terça-feira, 30 de junho de 2015

Organização criminosa

Dinheiro sujo irrigou as campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Dinheiro da corrupção financia o partido da atual e do ex-presidente da República. Para os petistas, era tudo “pixuleco”. Para os brasileiros, é a prova (mais uma) de um crime que precisa ser exemplarmente punido.

As gravíssimas revelações vieram a público em reportagens da revista Veja e do jornal O Estado de S. Paulo neste fim de semana. São parte da delação premiada feita por Ricardo Pessoa, engenheiro da construtora UTC e tido como “chefão” do grupo de empreiteiras que movimentou bilhões em propina surrupiados de estatais, em especial a Petrobras.

As campanhas petistas teriam sido financiadas com dinheiro de caixa dois desviado de contratos mantidos por grandes empreiteiras com nossas estatais. Para a de Lula, foram R$ 2,4 milhões; para Dilma, R$ 7,5 milhões. No total, veio muito mais, irrigando cofres petistas pelo país afora, não apenas em épocas eleitorais, mas de forma contínua.

As revelações de Pessoa eram aguardadas há tempo. No início do ano, ele fez chegar à imprensa que o ministro da Comunicação e tesoureiro da campanha de Dilma, Edinho Silva, estava “preocupadíssimo” com o que o empreiteiro tinha a revelar. Silva é um dos ministros palacianos diretamente envolvidos no escândalo da hora – o outro é Aloizio Mercadante (Casa Civil), de alopradas transações no passado.

A única reação do partido da boquinha até agora foi dizer, mais uma vez, que fez o que todo mundo faz, na tentativa de pôr no mesmo saco quem tem o controle do caixa bilionário das estatais e quem não passa nem na calçada delas. O PT também fez saber que tentará enquadrar o ministro da Justiça, talvez pensando, quem sabe, em mandar prender a Polícia Federal.

O que Pessoa relatou não conflita em nada com tudo o que vem sendo descoberto pela Operação Lava Jato desde março do ano passado. As peças formam um quebra-cabeça coerente, articulado e planejado. Colam-se com perfeição com outras revelações já feitas por outros investigados. Também por isso, o STF homologou a delação de Pessoa.

Desde que ascendeu ao poder, o PT adotou a corrupção como política de governo e como método de gestão. Começou com a compra de apoio parlamentar por meio do mensalão e foi ganhando tentáculos que transformaram o aparato estatal num imenso balcão de negócios. O petrolão é a forma mais sofisticada de assalto ao Estado já vista.

A Justiça Eleitoral já investiga o caso e ouvirá Pessoa. Se ficar comprovado que dinheiro desviado da Petrobras e de outras estatais financiou Dilma, assim como fez com Lula, estará caracterizada fraude e aberto o caminho para a impugnação da chapa vencedora.

Uma coisa é claríssima: o país tem sido governado, ao longo destes últimos anos, não por um partido, não por mandatários legitimamente eleitos, mas por uma verdadeira organização criminosa.

sábado, 27 de junho de 2015

O ano do desemprego

Infelizmente tornou-se tão rotineiro que os jornais já nem dão mais destaque à notícia: o desemprego voltou a subir no país e a renda do trabalhador brasileiro simplesmente despencou mais uma vez em maio. É a chaga mais dolorosa da crise econômica que piora a cada mês.

O IBGE revelou ontem que a renda média caiu 5% no mês passado em relação a maio de 2014. É a maior queda desde janeiro de 2004, depois de o indicador já ter diminuído 3% em cada um dos dois meses anteriores. Na média, a remuneração do trabalhador brasileiro é hoje a mais baixa dos últimos três anos.

Todos os setores de atividade, todas as modalidades de ocupação sofreram perdas, tanto em termos de baixa nas remunerações quanto de aumento do desemprego. Passou a valer a máxima: feliz de quem ainda continua trabalhando. Mesmo para estes, porém, sobram dias e falta salário no bolso no fim do mês.

A taxa de desemprego foi a 6,7% em maio, na quinta alta mensal consecutiva. Um ano antes estava em 4,9%. A estimativa de analistas é de que atinja 9% até dezembro, colocando definitivamente o Brasil no grupo de países com índice de desemprego alto.

Entre os jovens, a situação já está bastante pior. A taxa de desocupação para aqueles com idade entre 18 e 24 anos alcança agora 16,4%, com alta de mais de quatro pontos em relação a um ano antes. Em metrópoles como Salvador, chega a 26%.

Na semana passada, o Caged já havia mostrado um retrato sombrio do mercado de trabalho, com destruição de vagas de emprego em todos os setores da economia – a única exceção foi a agropecuária. As piores situações são a da indústria e a da construção, com 652 mil vagas eliminadas nos últimos 12 meses.

Outra pesquisa do IBGE, a Pnad Contínua, revela, a partir de um universo mais abrangente, que o exército de desempregados aumentou em quase 1 milhão de pessoas nos últimos 12 meses. Segundo este indicador, a taxa de desemprego já está em 8% no trimestre entre fevereiro e abril.

Até as últimas eleições, Dilma Rousseff e o PT não se cansavam de alardear que o Brasil tinha “uma das mais baixas taxas de desemprego do mundo”. Apenas um ano atrás, quando lançou uma campanha pelo trabalho decente na Copa, a presidente afirmava: “O desemprego era uma ameaça sempre presente. Felizmente, o Brasil virou esta página da história”.

Infelizmente, não era verdade. Este e o próximo ano deverão ser marcados por uma verdadeira sangria no mercado de trabalho, um dos traços mais visíveis, e certamente o mais aflitivo, do arrocho recessivo que o mesmo PT que metia aos brasileiros hoje promove sem pudor.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Páginas amareladas

Durou pouco a tentativa do governo de virar, na marra, a página das más notícias. A maré negativa continua, numa sucessão de resultados ruins, políticas desencontradas e prognósticos desalentadores. O país embicou numa espiral descendente difícil de ser revertida e não será com saliva que escapará do pior.

Nos últimos dias, o governo petista vem enfileirando anúncios e solenidades públicas na expectativa de que sejam suficientes para mudar o cenário. Mas a marca do improviso e da inconsistência levam as iniciativas a efeitos ridículos e alcance limitado. Passados alguns dias, revelam-se como são: inócuas.

O novo plano de concessões, apesar de ser uma ação na direção correta, tem tantos senões que é difícil crer que atinja as metas ambiciosas que foram traçadas – tão ambiciosas quanto programa quase idêntico lançado três anos atrás sem, no entanto, alcançar praticamente nenhum êxito.

Depois vieram o plano agrícola, o programa de agricultura familiar e, ontem, mais uma investida destinada a reanimar as exportações, recheada de medidas requentadas e promessas muitas vezes repetidas e jamais cumpridas. Na prática, o país está cada vez mais fechado ao comércio internacional.

Em contraposição a estas investidas de caráter mais propagandístico do que efetivo, as más notícias econômicas se sucedem.

A perspectiva da recessão se agrava, a inflação ronda seu maior nível em quase duas décadas, o desemprego exibe a pior marca em 23 anos e a renda do trabalhador derrete. É bem mais que a mera “ressaca” apregoada por Joaquim Levy. Em tudo Dilma Rousseff vai fazendo lembrar Fernando Collor de Mello...

Agora até o Banco Central prevê queda de mais de 1% do PIB (o que é pouco diante de outras estimativas mais realistas e bem menos generosas), inflação de 9% e, para impedir que os preços subam ainda mais, novas altas das taxas de juros – os aumentos da Selic determinados desde a eleição já foram suficientes para aumentar o custo da dívida pública em R$ 38 bilhões por ano.

Além de ver frustrados os planos para derrubar a inflação e retomar o crescimento – que sabe-se lá quando virão – o governo também toma um baile no ajuste fiscal. Bem mais cedo do que se pensava, já cogita jogar a toalha e cortar pela metade a meta de superávit traçada para este ano, além de diminuir bastante os objetivos fiscais para 2016 e 2017.

Será realmente difícil o governo do PT virar o jogo. O país não vive uma mera crise conjuntural. O Brasil está estruturalmente danificado pelos remendos que foram sendo feitos nos últimos anos e pelos descaminhos trilhados irresponsavelmente. Não basta passar a página; será preciso fechar o livro e começar uma nova história.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Sem pátria, sem educação

Há um ano era lançado o Plano Nacional de Educação. Em seu primeiro aniversário, os brasileiros da “pátria educadora” não têm nada o que comemorar: o setor tem sido um dos mais maltratados pelo governo da presidente Dilma Rousseff e uma das vítimas preferenciais do arrocho recessivo em marcha.

O PNE foi aprovado depois de anos de discussões na sociedade e no Congresso e uma notória recusa do governo federal em aceitar suas metas mais arrojadas. Mas, no calor da campanha eleitoral, acabou sendo transformado em mais uma peça do script ufanista do discurso petista, sob a garantia dos fartos recursos oriundos do pré-sal.

Com a crise da Petrobras e a queda das cotações de petróleo, o dinheiro não apareceu, a péssima capacidade executiva da administração pública preponderou e o PNE não cumpriu nenhuma das metas traçadas para seu primeiro ano de vigência.

A dificuldade no caminhar lança sombras sobre os objetivos mais ambiciosos que estão pela frente, como, por exemplo, colocar pelo menos metade das crianças de até 3 anos em creches até 2016 – um déficit hoje de pelo menos 2,5 milhões de vagas. Idem em relação à meta de levar 1,6 milhão de jovens de 14 a 17 anos que estão fora da escola para as salas de aula até o ano que vem.

As dificuldades se tornam tanto mais significativas quanto menor é o valor que a administração federal atribui à educação. E uma forma de mensurar isso é constatar que a área foi uma das mais afetadas pela tesoura do arrocho fiscal promovido pelo PT: perdeu R$ 9 bilhões da receita prevista para este ano, o que dá cerca de 13% do total.

Todas as antigas vitrines da gestão petista na área foram estilhaçadas. Neste primeiro semestre, o Fies transformou-se em dor de cabeça para estudantes pelo país afora, ao ter restringidas as regras de acesso por determinação de Dilma. Oficialmente, quase 180 mil alunos deixaram de ser atendidos, mas a projeção é de que o número chegue a meio milhão até o fim do ano.

Já o Pronatec, onipresente na campanha eleitoral petista do ano passado, ainda não foi sequer oferecido neste ano. As primeiras turmas só devem ser abertas em julho, já sob o peso da decisão do governo de cortar as vagas disponíveis a um terço do que foi ofertado em 2014, no menor patamar desde o lançamento do programa, em 2011.

O governo também cortou quase metade dos investimentos previstos para as universidades federais e atrasou o pagamento de bolsas concedidas pela Capes. Sucumbiram, ainda, o Ciência sem Fronteiras, o Mais Educação (programa que financia a jornada em tempo integral nas escolas) e, agora, o programa de formação de docentes, prestes a ser dizimado. Assim não há pátria, nem educação que resistam.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Nas barbas de Lula

A nova fase da Operação Lava Jato pôs Luiz Inácio Lula da Silva no centro das atenções e na mira da Justiça. Bastou a Polícia Federal prender dois dos mais poderosos empreiteiros do país – e de ligações muito próximas com o ex-presidente da República – para que o petista pusesse em marcha uma estratégia para sair do fogo cruzado. Lula sabe que é o alvo da vez, e age.

A prisão dos presidentes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, ocorrida na sexta-feira, suscitou a interpretação de que as investigações do Ministério Público escalaram mais alguns degraus e se aproximaram do topo da cadeia alimentar. Estariam, pois, perto de chegar a quem de fato mandava em todo o esquema.

O próprio entorno de Lula passou a circular a sensação de que ele seria “o próximo alvo” dos juízes que investigam a roubalheira nas estatais, tendo a hoje combalida Petrobras no epicentro dos desvios bilionários. Quem mais se beneficiou do esquema foi o ex-presidente, tanto na sua gestão quanto na de sua pupila; tanto no governo, quanto fora dele.

Bastou o foco criminal virar-se contra ele para Lula ensaiar, desde o fim da semana passada, um movimento para tentar mudar a direção das atenções. Primeiro, num encontro com religiosos, e depois, ontem, numa palestra pública, o ex-presidente tenta agora transformar a discussão sobre o enfraquecimento do PT no centro do debate.

Para Lula, o PT está “no volume morto”, “está velho” e só “pensa em cargos”. É bem diferente do que ele dizia, há apenas duas semanas, a seus liderados reunidos durante o congresso nacional do partido em Salvador: “O PT continua vivo, bem vivo”. Resta evidente que, com a mudança de foco, Lula busca sair da alça da mira.

Fato é que interessa menos discutir o esfacelamento do PT, no momento em que o partido é o que mais perde filiados e atrai a menor parcela de simpatizantes em décadas. O que importa, agora, é esclarecer a participação do ex-presidente e líder-mor petista no esquema criminoso que assaltou o país nos últimos anos.

Interessa menos se a crítica de Lula incomoda Dilma ou desnuda fragilidades de seu governo. Para perceber o óbvio, a população não precisa de tradutores: a reprovação à atual gestão e a consciência das agruras do dia a dia é latente na maioria dos brasileiros. Só não enxerga a crise atual quem não quer.

Lula pode querer debater seu partido com seus filiados. Mas antes precisará explicar-se a juízes, investigadores e à sociedade brasileira tanto mais fique comprovado que o esquema que pôs o Estado a serviço de seu projeto político foi arquitetado por ele desde o mensalão.

A hora agora é de prestar contas à Justiça e não de esticar o PT no divã – para o que sobrará tempo suficiente quanto o partido estiver apeado do poder.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Dilma no volume morto

Não importa o grupo social, não importa a faixa de renda ou a região de domicílio. Pelo país afora, independente do recorte estatístico, pelo menos seis de cada dez brasileiros reprovam o governo da presidente Dilma Rousseff. As péssimas condições da economia sugerem que a situação ainda vai piorar para a petista.

A reprovação a Dilma voltou a subir e agora 65% dos brasileiros consideram que a presidente faz um governo ruim ou péssimo, segundo pesquisa do Datafolha divulgada no domingo. Na ponta de baixo, somente um em cada dez brasileiros aprova o jeito de a petista agir, avaliando sua gestão como ótima ou boa.

Os brasileiros sentem-se enganados pela presidente que prometeu um mundo cor de rosa na campanha eleitoral e está patrocinando um dos períodos mais atordoantes da história recente do país. Estamos sendo intoxicados por uma mistura de recessão brava, inflação e desemprego, sem falar na sufocante corrupção.

O futuro é sombrio. Apenas 19% ainda creem que a situação econômica vai melhorar, ante 53% que consideram que piorará. Nos detalhes, o pessimismo com as perspectivas do país é bem mais expressivo: 73% acham que o desemprego vai aumentar ainda mais e 77% avaliam que a inflação continuará subindo. Infelizmente, podem ter razão.

A impopularíssima Dilma encontra-se em companhias nada notáveis. Seu índice de desaprovação é semelhante ao de Fernando Collor um pouquinho antes de ele ser ejetado do cargo de presidente sob a acusação de corrupção ou de José Sarney, no fim de um governo em que ninguém suportava mais o então mandatário.

As semelhanças entre o agora e o passado vão mais longe. Além de ser a presidente mais rejeitada da história desde Collor, Dilma promove o maior desemprego desde 1992, segundo números do Caged divulgados na sexta-feira – 244 mil vagas foram eliminadas no ano até agora. A inflação também é a mais alta em quase 20 anos.

Dilma é a encarnação da mentira, algo que nem seu tutor consegue mais disfarçar. Em conversa com religiosos na semana passada, Lula disse que a presidente, o PT e ele mesmo estão “no volume morto”, padecendo da reprovação generalizada da população. 

Na sua pregação, ele admitiu que, na campanha, Dilma prometeu aos brasileiros uma coisa e fez outra. “Os tucanos sabiamente colocaram Dilma falando isso [no programa de TV] e dizendo que ela mente. Era uma coisa muito forte. E fiquei muito preocupado”.

A farsa eleitoral já foi amplamente caracterizada. A novidade é que nem o PT é mais capaz de negá-la. Quem sofre na pele e paga a fatura é a população, principalmente os mais pobres. Mas, felizmente, a hora do acerto de conta parece estar chegando. E não apenas para Dilma. Mas também para Lula e o PT. Já deu.

sábado, 20 de junho de 2015

A ditadura que o PT e a esquerda adoram

Não foi preciso pouco mais de algumas horas para que a missão de senadores brasileiros que foi a Caracas ontem conhecesse de perto a face intimidadora da ditadura que comanda a Venezuela. O regime chavista que os petistas adoram exercitou toda a sua truculência contra a comitiva oficial que chegou ao país em defesa da democracia e da liberdade. Isso os bolivarianos, tanto os de lá, quanto os de cá, não toleram.

Foram seis horas praticamente ilhados no aeroporto, depois de pousar na cidade a bordo de um avião oficial do governo brasileiro. A comissão oficial de senadores liderados por Aécio Neves foi impedida de visitar presos que se opõem ao governo de Nicolás Maduro. Um grupo de cupinchas do afilhado de Hugo Chávez hostilizou os brasileiros.

O Itamaraty se omitiu enquanto os incidentes se sucediam. Durante todo o tempo da confusão, o embaixador brasileiro na Venezuela sumiu. Apenas no fim da noite, nossa chancelaria se pronunciou, limitando-se a “lamentar” e, “à luz das tradicionais relações de amizade entre os dois países”, pedir “os devidos esclarecimentos” sobre o ocorrido.

O comportamento dos sequazes de Maduro assemelha-se ao método empregado por petistas e esquerdistas em geral durante a visita da blogueira cubana Yoani Sánchez ao Brasil, no início de 2013. Onde ela foi, esteve sempre hostilizada por uma horda cujo maior objetivo era impedir que relatasse as agruras da vida sob a ditadura castrista.

No mesmo momento em que os senadores brasileiros estavam sendo achincalhados pelos chavistas, uma comitiva de dóceis brasileiros admiradores do regime bolivariano era recepcionada com tapete vermelho pelo governo Maduro, levada a solenidades e a emissoras de TV para tecer loas à ditadura local.

Os senadores foram a Caracas tentar suprir a omissão criminosa do governo brasileiro diante da escalada autoritária patrocinada pelos chavistas. A presidente Dilma não apenas tem lavado as mãos, como rechaça e impede qualquer sanção ou repúdio à truculência do governo Maduro – como fez na semana passada durante a cúpula União Europeia-América Latina.

A Venezuela é hoje um país em processo de desestruturação. As instituições estão fragilizadas e as liberdades democráticas estão sob ataque. Sob o “socialismo do século 21”, a economia afunda, com a maior inflação do mundo, uma recessão que deve chegar à queda de 14% em três anos e desabastecimento. A violência é uma das mais altas do planeta.

Desde o início do ano passado, manifestações de opositores ao regime chavista deixaram 43 mortos. Outras 89 pessoas, incluindo políticos da oposição e manifestantes, foram presas. O Judiciário é controlado e a imprensa, cerceada. Isto é ou não uma ditadura?

O governo da Venezuela desrespeita as cláusulas democráticas previstas nas regras do Mercosul e merece ser exemplarmente punido, com a suspensão do bloco, antes que se aprofunde a deterioração das condições de vida do povo amigo venezuelano. Menos que isso é compactuar com uma ditadura, o que os petistas adoram fazer.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Reiteradas lambanças fiscais

Dilma começou a pedalar sua bicicleta importada nos arredores do Palácio da Alvorada há apenas poucas semanas. As contas públicas, porém, ela pedala desde que iniciou seu governo. A burla fiscal é o método de gestão mais característico da gerentona. Ou será que ela, mais uma vez, não sabia de nada?

Não foi apenas no ano eleitoral que o governo petista se esbaldou na gastança do dinheiro do contribuinte para ajudar a reeleger Dilma. Desde 2011, o TCU vem apontando irregularidades nas contas do governo federal e aprovando-as sempre com restrições.

Foram ao todo 73 ressalvas e 128 recomendações feitas em relação aos exercícios de 2011, 2012 e 2013. Não se trata de detalhes técnicos; é dinheiro de impostos que deveria estar beneficiando o cidadão, mas escorre pelo ralo da irresponsabilidade e do desperdício.

Em 2011, por exemplo, o TCU chamou atenção para as renúncias fiscais. Naquele ano, elas somaram mais do que os gastos do governo federal com saúde, educação e previdência. Em 2012, com as contas em processo de forte descontrole patrocinado por Dilma, o governo fez frenéticas operações triangulares para fechar o caixa: nos três últimos dias do ano, R$ 19,4 bilhões foram levantados de forma “extraordinária e atípica”.

No ano seguinte, a farra continuou. Quinze estatais estouraram limites de gastos. Benefícios distribuídos com vistas à Copa foram omitidos. Já quase sem fôlego, 60% do superávit primário alcançado pela União no ano veio de receitas extraordinárias.

Em 2014, as maquiagens culminaram, um mês depois da reeleição de Dilma, na revisão da meta prevista na LDO, o que na prática transformou rombo em superávit – episódio que agora pode implicar diretamente a presidente em crime de responsabilidade. Os malabarismos não impediram que as contas fechassem com rombo de R$ 32 bilhões.

Parte das más praticas na gestão do dinheiro público flagradas pelo TCU nos últimos anos se mantém neste ano. Tanto que já se cogita seriamente dentro do governo rever para baixo a meta de superávit deste e do próximo ano, tamanho é o desarranjo.

Ontem, no julgamento das contas de 2014, o TCU levantou 13 pontos que a própria presidente da República terá de esclarecer, num prazo de 30 dias, para não ter suas contas rejeitadas. O procedimento é inédito, porque Dilma sequer apresentou contas “em condições de serem apreciadas”, resumiu o ministro-relator, Augusto Nardes.

Depois que o TCU concluir a análise das contas de Dilma de 2014, com tudo para rejeitá-las, elas serão enviadas para apreciação do Congresso. Lá também aguardam a manifestação dos parlamentares as contas de 2011 a 2013 – bem como todas as demais desde 2002.

O conjunto da obra fornece razões de sobra para punir a presidente da República por crime de responsabilidade. Dilma Rousseff não apenas jogou a responsabilidade fiscal na lata de lixo; no vale-tudo eleitoral, ela pôs em risco o futuro do país.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Não à impunidade

O Congresso caminha para promover uma importante mudança no arcabouço legal que rege o combate à criminalidade no país. Deputados e senadores estão a um passo de alterar a idade em que uma pessoa é considerada passível de punição e detenção. A discussão sobre a redução da maioridade penal no Brasil está madura, e é muito bem-vinda.

O PSDB apresentou um conjunto coerente de propostas destinadas a combater, com equilíbrio, a sensação de impunidade que acaba por alimentar a prática de delitos por jovens pelo país afora – algo que a macabra tragédia ocorrida há três semanas em Castelo do Piauí mostra ser cada vez mais presente e disseminado.

São elas: a redução, de 18 para 16 anos, da idade em que uma pessoa é considerada imputável em casos de crimes hediondos, lesão corporal grave e roubo qualificado, de autoria de Aloysio Nunes; o aumento do prazo de internação de menores de três para oito anos, do governador Geraldo Alckmin, em linha com proposição de José Serra; e o aumento da pena para maiores que usarem menores para cometer crimes, de Aécio Neves.

São as mesmas propostas que o partido defendera enfaticamente na campanha presidencial do ano passado, respaldado em pesquisas de opinião que mostram que larga parcela dos brasileiros é pela redução da maioridade penal. Também de forma coerente, o PT, tanto antes como agora, mantém-se contra qualquer alteração na lei, deixando tudo como está.

A mudança na maioridade não significa que a criminalidade vá cair. Ela até pode cair, mas o principal sinal é de que crimes bárbaros não continuarão impunes ou serão penalizados de maneira leve como a lei brasileira hoje permite. Em seu artigo 121, o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê somente o máximo de três anos para a internação de menores infratores, uma das punições mais amenas em todo o mundo.

O governo insiste em tumultuar o debate e todas as vezes que participa levanta como argumento uma mentira: não é verdade que os jovens infratores cumprirão pena junto com adultos nos presídios que o ministro da Justiça classifica como “escolas do crime”. Todos os projetos em discussão preveem o cumprimento separado dos bandidos adultos.

Outro dos argumentos fajutos é o de que os jovens cometem parcela ínfima dos crimes mais graves no país. Não há estatística sistematizada a respeito, mas levantamento patrocinado pela Folha de S.Paulo no início do mês constatou que em alguns estados a participação dos jovens é superior a 10%, chegando a 30% no Ceará e no Distrito Federal.

Endurecer as regras para punir jovens não exime o poder público de buscar criar condições para que cada vez menos brasileiros trafeguem pela estrada do crime. É preciso dar melhores condições para que as mães pobres possam criar seus filhos, por exemplo, com as creches tantas vezes prometidas e nunca construídas. Gerar mais oportunidades de lazer e melhores condições de saúde básica. Há muito ainda por fazer, mas a punição mais severa a jovens que cometeram delitos graves é o primeiro passo numa direção acertada.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Pedala, Dilma

Está nas mãos do TCU a oportunidade de pôr fim à farra com recursos públicos promovida nos últimos anos pelos governos do PT. O órgão prepara-se para apreciar amanhã as contas relativas ao último ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Sua decisão será pedagógica de como deve ser tratado o dinheiro do contribuinte – não só em Brasília, mas país afora.

No centro da discussão está o uso ilegal de recursos de bancos oficiais por parte do Tesouro Nacional para custear programas do governo federal. Nos últimos anos, a gestão petista se fartou de ajuda da Caixa, do Banco do Brasil e do BNDES para bancar pagamentos do Bolsa Família, do seguro-desemprego, do abono salarial e do Minha Casa Minha Vida, entre outros.

A prática era corriqueira até os anos 1990, mas foi coibida a partir da vigência da Lei de Responsabilidade Fiscal – aquela à qual os petistas combateram até com ação no Supremo – e da lei do colarinho branco. Esteve na raiz da quebradeira que assolou bancos oficiais e estados brasileiros no fim do século passado. Imaginava-se superada, mas o PT, como fez com muita coisa ruim da política nacional, ressuscitou-a.

Os primeiros extratos do relatório do ministro Augusto Nardes que avalia as contas de Dilma no ano passado não deixam dúvida: a burla fiscal foi convertida pela gestão da petista em método de finança pública. Exagerar, maquiar, esconder, surrupiar e, principalmente, malversar o recurso pago pelo contribuinte foram a regra. Oxalá, não continuem a ser.

A equipe de Nardes já identificou déficit de R$ 140 bilhões nas contas do governo, segundo a Folha de S.Paulo. Cerca de R$ 37 bilhões em dívidas existentes no ano passado também foram omitidas, conforme O Estado de S. Paulo.

No centro de tantos e seguidos erros, estava a incapacidade da equipe de Dilma, a gerentona, de planejar receitas e despesas – umas sempre superestimadas, outras constantemente subavaliadas. O pior é que o exemplo vindo de cima também contaminou muitas das finanças estaduais, hoje também em frangalhos.

A decisão do TCU, em forma de parecer, será depois encaminhada ao Congresso, a quem caberá julgar as contas da presidente e, preferencialmente, rejeitá-las. Todas as evidências apontam, indiscutivelmente, para a prática de crime de responsabilidade por parte de Dilma, algo passível de punição extrema, a perda de mandato. Se há Justiça a fazer, é esta.

Espera-se do plenário do TCU, na votação prevista para amanhã, que respeite as evidências técnicas e objetivas levantadas pelos seus atuantes profissionais mostrando que as contas públicas foram espancadas pela presidente e seu time de prestidigitadores. Se fizer vista grossa às flagrantes irregularidades, estará dando carta branca a um assalto.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Decadência sem elegância

O Partido dos Trabalhadores encerrou neste fim de semana mais um de seus congressos nacionais. O clima reinante era de fim de feira. A legenda que se notabilizou por ter adotado o mensalão e o petrolão como método de governo vive uma decadência sem nenhuma elegância.

A principal discussão promovida pelo partido cujo governo ora protagoniza a maior recessão dos últimos 20 anos, além de ter estrelado o maior estelionato eleitoral da história, foi sobre a criação de mais impostos. A CPMF chegou a ser cogitada, inclusive oficialmente, mas foi limada das resoluções na última hora, com direito a reprimenda pública de Joaquim Levy.

Mesmo assim, ainda lá ficou no texto oficial a defesa de mais tributos sobre a população brasileira: sobre renda, sobre heranças, sobre fortunas. O mantra do “imposto, imposto, imposto” é tudo em que o PT consegue pensar para tentar escapar da crise.

Dilma Rousseff foi recebida com frieza, para dizer o mínimo, pelos militantes de seu partido. Muitos preferiram debandar e ir tomar uma cervejinha a ouvir a presidente da República. Já a verve de outrora de Lula teve de conter-se num texto lido, mas que ainda assim não prescindiu de suas muletas retóricas habituais, como os ataques à imprensa.

Todo amor dos petistas que faltou à presidente sobrou, contudo, para João Vaccari Neto. Mesmo ausente, porque preso sob a acusação de ser vértice do esquema de corrupção que desviou bilhões da Petrobras, o ex-tesoureiro foi ovacionado com três minutos de aplausos na sessão de abertura e mereceu moção de apoio no encerramento do convescote.

As palavras “ética” e “corrupção” passaram longe do texto da resolução final aprovada pelos petistas. No entanto, lá permanecem os louvores à “pátria socialista” e à “esperança simbolizada pela bandeira vermelha”.

Lá também foi mantida a expiação das culpas pelo péssimo estado geral das coisas no país, imputando as responsabilidades ao “tsunami” externo (alguém aí é capaz de notá-lo hoje, passados quase sete anos do epicentro da crise econômica?), à mídia, aos inimigos de classe, às “forças conservadoras”. O PT precisa desesperadamente de sua mística para sobreviver.

Mas não há nada de sobrenatural no que acontece nas fileiras da militância partidária. O PT foi o partido que mais perdeu filiados ao longo deste ano. Provavelmente desiludidos, mais de 6 mil pediram o boné. Em contrapartida, o PSDB foi quem mais ganhou novos partidários, com 15 mil novos registros, segundo O Estado de S. Paulo.

À crise que consome o país, aos atentados à ética protagonizados pelo partido, os petistas reunidos na Bahia não conseguiram balbuciar qualquer resposta. Sua resolução final caberia muito bem num passado distante em que o PT era apenas uma perspectiva de poder sonhada por alguns milhares de brasileiros. Hoje não passa de peça de ficção ou de misticismo rastaquera.

sábado, 13 de junho de 2015

As digitais de Lula

A censura caiu, derrubada nesta semana pelo Supremo, mas continua implacável no governo do PT. O sigilo é tanto maior quando o assunto envolve Luiz Inácio Lula da Silva e suas conexões tenebrosas com empresas tratadas a pão de ló com recursos públicos ao longo das administrações petistas. O que têm a esconder?

O Globo revela hoje manobras do Itamaraty para evitar que documentos relacionados à Odebrecht entre 2003 e 2010 venham a público. Num documento interno, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil diz temer que a divulgação desnude “um suposto envolvimento do ex-presidente Lula” nos “negócios internacionais” da empreiteira.

Pela Lei de Acesso à Informação, os documentos, solicitados por um repórter da revista Época, deveriam ser liberados, pois já transpuseram o prazo mínimo de reserva. Mas o interesse do jornalista levou o Departamento de Comunicações e Documentação do ministério a pedir a sua reclassificação como “secretos”, o que aumentaria em mais dez anos a sua proteção.

São umbilicais as relações de Lula com as empreiteiras apanhadas no petrolão. Seu governo foi um paizão para elas, garantindo crédito farto e barato bancado com dinheiro do Tesouro e do BNDES, ou seja, público. É a conta deste contubérnio que os brasileiros pagam hoje, na forma de tarifaço, impostaço, desemprego e recessão.

Em retribuição, as empresas carregaram o ex-presidente mundo afora como padrinho de negócios milionários. Em abril passado, a Época mostrara que a mesma Odebrecht pagou viagens de Lula a Cuba, República Dominicana e EUA em 2013. O petista atuou como lobista para facilitar negócios da empresa com governos estrangeiros financiados com dinheiro do BNDES. O Ministério Público tem inquérito aberto para investigar o episódio.

Nesta semana, também vieram a público pagamentos milionários feitos pela Camargo Correa ao Instituto Lula e à empresa do ex-presidente, a LILS Palestras, Eventos e Publicidade. Em documentos apreendidos pelos agentes da Operação Lava Jato, foram registrados R$ 4,5 milhões repassados a Lula a título de “bônus eleitorais”, “contribuições e doações”.

Em abril, a revista Veja também mostrara a relação siamesa de Lula com a OAS, outra investigada pelo petrolão. A empreiteira teria financiado a reforma do sítio do petista, além de assumir a construção de um prédio onde o ex-presidente tinha um apartamento tríplex no Guarujá.

Lula é o exemplo mais vistoso do petista-símbolo destes últimos 12 anos: aquele que chegou ao poder, abusou das facilidades para distribuir benesses com dinheiro público e, depois de voltar a planície, transformou sua passagem por Brasília em fonte de negócios. O ex-presidente revela ter muito a esconder. Por que não falas, Lula?

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Malvada inflação

Dilma Rousseff pode até querer virar a página da crise na marra, mas não há boa vontade que resista à escalada de preços que vitima os brasileiros. A despeito das seguidas pancadas nos juros, a inflação não cede, numa clara indicação de que a profilaxia não está conseguindo debelar o descontrole.

Divulgada ontem pelo IBGE, a inflação de maio foi a mais alta para o mês desde 2008, chegando a 0,74%. No acumulado em 12 meses, alcança agora 8,47%, patamar que não atingia desde o longínquo dezembro de 2003. Aonde isso vai parar, ninguém é capaz de saber.

Decomposta, a inflação revela-se perversa. Sobem muito os preços dos alimentos e as tarifas – as de energia já aumentaram 42% neste ano e 58% nos últimos 12 meses. Os preços que o governo controla ficaram 14% mais altos desde janeiro, tarifaço como há muito não se via. Está difícil morar, comer e se deslocar, resumiu uma técnica do IBGE.

Quem mais sofre é quem menos pode pagar. Em pelo menos três capitais (Rio, Curitiba e Goiânia), a inflação para famílias de menor renda já supera 10% nos últimos 12 meses. Em cada dez itens, sete estão subindo de preço. Se isso não é descontrole, o que mais pode ser?

Segundo pesquisa do Ibope, divulgada por O Estado de S. Paulo, 56% dos brasileiros consideram a inflação o principal sintoma da crise econômica atual. Infelizmente, é possível que em pouco tempo o desemprego dispute com a carestia o lugar de maior fonte de dor de cabeça da população.

Depois do resultado de ontem, as apostas repousam em novas rodadas de altas nas taxas de juros. Na prática, a receita não tem funcionado: quando o Copom iniciou o aumento da Selic, em outubro, a inflação estava em 6,6%; agora chega a 8,47%, a despeito da elevação de 2,75 pontos no período.

Falta salário e sobram dias no fim de cada mês dos brasileiros. Para enfrentar as dificuldades, a saída tem sido avançar nas economias. Nos últimos cinco meses, foram sacados R$ 32 bilhões das cadernetas de poupança. É a corda que aperta o pescoço e a crise que castiga o bolso.

Os brasileiros se acostumaram a ver a presidente da República repetir exaustivamente na eleição passada que a inflação estava “sob controle”. Também se cansaram de vê-la dizer que seu governo se notabilizara por ter promovido “a maior redução de tarifas da história”. Mentira atrás de mentira.

Dilma se diz agora “preocupada” em derrubar a inflação. Brincou com fogo e acabou ferindo todos os brasileiros. A irresponsabilidade desta gente parece não ter limites. Nos supermercados da vida, pagamos todos nós.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Lançado o ‘Mais Promessas’

O programa lançado ontem pela presidente Dilma Rousseff poderia muito bem ser batizado de “Mais Promessas”. O amontoado de obras de infraestrutura que compõem o pacote de concessões ressuscita iniciativas do passado que não saíram do papel, junta projetos mirabolantes e assemelha-se a uma vistosa carta de intenções.

O “Mais Promessas” busca cumprir agora o papel que no passado já foi do PAC, das primeiras rodadas de concessões, das obras da Copa do Mundo e dos “pactos” anunciados pelo governo em resposta aos protestos de junho de 2013. Todos sempre com mesmo viés: criar sentimento positivo e sensação de que o governo age. Todos deram em nada.

Desta vez, o “Mais Promessas” tem um objetivo adicional: virar a página de más notícias que caracterizam os seis meses iniciais do segundo mandato de Dilma. Na prática, o “Mais Promessas” chega para suceder o “Mais Maldades”, o arrocho recessivo que aumenta impostos, corta direitos trabalhistas e benefícios previdenciários posto em prática pelo PT.

De concreto, temos que apenas um terço das obras anunciadas ontem podem vir a se tornar realidade até o fim do governo de Dilma. Se isso acontecer, ainda assim o impacto na economia será mínimo: cerca de R$ 17 bilhões em investimentos anuais numa economia que investe R$ 1,1 trilhão a cada 12 meses.

Dos cerca de 130 projetos que compõem o “Mais Promessas”, 66 já constavam do fracassado programa anunciado em agosto de 2012. Estão nesta condição todos os portos, a maior parte das ferrovias e algumas rodovias, como a BR-262 entre Minas e Vitória e o trecho baiano da BR-101. Outros cerca de 40% são vertigens, sorvedouros de dinheiro público, como a ferrovia Bioceânica, e projetos de concessões já existentes.

Mas a iniciativa tem também seu caráter positivo. Representa mais um passo na conversão do PT às privatizações como melhor maneira de recuperar a estrutura viária do país. Enquanto relutou, o petismo nos empurrou para trás: desde o início do governo Dilma, caímos quase 40 posições no ranking de infraestrutura do Fórum Econômico Mundial. Nossa competitividade também decaiu e assumiu as piores condições da história.

Também se constitui num possível sepultamento do modelo estatizante que esteve presente em boa parte das iniciativas dos últimos anos e que produziu ruínas em forma de recessão econômica, inflação alta, desestruturação produtiva e desemprego. Oxalá, o pragmatismo tenha vindo mesmo para ficar e a experimentação ideológica tenha ficado pelo caminho.

Resta, mais uma vez, saudar a conversão, ainda que tardia, do petismo ao modelo econômico que dá certo. Bem-vindo, PT, de novo às privatizações! Quem sabe desta vez os petistas acertem, porque o Brasil não aguenta mais tantos experimentos mal sucedidos de tantos aprendizes de feiticeiros.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

As privatizações, de novo

O governo apresenta hoje, de novo, mais um programa de concessões de obras de infraestrutura. É mais uma tentativa de fazer decolar as privatizações às quais o PT tanto demonizou durante sua existência. A iniciativa busca, sobretudo, virar na marra a página da crise econômica. Este filme nós já vimos: não é novo, nem termina bem.

Em boa medida, o pacote da hora é composto de projeto reciclados que não deram certo. A maior parte é rescaldo do megapacote lançado em agosto de 2012 e que se revelou rotundo fiasco: apenas uma de cada quatro obras vingou. Dos R$ 241 bilhões anunciados três anos atrás, R$ 186 bilhões não passaram de fumaça – é praticamente o mesmo valor do programa atual.

Foi em fevereiro de 2012 que o PT começou a dar a mão à palmatória, ao privatizar, com sucesso, três aeroportos – outros dois foram concedidos depois. Depois obteve algum êxito com rodovias, mesmo assim apenas após ter abandonado dogmas ideológicos e esquisitices regulatórias. Com ferrovias e portos, porém, o resultado foi nulo, zero.

A maior parte das tentativas anteriores não decolou porque o governo petista nunca aceitou de verdade a privatização como melhor solução para nossos imensos problemas logísticos. O vezo estatizante e a aversão ao ganho privado produziram ruínas.

Além das rodadas anteriores de concessões, outras iniciativas “desenvolvimentistas” também falharam, como o PAC. Da mesma matriz, há o desmanche do setor elétrico e a desintegração da indústria naval, que não resistiu à política de conteúdo local.

Pelo caminho foram ficando ideias fracassadas, como a busca pela menor tarifa (só assegurada pelo crédito camarada do BNDES), a participação obrigatória da falida Infraero nos leilões de aeroportos e o esdrúxulo tabelamento das taxas de retorno.

Os governos do PT têm se mostrado absolutamente incompetentes quando o assunto é incentivar o investimento privado e promover o público. O nível de investimento neste ano será o menor desde 2003, informa O Globo. Só para manter a infraestrutura atual seria necessário aplicar 2,1% do PIB ao ano, mas não passaremos de 1,75% em 2015.

Agora, para tentar viabilizar os negócios, o governo deve rever condições dos contratos que interessam diretamente aos usuários, como a duplicação das rodovias nos cinco primeiros anos. Obras, porém, só lá por meados do ano que vem – das 15 rodovias do programa, 11 ainda não têm sequer estudos prontos. O pacote também mantém excentricidades: a ferrovia Transoceânica agora ocupa o lugar que era do trem-bala...

Desde o início, a oposição saudou a conversão petista às privatizações. Mas não basta apenas converter-se; é preciso o governo exibir alguma eficiência. Até agora, foram anos perdidos em que a infraestrutura do país se deteriorou por completo e minou de vez a competitividade nacional. Não basta querer virar a página; é preciso fazer o que está no papel tornar-se realidade.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Economia intoxicada

A economia brasileira vive hoje sob os efeitos tóxicos da farra que o PT promoveu nos últimos anos a fim de esticar sua estadia no poder federal. Os desequilíbrios são de variadas ordens, vitimam a produção e, cada vez com mais força, o emprego.

Os remédios administrados por Dilma Rousseff e sua equipe neste segundo mandato já conseguiram congelar a atividade produtiva, deprimir o mercado de trabalho e desestimular tanto o investimento quanto o consumo. Só não lograram êxito em tourear a inflação e reavivar a confiança na recuperação do país.

Na semana passada, mais uma dose do veneno que a equipe da presidente injeta na economia foi aplicada. O Banco Central determinou mais uma alta na taxa básica de juros, a sexta consecutiva após as eleições. Pratica-se agora o mesmo nível da época da crise econômica global de 2008/2009.

A Selic, que ficou estacionada em 11% ao ano durante toda a campanha eleitoral, desde então já saltou para 13,75%. Ninguém acredita que pare aí, consolidando o Brasil na condição de país que pratica as mais altas taxas em todo o mundo – a segunda colocada, a Índia, opera com praticamente a metade do nosso juro real.

Não é o BC que está errando em persistir nesta anomalia. É a economia brasileira que, levada pelos petistas pela mão, se embrenhou em um beco sem saída, em que a produção cai, o desemprego aumenta e a inflação não cede. Trata-se do modelo econômico de proveta que tornou o Brasil caso quase ímpar no mundo.

Os efeitos nefastos do arrocho estão visíveis por toda parte. No mesmo dia em que o BC decidiu aumentar a Selic, o IBGE revelou que o desemprego continua sua marcha batida ascendente. Medida no trimestre terminado em abril, a taxa média já chega a 8%, a mais alta desde 2012.

No detalhe, o quadro é ainda mais assustador. O exército de desempregados cresceu 1 milhão em um ano; o de trabalhadores por conta própria também aumentou na mesma magnitude. O mercado de trabalho está cada vez mais precário.

A inflação que os juros buscam, mas não conseguem, aplacar é a mesma que corrói os salários dos trabalhadores. Em abril, mês em que tradicionalmente o mercado de trabalho reagia, a renda média caiu 0,4%, e vai continuar a mergulhar.

Um governo que se notabilizou por torrar irresponsavelmente o dinheiro público – que agora escasseia até mesmo para ações sociais – se vê sem alternativas sadias para conquistar uma credibilidade de que não dispõe. Juros são das poucas armas que lhe sobram, ainda que letais. Resta saber quem vai ficar pelo caminho e quem vai sobreviver.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Ainda só uma fresta na caixa preta

Durante anos o BNDES manteve pesado sigilo sobre as suas operações de empréstimos e financiamentos. Ontem, finalmente, depois de muito ser cobrada e sempre ter resistido, a instituição financeira admitiu começar a jogar um facho de luz sobre sua atuação. As primeiras análises mostram que o banco só é bom para poucos, principalmente quando atua no exterior.

Apenas cinco grandes empreiteiras concentram 99,4% das operações financiadas no exterior, que perfazem US$ 11,9 bilhões desde 2007. Não por coincidência, são as mesmas empresas que figuram nos primeiros lugares das listas de doações eleitorais ao PT e aos principais partidos no governo.

Os privilégios também se estendem a uma casta de países. Angola e Venezuela abocanham 48% das operações feitas fora do Brasil nos últimos oito anos. Em geral, são beneficiadas por condições muito mais camaradas do que as franqueadas a operações feitas aqui dentro empregando brasileiros.

Obras como o corredor rodoviário construído pela Andrade Gutierrez em Gana pagam juros anuais de 2,8%. Na Venezuela, a taxa varia de 3,45% a 4,45%. É de pai para filho.

Cuba paga um pouco mais, mas obteve as condições mais camaradas em termos de prazo para quitar os empréstimos feitos para construir o porto de Muriel: 25 anos, ante média de 15 nos demais contratos. Porto similar feito no Brasil (o Sudeste, de Eike Batista) teve condições bem piores de prazo e juros muito mais altos.

A situação da ilha é exemplar das escolhas arbitrárias feitas pelo governo petista e aplicadas pela direção do BNDES nos últimos anos. Se fosse observado o risco de crédito do governo cubano, que sequer consegue acessar o mercado global, os juros cobrados pelo Brasil teriam que ser pelo menos duas vezes maiores. Além disso, a garantia de operações como as de Cuba são fundos orçamentários do próprio governo brasileiro.

É salutar que o BNDES comece a abrir sua caixa preta. Mas a transparência precisa avançar. O sigilo – baixado por Fernando Pimentel quando ministro de Desenvolvimento – ainda se mantém em relatórios internos sobre as operações e nas justificativas elencadas pela instituição para embasar as condições dadas nos financiamentos.

O importante é que as operações do banco respondam a, pelo menos, duas perguntas básicas: quem está pagando pelas condições privilegiadas ofertadas a uns poucos escolhidos? Que benefícios estas operações, feitas com montanhas de dinheiro público, estão trazendo para a sociedade brasileira? 

Enquanto pairarem dúvidas a respeito, o BNDES ainda estará longe de ser um “livro aberto”, como a publicidade oficial oportunisticamente agora apregoa.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

De bicicleta, pedalando a crise

Dilma Rousseff pedalando nos arredores do Palácio da Alvorada é um ótimo retrato da crise econômica no país. A presidente exercita-se alheia aos problemas, montada numa bicicleta que pouquíssimos brasileiros podem comprar, fabricada – como acontece cada vez mais com produtos industrializados – fora do Brasil.

As bicicletas da marca Specialized são o suprassumo para quem gosta de pedalar. Fabricadas nos EUA e revendidas no mundo todo, estão para o imaginário dos ciclistas assim como a Harley-Davidson está para os aficionados por motos. O Brasil dos dias atuais não tem condições de produzir tais maravilhas.

Assim como a indústria em geral, a produção interna de bicicletas tomba. Até o ano passado havia caído uns 30% na comparação com 2007. Em contrapartida, as importações crescem na mesma intensidade, de acordo com a Abraciclo. As boas bicicletas vêm de fora. O ciclismo é um microcosmo do que acontece com a indústria brasileira atual.

Hoje cedo o IBGE divulgou o desempenho do setor industrial nacional no mês de abril. O resultado confirma o previsto: a partir de agora o paradeiro na economia será muito mais intenso. A indústria brasileira recuou pelo décimo-quarto mês consecutivo e só neste ano já encolheu 6,3%. Ninguém crê que pare por aí.

Dizer que a indústria é o patinho feio da nossa economia já deixou de ser novidade. Além disso, a revoada também aumentou. Agora também o setor de serviços está em crise e só a agropecuária mantém-se em expansão. Isto do lado da oferta; do da demanda, cai tudo.

Na verdade, hoje o Brasil dispõe de uma indústria nanica. O segmento de transformação, mais dinâmico e modernizador, corresponde atualmente a apenas 10% do PIB. Três anos atrás, a fatia retrocedera ao nível do governo JK; equivalia então a 14,6%. Foi um deus nos acuda. Agora fomos mais fundo no túnel do tempo e voltamos à pré-história da industrialização brasileira.

Produzir no país é cada vez mais difícil, caro. Nos últimos anos, a política oficial optou por dar as costas ao mundo, em favor de supostos privilégios ao produto local. A consequência está se vendo: quase ninguém sobreviveu à estratégia suicida do PT. É preciso transpor esta emboscada. Basta olhar o que fazem os países que ora vão bem no mundo.

O que o Brasil precisa é integrar-se mais às cadeias de produção articuladas pelos grandes conglomerados empresariais ao redor do mundo. Atrelar a produção local às linhas globais e não isolá-la, artificial e mortalmente, do resto do planeta. 

O nome do jogo é política externa ativa e agressividade comercial, e não diplomacia companheira e política industrial capenga. Andando na sua bela bicicleta importada, Dilma Rousseff não nos leva a nenhum dos lugares aonde o país precisa chegar. 

terça-feira, 2 de junho de 2015

Investir, alguém se atreve?

A recuperação da economia brasileira será lenta, demorada e longínqua. Por ora, a situação apenas começou a se deteriorar, com perspectivas muito sombrias pela frente. O mais desalentador é que os motores com alguma capacidade para reavivar a atividade estão sendo desligados e devem permanecer por longo tempo em ponto morto.

Entre os principais aspectos da retração do PIB divulgada pelo IBGE na sexta-feira, um desperta especial preocupação: o baque acentuado dos investimentos. Em relação ao primeiro trimestre do ano anterior, a queda foi de 1,3%. São sete baixas trimestrais consecutivas nesta base de comparação, na pior sequência de resultados negativos deste indicador desde 1996.

Tanto o setor público – sem o dinheiro esbanjado nos últimos anos – quanto as empresas privadas pararam de investir, estas com carradas de razão. Trata-se de reação natural de quem não enxerga as atuais condições do país com um mínimo de confiança. E não são apenas as econômicas, mas também as sociais e políticas. Não há luz no fim do túnel.

Segundo levantamento da Inter.B, publicado na edição de hoje d’O Estado de S. Paulo, os investimentos devem cair quase 20% neste ano. Em termos mais concretos, serão R$ 25 bilhões a menos do que em 2014, comprometendo empreendimentos de infraestrutura, mobilidade e saneamento.

Se a previsão se confirmar, o nível de investimentos em percentual do PIB deste ano será o mais baixo desde 2003 e o mesmo de 2007, ano em que o PAC foi lançado pelo PT. É mais uma confirmação de que o programa que deveria “acelerar o crescimento” do país nunca passou de pirotecnia.

Não é preciso investigar muito para entender por que um país tão carente da modernização de sua infraestrutura simplesmente não investe. Da parte do governo, falta convicção em soluções amplamente conhecidas, mas igualmente esnobadas pelas gestões petistas, como as privatizações. O programa lançado em 2012, e ora em processo de reempacotamento, não cumpriu sequer um quarto de suas metas.

Também colabora para a má situação a falta de um ambiente adequado aos negócios, que equilibre o incentivo ao capital privado com a necessária melhoria da qualidade dos serviços ofertados à população. A melhor tradução disso é o estado de penúria em que foram colocadas as agências reguladoras, como mostra o Valor Econômico em sua edição de hoje.

Para completar esta mistura indigesta, a roubalheira que envolveu estatais e empreiteiras ora sob investigação da Operação Lava Jato também convergiu para brecar os negócios. Sem a alavanca dos investimentos, o país terá muito mais dificuldades para inaugurar um novo ciclo virtuoso de desenvolvimento. Não há mal que nunca acabe, mas livrar-nos da pindaíba atual vai nos tomar um tempo que não podíamos desperdiçar.