempo já transcorrido do mandato da presidente Dilma Rousseff, que se elegeu prometendo eficiência na gestão. O que tem-se visto é o oposto disso: o governo nunca investiu tão pouco na melhoria das condições da infraestrutura do país quanto agora.

A CNT aponta 29,3% das rodovias pesquisadas em condições ruins ou péssimas: são mais de 28 mil quilômetros de vias nesta situação. Quando se somam as classificadas como “regulares”, quase 63% da malha brasileira apresenta problemas – o total vai a 60 mil km de estradas deterioradas.

Em 2011 já ocorrera uma piora nas condições das nossas rodovias e agora a tendência se acentuou. Neste ano, as estradas classificadas como ótimas ou boas caíram de 42,7% para 37,3%. No sentido oposto, as ruins ou péssimas subiram de 26,9% para 29,3%. As consideradas regulares aumentaram de 30,5% para 33,4%.

Segundo a pesquisa da CNT, hoje o maior problema é a falta de sinalização – em 35% das rodovias ela é nula ou praticamente inexistente – enquanto em 12,5% da extensão a situação do pavimento é crítica. Ambos são fatores bastante sensíveis para a segurança nas nossas estradas – vale dizer que, no ano passado, foram registrados 189 mil acidentes nas rodovias brasileiras, causando lesões graves em 28 mil pessoas e a morte de 8,5 mil indivíduos.

Como já se tornou a tônica, novamente é gigantesca a distância entre as condições da malha mantida pelo poder público, notadamente pelo governo federal, e a extensão operada sob concessão privada. Não há termo de comparação.

Enquanto as rodovias privatizadas têm 86,7% de sua extensão em situação ótima ou boa, nas públicas este percentual cai para 27,8%. No outro extremo, somente 1,8% das concedidas são classificadas como ruins ou péssimas e 34,6% dos trechos sob gestão governamental estão nestas lastimáveis condições.

No ranking geral, as 21 melhores estradas do país são cuidadas por concessionárias privadas e as seis melhores estão em São Paulo, estado com o mais longevo e bem sucedido programa de concessão rodoviária do país. A melhor estrada sob gestão pública é a BR-471 (Rio Grande-Chuí), num modestíssimo 22° lugar.

Infelizmente, as perspectivas de melhora não são animadoras. Basta ver o que está acontecendo com a execução do Orçamento Geral da União deste ano. As cifras são sempre vistosas, mas o nível do que é efetivamente investido é invariavelmente sofrível. “O ano de 2012 chega ao fim carimbado como uma das piores execuções orçamentárias do setor de transportes nos últimos tempos”, informa o Valor Econômico na manchete de sua edição de hoje.

Dos R$ 13,6 bilhões previstos para as rodovias neste ano, somente 48% foram executados até agora e, mantido o ritmo histórico, apenas 58% o serão até o fim do ano. É o pior resultado desde 2008 – e, ainda assim, inflado pela quitação de restos a pagar: o pagamento de contratos firmados antes de 2012 responde por 70% de tudo o que foi gasto desde janeiro último.

Também os investimentos em ferrovias e hidrovias foram pífios: devem fechar o ano, respectivamente, com menos de um terço e menos de metade do previsto executados. “O governo iniciou o ano falando muito da necessidade de se ampliar os investimentos em infraestrutura, mas o cenário mostra, claramente, que ele não conseguiu deslanchar”, comenta um técnico do Ipea.

Recorde-se que estamos vindo de um ano ruim para a área de infraestrutura, em que a execução de obras pelo Dnit, pela Valec e por outros órgãos públicos do setor de transportes praticamente não andou em razão da torrente de casos de corrupção revelados ao longo de 2011.

Resta evidente que, em dez anos, o governo do PT não conseguiu mudar as condições da nossa infraestrutura e só agora, tardiamente, vem despertando para a necessidade de contar com investimentos privados no setor. Com isso, o caminho para que o país retome a estrada do desenvolvimento sustentado continua esburacado e tortuoso. Parece incrível, mas, com Dilma, o que era ruim ficou ainda pior. 

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Governo em campanha

O PT quer transformar o voto dos brasileiros em detergente para as lambanças que o Supremo Tribunal Federal condenou com riqueza de provas ao longo das 40 memoráveis sessões de julgamento do mensalão até agora. É por este motivo que todos os seus líderes, incluindo a presidente da República e uma penca de ministros, dedicam-se de corpo e alma à campanha eleitoral. Governar, para eles, é o que menos importa.

O estilo é o mesmo que viceja no país há dez anos: campanha eleitoral 24 horas por dia, sete dias por semana, quatro semanas por mês, 12 meses por ano. Inoculado no dia a dia político brasileiro por Luiz Inácio Lula da Silva, o vírus tornou-se endêmico: o PT lança-se à prática da mais abjeta politicagem, que antes fazia corar, com a maior naturalidade do mundo.

Seguindo os passos de Lula, nos últimos dias a presidente Dilma Rousseff vem se embrenhando numa maratona para tentar alavancar candidatos petistas que disputarão o segundo turno da eleição no domingo. Esteve em Salvador, Campinas, Manaus e São Paulo. Seu governo está sobre palanques; o que importa é ganhar.

Sempre usando sua indefectível indumentária vermelha, a petista repete a cada comício que “não olha a cor da camisa” ao governar. Mas, logo em seguida, se trai indicando que o município em questão será sempre melhor tratado se no seu comando estiver um companheiro do PT.

E tome promessas de fazer mais creches, construir mais moradias, investir mais recursos. Tudo em flagrante contradição com o que acontece no mundo real. Dilma elegeu-se prometendo, por exemplo, erguer 6 mil creches, “1.500 por ano”, mas só 221 foram feitas pelo governo federal desde 2007! Seu pupilo Fernando Haddad promete, agora, 55 mil casas para famílias pobres de São Paulo, mas desde 2009 só 480 foram construídas. A lista de engodos é interminável...

Mas Dilma não apenas lançou-se sem pejo a fazer campanha eleitoral em horário em que deveria estar se dedicando a resolver os problemas do país, que são vários e crescentes, como também liberou seus ministros para a algazarra. Gente como Aloizio Mercadante, Alexandre Padilha, José Eduardo Cardozo, Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo não faz outra coisa que não seja subir em palanque, gravar programa eleitoral e agitar comício.

É só conferir as pastas que cada um deles ocupa para concluir que o governo federal está literalmente parado, dedicado apenas à conquista de votos: respectivamente, Educação, Saúde, Justiça, Comunicações e Casa Civil. De onde vem tamanho interesse e empenho dos petistas por mais e mais poder?

Em primeiro lugar, o PT quer tirar das urnas o que acredita ser uma espécie de indulto pelos crimes que seus principais líderes cometeram ao assaltar o Estado e irrigar os dutos do mensalão. O “sim” das urnas funcionaria como um contraponto ao rotundo “não” que emanou do STF ao nefasto esquema cujo objetivo era financiar a compra de votos e a perpetuação do partido no poder.

José Dirceu foi quem deu a senha: o que importa é ganhar as eleições, especialmente em São Paulo. Lula deu sequência, ao dar este mesmo viés aos resultados eleitorais que o PT colheu em 7 de outubro e pretende voltar a colher no domingo: em entrevista ao jornal argentino La Nación, disse que se considerava “julgado” pelas urnas.

Nada disso: Justiça é uma coisa, eleição é outra. “Votações expressivas, embora significativas, não constituem causas para a extinção da punibilidade”, sentenciou o ministro Celso de Mello. “Urna não é lavanderia de ilícitos, voto não é indulto e eleição não torna ninguém imune às exigências do devido processo legal”, analisou Dora Kramer. “Eleição não absolve réu”, arrematou Elio Gaspari.

Mas a principal razão para a sanha com que o PT se lança em busca de vitórias eleitorais é a possibilidade de aumentar as boquinhas ocupadas pela companheirada, que rendem dízimos e polpudas oportunidades de negócio$ ao partido. É o que explica, por exemplo, por que Fernando Haddad quer dizimar as parcerias com organizações sociais e entidades filantrópicas em hospitais e creches de São Paulo a fim de ocupar milhares de cargos com petistas leais.

O PT disputa o segundo turno em 24 municípios. São mais de duas dezenas de novas oportunidades para assaltar os cofres, incluindo os cerca de R$ 40 bilhões que a capital paulista movimenta em seu orçamento. Em busca deste butim, o governo de Dilma Rousseff transferiu-se para cima de palanques país afora nas últimas semanas. Merece o não do eleitor e a reprovação da população.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Delinquência em série

A cúpula que comandava o Partido dos Trabalhadores quando a legenda ascendeu à presidência da República foi condenada ontem pela mais alta corte de Justiça do país pelo crime de formação de quadrilha. Como admitir que os mesmíssimos quadrilheiros estejam por aí, leves e fagueiros, tentando fazer com que o mesmo Partido dos Trabalhadores ascenda ao comando de importantes municípios do país no próximo domingo?

A sessão de ontem no Supremo Tribunal Federal, a 39ª do julgamento do mensalão, serviu como fecho de ouro a um processo que pôs nos seus devidos lugares a “sofisticada organização criminosa” articulada “dentro de quatro paredes de um palácio presidencial” no primeiro mandato de Lula para assaltar cofres públicos.

Dez réus, entre eles José Dirceu, ministro-chefe da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, José Genoino, então presidente do PT, e Delúbio Soares, então tesoureiro petista, foram condenados pelo crime de formação de quadrilha. Os próceres petistas já haviam sido considerados culpados pelo crime de corrupção ativa.

A cúpula petista e seus cúmplices no sistema financeiro e em agências de comunicação se organizavam para “cometer crimes, qualquer crime, agindo nos subterrâneos do poder, como conspiradores à sombra do Estado, para vulnerar, transgredir, lesionar a paz pública”, nas irretocáveis palavras do ministro Celso de Mello. Tratava-se de uma “sociedade de delinquentes”.

Quase três meses depois de iniciado o histórico julgamento, restou provado que o PT desviou pelo menos R$ 78 milhões dos cofres públicos para traficar o apoio de parlamentares ao seu projeto de poder. Esta dinheirama foi lavada em instituições financeiras, que usaram operações fraudulentas para escamoteá-la. Tudo articulado em torno de uma ardilosa quadrilha, que durante mais de dois anos operou a todo vapor.

O choro dos condenados, claro, já começou. José Dirceu, por exemplo, invoca sua história de vida para tentar convencer o Supremo a livrar-lhe a cara. Mas, diferentemente de outros que, como ele, lutaram pelo reestabelecimento da democracia no país, o chefe da quadrilha do mensalão não tem uma ficha de serviços prestados que lhe abone qualquer coisa. Pelo contrário.

Desde que se embrenhou na vida política, o principal articulador do PT notabilizou-se pela truculência e pela clandestinidade, a ponto de viver anos com uma mulher que sequer sabia quem ele era. Nos momentos em que poderia devotar-se aos princípios democráticos, negaceou, como na eleição de Tancredo Neves – não apenas Dirceu, mas todo o PT recusou-se a sufragar o presidente no colégio eleitoral.

A história de vida de Dirceu, portanto, corrobora seu objetivo de vida: assaltar o Estado em nome de uma “causa maior”, no caso o poder desmesurado de um partido. Deveria servir como agravante, e não atenuante, na definição das penas que lhe serão impostas pelos ministros do Supremo, em sessões a transcorrer ainda nesta semana.

É de se perguntar se, agora também condenado por formação de quadrilha, José Dirceu unir-se-á novamente a seus pares para dizer que “o que importa é ganhar a eleição em São Paulo”, como fez há duas semanas, depois de definida sua culpa por corrupção ativa. No fundo, o que interessa ao chefe-mor da quadrilha e seus mensaleiros é apenas isso: continuar a perpetrar ataques ao aparelho estatal. E, nesta altura, o que pode ser mais vistoso aos olhos desta gente do que a prefeitura e os cofres da maior cidade do continente?

O que o PT quer é salvo-conduto para continuar sua saga de malfeitos, que é infinda, como mostra, também, a ubíqua atuação do ministro Fernando Pimentel. Mal se viu absolvido pela comissão de (falta de) ética da presidência da República, ele já se meteu em outra falcatrua, como mostra O Globo hoje: envolvimento em desvio de dinheiro para saldar dívidas de campanha do PT à época em que era prefeito de Belo Horizonte.

Resta evidente que, não apenas pelos mensaleiros condenados pelo Supremo, o PT organiza-se, efetivamente, como uma quadrilha. Deve ser por isso que o advogado de Marcos Valério, também sobejamente condenado pelo STF, reclame que os “verdadeiros chefes políticos e interessados diretos no esquema admitido pelos votos condenatórios proferidos” não estejam sentados no banco dos réus. Estão, isto sim, por aí acendendo postes, para depois quebrar a lâmpada e fazer o que bem entendem com o país.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A mão peluda do Estado

O Brasil vem perdendo espaço na preferência dos investidores estrangeiros. A intervenção pesada do Estado na economia tem afugentado negócios e tirado o brilho do país. Com isso, novos empreendimentos privados, necessários para melhorar as condições internas de produção, não saem do papel e prejudicam a competitividade local.

A principal marca da gestão Dilma Rousseff na economia até agora tem sido a ingerência governamental em diversos ramos de atividade. Em alguns casos, o enfrentamento até se justifica, como ocorreu no embate com as companhias de telefonia, em razão da má qualidade de serviços prestados. Na maioria das ocasiões, porém, a mão pesada do Estado só atrapalha.

A interferência do governo em setores como energia, bancos e ferrovias tornou-se fator mais negativo para o bom desempenho da economia brasileira do que a própria crise externa, que vem desde 2008. Ou seja, o país poderia estar numa situação bem mais confortável em termos de crescimento não fossem as investidas de Brasília no mundo da produção.

O Globo publica hoje levantamento feito pela consultoria Economática mostrando que apenas os três setores mais penalizados pelo intervencionismo estatal perderam juntos R$ 59 bilhões em valor de mercado neste ano. São eles: energia elétrica (R$ 26,9 bilhões), telecomunicações (R$ 19,8 bilhões) e bancário (R$ 12,4 bilhões). 

Trata-se de setores em que, a despeito da saúde das companhias, as intensas e abruptas interferências do Estado tornaram os negócios arriscados e imprevisíveis. Tome-se o exemplo de empresas como a Cemig: suas ações haviam subido quase 65% desde janeiro e, em dois meses, já perderam mais de 30% do valor. (No ano, a Bovespa tem valorização de 3,82%.)

A interferência é particularmente grave quando se sabe que o investimento privado é fundamental para que o país supere seus atrasos na infraestrutura. “Sem dúvida havia abusos a combater, mas se criou uma atmosfera interpretada como hostil à rentabilidade dos negócios”, comenta a Folha de S.Paulo hoje em editorial.

O peso estatal vem retardando investimentos bilionários das companhias privadas. No setor de mineração, há R$ 350 bilhões engavetados, à espera de um novo marco regulatório. Na área portuária, onde o comércio exterior do país engargala de vez, existem projetos de R$ 44 bilhões prontos para ser tocados, mas o bate-cabeça de Brasília os impede de prosperar, conforme mostrou O Globo em sua edição deste domingo.

Segundo analistas de mercado, o Brasil está perdendo o brilho perante investidores internacionais, ressabiados com o que as idiossincrasias de Brasília podem lhes reservar. Ao mesmo tempo, o capital que antes aportava aqui agora segue para o México, onde o governo local implementa uma série de reformas liberalizantes.

“Enquanto por aqui o crescimento econômico tem sido modesto e o governo tem adotados medidas intervencionistas em alguns dos setores favoritos dos investidores estrangeiros, os mexicanos têm oferecido o mesmo que o Brasil de alguns anos atrás – expectativa de forte crescimento e reformas políticas e econômicas bem ao gosto do mercado”, informa o Valor Econômico.

Depois de ter crescido 9,7% nos últimos dois anos, o México deverá avançar mais 4% neste ano, segundo previsão da Cepal, acumulando 14% desde 2010. Já o Brasil viu o crescimento de seu PIB baixar de exuberantes e insustentáveis 7,5% em 2010 para anêmicos 2,7% em 2011 e raquítico 1,6% previsto para este ano.

À mão peluda do Estado na economia se junta a péssima execução das obras tocadas pelo poder público. O PAC, por exemplo, só executou 54% do seu orçamento até setembro, além de ter deixado R$ 15 bilhões parados nos cofres, informa hoje o site Contas Abertas. Um exemplo: os R$ 1,7 bilhão para aquisição de equipamentos como patrulhas agrícolas, ambulâncias, ônibus e retroescavadeiras, entre outros, continuam intocados.

Não é o caso de se defender o Estado mínimo num país onde enormes parcelas da população ainda têm carências gigantescas. Mas a experiência mostra que maior presença estatal na economia redunda sempre em menos eficiência e menores benefícios para a sociedade. Equilibrar os pesos, abrindo espaço para que o investimento privado floresça, tem sido algo que Brasília não tem demonstrado saber fazer na gestão petista.

sábado, 20 de outubro de 2012

Novela sem fim no país do improviso

Hoje à noite, o país estará vidrado no fim da trama que envolve Tufão, Nina e Carminha. Em países normais, o último capítulo de uma novela de TV é apenas um momento a mais de envolvimento dos telespectadores e de entretenimento da população. No país do improviso, é motivo de preocupação.

Em função do esperado aumento de consumo que deve ocorrer nesta noite tão logo o país saiba quem matou Max, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determinou ontem que térmicas movidas a óleo combustível fossem acionadas para gerar energia e evitar um possível apagão. Parece até coisa de ficção.

É comum que, assim que a novela termina, os telespectadores acendam luzes, abram geladeiras, tomem banho – em suma, toquem a vida em frente. Registra-se, então, um pico de alta no consumo de energia: em janeiro, no minuto seguinte ao fim da novela Passione, a demanda subiu 4,8%, um recorde. Seria tudo coisa normal, desde que não estivéssemos no Brasil, onde tudo anda no fio da navalha.

O país se viu obrigado a acionar suas térmicas em razão da situação dos nossos reservatórios, atualmente no nível mais baixo desde 2003. O regime de poucas chuvas decorrente do fenômeno climático El Niño deixou as represas no osso, impedindo que as usinas hidrelétricas gerassem sozinhas energia suficiente para abastecer o país.

A solução tem sido acionar termelétricas, cuja energia não é apenas mais cara, como também mais suja e poluente. Até agora, havia sido preciso ligar apenas térmicas a gás. Mas ontem entraram em operação as usinas movidas a óleo combustível e, caso necessário, em seguida entrarão também as a óleo diesel. Se nem isso for suficiente, ato seguinte é melhor os brasileiros começarem a rezar para que o país não flerte perigosamente com o risco de apagão...

O consumidor já vai sofrer no bolso. Um megawatt-hora de uma térmica a óleo custa cerca de R$ 700. Nas térmicas a gás, não passa de R$ 300 e nas hidrelétricas é menos de R$ 100. Estima-se que, incapaz de gerar energia suficiente mesmo com seu enorme potencial hídrico, o país deverá gastar R$ 1 bilhão a mais neste ano para acionar térmicas, com impacto de 3% a 4% nas contas de luz em 2013, de acordo com o Valor Econômico.

Este é mais um fator a colocar em xeque a alardeada promessa de redução das contas de luz feita em cadeia nacional pela presidente Dilma Rousseff no último 7 de setembro. O atabalhoado processo de renovação dos contratos de concessão das empresas do setor elétrico – feito em “atropelo”, segundo o próprio diretor-geral da Aneel, e capaz de gerar um rombo de R$ 22 bilhões nas companhias – é outro fator de dúvidas e riscos.

Mas os improvisos não estão apenas no setor elétrico. Também se nota na novela da privatização dos aeroportos – que a gestão petista teima em segurar para depois das eleições para não ser “acusada” de fazer a coisa certa – e até na falta de combustível em algumas regiões do país.

A concessão dos terminais do Galeão, no Rio, e de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte, tornou-se rocambolesca, e já ameaça definitivamente as obras e melhorias com vistas à Copa do Mundo. O governo não sabe se mantém o modelo que adotou na privatização dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília, se reduz a participação da Infraero ou se compra uma bicicleta.

Com a estatal nos consórcios, espanta investidores mais experientes, que não querem ser sócios de um elefante branco. Sem ela, pretende recorrer a fundos de pensão. Tudo para manter o Estado no negócio, ao invés de tomar o rumo certo e passar os aeroportos integralmente para o regime de eficiência privada.

Como se não bastasse, no país do improviso já falta até gasolina nos postos, como está acontecendo no Rio Grande do Sul desde a semana passada. O problema decorre das dificuldades que a Petrobras tem enfrentado para descarregar petróleo e nafta nos portos gaúchos por causa de ventos fortes e mar agitado, segundo o G1.

Eis a cansativa e interminável novela que os brasileiros somos obrigados a assistir nesta improvisada avenida Brasil governada pelo PT, onde um pneu de avião estourado, um capítulo de telenovela, o mar agitado, a falta de chuva ou o excesso de vento é capaz de pôr o conforto da população em risco. Isto precisa ter um “the end”.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Quadrilhas em profusão

José Dirceu e outros 12 réus começaram a ser julgados ontem por formação de quadrilha. Já condenado por corrupção ativa, o chefe dos mensaleiros tem dito que não está preocupado com o desfecho do julgamento do mensalão no STF. Para ele, o que importa é ganhar eleições, em especial a de São Paulo – provavelmente para ter de onde continuar desviando dinheiro para financiar interesses partidários. Há quadrilhas em profusão agindo por aí pelo PT.

Até semana que vem, o Supremo concluirá o julgamento do mensalão, exceto, talvez, a definição das penas, que deve ficar para depois do segundo turno das eleições. Neste capítulo final, os ministros avaliam se existiu ou não um bando articulado com objetivo de desviar dinheiro público e corromper parlamentares no Congresso. O relator acha que sim.

“Há nos autos diversos elementos de convicção harmônicos entre si a indicar que José Dirceu, tal como sustentado pela acusação, comandava o núcleo político, que por sua vez orientava as ações do núcleo publicitário, o qual normalmente agia em concurso com o chamado núcleo financeiro”, afirmou Joaquim Barbosa nas 30 primeiras páginas de seu voto – as 70 restantes serão lidas hoje.

Resumindo, funcionava assim: Dirceu mandava, Marcos Valério operava e o pessoal do Banco Rural soltava a grana que azeitava a engrenagem para lesar o Estado. Tratava-se, portanto, de uma “associação estável e organizada, formada pelos denunciados, que agiam com divisão de tarefas, visando à prática de delitos, como crimes contra a administração pública e o sistema financeiro nacional, além de lavagem de dinheiro”, ainda de acordo com Barbosa.

Algumas das evidências mais gritantes de que a organização criminosa agia de forma articulada para assaltar o erário estão na participação direta de Marcos Valério em episódios que, por princípio, nada deveriam ter a ver com sua função de “publicitário” alheio ao governo: uma viagem à Europa para arrecadar dinheiro da Portugal Telecom e uma reunião com o comando do Banco Espírito Santo, esta comandada por Dirceu e ambas com a presença do operador do mensalão.

O julgamento do mensalão já dura dois meses e meio. Neste período, produziu decisões memoráveis, como a que condenou pelo crime de corrupção ativa a cúpula petista à época em que o partido ascendeu à presidência da República com Luiz Inácio Lula da Silva.

Também já restou evidenciado que o mensalão tratou-se de um esquema criminoso para desviar recursos públicos destinados à compra de apoio político no Congresso, assim como a existência de empréstimos fraudulentos e lavagem de dinheiro. “Tudo isso já passou da mera especulação para a concretude”, como lembrou ontem o relator.

Repisar as conclusões a que os ministros da mais alta corte de Justiça já chegaram até agora serve para se contrapor aos que, vira e mexe, agem como se o mensalão não tivesse existido e, muito menos, sido veementemente condenado. Não só houve o esquema corrupto, como seus principais artífices foram considerados culpados, mas ainda estão por aí mandando no PT e tentando fazer o partido vitorioso em várias prefeituras importantes do país.

O julgamento em Brasília não é a única instância em que o mensalão está sendo confirmado e exemplarmente punido. Anteontem, a 4ª Vara da Justiça Federal em Minas Gerais condenou José Genoino, Delúbio Soares e Marcos Valério a quatro anos de prisão por crime de falsidade ideológica, por considerar que os contratos de empréstimos feitos pelo BMG ao PT eram “instrumentos formais fictícios, ideologicamente falsos, cuja real intenção era dissimular o repasse de recursos”.

O mau exemplo dos quadrilheiros da cúpula também acaba servindo de modelo a bagrinhos menores do PT, e mostra o quão deletéria é a inspiração que Lula, José Dirceu e seus mensaleiros fornecem para a prática política. O Estado de S.Paulo informa hoje, por exemplo, que a Polícia Federal em Marabá concluiu que os R$ 1,1 milhão apreendidos na véspera do primeiro turno em Parauapebas seriam usados para comprar votos para o candidato do PT à prefeitura do município.

Segundo o Código Penal, uma quadrilha é, por si só, uma ameaça à paz pública, independentemente de outros danos que possam causar os delitos por ela praticados. Um partido político que se organiza como quadrilha é uma afronta ainda maior aos interesses da sociedade.

Seja pelo julgamento no Supremo Tribunal Federal, seja por decisões de instâncias inferiores ou investigações policiais, tem-se claro que o Partido dos Trabalhadores se organiza como bando criminoso que usa as eleições como entrada para investir sobre os cofres públicos. Até por isso, o próximo dia 28 é excelente oportunidade para fechar a porta para esta gente.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Kit mentira

A cada dois anos, mais ou menos quando o inverno vai chegando ao fim e a primavera se aproxima, o PT abre sua caixa de ferramentas, dispara a fazer terrorismo e a assacar mentiras. Não se trata de eventos fortuitos: são as armas que o partido dos mensaleiros usa recorrentemente no período eleitoral. Este ano não está sendo diferente.

O país assiste, perplexo, à deslavada intromissão da máquina petista nas campanhas às prefeituras municipais. Incitada por seu tutor, Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff pôs o governo dela a serviço das candidaturas petistas e também lançou mão, com gosto, do kit mentira do PT.

O arsenal inclui as mistificações de sempre em torno das privatizações, o anúncio de medidas populistas que depois não se efetivam, a manipulação de verbas orçamentárias e o emprego de bens públicos em favor de um aparelho partidário – prática que se consagrou no mensalão, ora sobejamente condenado pelo Supremo Tribunal Federal. Com sua sede desmesurada pelo poder, este ano o PT está indo fundo no kit mentira. Vejamos.

No início de setembro, por ocasião da data de comemoração dos 190 anos da independência do país, Dilma ocupou rede nacional de rádio e TV para fazer proselitismo político. Comportando-se como militante partidária, atacou adversários e, com pompa e circunstância, anunciou aos brasileiros uma boa notícia que, se concretizada, só se materializará daqui a meses.

Soube-se agora, porém, que o que era acintoso tornou-se farsesco. No pronunciamento à nação, a presidente prometeu uma queda de 20%, em média, nas tarifas de energia praticadas no país. Eis que, ontem, o governo admitiu que a conversa da redução das tarifas não é bem assim: “Não posso garantir que dará 20%”, disse Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética.

Ocorre que, ato contínuo ao pronunciamento-comício de 7 de setembro, para conseguir a desejada redução das tarifas o governo impôs às empresas do setor draconianas e intempestivas regras de renovação dos contratos de concessão que simplesmente instauraram o caos num segmento-chave para o futuro do país.

O novo modelo, que balizará contratos com duração de 25 anos, foi enviado ao Congresso na forma de medida provisória, ou seja, com obrigatoriedade de ser apreciado a toque de caixa. No Parlamento, já recebeu mais de 400 propostas de emendas e não se sabe com que irá sair de lá. A despeito disso, as companhias de energia estão tendo que tomar decisões que afetam seu futuro pelas próximas décadas em cima de simples conjecturas.

Mas o kit mentira do PT não se limita a ludibriar o cidadão com promessas temerárias ou com medidas inconsequentes. Inclui também dizer uma coisa em cima dos palanques e fazer outra no governo. É o caso, mais uma vez, das privatizações.

Este ano, depois de décadas negando o óbvio, o PT dobrou-se à evidência de que privatizar faz bem ao país. Mas bastou o período eleitoral chegar para os partidários de José Dirceu e seus mensaleiros tirarem do armário a velha fantasia antiprivatista, como fez ontem Fernando Haddad em São Paulo.

O neófito petista “acusou” José Serra de ter “a privatização na veia”, numa referência ao bem sucedido modelo adotado no município e no estado de São Paulo que põe instituições como o Hospital Sírio-Libanês para cuidar (bem) da prestação de serviços de saúde à população mais carente, atendida pelo SUS.

O Sírio é o mesmo hospital onde Lula se curou do câncer na laringe. Seus tratamentos de ponta e sua reconhecida competência jamais seriam acessíveis a pobres sem que existisse o sistema adotado em São Paulo para a gestão da saúde. Haddad não apenas o critica, como propõe agora acabar com o modelo, o que pode simplesmente fechar o acesso de quem mais precisa a serviços de saúde de excelência.

Mas nem é preciso ir muito longe para rebater o mais novo pupilo de Lula em sua fantasia antiprivatista. Seu próprio partido cuida disso: ontem, em um seminário em São Paulo, o ministro Fernando Pimentel anunciou que o governo federal está apenas esperando “passar as eleições” para anunciar novas privatizações de aeroportos e portos, informou O Globo. Afinal, o PT é contra ou a favor de um serviço mais bem prestado aos cidadãos brasileiros?

O kit mentira dos petistas completa-se com a manipulação das verbas públicas, como mostra o Correio Braziliense. O Orçamento da União virou arma para os petistas tentarem ganhar eleições no grito: dos R$ 343 milhões empenhados pelo governo federal para emendas individuais neste ano, 93% foram para deputados e senadores de partidos aliados.

Outro caso escabroso é o anúncio de obras milionárias para Manaus, feito ontem por Dilma em audiência no Planalto. Como parte do pacote embusteiro, na próxima segunda-feira a presidente irá à cidade para tentar socorrer a candidata apoiada pelo PT – que no primeiro turno teve metade dos votos do tucano Arthur Virgílio e quase ficou fora da disputa.

As eleições são ocasiões em que a população renova sua confiança nas instituições e sua fé numa vida melhor. O PT e seus candidatos, porém, preferem distorcer o que deveria ser uma festa da democracia. A cada dois anos, a cada pleito, exercitam o que mais sabem fazer: enganar, com um monte de mentiras, a boa-fé dos brasileiros. O voto é a melhor, mais verdadeira e eficiente resposta a este embuste.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O pneu furou e o Brasil parou

Bastou o pneu de uma aeronave furar para uma parte considerável do sistema aéreo brasileiro entrar em parafuso. Um acidente banal ocorrido no aeroporto de Viracopos no fim de semana levou quase dois dias para ser superado e deixou cerca de 40 mil pessoas no chão. Como o país poderá decolar com fragilidades tão evidentes?

Um cargueiro tombou na pista do terminal de Campinas às 19h55 de sábado e só foi retirado de lá ontem à tarde. Durante 46 horas, o aeroporto, o segundo mais importante em termos de movimentação de cargas no país, ficou parado. Numa reação em cadeia, 495 voos foram cancelados em todo o país e 21% das partidas domésticas saíram com atraso ontem.

O episódio ilustra a debilidade da nossa infraestrutura. Um país cuja malha aérea fica durante dois dias refém de acidentes fortuitos não pode ser considerado preparado para alçar voos mais altos. Até onde esta desídia pode nos levar?

Até quatro meses atrás, Viracopos e mais 65 aeroportos eram administrados exclusivamente pela Infraero. A estatal agora tem sócios privados no terminal de Campinas e em mais dois (Brasília e Guarulhos), nos quais mantém 49% do capital. Ocorre que, com todo o seu gigantismo, a empresa é despreparada para bem gerir.

A estatal não dispõe de um único equipamento capaz de fazer a retirada de aeronaves – operação que não é trivial, mas está longe de ser incomum – como o que precisou ser usado ontem. No país, apenas uma empresa privada, a TAM, possui um kit destes, que custa entre R$ 2 milhões e R$ 13 milhões. Desde 2005, quando o da Varig deixou de operar, até o ano passado, o Brasil ficou sem instrumentos deste tipo.

A Infraero informou que “esse tipo de acidente não acontece todo o dia”, para tentar justificar por que, mesmo cuidando de dezenas de terminais aéreos, não está aparelhada para enfrentar sequer acidentes mais simples e por que, quando tem que agir, demora tanto para resolver um problema.

A verdade é que, sob as asas do PT, a estatal transformou-se num poço de ineficiência e o exemplo mais acabado de aparelhamento e predação. O que é necessário, ela não faz: investir. Desde 2000, a Infraero só aplicou 51% das verbas que lhe foram destinadas no Orçamento Geral da União. Neste ano, de R$ 370 milhões previstos, apenas 18% haviam sido gastos até julho.

Se a estatal é falha, nossa agência reguladora do setor aéreo é omissa. A Anac não tem qualquer norma que defina como o sistema deve estar organizado para se antecipar a episódios como o deste fim de semana, de forma a mitigar riscos. Segundo técnicos do setor, um acidente como o de Viracopos poderia ter sido resolvido em menos de dez horas, mas, no país da ineficiência, demorou quase 50.

Desde junho, Viracopos é administrado por um consórcio de empresas em sociedade com a Infraero. É claro que a nova gestão não teve tempo hábil para eliminar o histórico de maus serviços prestados pela estatal. Mas o mais grave é o risco de que o terminal de Campinas e os demais aeroportos já privatizados – ou que venham a ser – continuem sem a perspectiva de melhoria por falhas no processo de concessão tocado pelo governo Dilma.

Técnicos consultados pelos jornais dizem que o sistema aéreo só travou como neste fim de semana porque o aeroporto de Campinas ainda não dispõe de uma necessária segunda pista. O pior da história é que o contrato de concessão feito pela atual gestão só prevê a instalação de tal estrutura daqui a cinco anos. Como ficaremos até 2017?

Após uma década no poder, o governo petista não pode alegar desconhecimento ou razões imprevistas. O processo de depauperação da nossa infraestrutura está explícito há anos. A solução das privatizações – além de ter sido aplicada com sucesso no governo tucano e sempre ter sido defendida pela oposição – foi por anos renegada pelo PT. A atual gestão não consegue enfrentar os problemas que afligem a população e, assim, continua fazendo o país refém até de pneus furados.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

PIB: de ‘piada’ a filme de horror

O que era “piada” vai ganhando ares de filme de horror: o Brasil passou a figurar entre os patinhos feios do desenvolvimento no mundo. Entre as principais razões, está a mão pesada do Estado, que bagunça o ambiente econômico com mais intervenção, dirigismo, indefinições e insegurança jurídica. O que é bom, como destravar investimentos, tanto públicos, quanto privados, o governo do PT não faz.

O país começou 2012 ouvindo augúrios róseos da equipe econômica de Dilma Rousseff. Depois de um 2011 difícil, teríamos chegado ao “fundo do poço” na virada do ano e estaríamos prontos para acelerar. A previsão oficial era de crescimento de, no mínimo, 4,5% neste ano. Durante meses, esta foi a cantilena que o Ministério da Fazenda entoou, com contracantos animados ouvidos também no Palácio do Planalto.

Por mais que vozes sensatas chamassem a atenção para a desafinação que se notava em parte das atividades econômicas, especialmente na indústria, o governo fazia ouvidos moucos. A Fazenda e o Planalto sustentaram, por meses a fio, que as previsões pessimistas eram coisa de quem estava desinformada sobre o Brasil ou, pior ainda, de quem torcia contra ou queria ganhar no grito.

Passou o tempo e, com a confirmação de dois pibizinhos trimestrais seguidos, o vozerio se impôs: agora, até a previsão oficial feita pelo Banco Central estima crescimento de apenas 1,6% para o PIB brasileiro neste ano. O número é praticamente o mesmo que o ministro Guido Mantega, apenas três meses atrás, havia ridicularizado como “piada”, após ser prognosticado pelo banco Credit Suisse.

O BC percebeu que as famílias brasileiras não consumirão tanto, as importações do país não aumentarão como previsto antes e a indústria terá desempenho pior do que o imaginado. Nem a inflação estará totalmente controlada, fechando mais um ano – o terceiro seguido – acima da meta. A previsão do PIB para os próximos 12 meses também é mais rigorosa do que a da Fazenda, com estimativa de 3,6%, ante os 4,5% de Mantega.

Nos últimos dias, mais duas instituições de peso firmaram consenso de que o Brasil vai mal. Para a Cepal, o crescimento brasileiro será o segundo pior entre os países da América Latina. O governo de Dilma Rousseff só conseguirá superar o desempenho do Paraguai – país que, ressalte-se, vive situação de excepcionalidade e instabilidade institucional após a troca abrupta de seu presidente, em junho passado.

Outra previsão negativa veio do FMI, na semana passada, também convergindo para a piada sem graça do PIB na casa de 1,5% neste ano, numa machada feroz em relação ao prognóstico anterior, feito em julho, que estimava 2,5% de crescimento. O Brasil será o país com pior desempenho entre os países dos chamados Bric, com somente metade da média global, de 3,3%. Apenas para aquilatar a distância que nos separa do resto do mundo: a Rússia deve crescer 3,7%, a Índia, 4,9% e a China, 7,8%.

O maior problema é que estes prognósticos não são apenas exercícios de futurologia ou elucubração estéril em cima de números e cifras. Eles afetam o ânimo de quem quer investir, produzir mais, trabalhar em prol de um país melhor. Em função dos maus resultados que vêm sendo colhidos pela nossa economia, e pelas baixas perspectivas de melhora no próximo ano, o Brasil vem perdendo o encanto.

Em sua edição de ontem, a Folha de S.Paulo mostrou que investidores estrangeiros estão “reduzindo o interesse” pelo país. Ao longo do governo Dilma, o investimento externo líquido em ações e títulos de dívida acumulado em 12 meses, por exemplo, caiu de 1,8% do PIB, em janeiro de 2011, para 0,3% em agosto passado.

Entre os fatores que justificam o temor dos investidores está a enorme voracidade que a gestão atual tem demonstrado para intervir na economia. A lista é grande e cada caso valeria uma análise mais detida: desarranjo no setor elétrico, com incertezas sobre o futuro de contratos de concessão que terão validade de mais de 20 anos; interferências – em alguns casos até corretas – nas empresas de telecomunicações e uma investida brutal sobre as instituições financeiras, forçando um aumento de crédito muitas vezes artificial.

O Brasil Econômico informa hoje que as consequências sobre as companhias que operam nos mercados de energia, telecomunicações, bancário e de infraestrutura têm sido visíveis na forma de desvalorização acentuada de suas ações em bolsa. As quedas chegam a mais de 30% em menos de um mês, como é o caso da Cesp, após as intervenções de Brasília.

Em seu ranking sobre competitividade global, divulgado na semana passada, o Fórum Econômico Mundial considera que o Brasil é, entre 144 países, o que tem a mais excessiva regulação do governo, além de ser o 135° com maior desperdício de recursos públicos, mostra hoje O Estado de S.Paulo. Trata-se de um modelo asfixiante, ineficiente e perverso.

O governo petista jamais se dignou a vir a público explicar por que a distância entre o que vocaliza e o que a realidade expressa é sempre tão grande. É possível que tenha dificuldade em justificar e admitir sua tremenda incapacidade de fazer o que o país espera: bem gerir os recursos públicos, aplicar com rigor o dinheiro do contribuinte e colaborar para que o empreendedor privado produza, gere trabalho e riqueza para os brasileiros. Se pelo menos não atrapalhar, já vai estar ajudando.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O golpe final

O partido dos mensaleiros desdenha da democracia, afronta as instituições e avilta a Justiça. Mal o Supremo Tribunal Federal (STF) decretou a proscrição de José Dirceu e seus asseclas da política brasileira, o PT lançou-se numa investida desesperada para tentar transformar decisões tomadas no mais estrito respeito ao Estado Democrático de Direito em golpismo. É parte da disposição infinda dos petistas a se agarrarem com unhas e dentes ao poder.

O PT e seus próceres vêm se dedicando nos últimos dias a achincalhar a mais alta corte de Justiça do país. Agem insuflados pelo seu líder máximo. Na terça-feira, tão logo ficara selada a condenação de Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares pelos ministros do Supremo por crime de corrupção ativa, Lula conclamara a militância petista a mostrar os caninos e “dar o troco”. Foi seguido de imediato.

O primeiro a obedecer-lhe foi o “chefe da quadrilha”. José Dirceu deixou seu refúgio em Vinhedo, de onde agora só sai escoltado por capangas, para dirigir-se aos petistas reunidos no Diretório Nacional. Sua fala resume tudo o que o PT pensa e quer, tudo o que o Brasil pode esperar caso a legenda que há dez anos governa o país saia-se vencedora desta eleição municipal.

Dirceu disse ontem que não importa o que a mais alta corte de Justiça do país decidiu sobre ele e seus mensaleiros, ao condená-los a, quiçá, passar uns anos na cadeia. O que vale é ganhar eleição, especialmente em São Paulo. E é exatamente isso o que significa um eventual triunfo do PT na maior metrópole do continente e em outras 21 cidades em que o partido disputará o segundo turno: a vitória do mensalão.

O PT tem dez réus entre os julgados pelo STF. Destes, só um – Luiz Gushiken – foi considerado inocente até agora. Mais quatro começaram a ser condenados ontem por crime de lavagem de dinheiro. E, na semana que vem, toda a cúpula petista à época em que Lula ascendeu à presidência da República, com Dirceu à frente, voltará ao banco dos réus por crime de formação de quadrilha.

Esse pessoal continua dando as cartas no PT, como ficou claro pela destacada participação que Dirceu e Genoino tiveram ontem na reunião da direção nacional do partido. Que não haja dúvidas: quem manda no PT ainda são os mensaleiros; quem se elege pelo PT ainda são os mensaleiros; onde o PT vence e governa, ainda prevalecem os mensaleiros.

Contra esta constatação irrefutável, os petistas ressuscitam, mais uma vez, a tese de que são vítimas. Anteriormente, da imprensa e das “elites”; agora, vão mais longe: também da Justiça. É o tradicional horror dos partidários de Lula, Dilma e seus correligionários condenados pelo Supremo às instituições da democracia.

Segundo a Folha de S.Paulo, o condenado José Dirceu já deixou claro o que quer que seu partido imponha à nação em resposta ao julgamento do STF: “criação de controles para a mídia e o Judiciário”. Nesta cruzada, de acordo com o Correio Braziliense, o quadrilheiro-mor da turma mensaleira pretende rodar o país “para se defender e criticar o veredicto do STF”.

Dirceu ecoa a voz e as vontades do chefe, Lula. Como, aliás, sempre fez desde que operou a montagem da estrutura política que elegeu o petista e, posteriormente, já “entre quatro paredes de um palácio presidencial”, comandou o mensalão. “Ele [Lula] dava as ordens e Dirceu ia a campo executar. O que na boca de Lula eram metáforas, nas de Zé Dirceu viravam verdade”, relembra um deputado do PT ouvido por O Globo.

Para a direção petista, ecoando o que Lula dissera anteontem, o que há na condenação de seus líderes é “intolerância”, “falta de vocação democrática” e “hipocrisia”. Trata-se da estratégia posta em marcha pelo partido dos mensaleiros de tentar politizar o resultado do julgamento – iniciativa que já vem se desenrolando nas redes sociais por meio de uma patrulha arrogante paga a soldo do Estado petista, a quem só compraz o silêncio e a subserviência.

Mas, não: o que há são decisões soberanas, equilibradas, técnicas, objetivas tomadas pela nossa suprema corte de Justiça em relação a um esquema criminoso de desvio de dinheiro que deveria servir para melhorar as condições de vida dos brasileiros, mas que foi parar nos bolsos de políticos corruptos comprados por governantes igualmente corruptos. O que há é pura e simplesmente o mensalão que o PT montou.

E este não pode avançar um passo mais, sob pena de o país ver-se vergado a esta “agenda criminosa”, a este “golpe no conteúdo da democracia”, a este projeto de poder urdido sob “velha, matreira e renitente inspiração patrimonialista”, conforme as definitivas palavras dos ministros Celso de Mello e Carlos Ayres Britto ontem. O que o STF condenou foi uma forma nefasta de fazer política, sempre visando a hegemonia e a subjugação dos adversários. Ao golpe que o PT tentou impor à nação, virá a resposta irretorquível das urnas.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

PT: condenado por corrupção

O partido que governa o Brasil teve ontem alguns de seus maiores líderes condenados pela mais alta corte de Justiça do país pela prática de corrupção. Uma decisão como esta deveria ser suficiente para que uma agremiação política séria assumisse seus erros e apresentasse desculpas à sociedade brasileira. Mas com o PT não é assim: o partido de Lula, Dilma e José Dirceu prefere tentar rebaixar todos à vala comum da imundice.

A maioria do Supremo Tribunal Federal (STF) considerou José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, que comandaram a legenda durante o processo que levou o Partido dos Trabalhadores ao poder federal, culpados pelo crime de corrupção ativa. Eles conduziram um esquema que desviou dinheiro público para comprar o voto de parlamentares e formar a base de apoio ao governo Lula. Tudo isso resta agora provado pelos ministros do Supremo.

Foi sobre esteios desta natureza que, “entre quatro paredes de um palácio presidencial”, o PT ancorou seu projeto de poder, num esquema fraudulento que perdura aqui e acolá até os dias de hoje. Infelizmente, o partido dos mensaleiros ainda continua a lograr algum sucesso entre os eleitores, mas são direitos que a democracia lhe assegura, e que devem ser sempre respeitados.

A ficha corrida de Dirceu e seus mensaleiros de truz ainda deve crescer um pouco mais. Na semana que vem, os ministros do STF deliberarão sobre a prática de crime de formação de quadrilha, tendo o ex-ministro-chefe da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva como o vértice da “sofisticada organização criminosa”. No fim de novembro, será definida a pena que caberá a cada um, ou seja, quanto tempo terão que gramar de cadeia.

Mas os mensaleiros não se fazem de rogados. Ontem, seu líder máximo veio a público insuflar a militância petista a “dar o troco nos adversários”, segundo O Estado de S.Paulo. Parece que o mensalão – que poucos dias atrás Lula considerava assunto menos importante que o mau futebol que jogam alguns times no Brasileirão – calou fundo na alma petista.

Lula deve estar particularmente contrariado não só por ver seu principal articulador político (cujo vastíssimo poder à época a Folha de S.Paulo esquadrinha hoje), o ex-presidente e o ex-tesoureiro de seu partido condenados a, possivelmente, passar anos atrás das grades por terem corrompido deputados.

O ex-presidente da República também viu ser trucidada ontem pela ministra Cármen Lúcia sua espúria tese de que o mensalão não passou de “mero” crime de caixa dois: “O ilícito não é normal. Ora, caixa dois é crime, é uma agressão à sociedade brasileira. (...) Me parece grave, porque parece que ilícito no Brasil pode ser realizado e tudo bem”.

A tática de Lula ao reagir à condenação dos mensaleiros é velha conhecida: equivale ao batedor de carteira que, flagrado, grita “pega ladrão”. São os chamados “spins”, na gíria da comunicação: fazer do limão uma limonada e distorcer de tal maneira a realidade de forma que ela pareça o contrário do que é. Ao fim e ao cabo, o que o ex-presidente da República está dizendo é: “Somos sujos, mas quem não é?”.

Lula quer que todos concordemos com seu torpe modo de ver o mundo, com sua enorme irresponsabilidade perante as instituições da República, com sua forma abjeta de considerar que todo brasileiro é um corrupto em potencial, basta que a oportunidade se lhe apresente. Conosco, não, violão!

A sociedade brasileira saúda o acerto de contas que a mais alta corte de Justiça do país impôs a quem liderou um governo baseado num esquema corrupto e se julgou acima do bem e do mal, inalcançável nos seus malfeitos. A condenação de Dirceu, Genoino, Delúbio e a penca de mensaleiros que gravitaram em torno deles a partir do Palácio do Planalto é um bálsamo para democracia brasileira.

Não venha o PT, menos ainda seu líder, dizer à nação que todos somos iguais na imundice. Isso não é “piada de salão”, como chegaram a crer alguns petistas. Daqui a poucas semanas, gente que até alguns anos atrás mandava no Brasil estará atrás das grades, cumprindo pena ao lado de criminosos sanguinários. Há alguma coisa que se pareça com isso? Com uma ficha corrida assim, que “debate da ética” Lula se julga capaz de travar, ladeado por seus corruptos comandados?

Só uma mente desequilibrada como a de Lula pode achar que é possível equiparar o assalto que o PT perpetrou no país a qualquer outro ilícito que se tenha notícia na história política brasileira. Nesta, o PT está sozinho, não tem concorrente. O partido de Lula, Dilma, José Dirceu e seus quadrilheiros tem, para todo o sempre, a exclusividade de dispor de um adjetivo todo seu: mensaleiro!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Rumo à vitória no 2º turno

O resultado das urnas demonstra o vigor que o PSDB continua a exibir diante do eleitorado brasileiro. Para um partido que está há dez anos afastado do poder federal, depois de três derrotas presidenciais seguidas, os números alcançados no último domingo representam uma vitória expressiva e indicam que a população vê nos tucanos a principal alternativa de poder no país.

Fechadas as urnas, o PSDB obteve 13,9 milhões de votos. Foi o segundo partido que mais conquistou prefeituras (691) e, a depender dos resultados daqui a 20 dias, pode ter sob sua gestão o maior contingente de habitantes do país: hoje já são 19,1 milhões, mas o número pode mais que dobrar.

Além das prefeituras que já conquistou em primeiro turno, o PSDB ainda disputará mais 17 cidades no próximo dia 28. Destas, em oito o candidato tucano terminou a primeira rodada na liderança, com chances redobradas de novo sucesso: São Paulo, Manaus, Campina Grande (PB), Teresina (PI), Pelotas (RS), Blumenau (SC), Franca (SP) e Taubaté (SP).

No grupo das 83 cidades com mais de 200 mil eleitores, o PSDB elegeu seis prefeitos em primeiro turno: Maceió, Betim (MG), Piracicaba (SP), Santos (SP), Ananindeua (PA) e Jaboatão dos Guararapes (PE). Nos maiores centros, que representam 36,5% do eleitorado brasileiro, os tucanos podem chegar a ter 23 cidades, mais que o dobro das nove deste porte atualmente administradas pelo partido.

Entre as 12 metrópoles brasileiras, ou seja, com mais de 800 mil eleitores, há quatro anos o PSDB venceu em somente uma – Curitiba – mas agora pode triunfar em três: São Paulo, Guarulhos (SP) e Belém. Entre os municípios de 200 mil a 800 mil eleitores, os tucanos tinham 12 em 2008, já conquistaram seis em primeiro turno e podem vencer em mais 14.

Nas médias cidades (75 mil a 200 mil eleitores), o número de vitórias subiu de 24 em 2008 para 29 agora; nas pequenas (de 15 mil a 75 mil eleitores), passou de 217 para 176 e nas menores localidades, de 537 para 478, de acordo com levantamento publicado hoje pela Folha de S.Paulo.

O time tucano também contará com 5.242 vereadores eleitos no último domingo, número apenas menor que o alcançado pelo PMDB. A força deste exército, reforçado por eleitos por partidos coligados, será fundamental para ajudar o partido a obter novas vitórias em 28 de outubro: em São Paulo, por exemplo, os seis vereadores mais bem votados apoiam José Serra e pelo menos 32 dos 55 eleitos deverão lhe dar sustentação num eventual governo.

O desempenho tucano contrasta com resultados obtidos pelas duas maiores lideranças petistas: Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva. Não adianta alguns analistas quererem vislumbrar sucesso evidente no desempenho eleitoral da presidente. Ela se envolveu diretamente em duas contendas: numa, Belo Horizonte, perdeu ainda no primeiro turno para o candidato apoiado pelo senador Aécio Neves; noutra, em São Paulo, disputará o segundo turno. Ou seja, tem chance de sair duplamente derrotada.

Sem contar que o desempenho do PT no estado que é a base eleitoral da presidente – e historicamente sempre foi considerado uma fortaleza petista – retrocedeu: em Porto Alegre, o candidato de Dilma teve menos de 10% dos votos e foi somente o terceiro mais votado. Os petistas também perderam espaço em outras cidades importantes do Rio Grande do Sul, como Caxias do Sul e Santa Maria, onde tradicionalmente tinham força.

Já Lula envolveu-se pessoalmente na disputa em dez cidades, onde participou, inclusive, de comícios. Em sete delas, o ex-presidente terá de continuar labutando para ver se obtém algum sucesso. Em uma – Feira de Santana (BA) – perdeu fragorosamente e em duas venceu – São Bernardo do Campo (SP), onde a vitória de Luiz Marinho eram favas contadas, e Osasco (SP).

O PSDB, que, a despeito de tantas adversidades, continua a rivalizar de igual para igual com a legenda que governa o país há uma década lançando mão dos instrumentos mais espúrios que se tem notícia, pode se considerar bem sucedido. Redobrando os esforços com vistas ao segundo turno e calibrando sua estratégia rumo ao futuro, o partido tucano poderá sair como grande vitorioso desta eleição.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

A força da oposição

O PSDB obteve desempenho muito positivo nas eleições realizadas ontem nos 5.568 municípios do país. O partido conquistou o segundo maior número de prefeituras, está no segundo turno em 18 das 50 cidades onde haverá nova rodada e tem chance de ver o principal adversário, o PT, praticamente dizimado das capitais.

Terminado o primeiro turno, o PSDB já conquistou a prefeitura de 688 municípios. Nas capitais, saiu-se vitorioso em Maceió, onde Rui Palmeira obteve 57,41% dos votos válidos, com quantidade de sufrágios quase cinco vezes maior do que a do segundo colocado, apoiado pelos partidos da base de Dilma Rousseff em Brasília.

O PSDB só não terá mais municípios do que o PMDB, que terminou em primeiro lugar em 1.017 e ainda disputa o segundo turno em mais 16. O PT tem 624 cidades sob seu comando e, mesmo que vença em todos os municípios onde ainda concorre na segunda rodada, não tem como ultrapassar os tucanos.

Das 50 cidades onde ainda haverá segundo turno, o PSDB disputará a vitória em 18 delas. Destas, oito são capitais: São Paulo, Manaus, Vitória, Teresina, São Luís, Belém, João Pessoa e Rio Branco. Mas há cidades muito importantes também em jogo, como Guarulhos, Jundiaí, Ribeirão Preto, Sorocaba, Franca, Taubaté, Campina Grande, Londrina, Pelotas e Blumenau.

Nos grandes centros, o desempenho do PSDB agora pode ser muito melhor do que o de 2008, quando o partido saiu-se vitorioso em quatro capitais – duas das quais, Teresina e São Luís, podem ser mantidas – e em outros nove municípios com mais de 200 mil eleitores.

Dependendo dos resultados do segundo turno, o PSDB poderá sair da eleição como o partido que tem o maior número de habitantes sob seu governo. Considerando apenas as prefeituras já conquistas, 19 milhões de brasileiros estarão sob gestão tucana nos próximos quatro anos. Mas este número pode mais que dobrar, de acordo com o que acontecer no próximo dia 28.

Os tucanos disputarão a segunda rodada com o PT em seis cidades: São Paulo, Rio Branco, João Pessoa, Pelotas, Taubaté e Guarulhos. Até agora, os petistas conquistaram apenas uma capital (Goiânia) e estão na disputa em outras seis capitais – em três delas em confronto direto com o PSDB.

Na capital paulista, José Serra confirmou sua força política e terminou a primeira rodada da eleição em primeiro lugar, com 30,75% dos votos válidos. A prefeitura da maior cidade do continente será disputada com o petista Fernando Haddad, que nem com toda a massiva participação de Lula, nem com o descarado troca-troca de cargos na máquina federal conseguiu superar o líder tucano.

Além disso, o partido dos mensaleiros sofreu derrotas fragorosas, a começar por Belo Horizonte. Lá o candidato escolhido pela presidente da República perdeu no primeiro turno para o nome apoiado pelo senador Aécio Neves: Márcio Lacerda (PSB) foi reeleito com 52,69% dos votos válidos, com 152 mil votos a mais do que Patrus Ananias, ex-ministro de Lula, que também se empenhou pessoalmente na campanha e saiu igualmente derrotado.

Outras duas derrotas acachapantes dos petistas ocorreram em Recife e Porto Alegre. Na capital pernambucana, Humberto Costa, também ex-ministro de Lula e imposto à seção local do partido pela cúpula petista, terminou em terceiro lugar, atrás de Geraldo Julio, eleito pelo PSB, e do tucano Daniel Coelho, que obteve excepcionais 27,65% dos votos válidos.

Em Porto Alegre, base eleitoral da presidente da República e antes tida como bastião petista, o candidato do partido de Lula, Dilma e José Dirceu não obteve nem 10% dos votos válidos e terminou também em terceiro lugar, derrotado por José Fortunati, pedetista reeleito em primeiro turno. Outro fracasso retumbante de Lula ocorreu em Feira de Santana (BA): mesmo com a presença do ex-presidente em pessoa em seu palanque, o candidato do PT teve meros 18% dos votos, três vezes menos do que o do vencedor, José Ronaldo, do DEM.

Além de disputar diretamente 18 cidades na votação do dia 28, o PSDB tem aliados encabeçando a chapa em municípios importantes como Salvador, onde ACM Neto (DEM) liderou a disputa no primeiro turno com apoio do PSDB; Florianópolis, onde Cesar Junior, do PSD, é apoiado pelo partido; e Campinas, onde faltou muito pouco para Jonas Donizete, do PSB, apoiado pelos tucanos, derrotar o petista Marcio Pochmann já neste domingo. O PSDB também participa da candidatura vitoriosa de João Alves, do DEM, eleito prefeito de Aracaju.

Os resultados deste domingo confirmam o PSDB como força poderosa de oposição ao governo petista. Mesmo há dez anos afastado do poder federal, os tucanos obtêm votações expressivas, conquistam cidades importantes e continuam sendo depositários da confiança do eleitor que acredita que a política não pode e não deve ser transformada num vale-tudo em que o que menos importa é o bem-estar da população.

sábado, 6 de outubro de 2012

Não ao mensalão; não ao apagão

Domingo, o Brasil vai às urnas eleger prefeitos e vereadores de seus 5.564 municípios. O partido que governa o país há dez anos apresenta-se aos eleitores com atributos vistosos: na política, algumas de suas principais lideranças estão prestes a ser condenadas por corrupção; na economia, vivemos agora de apagão em apagão. Com credenciais assim, o PT merece seu voto?

A votação é sempre uma oportunidade de o cidadão analisar o estado geral das coisas e manifestar sua avaliação. É claro que, ao fim e ao cabo, o que o eleitor quer é um bom prefeito que cuide bem de sua cidade. Mas no voto preza também os valores, os princípios e se expressa sobre as condições gerais do país.

Na cabine no domingo, o eleitor terá em mente que o partido que chegou ao poder em 2002 como paladino da ética tem hoje dez réus sendo julgados pela mais alta corte do país por crimes como corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e peculato.

Toda a cúpula que dirigia o PT no começo do governo Lula está prestes a ser condenada pelos ministros do Supremo Tribunal Federal por ter articulado um esquema sofisticado que envolveu desvio de dinheiro público, operações bancárias fraudulentas, cooptação e compra de apoio no Congresso. Gente assim merece voto?

Ontem, o STF prosseguiu no julgamento do mensalão, encaminhando a condenação de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares por corrupção ativa. Faltam apenas mais três votos – no caso de Delúbio, apenas dois – para que eles sejam considerados culpados, definição que deverá ocorrer na próxima terça-feira.

Até agora, apenas Ricardo – sempre ele – Lewandowski votou pela absolvição de Dirceu, bem como de Genoino. O ministro revisor diz que não acredita em Papai Noel, mas pelo jeito crê em absurdos: para ele, apenas Delúbio teria sido responsável pelo esquema que desviou R$ 73 milhões do Banco do Brasil e lavou R$ 55 milhões em operações de fachada no Banco Rural, destinando-os ao bolso de parlamentares corrompidos.  

Digamos que o raciocínio de Lewandowski tenha pés e mãos, que circulam e operam, mas certamente não tem cabeça. Se não é Dirceu o “chefe da quadrilha”, Delúbio é que não pode ser. Quem seria, então? O então presidente da República? Esta é a única conclusão possível da argumentação do ministro revisor.

Caso se admita que o então ministro da Casa Civil de Lula desconhecia o complexo esquema que envolveu desvio de dinheiro público, fraudes bancárias e ampla coordenação de lideranças partidárias para a construção da base de apoio do governo do PT – e que Lewandowski já admitiu ter existido, ao condenar réus por corrupção passiva – alguém acima dele haverá de ser considerado responsável. Acéfala é o que esta organização não pode ser.

Mas o PT não chegará às urnas no domingo exibindo apenas as qualidades de ser o partido cujos líderes estão metidos até a alma em corrupção e assalto aos cofres públicos. O petismo também poderá apresentar-se ao eleitor como o partido da incompetência, como comprova a sequência de apagões aos quais o país tem sido submetido nos últimos tempos.

Há 12 dias, cerca de 6 milhões de consumidores do Nordeste haviam ficado sem luz. Anteontem, quase 2,7 milhões de brasileiros em 13 estados do país – cerca de 7% do total – voltaram a ficar no escuro. E ontem praticamente todo o Distrito Federal entrou em colapso completo por seis horas por falta de energia. O estrago só não foi maior porque todas as térmicas do país estão ligadas.

Para o governo, são meros “apaguinhos”. Que nada: só neste ano, já houve 32 interrupções de fornecimento de energia de grandes proporções no país, que se somam a 61 registradas em 2011, como mostra O Estado de S.Paulo. Com baixo investimento e descuidos na manutenção, que tendem a se agravar com as novas regras para renovação dos contratos de concessão que Dilma Rousseff quer impor ao setor, os apagões nossos de cada dia estão cada vez mais frequentes.

A despeito de toda esta ficha corrida de serviços prestados à nação, o PT continua a apresentar-se ao eleitor como a redenção do país. O partido assanha-se com a perspectiva de tomar de assalto orçamentos municipais polpudos e é capaz de quaisquer meios para alcançar seus fins – como ilustra, mais uma vez, o episódio de Parauapebas (PA), onde a Polícia Federal apreendeu R$ 1,1 milhão que o PT pretendia usar para comprar voto no domingo, como informa O Globo.

Este é o partido que quer o voto de milhões de brasileiros daqui a dois dias. A ele, o eleitor deve dizer sonoros “não”: não às falcatruas; não à ladroagem; não à incompetência; não ao descaso com os serviços mais elementares; não ao desprezo por valores que os brasileiros tanto respeitam e estimam. Domingo é dia de também dizer não ao apagão. É dizer de dizer não ao mensalão. É dia de derrotar o PT.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O quadrilheiro do povo mensaleiro

O primeiro e decisivo passo para condenar José Dirceu e a antiga cúpula petista pelos crimes do mensalão foi dado ontem, com o voto do ministro Joaquim Barbosa. A pá de cal deve ser jogada nesta quinta-feira quando se espera que – se nenhum ministro não interpuser delongas injustificáveis – a mais alta corte do país considerará aqueles que, até pouco tempo atrás, comandavam o PT culpados por desviar dinheiro público para comprar apoio político no Congresso.

Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, além de outros sete réus, foram condenados ontem por corrupção ativa pelo ministro relator. A partir da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foi montada uma máquina para corromper parlamentares que se sujeitassem a sustentar o projeto de poder do PT. O ministro-chefe a comandava.

Barbosa empilhou um monte de evidências para mostrar que José Dirceu detinha o “domínio final de todos os fatos” do mensalão. Nada acontecia sem a sua anuência, de tratativas de liquidação de bancos à exploração do raríssimo nióbio. Marcos Valério era seu operador – “broker”, ou corretor e negociador, na definição do ministro relator.

De fato, é difícil admitir que Dirceu participasse de tantas e tão díspares reuniões, com tão distintos interlocutores, sem que fosse para tratar da montagem e da atuação da quadrilha que concebeu, estruturou e operacionalizou o maior esquema de corrupção que se tem notícia na história política do Brasil.

Mais: como explicar que, para tratar de mineração ou de sistema financeiro, estivessem sempre sentados à mesa de reuniões com Dirceu o tesoureiro do seu partido (Delúbio Soares) e um publicitário cujo maior dom era montar esquemas de desvio de dinheiro público para molhar a mão de parlamentares (Marcos Valério)?

Mais ainda: como explicar que, logo depois de realizadas tais reuniões, uma gorda dinheirama tenha saltado das burras do Banco Rural para os cofres do PT, de onde escorreu para o bolso dos mensaleiros? Terão sido meras coincidências? Barbosa deixou claro que não: era o mensalão mesmo em plena ação.

A defesa de Dirceu argumenta que uma das reuniões com o pessoal do Rural serviu para tratar da exploração de nióbio. Estranhíssimo. Primeiro, porque, até onde se sabe, não é atribuição da Casa Civil cuidar de pesquisa mineral. Segundo, porque o Brasil tem um único produtor do metal – aliás, um dos únicos no mundo: a CBMM, que pertence, justamente, a um grupo concorrente do banco mineiro, o Moreira Salles, então à frente do Unibanco, hoje do Itaú-Unibanco. O que, diabos, o Rural iria querer com nióbio? Nada, provavelmente; o papo era outro.

Os interlocutores de Dirceu eram gente que não tinha nada a ver com assuntos de governo ou com os temas alegados pela defesa do “chefe da quadrilha”, mas tudo a ver com o mensalão, como ressalta Marcelo Coelho em precisa análise sobre o voto de Barbosa ontem no Supremo, publicada na Folha de S.Paulo.

Era uma profusão de “reuniões fechadas, jantares, encontros secretos”, com Dirceu “em posição central, posição de organização e liderança da prática criminosa, como mandante das promessas de pagamentos de vantagens indevidas aos parlamentares que viessem a apoiar as votações do seu interesse”, conforme resumiu, com a acuidade de sempre, Joaquim Barbosa em seu voto.

São evidências de sobra para que José Dirceu passe uns bons tempos no xadrez. Se condenado a mais de oito anos pelos ministros do STF, amargará cumprimento da pena em regime fechado. Um ocaso e tanto para quem foi o segundo homem mais poderoso da República e sonhava tornar-se o maioral. Dirceu terá uma ficha corrida e tanto a exibir: ex-ministro, deputado cassado, presidiário e quadrilheiro.

Hoje, O Estado de S.Paulo diz que o PT prepara manifestações de desagravo para seus próceres condenados pelo Supremo. A turba petista costuma saldar gente como o ex-ministro com urros e palavras de ordem do tipo “Dirceu, guerreiro do povo brasileiro”. No encontro que terão após a conclusão do julgamento do mensalão pelo STF, poderá inaugurar um novo brado retumbante: “Dirceu, quadrilheiro do povo mensaleiro”.