A fala de Dilma foi
interpretada por agentes econômicos como sinal de que seu governo continuará
sendo tolerante com uma taxa de inflação que já é uma das mais altas do mundo. Também
serviu para enfraquecer o Banco Central, que recentemente vinha apontando que o
nível de preços no país encontra-se em patamar “desconfortável”, num sinal de
que a taxa de juros pode vir a ser aumentada para combatê-lo.
O que Dilma disse ontem
foi: “Não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão da
redução do crescimento econômico. (...) Esse receituário que quer matar o
doente em vez de curar a doença, ele é complicado, você entende? Eu vou acabar
com o crescimento do país. Isso daí está datado, isso eu acho que é uma
política superada”, de acordo com a transcrição
oficial.
Irritada com a
repercussão que suas palavras causaram, a presidente deflagrou uma operação
conserta-estrago para tentar amenizar os efeitos de sua infeliz manifestação.
Depois de ter dito que quem trata de juros é o ministro da Fazenda, o que é um
crasso erro, pois quem tem autonomia operacional para isso é o BC, escalou o
presidente do banco para pôr panos quentes no assunto.
Não foi suficiente,
e o Planalto foi obrigado a divulgar um comunicado desdizendo o que Dilma
dissera horas antes. Novamente insuficiente. Já no fim do dia, a presidente deu
rápida e ríspida declaração à imprensa dizendo que sua declaração fora “manipulada”.
Ou seja, em poucas horas ela conseguiu produzir uma sucessão de equívocos. Em suma,
falou bobagem.
Em sua excessiva autoconfiança,
Dilma acabou pondo para fora qual é sua real visão de mundo sobre a estabilidade
da nossa moeda. Sua crença repousa na velha e furada tese, muito difundida entre
petistas, de que um pouquinho mais de inflação não faz mal, se servir para
produzir mais crescimento econômico. A escalada de preços seria, nesta
distorcida forma de enxergar as coisas, um mal menor.
Trata-se de uma cascata
sem tamanho e não é preciso ir longe para comprovar. Nos últimos dois anos, o Brasil
teve crescimento muito abaixo do das demais economias, ao mesmo tempo em que
conviveu com inflação sempre acima da meta e muito mais alta do que a que se
verifica ao redor do globo. Ou seja, com o PT, temos baixo crescimento e alta
inflação – padrão que Dilma ontem sancionou.
“O problema é que
tem um jeito certo e um jeito errado de combater a inflação na cabeça dela [da
presidente], e o jeito que ela considera errado é o jeito que todo mundo
considera certo”, comenta o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC,
n’O Estado de S.Paulo.
Ainda neste mês de
março, a inflação acumulada nos últimos 12 meses medida pela IPCA deve estourar
o limite superior da meta, ou seja, ultrapassar 6,5% ao ano. Mesmo assim, Dilma
acha que tudo está normal. “Nós não achamos que a inflação está fora de
controle, pelo contrário, achamos que ela está controlada e o que há são
alterações e flutuações conjunturais.”
Não há nada de
conjuntural na inflação brasileira. Ela vem se mantendo alta, e acima dos
padrões internacionais, há tempos: nos últimos dez anos de gestão petista, em
apenas três o índice de preços no país obedeceu à meta fixada pelo Conselho
Monetário Nacional.
O apreço do PT pela
estabilidade da moeda – uma das maiores conquistadas da sociedade brasileira na
história recente – é nulo. À época do lançamento do Plano Real, o partido de
Dilma foi para as ruas protestar contra as medidas de estabilização, classificadas
por eles como “estelionato eleitoral”.
A maior irritação de
Dilma Rousseff, no episódio de ontem, talvez tenha sido com o fato de que sua
peculiar e reprovável visão de como tratar de uma chaga da economia nacional
tenha ficado exposta em cores berrantes. Será difícil a presidente mostrar,
apenas com palavras, que não tem sido tolerante e leniente com a inflação. Se quiser
convencer, terá que agir e domar o dragão que tanto mal está fazendo aos
orçamentos das famílias brasileiras, principalmente o das mais pobres.