terça-feira, 31 de março de 2015

No país do 8 x 0

O resultado do PIB divulgado na sexta-feira fez os brasileiros sentirem saudade da vergonha que o país passou com a goleada sofrida para a Alemanha na Copa do Mundo. Estamos agora no país do 8 x 0: oito de inflação e zero de crescimento. Bons tempos aqueles em que o Brasil só perdia de sete e ainda conseguia fazer um...

O modelo econômico adotado pelo PT a partir de 2009 produziu a ruína atual, em que a economia não apenas não cresce como encolhe; a inflação descolou da meta para sabe-se lá quando voltar; o mercado de trabalhos passou a eliminar empregos e o setor produtivo está virtualmente petrificado, sem ânimo nem dinheiro para investir.

No país do 8 x 0, o Brasil teve o 37° pior crescimento entre os 40 países da OCDE que já divulgaram o resultado de seus PIBs do ano passado. Também registrou a média anual mais baixa (2,1%) desde a anotada por Fernando Collor de Mello.

No país do 8 x 0, o PIB per capita só cresceu 1,2% ao ano em média desde que Dilma Rousseff assumiu o governo, em 2011. Mantido o atual ritmo, a renda dos brasileiros demorará quase 60 anos para dobrar – apenas para comparar, na China isso acontece a cada dez anos...

Na prancheta dos técnicos, os prognósticos são de retranca ainda mais brava pela frente. Se as estimativas de analistas de mercado estiverem corretas, a média de crescimento do PIB no segundo mandato de Dilma cairá a 1,2% ao ano, já incluída a recessão certa deste 2015. Mais: a renda per capita vai continuar diminuindo e os brasileiros, empobrecendo.

No país do 8 x 0, o Brasil é a economia com a segunda maior inflação entre as 26 que adotam o regime de metas em todo o mundo. Por enquanto, perdemos apenas para Gana, depois de recentemente termos tomado o vice-campeonato da Turquia.

No país do 8 x 0, o desemprego agora também caminha para a faixa dos 8%, com a renda em queda forte – a de fevereiro foi a maior em dez anos. Nos últimos três meses foram eliminados 640 mil empregos e a perspectiva é de novos cortes, dada a paralisia geral que acomete os negócios no país neste momento.

O comportamento dos investimentos é um capítulo à parte da debacle atual. Há seis trimestres, ou seja, há um ano e meio, eles caem sem parar, acumulando tombo de 7,7% no período. Trata-se da mais longa queda desde o início da atual série estatística das contas nacionais, iniciada em 1996. O Banco Central prevê nova baixa, de 6%, em 2015.

Hoje o Brasil é uma economia derrotada, sem perspectivas de virar o jogo. O time é ruim, a técnica é desastrosa e seus jogadores costumam bater cabeça. Neste campeonato de pernas de pau, sobra para a plateia na arquibancada pagar ingressos cada vez mais caros. O estádio vai acabar ficando vazio.

sábado, 28 de março de 2015

PIB nota zero

Dilma Rousseff encerrou seu primeiro mandato com um pibizinho digno de nota zero. O 0,1% de crescimento divulgado nesta manhã pelo IBGE é o pior resultado registrado pela economia brasileira desde 2009 e um dos mais baixos em todo o mundo. Não há outro diagnóstico possível: até agora, o governo dela foram quatro anos jogados no lixo.

Alguns petistas graduados adoram inventar que “gente não come PIB”. Mas o fato é que o PIB estagnado de 2014 representa menos produção, menos investimento, menos emprego, menos dinheiro no bolso e menos consumo. É precisamente o que está acontecendo com o Brasil.

Os brasileiros estão ficando mais pobres. Um dos resultados mais notáveis divulgados nesta manhã pelo IBGE é a queda de 0,7% no PIB per capita. Ou seja, efetivamente a renda de cada brasileiro ficou menor no ano passado. A última vez que isso ocorreu foi na crise global de 2009. Dilma faz história...

Reforça a constatação de empobrecimento a redução de 0,5% no salário real em fevereiro, quando comparado ao mesmo mês do ano anterior, medida pela Pesquisa Mensal de Emprego divulgada ontem também pelo IBGE. Trata-se da maior queda em quase dez anos – entre trabalhadores sem carteira, a baixa foi de 4,3% e nos por conta própria, de 3,8%.

Entre os resultados mais negativos do PIB, está a queda acentuada dos investimentos, que recuaram 4,4%. A indústria caiu 1,2%, com baixa ainda maior (3,8%) em seu segmento outrora mais dinâmico, o de transformação. Construção civil (-2,6%) e comércio (-1,8%) mostram que o investimento estancou e o dinheiro que antes irrigava o consumo sumiu.

Não fosse a revisão metodológica feita pelo IBGE, o Brasil teria tido recessão no ano passado. Mesmo assim, mal saímos da vizinhança do zero. Como os erros do primeiro mandato foram grandes demais, neste ano a economia deverá cobrar seu preço e, infelizmente, o PIB do país deve cair, segundo já admite até o Banco Central em seus prognósticos. A dúvida é apenas o tamanho do tombo: 0,5%, 0,8%, 1%, 2%...

Nem a generosa revisão dos resultados de 2011 a 2013 livrou o governo Dilma de levar o país a crescer meros 2,1% em média ao longo de seu primeiro mandato. A petista eterniza-se, desta maneira, entre os três piores presidentes da história republicana brasileira em termos de crescimento econômico.

Entre 40 países que já divulgaram o PIB de 2014, o Brasil desponta na 37ª posição, superando apenas Japão, Finlândia e Itália, que tiveram crescimento negativo no ano passado, segundo a OCDE. (Ontem, o Uruguai divulgou seu PIB de 2014, com alta de “apenas” 3,5%, a 12ª consecutiva. Dá inveja?)

sexta-feira, 27 de março de 2015

Comunicação guerrilheira

A Esplanada dos Ministérios está com mais uma vaga aberta e o PT já se lançou com todas as suas garras para ocupá-la. Está em jogo um butim de bilhões de reais, destinados a alimentar os “soldados” da “guerrilha política” da comunicação do governo.

Mal completou o terceiro mês de seu segundo mandato, Dilma Rousseff perdeu ontem o terceiro ministro de seu balofo gabinete. Thomas Traumann deixou a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), pouco mais de um ano após assumir o cargo.

É o segundo a pular do banco em uma semana, antecedido por Cid Gomes, que durante breves 76 dias foi o responsável pela “pátria (des)educadora”. A outra mudança se deu na Secretaria de Assuntos Estratégicos, com a troca de Marcelo Néri por Mangabeira Unger, ocorrida em fevereiro.

Traumann deixou o posto em meio a uma guerra de petistas para controlar o dinheiro que o governo gasta com publicidade.

Ricardo Berzoini, o aloprado ministro das Comunicações, pleiteia para sua pasta a responsabilidade para cuidar do orçamento que irriga campanhas na mídia e azeita o funcionamento de muitos jornais pelo país afora. Hoje a verba está sob a alçada da Secom.

Segundo o Siafi, o sistema de acompanhamento da execução orçamentária do governo federal, a gestão Dilma gastou R$ 880 milhões com publicidade no ano passado. É quase o dobro dos R$ 456 milhões despendidos em 2011, primeiro ano do governo dela. Tais despesas subiram 60% acima da inflação no período.

Nesta conta não estão incluídas as verbas das estatais, que são muito maiores e sobre as quais a Secom também tem ingerência: foram R$ 1,47 bilhão em 2013, dado mais recente disponibilizado pela caixa-preta do governo, conforme publicou a Folha de S.Paulo em dezembro. (A maior parte vem da Petrobras; isso lhe diz algo?)

Tudo somado, é uma dinheirama e tanto. Os gastos publicitários explodiram no ano eleitoral, em mais um claro indício de quais são, de fato, os reais objetivos da estratégia de comunicação petista. Em 2014, os gastos com publicidade institucional da Presidência da República chegaram a ser mais altos que os de ministérios como Saúde e Educação, mostrou o Contas Abertas em janeiro.

Em análise interna que acabou precipitando sua demissão, o ex-ministro Traumann deixou claro como se orienta a comunicação do governo petista: “A guerrilha política precisa ter munição vinda de dentro do governo, mas ser disparada por soldados fora dele”. É para controlar este exército que os petistas agora se engalfinham pelas verbas da Secom. Não tem nada a ver com interesse público, mas sim com poder, voto e eleição.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Governo bipolar

O governo da presidente Dilma Rousseff vive uma espécie de esquizofrenia. Enfrenta hoje os problemas que criou para si próprio ontem. Para fazer frente a tamanha bipolaridade, seus argumentos variam ao sabor das circunstâncias. O que valia no passado deixou de valer no presente.

A constatação aplica-se com perfeição ao imbróglio envolvendo a revisão das dívidas de estados e municípios. Governadores e prefeitos exigem agora o que, no fim do ano passado, o governo petista prometeu dar e a presidente sancionou, na forma de projeto de lei aprovado tanto na Câmara quanto no Senado.

Ontem a Câmara aprovou projeto de lei que estabelece prazo de 30 dias para que o governo adote a nova sistemática de cálculo das dívidas, que dará alívio de R$ 187 bilhões ao longo de 26 anos, segundo O Globo, aos cofres de prefeituras e governos estaduais. A mudança foi objeto de lei complementar (n° 148/2014) editada em novembro passado.

Ocorre que aquilo que Dilma chancelou há apenas cinco meses, a presidente agora sustenta que não vale mais. Alega agora a petista que a revisão “seria uma forma absolutamente inconsequente de nossa parte”. Até onde vai a credibilidade de uma governante que se comporta assim, movendo-se ao sabor dos ventos e das conveniências de momento?

Neste ínterim, não houve piora nas condições objetivas do país que justificassem o beiço que Dilma agora quer dar nas prefeituras e nos governos estaduais. O que de fato mudou foi que antes o governo estava em campanha para assegurar mais um mandato presidencial ao PT – e mentia pra valer, entre outras coisas, sobre as condições fiscais – e agora precisa governar.

A lei chancelada por Dilma em novembro muda o indexador das dívidas: sai o IGP-DI e entra o IPCA ou a Selic, o que for menor. Na costura com prefeitos e governadores, o governo foi além, anabolizou a bondade e tornou a revisão retroativa a janeiro de 2013. Agora a conta chegou, justamente no momento do arrocho fiscal.

O município do Rio já obteve liminar para fazer valer a regra sancionada por Dilma. A Frente Nacional de Prefeitos vai buscar na Justiça o mesmo benefício, levando de carona o prefeito petista de São Paulo, Fernando Haddad. O projeto de lei que dá prazo de 30 dias para a revisão das dívidas foi aprovado ontem por 389 votos a favor, com lauta participação da base aliada.

O episódio desnuda os limites que o governo petista dispõe para fazer valer o arrocho fiscal adotado para equacionar os desequilíbrios que Lula, Dilma e o PT cevaram por anos. Na hora da bondade, foram pródigos e oportunistas. Na hora do aperto, tentam socializar o prejuízo. A resposta veio a galope: Toma que o filho – ou a encrenca – é seu!

quarta-feira, 25 de março de 2015

O ocaso de uma presidente

Mais uma pesquisa de opinião mostra a erosão da popularidade de Dilma Rousseff. Nunca uma presidente da República teve sua atuação pessoal tão reprovada pela população. Como corolário deste purgatório, se a eleição fosse hoje talvez nem houvesse segundo turno, com fragorosa derrota da petista para Aécio Neves. Quase 60% dos brasileiros vão ainda mais longe e defendem o impeachment da petista.

O levantamento feito pelo instituto MDA sob encomenda da CNT indica que 64,8% dos brasileiros têm avaliação negativa do governo da presidente, percentual praticamente igual aos 62% aferidos pelo Datafolha na semana passada. 77,7% reprovam o desempenho pessoal de Dilma como presidente, a pior marca já medida pelo instituto neste quesito.

“Os resultados mostram queda expressiva da popularidade da presidente e da avaliação do governo, em consequência, principalmente, da piora da situação econômica, do aumento da inflação e do custo de vida, do risco de desemprego, da piora nos serviços públicos e da corrupção, que passa a ser relacionada fortemente ao governo e à presidente da República”, sintetizam os pesquisadores.

O espírito geral é de desalento. Quando questionados se o governo do PT pode melhorar sua atuação em cinco diferentes áreas (emprego, renda, saúde, educação e segurança), nunca mais de 15% dos entrevistados concordam com a possibilidade.

Quando o assunto é corrupção, Dilma aparece de mãos dadas com seu tutor. Para 69%, ela é culpada pela roubalheira descoberta na Petrobras, quase o mesmo percentual (68%) dos que acham que Lula também tem responsabilidade no cartório. Para 90%, a debacle econômica atual é decorrência da corrupção e da má gestão pública no país.

É expressivo o pessimismo dos brasileiros em relação ao futuro do país. Para 88% dos entrevistados, a economia brasileira está em retrocesso ou, na melhor das hipóteses, parada. Uma das maiores ameaças é a inflação: 68,7% acham que o governo do PT não manterá o compromisso com o controle dos preços.

São minoria os que põem fé nas medidas anunciadas por Dilma para reverter a crise que ela mesma criou ao longo do primeiro mandato. Para 66,9% dos pesquisados, as medidas tomadas atualmente pelo governo petista não serão capazes de tirar o país do buraco em que se encontra; 82,9% acham que Dilma não está sabendo lidar com a difícil situação.

Diante destes resultados, deverá ser fugaz o alento produzido pela decisão anunciada ontem pela Standard & Poor’s de não rebaixar, por ora, a nota de crédito do Brasil. A agência aposta no êxito do governo em aprovar no Congresso o pacote de medidas amargas do arrocho fiscal. Se isso acontecer, Dilma Rousseff possivelmente atrairá a ira de muito mais gente. Trata-se de caso de raro ocaso precoce de uma presidente.

terça-feira, 24 de março de 2015

O capitão do time

O avanço das investigações da Operação Lava Jato vai revelando meandros que deixam mais claro até onde o petrolão chegou e como funcionavam suas engrenagens. Não foi apenas um esquema para financiar o PT e corromper parlamentares. Envolvia geopolítica e extensos canais de corrupção para garantir sustentação aos governos de Lula e Dilma.

Neste sofisticado organograma, uma figura surge com destaque: José Dirceu ou o “capitão do time”, como Lula se referia a ele. O ex-ministro esteve em praticamente todas. Sua contabilidade empresarial depois que deixou o governo, em 2005, revela um prodígio do mundo dos negócios que só num ambiente mafioso teria condições de prosperar tanto.

Em 2006, depois de ser defenestrado da Casa Civil de Lula por envolvimento no mensalão, Dirceu montou uma consultoria que, até 2013, faturou R$ 29,3 milhões. O período coincide com a época em que o ex-ministro foi processado, julgado e condenado pelo STF por crime de corrupção ativa – do de formação de quadrilha ele escapou na repescagem.

Dirceu talvez seja caso único no mundo de empresário que fatura mesmo estando em cana. Em 2013, ano em que esteve encarcerado na penitenciária da Papuda em Brasília, a empresa dele faturou incríveis R$ 4,2 milhões, segundo documentos revelados pela Lava Jato na semana passada.

Uma das principais suspeitas para tão notável sucesso é que o dinheiro que foi para a JD Consultoria e Assessoria fora desviado de contratos da Petrobras, conforme publicou a Folha de S.Paulo no domingo, a partir de declarações de empreiteiros presos pela Lava Jato em Curitiba. Ou seja, os dutos do petrolão alimentaram a caldeira do ex-ministro.

Do que a consultoria de Dirceu faturou desde que foi criada, um terço (R$ 9,5 milhões) veio de empresas investigadas na Lava Jato. Um dos clientes atendidos pelo ex-ministro era uma das firmas que distribuíam propina para o PT.

Também a diplomacia companheira está implicada nos meandros do dinheiro sujo. De um de seus clientes, Dirceu recebeu a missão de destravar negócios pendentes com a Venezuela. O “capitão do time” foi ao comandante Hugo Chávez e resolveu a parada.

As bondades com governos companheiros, à base de dinheiro público, rendiam gordos negócios para os petistas. À luz disso, fica fácil entender, por exemplo, por que a Petrobras enterrou quase R$ 40 bilhões numa refinaria desenhada para atender interesses venezuelanos e não brasileiros...

Dilma Rousseff foi saudada como “camarada de armas” quando assumiu o posto que José Dirceu deixou em 2005. Julgava-se que apenas a trajetória pretérita unia as duas biografias. Mas a investigação do Ministério Público sugere que as vidas de ambos andaram de mãos dadas ainda por longo tempo. Os tentáculos da corrupção se interconectam.

sábado, 21 de março de 2015

A fila do desemprego só aumenta

A melhor tradução da crise que se abate sobre a economia brasileira é o que acontece no mercado de trabalho. No país do “pleno emprego” de propaganda, a fila do desemprego só aumenta. Está desmoronando o último bastião no qual o governo do PT sustentava o farsesco sucesso de seu modelo econômico.

Por três meses consecutivos, o país mais fechou do que abriu vagas de trabalho. Já são 640 mil empregos a menos desde dezembro, segundo o Caged. Em fevereiro, num resultado considerado “totalmente atípico” por especialistas, houve 2.415 demissões a mais que contratações, no pior resultado para o mês em 16 anos.

Já há menos profissionais com carteira de trabalho empregadas hoje no país do que havia um ano atrás. Ou seja, o mercado está encolhendo. Isso ainda não havia acontecido desde que o Ministério do Trabalho mudara a metodologia de cálculo do desemprego no país, em 2002. No acumulado em 12 meses, exatos 47.228 empregos foram eliminados.

O pior é que as poucas vagas que ainda são abertas pagam salários baixíssimos. Recentemente, numa entrevista ao Valor Econômico, o ministro Aldo Rebelo revelou um número que o governo do PT esconde a sete chaves: nos últimos dez anos, 4,9 milhões de empregos com salário acima de dois mínimos foram dizimados no Brasil. O “pleno emprego” só existiu à base de mixarias pagas aos trabalhadores...

Para um país que precisa criar pelo menos 1,8 milhão de empregos por ano apenas para absorver os novos entrantes no mercado, a situação ganha ares de dramaticidade. Consultorias respeitadas avisam que o cenário é sombrio. A MB Associados estima que 600 mil empregos formais serão fechados neste ano, algo inédito desde 1996 e não visto sequer no crítico ano de 2009, quando a economia do mundo inteiro estava na pindaíba.

A sangria é disseminada. Com a menor renda da população e o menor consumo, o comércio já cortou 143 mil vagas de dezembro para cá. Com menos investimentos, a construção civil eliminou 222 mil vagas nos últimos 12 meses. A indústria desemprega há 40 meses seguidos. São flashes de um Brasil parado.

Anteontem, na apresentação dos resultados, o governo jogou a responsabilidade pelo aumento do desemprego nas costas da Operação Lava Jato. Ontem, as empresas retrucaram: quem está parando obras em todo o Brasil é o próprio governo, que freou empreendimentos – do PAC ao Minha Casa Minha Vida – e deixou de pagar construtoras.

Para completar, no momento em que o mercado de trabalho mergulha na penúria, o governo do PT impõe drásticos cortes de benefícios sociais franqueados pelo seguro-desemprego aos trabalhadores. E completa o coquetel mortal com aumento de impostos cobrados da população. O remédio amargo vai acabar por derrubar de vez o paciente.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Latifúndio de nulidades

A fugaz passagem de Cid Gomes pelo Ministério da Educação diz muito sobre a qualidade das escolhas e sobre os critérios que orientam a montagem da equipe de governo de Dilma Rousseff.

Na “pátria educadora”, o ministro ontem demitido fez tudo menos o bem para a área que deveria comandar. Mas Gomes não destoa do resto do time. Sob o comando da presidente petista, a Esplanada é um latifúndio de nulidades.

Nos 76 dias em que chefiou o MEC, Cid Gomes conseguiu instalar a balbúrdia no Fies, o programa que financia cursos universitários; paralisar o Pronatec, antes vitrine das propagandas dilmistas; e levar boa parte das universidades federais à penúria.

A pasta da Educação também perdeu R$ 7 bilhões no orçamento deste ano e tornou-se a mais prejudicada pela tesoura do ajuste fiscal. Não se ouviu de Dilma uma palavra de reprovação a estes descaminhos.

A presidente terá agora de escolher o quinto ministro da Educação a ocupar o cargo em pouco mais de quatro anos. Não há política educadora que resista. Não surpreende que a gestão de Cid “parecia uma transição que não terminava nunca”, como resumiu O Globo.

A saída do ministro da Educação deve precipitar a reforma ministerial de um governo que sequer completou 80 dias. Se todas as peças que estão sendo cogitadas no xadrez político neste momento forem mexidas, nada menos que dez pastas mudarão de mãos.

Estão na dança desde nulidades absolutas, como a Secretaria da Pesca, até a mais importante pasta da Esplanada, a Casa Civil. Podem mudar também os titulares da Defesa, das Relações Institucionais, da Integração Nacional, do Turismo, da Comunicação Social, da Aviação Civil, da Ciência e Tecnologia e dos Portos.

Num ministério mastodôntico de 39 pastas, é muito significativo que um quarto delas já possa ser objeto de alteração decorridos menos de três meses de gestão. A constatação óbvia é: Afinal, para que servem tantos ministérios, tantos cargos, tantos partidos a compor a instável base de sustentação no Congresso? As possíveis respostas são as mais desabonadoras possíveis.

Mas uma delas pode ser encontrada nas pregações que Rui Falcão fez ontem em reunião fechada com a bancada de deputados petistas. O presidente do PT deu sua receita para aplacar a pressão sobre o governo: cortar as verbas publicitárias de veículos que “apoiaram” e “convocaram” as manifestações de domingo.

O “caos político” e a nulidade da equipe de governo são traduzidos à perfeição quando se vê o presidente do partido do governo sugerir que dinheiro público seja usado na mesma “guerrilha política” que a Secretaria de Comunicação defendera em documento vazado anteontem. Não restam dúvidas: estamos diante de um governo que só serve a si mesmo.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Dilma derrete

Neste fim de verão, o sol já não brilha mais tão inclemente, mas Dilma Rousseff derrete a olhos vistos. A pesquisa do Datafolha publicada hoje a torna a presidente mais mal avaliada da história da República em época de normalidade democrática. Os brasileiros têm motivos de sobra para detestar a petista cada vez mais.

Segundo a pesquisa, 62% dos brasileiros consideram o governo Dilma ruim ou péssimo. Apenas Fernando Collor foi pior avaliado pela população, mas seu recorde de 68% só foi alcançado às vésperas do impeachment, em setembro de 1992. Seis meses antes, ele ainda tinha apenas 48% de desaprovação, o que é hoje uma miragem para Dilma.

A popularidade da presidente esvaiu-se em todas as faixas salariais e em todas as regiões do país. Qualquer que seja o nível de renda, Dilma é desaprovada por pelo menos 60% da população. Ao redor do Brasil, sua média de ruim ou péssimo é sempre superior aos 51% aferidos no Norte, chegando a 75% no Centro-Oeste.

Os números jogam definitivamente por terra a tese furada de petistas – sendo o mais patético deles o ministro Miguel Rosseto – de que só eleitores da oposição se sentem insatisfeitos com o desgoverno da presidente. A grita é ampla, geral e irrestrita, alimentada pelos sentimentos de frustração, de desalento e de revolta.

Mas o Datafolha mostra que, para os entrevistados, o que está ruim pode ficar ainda pior. Para 60% da população, a situação da economia ainda vai degringolar mais, com alta do desemprego (66%) e da inflação (77%). Não está mole para ninguém.

Mesmo os eleitores de Dilma têm percepção negativa do governo dela e comungam praticamente das mesmas expectativas negativas quanto ao futuro do país expressada pela média dos brasileiros.

Numa pesquisa interna da Secretaria de Comunicação, desde as eleições 32% mudaram de opinião negativamente em relação ao governo. Pelo Datafolha, a desaprovação da presidente subiu 42 pontos desde outubro passado.

O documento oficial sugere qual deve ser a receita para tirar Dilma do corner: gastar mais dinheiro público com publicidade, especialmente para convencer os eleitores de São Paulo, e abastecer a “guerrilha política” e seus “soldados” com munição – entenda-se também verbas – distribuída pelo governo.

Como o que mais gostam é de desviar dinheiro pago pelo contribuinte, é fratricida no governo a briga para transferir para a mão de petistas a verba a ser despejada na publicidade oficial. Convenhamos: quem criou o mensalão e o petrolão entende do assunto...

Diante do quadro atual de descontrole e descalabro e da erosão de popularidade de Dilma, Fernando Collor que se cuide. A petista caminha para lhe fazer companhia como presidente da República que teve que deixar o Palácio do Planalto pela porta dos fundos, execrada pelos brasileiros.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Dilma e suas respostas inadequadas

Dilma Rousseff concedeu ontem uma de suas raras entrevistas coletivas, a fim de tentar sair das cordas depois do soco no queixo que tomou dos 2 milhões de brasileiros que foram às ruas protestar no domingo. Suas respostas, como sempre, foram inadequadas. A presidente continua sem compreender que o motivo da indignação é o governo dela e do PT.

As razões que tiraram os brasileiros de casa incluem a roubalheira em proporções industriais, notadamente na Petrobras; a incapacidade do governo de admitir que conduziu uma política econômica desastrosa nos últimos quatro anos; e a recusa da população a pagar a maior parte da conta amarga do arrocho recessivo que o PT ora promove.

Em praticamente tudo o que disse ontem, Dilma demonstrou simplesmente desconhecer esta realidade. Para começar, mais uma vez, tentou espalhar o manto negro da corrupção sobre todos, chamando-a de “senhora bastante idosa” que “não poupa ninguém”. A postura da presidente é que é de antanho: tentar jogar todos no mesmo balaio sujo.

O que a idosa senhora teria a dizer sobre seus filhos mais travessos, entre eles os petistas Renato Duque e João Vaccari? O primeiro foi preso novamente ontem, sob a acusação de ter enviado o equivalente a R$ 68 milhões para contas em Mônaco, parte deles amealhada ainda no ano passado. O segundo, como tesoureiro do PT, encheu as burras do partido com dinheiro desviado da Petrobras e ontem foi denunciado pelo Ministério Público.

Ainda na entrevista, muitíssimo a contragosto, a presidente ensaiou admitir que, quem sabe, talvez, “é possível que possa ter cometido algum [erro de dosagem na economia]”. Em seguida, com sua peculiar arrogância, sustentou que, na verdade, sua política econômica se contrapunha a quem “acha que tinha que deixar empresas quebrarem e trabalhadores se desempregarem”.

É caso clássico de retórica absolutamente descolada da realidade. Quebradeira é o que mais se tem visto no país desde a chegada de Dilma à presidência. Apenas para ilustrar, a indústria brasileira produz hoje 9% menos do que produzia em 2009. A geração de empregos caiu em todos os anos do primeiro mandato dela: apenas nos últimos dois meses, 637 mil postos foram eliminados no país.

Além destas mitificações baratas, Dilma baseou sua manifestação em outros dois eixos: tentar mostrar-se humilde e aberta ao diálogo. São dois atributos que, definitivamente, não casam com a persona dela e só foram agora oportunamente assacados porque a presidente está em sérios apuros e quase sem base de sustentação na sociedade e no Congresso.

Trata-se de humildade calculada e de um mea-culpa sussurrado. Se querem produzir arrocho sobre benefícios sociais e aumentar impostos, Dilma e seu governo que embalem o Mateus que pariram. E que busquem dialogar com os seus. Respostas, a presidente continua não tendo a oferecer a quem, seriamente, foi às ruas no domingo bradar por um país melhor.

terça-feira, 17 de março de 2015

A força dos brasileiros

As manifestações deste domingo são a prova do vigor da cidadania, da autonomia e da vontade de melhorar o país expressa por milhares de brasileiros que foram às ruas. Há no ar uma clara sensação de que os grilhões e as mordaças que, durante anos, coibiram as críticas se romperam de vez. É um turbilhão de mudanças que se anuncia.

Não importa o método. Qualquer que seja a contabilidade, os protestos pacíficos, fraternos e ordeiros deste domingo foram um sucesso retumbante. De acordo com cálculos das polícias militares, cerca de 2 milhões de pessoas ocuparam as ruas ontem. Mesmo estimativas mais conservadoras confirmam: foi a maior mobilização desde as Diretas Já, ocorridas há 30 anos.

Os atos críticos ao governo de Dilma Rousseff deram um banho nas manifestações chapa-branca ocorridas na sexta-feira. O PT e seus satélites, como CUT, MST e UNE, não conseguiram levar mais que 33 mil pessoas às ruas de todo o Brasil, ainda assim muitas delas recrutadas à custa de algum pagamento ou de muito constrangimento.

Significativo que, mesmo entre os supostos apoiadores da presidente que foram às ruas em São Paulo na sexta, 63% consideram que ela sabia da corrupção na Petrobras, empresa na qual Dilma comandou o conselho de administração durante oito anos, os mais plenos de tenebrosas transações. Se o governismo pensa assim, imagine o resto...

As manifestações deste domingo jogaram por terra o argumento falacioso do PT de que só a “elite” critica Dilma e seu governo. Não: nas ruas estava gente de todas as classes, todas as raças, todos os credos, unidas por um sentimento de respeito ao Brasil. Isso os petistas, acostumados a suas massas de manobra, parecem incapazes de compreender.

Grosso modo, levando em conta o balanço dos dois protestos, para cada pessoa disposta a gritar a favor do governo petista – ainda que com ressalvas – há 60 prontos a pedir mudanças e lutar por um Brasil melhor, livre da corrupção e dos atrasos que sobressaem no país nos últimos anos.

Desta vez, diferentemente das jornadas de junho de 2013, o desejo expresso pelos manifestantes não era difuso, nem era por meros 20 centavos... Desta vez, não houve dúvidas: o objetivo é um só, combater o governo de Dilma, Lula e o PT. É um sentimento indubitável de clara aversão ao grupo que está no comando do país há 12 anos.

Atônito, o governo reagiu – se é que cabe o verbo – por meio de dois ministros que mais pareciam saídos, trucidados, de uma guerra. A réplica oficial veio na forma de mais do mesmo: promessa de reforma política com fim do financiamento privado das campanhas e um pacote de projetos anticorrupção. Se alguém já esqueceu, são as mesmas coisas que Dilma prometeu em junho de 2013. Também por isso, a resposta veio mais uma vez em tempo real, na forma de mais um panelaço.

Quanto ao financiamento privado, vale lembrar: em 2013, ano sem eleições, o PT recebeu R$ 79 milhões em doações de empresas, mais que o dobro dos três outros principais partidos (PSDB, PMDB e PSB) somados. Nas eleições do ano passado, foram R$ 318 milhões para Dilma, quase 60% mais que o total arrecadado por Aécio Neves.

Na condição de um dos porta-vozes de Dilma, Miguel Rosseto menosprezou os atos de ontem por, supostamente, só reunirem “setores críticos ao governo” e “eleitores de oposição”. É como se só valesse, na visão do ministro – cuja credencial mais notável é manipular movimentos sociais – a opinião dos que são a favor, e que, ele acaba por admitir, são hoje franca minoria no país.

A verdade é que o governo da presidente petista simplesmente não sabe o que fazer para dar resposta ao povo. Ou melhor: o que tem a oferecer não é o que a população quer. O que os brasileiros foram ontem às ruas reivindicar, o PT é incapaz de produzir: mais decência, mais honestidade, mais ética, mais eficiência.

Para responder ao vigoroso movimento da cidadania que ontem se fez presente em 185 cidades do Brasil, não é preciso fazer mais que o básico. A começar pelo aprofundamento das investigações e punições aos envolvidos em corrupção, sejam eles quem forem, de que partido forem.

A pauta da cidadania também inclui a defesa intransigente dos direitos dos trabalhadores, impedindo que o arrocho proposto pela presidente petista avance no Congresso. Não será cortando benefícios de quem menos tem e aumentando impostos de quem trabalha e produz que o país sairá da crise em que o PT nos meteu.

Na agenda mínima está, ainda, a cobrança por medidas de combate à inflação, que corrói salários, dissemina a carestia e dificulta a vida. Exige-se, por fim, melhor aplicação do dinheiro pago pelos contribuintes e redução dos desperdícios de recursos públicos, marca indelével do petismo desde Lula.

Nas cordas, o governo balbucia que quer diálogo. Não é necessário. Basta que aja como o povo cobra nas ruas. Basta que respeite os sentimentos legítimos dos brasileiros que sonham com um país melhor. Como se pode perceber, não é muito o que a população espera de seus governantes, mas é demais para o que o PT consegue oferecer.

Não é difícil concluir que o que aconteceu neste domingo não foi apenas mais uma manifestação, mais um ato isolado ou um protesto sem consequências. Foi, isto sim, um episódio que marcará definitivamente uma nova fase da história brasileira, um novo alento para nossa democracia. A mudança começou. Agora é só não se dispersar.

sábado, 14 de março de 2015

Vamos pra rua

O Brasil deverá viver, neste domingo, um dos momentos mais marcantes da sua história política recente. A mobilização em defesa da ética e contra a corrupção incrustada no poder pelo PT tende a ser um marco das mobilizações pela cidadania e pela democracia no país.

As manifestações devem ocorrer em pelo menos 62 cidades. Têm caráter apartidário e caracterizam-se, principalmente, por expressar a legítima indignação dos brasileiros quanto ao estado geral das coisas no país, à flagrante inépcia do governo do PT em prover melhores condições de vida à população e à deterioração moral e ética percebida por todos.

Os atos de domingo deverão deixar claro que a insatisfação une todo o país: pobres, ricos, trabalhadores, empresários, moradores do Nordeste e do Sudeste, estudantes, aposentados. Por uma razão muito simples: não há, como sustenta o PT, um Brasil dividido; há brasileiros em busca de um país melhor, mais justo e honesto, onde as instituições e o Estado de Direito são respeitados.

A data escolhida para as manifestações coincide com a que marcou o fim do governo militar, quando Tancredo Neves deveria assumir a presidência da República, em 1985. Não é mera coincidência que os organizadores tenham escolhido uma efeméride de tanto simbolismo para os que defendem e prezam pela democracia no Brasil.

O movimento pela cidadania convocado para domingo diferencia-se em quase tudo dos atos convocados para hoje por entidades-satélites do PT. Mas mesmo as manifestações pró-governo da CUT e do MST também expressam insatisfações quanto aos rumos que Dilma Rousseff vem dando ao país – e tornam a presidente cada dia mais sitiada, como ficou claro com o cancelamento da agenda que ela teria hoje em Belo Horizonte.

A partir de domingo, restará claro, de uma vez por todas, que o PT não detém o monopólio da vontade dos brasileiros, nem poderá mais usar o povo como massa de manobra. Sobrará ao petismo continuar esperneando contra seus adversários, sempre tentando rotular qualquer manifestação crítica como “golpismo”.

É crucial – e assim expressam os grupos envolvidos na sua organização – que os atos de domingo transcorram dentro dos limites da democracia, da lei e da ordem. Pacificamente. Serão mais uma demonstração do inequívoco vigor e da desejável participação cidadã dos brasileiros no processo político do país.

No próximo domingo, as ruas do país estarão tomadas por milhares de brasileiros que, exercendo a livre manifestação de opinião, de pensamento e de crítica e o sagrado direito constitucional à expressão, lutam por um país melhor. Em paz, pela democracia, pela ética, pela liberdade e pela cidadania. Estamos juntos.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Muda a foto, continua o filme de horror

O IBGE mudou a maneira de aferir o PIB do país. A fotografia da economia brasileira melhorou um pouquinho, mas nada que seja suficiente para alterar a dinâmica do filme. A desaceleração mantém-se e, no desempenho comparado, continuamos saindo-nos pior que as nações vizinhas e em descompasso com um mundo em franca recuperação.

Com o novo método, foram revisados os PIBs de 2001 a 2011. A mudança segue tendência mundial, recomendada pela ONU e já adotada em 31 países da OCDE. No fim do mês, também será conhecida a série revisada de 1995 a 2000.

Entretanto, a leve melhora do PIB, principalmente no resultado de 2011, o primeiro ano do governo da presidente Dilma Rousseff, não pode, nem de longe, ser cantada como vitória, como ensaia o discurso oficial. Mesmo subindo um naco, ainda somos o patinho feio no concerto global das nações.

Em 2011, segundo o novo método o Brasil cresceu 3,9% e não os 2,7% anteriormente medidos. Os números de 2012 e 2013, também maiores, serão conhecidos no fim do mês, junto com o resultado de 2014. 

A melhora deve-se, entre outros aspectos, à incorporação de novos investimentos ao cálculo, ao menor peso da indústria na nova regra e a novas e mais amplas bases de dados.

A questão é: isso melhora ou não a situação da economia brasileira quando vista em cotejo com as demais? A resposta é cristalina: nem um pouco. 

Os 3,9% agora calculados para 2011 fazem do Brasil apenas o 17° entre os 20 países da América Latina. Se antes só batíamos El Salvador, o novo empuxo permitiu ao Brasil apenas superar Cuba e Honduras.

A média de crescimento do primeiro mandato de Dilma também aumenta, mas nada que a livre de continuar a ser a presidente com o terceiro pior desempenho econômico em toda a história da nossa República: 1,8% ao ano.

A taxa de investimentos também aumentou um pouco, para a casa dos 20% do PIB. Nada que dê muito alento, quando se sabe que um país como o Brasil precisa de, pelo menos, 25% para voltar a crescer – em países como a Índia, o índice situa-se em 35%.

A nova metodologia vai impactar, para melhor, alguns indicadores fiscais, como a relação dívida/PIB. Mas irá forçar o governo a elevar em R$ 4 bilhões o arrocho nas contas públicas previstos para este ano, caso pretenda manter a meta de 1,2% do PIB (alguns analistas apostam, porém, que o valor absoluto, que é de R$ 66 bilhões, não será alterado).

A perspectiva para o PIB deste ano, que já era ruim, tende a ficar pior. A explicação está no maior peso dos investimentos nas contas nacionais. A crise da Petrobras, as investigações da Lava Jato e o desalento com o país deverão, naturalmente, empurrar o resultado ainda mais para baixo. Não importa o método que se empregue, é recessão à vista.

quinta-feira, 12 de março de 2015

A ‘elite’ que vaia Dilma

Sempre que é questionado, o PT tenta desqualificar a crítica e circunscrevê-la a grupos isolados que, segundo o discurso oficial, “não representam a sociedade”. Foi assim nas manifestações de 2013, foi assim na Copa do Mundo e novamente agora após o panelaço de domingo. Como sempre, a fábula não resiste a um sopro da realidade.

Os defensores do governo sustentam que os protestos são de uma elite que reclama “de barriga cheia”. Coisa de dondoca que não tem mais o que fazer ou de playboy mimado. (Os termos aqui empregados parecem conversa de adolescente, mas o linguajar dos petistas é assim mesmo: pueril, básica, primária.)

Ontem, em São Paulo, a presidente da República pôde ver de perto que “elite” é esta que tanto reclama do governo dela. Lá estavam – segundo registros da imprensa – pedreiros, pintores, faxineiras, montadores de estandes, marceneiros, modelos, comerciários e empresários. Ou seja, lá estava uma amostra do povo brasileiro.

A Dilma Rousseff, os manifestantes (“dezenas”, segundo os jornais) dedicaram palavras carinhosas como “vagabunda”, “bruxa” e “ladra”. Foi uma resposta ao desgoverno a que estamos assistindo e foi, especialmente, uma réplica indignada ao escárnio travestido de pronunciamento à nação que a presidente levou à TV na noite de domingo.

Os sinais do constrangimento ficaram visíveis. Enquanto Dilma mostrava-se abatida por mais um apupo sofrido, o cerimonial do Palácio do Planalto tentava apartar a imprensa do protesto. Não funcionou. A presidente preferiu abortar a caminhada que fazia pela feira e correu para o conforto do auditório onde faria sua palestra. Lá encontrou vazios metade dos 799 lugares.

Os limites da narrativa enganadora do PT também foram expressos no depoimento dado ontem por Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, à CPI que investiga a estatal. Mais uma vez ele deixou claro: o esquema criminoso foi instalado na empresa de forma “institucionalizada” com a chegada do PT ao governo. O que houve antes foram “atitudes isoladas” do engenheiro.

Barusco é o mesmo que revelou que mais de meio bilhão de reais podem ter sido desviados da Petrobras para o PT. Ontem, ele agregou que US$ 300 mil de propina foram repassados à campanha que elegeu Dilma em 2010 pela firma holandesa SBM. Não há qualquer registro de doação desta empresa na Justiça Eleitoral.

Dilma deve estar percebendo, da pior maneira possível, os limites de um governo cuja existência sempre se ancorou em marketing. Se acha que o que viu e ouviu até agora nas ruas é exagero, é melhor a presidente esperar pelo que vem por aí. Se as promessas não viram realidade, se a vida torna-se cada dia mais difícil, se o quadro geral é cada vez mais desalentador, a resposta do povo vem a galope. Motivos para protestar não faltam.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Lenha na fogueira

A inépcia de Dilma Rousseff para governar o país é evidente e está comprovada em números. Já sua incapacidade de comunicar-se com a população revela-se episodicamente: basta ela abrir a boca em público. É certo que, a cada tentativa de estabelecer algum fato político favorável ao governo, a presidente piora sua situação, como aconteceu no domingo.

A pretexto do Dia Internacional da Mulher, a petista usou rede nacional de rádio e televisão para defender as medidas do arrocho fiscal. Foi tão enganosa e insincera que colheu, em tempo real, uma das mais explícitas desaprovações que se tem notícia no país, um panelaço gigante. Pôs mais lenha na fogueira da insatisfação contra ela.

Mostra de sua inépcia, no dia seguinte ao pronunciamento Dilma estava falando às câmeras de TV sobre o risco de sofrer impeachment, com o que ganhou todas as manchetes do dia. Ou seja, o enredo saiu totalmente do script bolado pelo marketing petista.

Os protestos que se vê e ouve nas ruas são sinais da cidadania. São manifestações democráticas, dentro dos limites institucionais, que ecoam a indignação dos brasileiros com o estado atual das coisas. Mas para Dilma e o PT não passam de afrontas ao poder constituído.

Para a presidente, trata-se de coisa de quem busca um “terceiro turno” para as eleições que ela, com todas as suas armas sujas, venceu em outubro passado. Para o PT, são mera “orquestração de viés golpista” promovida pela “burguesia” e pela “classe média alta”. É esta, pois, a maneira como eles convivem com o contraditório.

O que Dilma e a turma dela parecem não haver compreendido é que as manifestações são atos espontâneos de quem não suporta mais a incapacidade latente do governo para lidar com o momento de dificuldade que o país atravessa. Mais: de quem não aguenta mais ligar a TV e ver que o comando do país vem sendo movido à base de grossa corrupção.

Com sua inépcia para tratar do momento delicado, Dilma está conseguindo transformar o que era dificuldade econômica numa crise política. Os descaminhos do governo da petista aumentam o custo do ajuste e dificultam ainda mais a vida de quem trabalha e produz.

Haja vista que todos os prognósticos para a economia do país pioraram desde que a presidente iniciou seu segundo mandato. A inflação aproxima-se dos 8%, longe até do teto da meta. O crescimento será negativo, com previsão agora já na casa de -0,7% – mas é possível que o tombo acabe sendo o dobro disso.

Desnorteada, a presidente da República novamente recorrerá a seu tutor. Mas é certo que não será nos maus conselhos de Lula que Dilma encontrará alguma luz a iluminar seu governo. Seria melhor que ela interpretasse melhor o que vem das ruas, antes que não lhe sobre mais tempo algum.

terça-feira, 10 de março de 2015

Panela nela

Foram 15 longos minutos. Seria tempo bastante para Dilma Rousseff apresentar à nação uma narrativa verdadeira e honesta sobre as dificuldades vivenciadas pelos brasileiros em seu dia a dia. Mas não foi nada disso o que se viu. Como a presidente enveredou pela ficção, a resposta veio rápida: panela nela!

Em seu pronunciamento neste domingo, novamente a presidente da República buscou bodes expiatórios para uma crise cuja única culpada é ela mesma. Novamente tentou socializar as responsabilidades. Novamente ludibriou a boa fé dos brasileiros que anseiam por um líder que indique um bom caminho para o país.

Numa crise tão grave quanto a atual – que de econômica passou a política e caminha agora para tornar-se institucional – Dilma não pode ficar desperdiçando oportunidades de aglutinar a nação em torno de uma solução razoável para o país. Não há mais tempo a perder, mas ela insiste em jogá-lo fora.

O povo não tem mais paciência para engolir as empulhações do PT. A culpa pela carestia não está no exterior. A responsabilidade pelo arrocho recessivo não é senão da presidente e de sua equipe econômica. Os retrocessos e fracassos dos últimos anos são resultado direto de escolhas mal feitas de Dilma.

O maior vilão da inflação atual não tem nada a ver com a seca. São as tarifas públicas, que o governo da presidente reajusta sem dó desde que a eleição acabou. Só a energia já subiu 32% neste ano e deve subir mais. Já a gasolina ficou 8,3% mais cara em fevereiro.

Dizer que é a “segunda etapa” da crise internacional que empurra o Brasil para a recessão é escarnecer da inteligência dos brasileiros. A maior parte do mundo – inclusive as economias mais afetadas pela crise – já voltou a crescer, em alguns casos com intensidade, como os EUA.

O apelo da presidente em favor de “união”, com “sacrifícios temporários” para “dividir o esforço entre todos” equivale a um abraço de afogados. 

Como quer apoio se nunca, jamais, admite que é responsável por boa parte dos problemas atuais? Quem não reconhece onde estão os erros não é capaz de corrigi-los.

Novamente, o discurso oficial petista promete um futuro venturoso, que está logo ali, “no final do segundo semestre”, mas nunca chega. Tem sido assim desde o início do governo da presidente. Ela sempre acenou com maior crescimento, mais desenvolvimento. Mas jamais entregou. Como ter mais “paciência e compreensão”, como ele pede?

Dilma Rousseff sabe da irritação dos brasileiros com ela – tanto que registrou isso em seu discurso de ontem. Mas talvez esteja longe de perceber até onde esta indignação alcança. Uma primeira amostra a presidente ganhou ontem, em tempo real. As próximas virão nos próximos dias, bem mais visíveis, nas ruas do país.

sábado, 7 de março de 2015

Mensaleiros do PT: Todos soltos

Bem tinha razão Delúbio Soares, quando, anos antes de ser condenado pela participação no mensalão, vaticinou: “Isso tudo vai acabar virando piada de salão”. Os mensaleiros, que começaram a se livrar da prisão, devem mesmo estar rindo à toa.

José Genoino tornou-se o primeiro deles a se ver livre da Justiça. O ex-presidente do PT cumpriu apenas um ano, um mês e dez dias de cadeia e anteontem foi contemplado, por unanimidade, com extinção da pena pelo STF. Livrou-se de gramar mais 40 meses de cana.

O ex-presidente do PT foi beneficiado por induto de Natal concedido milimetricamente sob medida para ele por Dilma Rousseff no ano passado. Pode, agora, fazer o que bem entender, exceto candidatar-se a algum cargo público. 

Condenado pelo STF por corrupção ativa, Genoino deveria cumprir quatro anos e oito meses de reclusão, mas não passou mais que algumas semanas na Papuda.

Assim como ele, todos os demais condenados do núcleo político da turma de mensaleiros já estão em casa, incluindo José Dirceu e Delúbio. O último a passar a cumprir prisão domiciliar foi João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara, beneficiado na semana passada.

No fim do ano, se as regras do indulto forem mantidas, todos poderão ganhar a mesma liberdade de Genoino. Certamente serão saudados pelos amigos petistas – cujas vaquinhas pagaram suas multas à Justiça – como heróis, como “guerreiros do povo brasileiro”.

Não eram poucos os brasileiros que sempre apostaram que o mensalão iria terminar em pizza. A suavidade com que a Justiça se abate sobre os mensaleiros dá razão ao ceticismo dos cidadãos quanto à aplicação da célebre máxima de que “quem deve tem que pagar”. Diante do mal que impingiu ao país, a turma da Papuda saiu no lucro.

A liberdade conquistada pelos mensaleiros chega na mesma hora em que o país se convence de que, sim, Delúbio tinha razão: perto do petrolão, o mensalão é mesmo fichinha, uma piada sem graça. Toda a soma de dinheiro movimentada para sustentar a base de apoio ao governo Lula no Congresso no petrolão fez a festa de apenas um dos envolvidos.

O que há de mais relevante é que ambos, mensalão e petrolão, constituem atos de um mesmo enredo: o do assalto do PT ao Estado. Um poderoso esquema que começou assim que Lula pisou no Palácio do Planalto e chegou até os dias atuais, sempre ganhando maiores dimensões. Milhões viraram bilhões.

Durante os debates na TV, a candidata Dilma costumava recitar um jogral ensaiado em que listava acusações de corrupção no governo Fernando Henrique e afirmava que os supostos envolvidos estavam “todos soltos”. A partir de agora ela pode – desta feita com carradas de razão – incluir os mensaleiros no seu teatrinho.

sexta-feira, 6 de março de 2015

De volta ao topo do mundo

Até pouco tempo atrás, a inflação não era considerada problema e, segundo o discurso oficial repetido pela presidente Dilma Rousseff, estava “sob controle”. Desde que a eleição acabou, ficou claro que não era nada disso e o governo foi forçado a ministrar o remédio amargo dos juros altos para tentar aplacar os preços em disparada.

Ontem, o Banco Central determinou a quarta alta seguida na taxa de juros para conter a carestia. Desde o fim de outubro, a Selic passou de 11% para 12,75%. Está no mais alto patamar desde o de janeiro de 2009, época em que o mundo inteiro estava mergulhado na mais brava crise econômica em décadas.

Naquela ocasião, a taxa brasileira vinha caindo; agora sobe. O céu é o limite. A previsão, baseada no teor do comunicado emitido ontem pelo BC, é de pelo menos mais uma alta na próxima reunião do Copom, que acontece nos dias 28 e 29 de abril. A dose deve variar de 0,25 a 0,5 ponto percentual.

O país voltou ao topo do ranking de juros reais do mundo, posição que durante três meses perdera para a Rússia. Segundo a consultoria Moneyou, a taxa brasileira é agora de 5,28% acima da inflação, uma jabuticaba em meio ao resto do planeta, onde, na maioria dos casos, os juros estão no terreno negativo.

Neste ano, de 91 economias em todo o mundo só 10 subiram a taxa de juros. O Brasil está na má companhia de Namíbia, Trinidad e Tobago, Geórgia, Quirguistão, Mongólia, Armênia, Bielorrússia, Moldávia e Ucrânia.

Economias que, em tese, concorrem diretamente com o Brasil fazem o oposto do que estamos fazendo. Ontem, enquanto o Banco Central do PT aumentava a taxa básica brasileira, os da China e da Índia cortavam as suas.

Com mais esta alta, o Brasil caminha para torrar cerca de 7% do seu PIB com pagamento de juros. No ano passado, foram R$ 311,4 bilhões. Esta montanha de dinheiro equivale a 12 anos de Bolsa Família. A dívida pública, que cresceu dez pontos do PIB nos últimos quatro anos, vai ficar ainda mais cara.

No entanto, esta enormidade não tem surtido efeito para cumprir sua principal missão: aplacar a inflação. A despeito da forte alta dos juros, as projeções para os índices só aumentam e agora já se aproximam de 8% para este ano, quase o dobro da meta.

Juros altos são sintoma mais evidente de economia adoecida. Tendem a frear (ainda mais) a atividade produtiva e a esfriar (ainda mais) o mercado de trabalho. O remédio amargo busca, até agora sem sucesso, aplacar a carestia, que é maior sobre as famílias mais pobres, dado o tarifaço e a disparada dos preços dos alimentos. Não há nada sob controle.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Tudo contra o social

Espanta, até ao mais renhido oposicionista, a ferocidade com que Dilma Rousseff investe contra programas sociais, trucida direitos trabalhistas e ameaça benefícios previdenciários. Este segundo mandato da presidente tem servido para reduzir a pó o discurso enganoso usado pelo PT para vencer as eleições do ano passado.

As vítimas da vez são as famílias atendidas pela tarifa social de energia e os alunos do Pronatec. Vitrines da campanha vitoriosa à presidência, estão agora sendo impiedosamente implodidos, imolados no altar do ajuste fiscal promovido por Dilma e pelo PT.

O governo anunciou ontem que quase metade dos brasileiros que tinham direito a descontos na conta de luz vão perder o benefício.

Das 13,1 milhões de famílias hoje atendidas, 5,8 milhões serão excluídas. Deixarão de fazer jus a reduções de até 65% nas tarifas de energia. Talvez o governo petista lhes ofereça a opção do banho gelado e de noites no escuro para fugir do aperto no bolso...

A gestão Dilma alega que as famílias deixaram de atender os critérios para receber o benefício. Na realidade, a mudança vai é gerar uma economia de R$ 614 milhões para os cofres do governo. É o vale tudo para engordar o arrocho fiscal.

Outro programa que agora está na geladeira é o Pronatec, antes um remédio para todos os males, de acordo com as falas ensaiadas da candidata petista nos debates na TV. Os repasses para as instituições que oferecem os cursos técnicos – na maioria deles, na realidade cursos de mera formação profissional – continuam atrasados.

Mas o pior soube-se agora: neste ano, os cursos só irão começar quando o semestre já estiver acabando. O início das aulas, antes previsto para 7 de maio, foi adiado para 17 de junho pelo Ministério da Educação.

O número de vagas ofertadas nos cursos também deve diminuir. “Há fortes possibilidades de o governo não abrir neste ano matrículas em dois períodos, como ocorria até então”, informa o Valor Econômico na sua edição de hoje.

O padrão recessivo do governo Dilma completa-se pelo tarifaço nas contas de energia e combustíveis, pelo aumento de tributos, pela investida petista sobre direitos trabalhistas e previdenciários e pela reversão de políticas como a desoneração da folha de pagamentos, que ontem sofreu revés no Congresso.

Na propaganda eleitoral, a campanha do PT prometia “mais mudanças, mais futuro”. Mas, a cada dia que passa, vai se revelando a verdadeira natureza da plataforma petista. São malvadezas e mais malvadezas que Dilma Rousseff agora assaca em série. Dia sim, dia também. O lema é: tudo contra o social.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Choque elétrico: foi Dilma quem fez

Como se não bastasse a dureza que está a vida no país, os brasileiros tomarão um choque quando receberem a conta de luz deste mês. O tarifaço de energia vai doer fundo no bolso, afetar o conforto das famílias e tornar a produção nacional ainda mais difícil. Foi Dilma quem fez.

O tarifaço é da lavra exclusiva da presidente da República, gestado, item por item, desde que ela ocupou o Ministério de Minas e Energia no governo Lula.

Desde 2004, Dilma Rousseff pôs-se a reformar o modelo elétrico nacional, sob a égide da “modicidade tarifária”. Dez anos depois, o resultado está à vista: uma das energias mais caras do mundo e o risco de racionamento no horizonte.

O principal lance do genial modelo de Dilma foi a redução, na marra, das tarifas a partir da medida provisória n° 579, baixada em setembro de 2012. Em rede nacional de rádio e TV, a presidente assegurou “a mais forte redução de tarifa elétrica já vista neste país”.

Quando a MP virou lei, em janeiro de 2013, a petista dobrou a aposta: “Com a redução de tarifas, o Brasil passa a viver uma situação especial no setor elétrico, ao mesmo tempo baixando o custo da energia e aumentando sua produção elétrica”.

Pois bem: a redução observada em 2013 foi totalmente anulada pela alta de 17% verificada no ano passado. E agora os consumidores poderão ver suas contas de luz aumentar até 70% neste ano, conforme cálculos publicados por O Globo em fevereiro. O aumento começou neste mês, com alta média de 23%.

O impacto do tarifaço sobre a nossa economia também é chocante. Segundo a Firjan, o Brasil tem hoje a sexta mais cara energia do planeta. Até o fim de 2016, o custo das indústrias com o insumo poderá acumular aumento de 87% desde 2014 e de 48% desde antes de Dilma resolver balançar o setor, em 2013. Quem consegue competir assim?

A lambança elétrica já custou R$ 114 bilhões, segundo cálculos do CBIE. As concessionárias vivem grave crise e obras importantes, em especial as da Amazônia, estão atrasadas, causando prejuízos estimados em R$ 65 bilhões.

Para evitar o racionamento, pouco resta, além de rezar para São Pedro. Tudo indica que, ao final deste mês, os reservatórios não atingirão o volume mínimo de água definido como suficiente para evitar os cortes. Mas o governo já ensaia um jeito de driblar a norma, embrenhando o país em mais um ano de riscos.

O tarifaço é o exemplo mais eloquente da inépcia de Dilma Rousseff para governar e da irresponsabilidade dos governos do PT para com o país. Daqui a pouco só restará às indústrias fechar as portas e aos brasileiros o banho frio e o escuro...

terça-feira, 3 de março de 2015

As maldades de Dilma e os limites de Levy

Joaquim Levy é o ministro que Dilma Rousseff pediu a Deus. Com seu jeitão de antípoda do petista-padrão, executa as maldades que a presidente não quer ver creditadas na conta dela. O arrocho em marcha é de Dilma e do PT; o ministro da Fazenda é mero instrumento útil para levá-lo adiante.

Nos últimos dias, ministro e presidente pareceram divergir. Na sexta-feira, Levy chamou de “grosseira” a política de desoneração da folha levada adiante por Dilma no primeiro mandato – uma “brincadeira”, segundo ele, que custa R$ 25 bilhões ao país sem produzir resultados apreciáveis na forma de empregos criados.

No sábado, a presidente rebateu e disse que seu ministro foi “infeliz” nos adjetivos empregados. Pareceu mais uma – a mais grave até aqui – desavença entre chefe e subordinado, cujos limites de atuação seriam mais estreitos do que se supõe até agora. Pode, contudo, não ter sido nada disso.

Naquilo que interessa ao governo, nada mudou. O mérito da discussão manteve-se intocado: o governo baixou medida provisória que eleva em até 150% a contribuição sobre a folha de salários e mais um passo do arrocho – que inclui aumento de impostos, corte de direitos trabalhistas e de benefícios previdenciários e tesouradas no Orçamento – foi dado.

No essencial, é disso que se trata: Levy faz o serviço sujo, Dilma posa de indignada, mas o curso das medidas recessivas mantém-se. É uma espécie de balé do arrocho, com papeis previamente combinados. O ministro da Fazenda é o mais conveniente bode expiatório com quem o PT poderia sonhar.

As medidas anunciadas até agora representam ajuste de R$ 111 bilhões nas contas do governo, segundo estimativa publicada hoje pelo Valor Econômico. Bem mais, portanto, que o previsto como necessário para produzir superávit de 1,2% do PIB neste ano. 

Entre as áreas atingidas pelos cortes, o Ministério da Educação, por exemplo, perderá 31% de sua dotação para este ano. Nunca um slogan de governo foi tão enganoso...

Tamanho arrocho poderia soar como austeridade de cristã nova, recém-convertida à responsabilidade fiscal. É, todavia, a forma – provavelmente excessiva – que Dilma encontrou para dar algum respiro a seu governo. Como na história da vacina, é na dose do antídoto que repousa a diferença entre a salvação e a morte.

As críticas que Joaquim Levy vez por outra dispara são a forma mais suave de Dilma Rousseff ir deixando pelo caminho a ruinosa política econômica na qual insistiu durante seu primeiro mandato, a despeito de todas as indicações de que só produzia fracassos. Graças ao ministro, convenientemente ela pode sepultá-la sem assumir a culpa pelos erros que cometeu. As maldades são ilimitadas.