sábado, 25 de julho de 2015

A mão que afaga

Durante seus 35 anos de existência, o PT sempre manteve pelo menos um traço de coerência: apostou na divisão do país para travar a luta política e, quando já estava no governo, abusou da cizânia como arma eleitoral e instrumento de perpetuação no poder. Agora, que o governo Dilma está nas cordas, os petistas acenam com diálogo. Qual PT é o verdadeiro?

Nos últimos dias, com a situação política, econômica (cuja cereja do bolo foi a nova meta de déficit prevista para este ano), social e ética do país atingindo níveis de deterioração nunca antes vistos, os petistas puseram para circular a versão de tanto Lula quanto Dilma buscam diálogo com a oposição, mais especificamente com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em favor da “governabilidade”. Agora governadores também seriam alvo deste “pacto”, segundo o Valor Econômico.

Sim: debater o país, buscar as melhores alternativas de forma suprapartidária e republicana são práticas desejáveis e típicas de democracias e de democratas maduros. São, no entanto, tudo o que o PT jamais fez nos seus 35 anos de história e, principalmente, nos 13 anos no poder até agora.

Foram anos em que o PT reiteradamente provocou o embate, estimulou a divisão, recusou a opinião crítica (qualquer uma), atacou instituições e transformou adversários em inimigos. Agora, quando o calo aperta de vez, a postura muda num passe de mágica. Será?

Quem por acaso tiver alguma dúvida deveria revisitar os discursos de Lula tanto quando presidente – em que tudo acontecia no Brasil como “nunca antes na história” – e também quando, depois de sair do Planalto, aboletou-se sobre palanques pelo país afora e manteve-se em sua campanha permanente.

Quem ainda alimentar alguma suspeita sobre em qual PT deve-se acreditar, pode gastar horas assistindo aos programas de TV da presidente Dilma na campanha do ano passado ou revendo suas frases ensaiadas para serem repetidas nos debates presidenciais, segundo as quais o problema do Brasil do presente estava sempre no passado.

Fernando Henrique foi o anátema desta estratégia. Tudo de ruim que possa ter ocorrido no Brasil nos últimos 20 anos foi sempre creditado a ele pela narrativa petista. Nas campanhas eleitorais do PT, culminando com a mais torpe delas, a do ano passado, o ex-presidente foi sempre retratado como o Judas a ser malhado pelas agruras – principalmente as atuais – dos brasileiros.

Depois de anos de distorção e mentiras, agora, num passe de mágica, o PT transforma Fernando Henrique no esteio da governabilidade. Das duas, uma: Ou os petistas estão finalmente reconhecendo a importância de fato do ex-presidente para a história contemporânea do país ou estão, mais uma vez, exercitando seu conhecido oportunismo. Em que PT apostar?

Ao mesmo tempo em que assopra, o partido de Lula e Dilma morde. Ao mesmo tempo em que põe para circular a tese do diálogo, o velho PT de guerra prepara, junto com seus satélites, vários atos ao longo de agosto para tentar tachar, segundo a Folha de S.Paulo, de “antidemocráticas” e “golpistas” as manifestações de insatisfação em relação ao governo petista programadas para o próximo dia 16. Qual PT vale?

Ao mesmo tempo, Lula também planeja correr o Nordeste para defender-se e ao governo – provavelmente expiando a culpa pela penúria atual nos bodes de sempre e não na gestão de sua pupila. Em quem confiar: em quem diz buscar diálogo ou em quem vocifera contra os adversários em reuniões quase diárias pelo país afora?

No mesmo momento, petistas no governo também tentam modificar critérios para aplicação de verbas publicitárias oficiais de maneira a privilegiar veículos alinhados ao petismo, em detrimento de parâmetros técnicos de alcance e audiência. Em quem apostar: nos que acenam com equilíbrio ou em quem ensaia manipular recursos públicos para – novamente – tentar cercear a imprensa?

A história é boa conselheira e pode servir sempre para iluminar o presente e ilustrar decisões e opiniões. O país quer ver saídas, desde que expressem um sentimento verdadeiro. Não é, por toda a história pregressa, o comportamento de quem até hoje agiu sempre de maneira contrária ao que agora acena. A história ensina: a mão que afaga é a mesma que apedreja.

Esta publicação será temporariamente suspensa durante a próxima semana. Voltaremos a circular normalmente no dia 4 de agosto.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Eles não sabem o que fazem

Durou pouco a fantasia de que a gestão petista passaria a ser mais cuidadosa na gestão do dinheiro público. Não foram necessários nem sete meses para que as metas fiscais deste e dos próximos anos fossem abandonadas pelo caminho. A sensação deixada pelas mudanças anunciadas ontem é de um governo que não tem a mais pálida ideia do que está fazendo, de um governo que não honra compromissos.

O governo cortou a meta de superávit a ser perseguida neste ano a quase um décimo do que era: caiu de 1,1% do PIB para 0,15%. Mas nem isso está assegurado. Numa ressurreição da alquimia fiscal que vigorou nos últimos anos, a gestão petista também quer aval para, caso novas medidas arrecadatórias se frustrem, poder fechar a contabilidade no vermelho. E a presidente Dilma ainda quer que as contas de quem cuida de orçamento público com tal zelo sejam aprovadas pelo TCU...

Em termos mais concretos, o governo antes prometia economizar R$ 66 bilhões para reduzir a dívida pública. Agora diz que só consegue alcançar R$ 8,7 bilhões, mas, dependendo do que conseguir fazer na economia, pode até mesmo fechar o ano com um déficit de R$ 17,7 bilhões. Na realidade, hoje a meta de verdade é o rombo. Se qualquer dona de casa fizer conta assim, não põe comida na mesa dos filhos.

As metas dos próximos anos também foram desidratadas (para 0,7% em 2016 e 1,3% em 2017). Com isso, a dívida pública, que já havia subido mais de dez pontos do PIB com Dilma, vai continuar aumentando – e se tornará a maior entre os emergentes, perto de 70% do PIB. Na melhor das hipóteses, o país estará sempre a um passo de perder o grau de investimento.

O relaxamento das metas fiscais não veio sozinho. O governo também manteve a marcha do arrocho e cortou mais R$ 8,6 bilhões do Orçamento da União deste ano. Todos os ministérios serão atingidos, mas, se prevalecer o que ocorreu no início do ano, as áreas sociais devem ser novamente as mais afetadas pela tesoura.

Joaquim Levy sofreu mais uma derrota na luta interna. A anterior fora em maio na definição dos cortes orçamentários, que vieram abaixo do que ele pretendia. Com isso, o sopro de renovação que o ministro da Fazenda poderia representar se dissipou. Prepondera a equipe econômica que patrocinou a “nova matriz” que afundou o Brasil no atoleiro da recessão (oficialmente, o governo já admite queda de 1,5%), da inflação alta e da ineficiência.

As decisões anunciadas ontem permitem prever que o arrocho não passará tão cedo e a recessão será ainda mais prolongada. A penúria não será de curto prazo e a recuperação da economia é apenas miragem distante no horizonte dos brasileiros. É como se o segundo governo da presidente se apagasse um pouco mais, e bem antes da hora. A travessia só vai acabar quando Dilma Rousseff se for de vez.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Poço sem fundo

Nunca antes na história, uma presidente da República foi tão rejeitada pelos brasileiros. Um misto de decepção, desalento e desconfiança ronda o humor da população, diante dos rumos que o PT vem imprimindo ao país. Falta pouco para Dilma Rousseff tornar-se unanimidade, que hoje ampla maioria já preferiria ver pelas costas.

A nova rodada da pesquisa feita pelo instituto MDA sob encomenda da CNT revela que apenas 7,7% aprovam o governo atual. É a mais baixa taxa já aferida pelo instituto, cuja série começa em 1998. Na ponta contrária, nada menos que 71% consideram a gestão de Dilma ruim ou péssima. A desaprovação pessoal à presidente abrange 80% dos brasileiros.

O governo luta para carimbar críticas e o descontentamento com a atual administração como “golpismo” de quem quer se ver livre da presidente antes da hora. Mas basta percorrer as ruas para aferir o sentimento vívido de desaprovação às práticas correntes e de clamor pela responsabilização de quem levou o país para o atual beco em que se encontra.

Segundo o MDA, praticamente dois de cada três brasileiros são favoráveis ao impeachment da presidente – em março eram 60%; hoje são 63%. Não se trata de opinião ao léu. A pesquisa mostra que, para 44%, a mistura de corrupção na Petrobras, manipulação das contas públicas e irregularidades nas contas de campanha dariam motivo suficiente para o afastamento de Dilma do cargo.

Não há sinal de melhora no horizonte para a petista. Quase 85% da população – ou seja, quase nove em cada dez – considera que ela “não está sabendo lidar com a crise econômica”. Cada vez mais, os principais temores dos brasileiros são a perda do emprego, o aumento do custo de vida e as dívidas a pagar.

Os novos cortes orçamentários que o governo deve anunciar hoje, segundo os jornais desta quarta-feira, tendem a potencializar o arrocho e aumentar a penúria da população. Além disso, a revisão da meta fiscal reforça a sensação de um governo oscilante, incapaz de alcançar objetivos a que se propõe.

A pesquisa também desnuda a erosão da popularidade do tutor da atual presidente. Assim como Dilma, Lula também é visto como culpado pela corrupção na Petrobras. Numa eventual disputa pela presidência da República, o petista seria derrotado num segundo turno pelos três tucanos que já disputaram o cargo. A vantagem mais larga é obtida pelo senador Aécio Neves.

Dilma, Lula e o PT colhem hoje a reprovação da população por escolhas equivocadas, por práticas danosas e, sobretudo, pela propaganda enganosa que venderam aos brasileiros nos últimos anos, culminando com a sórdida campanha eleitoral que deu mais quatro anos de mandato à presidente. O sentimento presente nas pesquisas de opinião – a da CNT/MDA é apenas mais uma a coadunar a mesma percepção – são a expressão legítima de repúdio da população ao modo petista de governar.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Sinais da crise

É mais que sabido que as perspectivas para a economia brasileira para este ano não são nada boas. Mas a crise tem se revelado mais grave do que se previa e anuncia-se agora mais extensa do que se temia. É a pior recessão que o país atravessa em mais de duas décadas, sem que se consiga enxergar qualquer lume no fim do túnel.

Assim como o primeiro, o segundo trimestre foi perdido em termos de atividade econômica. Ainda não se conhecem os dados oficiais do IBGE, que só virão a público em fins de agosto, mas a prévia divulgada pelo Banco Central na semana passada, cobrindo o período até maio, mostra que a situação do país é bem ruim.

Nos cinco primeiros meses do ano, o PIB brasileiro ficou 2,6% menor em relação ao mesmo período do ano passado. Em 12 meses, a queda é de 1,7%. De janeiro a maio, houve três quedas mensais e duas altas – a última em maio, de irrisório 0,03%.

Na decomposição do paradeiro, constata-se que todos os setores estão andando para trás, algo que há muito tempo não ocorria no país. A indústria – também não é novidade – derrete, com baixa de quase 9% na produção registrada no ano; há 44 meses, o emprego no setor cai. As vendas do varejo diminuem 2%, indicando a penúria da crise no bolso dos consumidores. E os investimentos, tanto públicos, quanto privados, minguam.

Com isso, a aposta predominante é de que a economia brasileira recue até 2% neste ano. O resultado fará com que o Brasil seja um dos poucos países do mundo a registrar recessão, de acordo com levantamento feito pelo FMI. Trata-se de seleto clube do qual ninguém gostaria de ser sócio.

Ele é composto por: Guiné Equatorial (-15,4%), Serra Leoa (-12,8%), Venezuela (-7%), Ucrânia (-5,5%), Vanuatu (-4%), Rússia (-3,4%), Belarus (-2,3%), Iêmen (-2,2%), Brasil (-1,5%), Libéria (-1,4%), Moldávia (-1%), Armênia (-1%), Brunei (-0,5%), Sérvia (-0,5%), Argentina (-0,3%) e Guiné (-0,3%).

Diante do tamanho do estrago deste ano, um grupo de bancos e consultorias ouvidos por O Estado de S. Paulo na semana passada passou a projetar recessão também no ano que vem, com queda de até 0,6% no PIB.

Na prática, o país se ressente das escolhas equivocadas dos governos petistas, iniciadas por Lula e aprofundadas com Dilma. A correção de rumos em marcha não se mostra capaz de modificar as perspectivas para melhor, uma vez que se baseia num arrocho fiscal rudimentar, calcado no corte de benefícios sociais, diminuição de investimentos públicos e aumento de impostos.

A economia brasileira clama por reformas que oxigenem o ambiente de negócios no país, ampliem a participação do investimento privado nas necessárias obras de infraestrutura e reatem as empresas sediadas aqui às cadeias de produção de caráter global. Trata-se de uma agenda que, sem sombra de dúvida, os governos do PT não têm atributos para cumprir.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Metas nunca cumpridas

Há um traço que acompanha o governo Dilma desde seu primeiro dia: jamais entrega o que promete. O histórico de frustrações vai do crescimento do PIB até a produção de petróleo, chegando aos objetivos fiscais, agora novamente em vias de serem revistos. Como acreditar em qualquer compromisso que este governo diz assumir?

A austeridade fiscal deveria marcar o segundo mandato da presidente, ou pelo menos o seu início. Mas a miragem não durou seis meses. Desde maio, começaram as discussões sobre a possível mudança – para menor – das metas de superávit fiscal deste e dos próximos anos. Tudo indica que, dentro de mais alguns dias ou semanas, elas irão ser reduzidas.

Desde o início, a meta fixada para este ano (1,2% do PIB) era considerada irrealizável por analistas. A realidade comprovou: o saldo fiscal conquistado no primeiro semestre deve ter ficado próximo de zero, para uma meta de R$ 66 bilhões no ano.

A recessão mais profunda na qual o país mergulhou tornou-a ainda mais difícil de ser alcançada. A economia já derreteu 2,7% até maio, de acordo com o Banco Central, e as receitas com tributos caem quase 3% no ano.

Uma das alternativas em discussão é a adoção de uma banda para o resultado fiscal. O superávit poderia oscilar em torno de um ponto definido, para mais ou para menos, como acontece com a inflação.

Assim como acontece com a inflação, a tendência de um governo leniente como é o caso da gestão da presidente Dilma sempre será aninhar-se nos patamares mais cômodos – mais altos no caso dos preços, mais baixos no caso fiscal.

Ruma, portanto, para produzir resultados incapazes de trazer qualquer expectativa de mudança à balbúrdia fiscal que se tornou norma na administração petista. Neste cenário, aumentam as chances de o Brasil ver-se rebaixado à condição de mau pagador, vendo encarecer seu crédito internacional.

Estas idas e vindas ilustram, de fato, a incapacidade do atual governo de planejar, traçar objetivos e alcançá-los. Tome-se quaisquer áreas de atuação pública e verifique-se se Dilma entregou o que prometeu. Nada, rigorosamente nada, foi cumprido conforme os compromissos: da inflação ao emprego, do crescimento ao ajuste fiscal.

A Petrobras, por exemplo, jamais produziu petróleo nos níveis traçados em seus planos de negócio. O PAC há muito deixou de entregar a miríade de promessas que alardeava. O PIB brasileiro, que deveria avançar até 5% segundo as projeções traçadas pela presidente e sua equipe em 2011, tem hoje um dos piores desempenhos do mundo.

Para complicar, a provável mudança na meta fiscal expõe a divisão interna entre facções do governo petista, numa hora em que o que se esperava era um mínimo de consenso. É o retrato de um governo que não inspira credibilidade e não exibe capacidade de execução. Um governo à beira do precipício.

sábado, 18 de julho de 2015

Lula, a sua hora chegou

Luiz Inácio Lula da Silva é, desde o último dia 8, alvo de investigação criminal aberta pela Procuradoria da República no Distrito Federal. Chegou a hora de o ex-presidente responder pelo balcão de negócios que, com sua ascensão à presidência da República, o PT armou no poder e transformou o governo federal num antro de corrupção.

Lula é investigado por crime de tráfego de influência, sob a suspeita de ter ajudado a Odebrecht, uma das principais envolvidas no escândalo da Operação Lava-Jato, a obter contratos no exterior financiados com dinheiro do BNDES. O Código Penal estipula pena de dois a cinco anos de reclusão para quem for condenado.

A abertura de investigação já é um passo adiante na apuração sobre a atuação do petista. Em maio, diante de suspeitas publicadas na imprensa, a Procuradoria havia solicitado informações a diversos órgãos e agora, com o que recebeu como resposta, resolveu transformar o procedimento preliminar numa investigação criminal formal. Lula, sua batata está assando...

O ex-presidente voou nas asas da Odebrecht para diversos destinos ao redor do mundo. Entre os já sabidos estão Cuba, Venezuela, República Dominicana, Angola e Panamá – justamente aqueles melhor aquinhoados com os empréstimos camaradas do BNDES nos últimos anos. Entre início de 2011 e fim de 2014, há 38 registros de saída de Lula do país.

O total de dinheiro emprestado pelo BNDES para obras da Odebrecht fora do Brasil soma R$ 31,3 bilhões, segundo a Folha de S.Paulo. As operações do banco ligadas à empresa no exterior atingem US$ 9,5 bilhões. Pelo visto, o investimento da empreiteira na contratação da mãozinha do ex-presidente compensou...

Em companhia de Lula nas viagens estava Alexandrino Alencar, ex-diretor da Odebrecht hoje preso sob a acusação de movimentar pagamentos de propinas no exterior. Na investigação aberta pela Procuradoria, o petista pode ter seu sigilo quebrado e ser alvo de busca e apreensão. Há muito mais a elucidar.

No início de junho, já haviam vindo a público pagamentos feitos pela Camargo Correa ao Instituto Lula e à empresa do ex-presidente, a LILS. Documentos apreendidos pela Lava-Jato registram repasses de R$ 4,5 milhões a título de “bônus eleitorais”, “contribuições e doações”. O petista também é alvo de mais duas investigações da mesma Procuradoria no DF relacionadas ao mensalão. Lula tem muito a esclarecer perante a Justiça.

O estado atual de degradação em que o país foi posto tem as nove digitais – e muito mais – de Luiz Inácio Lula da Silva. Que as investigações da Procuradoria da República avancem e ganhem em breve, também, o auxílio da tão aguardada CPI que a oposição tenta criar no Congresso para descobrir como e onde, afinal de contas, foram parar os bilhões de reais dos brasileiros que o BNDES movimentou de forma suspeita nos últimos anos a mando de Lula e do PT.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Na bacia das almas

O governo do partido que sempre demonizou as privatizações está promovendo um mega-saldão de ativos da principal joia da coroa, a Petrobras. Nas últimas semanas, a estatal tem divulgado que pretende vender empresas e negócios importantes para fazer frente ao assombroso desmanche de que vem sendo vítima nas mãos do PT.

Acontecerá com a empresa agora, com o PT, o que nunca antes na história aconteceu: a venda e privatização de ativos relevantes, em montante que equivale a tudo o que foi privatizado em âmbito federal no país durante todo o governo Fernando Henrique. Os bens postos à venda somam US$ 57,6 bilhões.

Para se ter noção da queima de ativos que está sendo patrocinada pelo PT, a cifra pretendida é similar ao atual valor de mercado da Petrobras. Além disso, para fazer frente à penúria, a estatal teve que diminuir em 37% os investimentos planejados até o fim da década. Serão US$ 77 bilhões a menos, o que significa uma média anual de corte que equivale a tudo o que o governo federal destinou para o PAC no Orçamento da União deste ano.

A lista da queima é extensa. Na bacia das almas, deve entrar até a venda de uma parte das gigantescas reservas do campo de Libra. Cogita-se desfazer de 10% de participação no bloco, arrematado pela Petrobras em consórcio em outubro de 2013 no único leilão do pré-sal realizado até agora. Antes, o governo petista dizia que estes ativos eram intocáveis...

O mais novo ativo da xepa das privatizações é a TAG, empresa subsidiária por meio da qual a Petrobras controla sua malha de 6,5 mil km de gasodutos. Entre as alternativas está a venda de até 80% de sua participação na empresa, ou seja, a sua privatização.

No rol do queimão já estavam a Gaspetro, que reúne participações da estatal em concessionárias estaduais de gás, e a BR Distribuidora, dona da maior rede de postos de combustíveis do país. Também engordam a lista termelétricas, fábricas de fertilizantes, ativos dos setores petroquímico e de biocombustíveis.

O mega-saldão da Petrobras acontece no momento em que o mercado está desfavorável, com as cotações do barril em queda, baixa na demanda e superoferta de ativos. Ontem, por exemplo, o governo mexicano fez a primeira licitação de áreas de exploração do país em quase oito décadas. Foi um fracasso, com apenas 14% das áreas arrematadas.

Na prática, a Petrobras sofre as consequências da pilhagem de que vem sendo vítima nos últimos anos e o país se ressente da adoção de um modelo de exploração que alquebrou o setor de petróleo, paralisou investimentos, freou a atividade e ora deságua em milhares de desempregados. É o preço de escolhas politiqueiras e equivocadas tomadas pelo PT.

O desmonte da Petrobras joga definitivamente por terra o discurso eleitoreiro que os petistas usaram durante várias campanhas, mas, pior que isso, compromete importante patrimônio dos brasileiros. Privatizar é a alternativa correta para economias que buscam ser saudáveis. Vender ativos na bacia das almas, contudo, é péssimo negócio.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Tudo por dinheiro

A atual política econômica está fracassando no principal objetivo a que se propôs: recuperar o equilíbrio nas contas públicas para restaurar a credibilidade do país. Na tentativa desesperada de impedir que a meta fiscal traçada para este ano vá para o brejo mais cedo do que se poderia imaginar, a equipe da presidente Dilma está raspando todos os tachos que encontra pela frente para levantar dinheiro. Vale tudo, ou quase tudo.

A meta de superávit para este e o próximo ano tornaram-se objetivo de disputa renhida dentro do governo. Uns querem mantê-la, mesmo com todas as evidências de que a gestão petista, mais uma vez, fracassará no intento; outros defendem abrandá-la, sob alegação de que o arrocho vai acabar matando o paciente. Ambos concordam que, até agora, a gestão Dilma passou longe do objetivo de recuperar solidez para o país.

Até maio, último resultado disponível, apenas 12% da meta traçada para o ano – um superávit de R$ 66 bilhões – foi alcançada. Com a economia derretendo, a arrecadação despencando e os gastos correntes mantidos intocados, não é minimamente crível que o quadro se reverta naturalmente até dezembro. Assim, a saída tem sido lançar mão de todo dinheiro que possa estar ao alcance do governo.

A mais nova proposta sacada da algibeira é a que busca repatriar recursos que foram enviados por brasileiros para o exterior em decorrência de evasão de divisas, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. Estima-se que até R$ 150 bilhões poderiam ser obtidos assim. O governo garante que as regras só permitirão que sejam regularizados recursos lícitos, mas sabe-se lá se, depois da anistia, onde passar um boi sadio não virá uma boiada cheia de carrapatos...

Na xepa do momento também entra a venda da folha de pagamentos da União para bancos, a cobrança de bônus na relicitação de usinas expropriadas em decorrência da MP 579 e, cereja do bolo, o aumento dos impostos cobrados de prestadores de serviços, que correm risco de serem superonerados com a nova sistemática do PIS-Cofins. A venda de ativos da Petrobras na bacia das almas também ajuda a levantar mais algum dinheirinho.

Para engordar o superávit fiscal deste ano, vale, ainda, improvisar, aprovando a tapa no Senado o projeto que aumenta as alíquotas incidentes sobre a folha de salários, com a promessa de, logo logo, voltar a alterar as regras e abrandar as condições para mais alguns setores – escolhidos por uma comissão especial de parlamentares, sabe-se lá com quais critérios.

As iniciativas da presidente e sua equipe para recuperar a economia e recolocar o país no prumo recendem improviso e não inspiram confiança. Também não denotam persistência, não exibem consistência e parecem balançar ao sabor dos ventos. Em clima de liquidação, vale tudo por mais alguns trocados, logo consumidos da mão para a boca. Provavelmente, em vão.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Pedalar é uma coisa; fraudar é outra

O governo pôs ontem uma tropa de choque na rua para sustentar que, na lambança fiscal que a gestão Dilma promoveu nos últimos anos, fez o que todo o mundo faz. É o mesmo argumento surrado que os petistas costumam assacar quando são pegos com a boca na botija. Pera lá: uma coisa é pedalar; outra, bem diferente, é fraudar as contas públicas.

A alegação oficial é de que as chamadas “pedaladas” são prática antiga na administração federal e remontam à época do governo tucano. Trata-se de um claro desvio de foco. 

O que o Tribunal de Contas da União está analisando, e tende a rejeitar em uníssono, não são atrasos pontuais em pagamentos ou transferências, mas algo muito mais grave: a reiterada burla fiscal patrocinada pelo governo Dilma e transformada em método de gestão pelo PT.

A principal ilegalidade cometida pela presidente da República no ano passado foi tomar emprestado bilhões de reais de bancos públicos para socorrer o Tesouro e fechar as contas. A Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe expressamente tal procedimento. E por quê? Porque no passado ele levou governos e instituições financeiras públicas ao buraco, estraçalhadas pela irresponsabilidade de governantes.

Além disso, o TCU encontrou, nas prestações de contas de 2014, atos da presidente que colidem frontalmente com o que deve ser a boa prática fiscal. Em novembro do ano passado, as contas públicas já estavam estouradas e, segundo prevê a lei orçamentária, o governo deveria determinar um corte de despesas. Dilma, ao contrário, autorizou de próprio punho aumento dos gastos. Não pode.

Numa manobra diversionista, o governo atém-se a aspectos menores do problema, a saber: atrasos nos pagamentos de um mês para o outro. Eventuais descasamentos podem até ocorrer – e ocorrem – na administração pública. Mas não é este o ponto em discussão, embora no ano passado tais atrasos tenham tomado proporções bilionárias nunca antes vistas. Para piorar, tais práticas se mantêm neste ano.

Segundo auditores do TCU, o balanço referente a 2014 tem R$ 281 bilhões em “distorções”, sendo R$ 37,1 bilhões em “pedaladas fiscais” omitidas das contas federais pelo governo do PT. Mas não foi apenas no ano eleitoral que a administração petista se esbaldou na gastança do dinheiro do contribuinte para ajudar a reeleger Dilma: desde 2011, o tribunal vem apontando irregularidades nas contas do governo federal e aprovando-as sempre com restrições.

Dilma Rousseff revela-se acuada pela perspectiva palpável de que suas contas sejam reprovadas pelo TCU e rejeitadas pelo Congresso. Não se trata de uma discussão meramente política, como quer fazer crer o governo, mas sim de aspectos técnicos e objetivos que revelam, com riqueza de detalhes, que a presidente fraudou a contabilidade oficial e torrou irresponsavelmente o dinheiro dos contribuintes. E isso é crime.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Governo que censura

O Brasil vive atualmente um período de alta inflação, desemprego em escalada e crescimento em baixa. São fatores que tornam muito mais difícil a vida dos brasileiros. Mas há pelo menos um atenuante: dados e estatísticas que medem estes fenômenos são amplamente conhecidos da população. Se dependesse do PT, talvez também estivéssemos sendo enganados e a realidade estivesse sendo varrida para debaixo do tapete.

Na semana passada, veio a público depoimento dado por Herton Ellery Araújo à Justiça Eleitoral no processo que investiga abuso de poder político e econômico na eleição que deu um segundo mandato a Dilma Rousseff. Ex-diretor do Ipea, ele deixou o cargo depois que uma de suas pesquisas foi censurada às vésperas da eleição.

No depoimento, o técnico confirma o que já se suspeitava: o governo interferiu para que seu achado dando conta de que a miséria havia aumentado no governo Dilma não viesse a público. O dado revelando aumento de 3,7% no número de indigentes no Brasil só foi divulgado dois dias depois do segundo turno da eleição – já em caráter oficial, mas sem qualquer alarde. 

O episódio envolvendo o aumento da miséria é apenas um entre vários que compuseram o coquetel de mentiras servidas à população brasileira como parte do estelionato eleitoral que levou Dilma à vitória. 

Na véspera das eleições, o governo também cerceou a divulgação de dados sobre a educação que mostravam Minas Gerais como o estado com o melhor ensino fundamental do país; sobre o aumento do desmatamento na Amazônia; e sobre queda na arrecadação de impostos.

Durante a campanha, o mesmo Ipea também engavetara estudo mostrando que a concentração de renda havia aumentado no Brasil entre 2006 e 2012: a participação na renda dos 5% mais ricos passara de 40% para 44% no período. Não foi só. Mentira e manipulação de dados relativos à miséria já eram recorrentes no governo.

Durante toda a campanha, Dilma sustentou que, “em uma década”, os governos petistas “tiraram 36 milhões de pessoas da pobreza extrema, da miséria”. Mas, em outubro de 2013, outro estudo também do Ipea atestava: o número dos brasileiros que deixaram de viver na miséria não passava de 8,4 milhões. Pior: na passagem de 2012 para 2013, o número de miseráveis no país aumentara em 409 mil pessoas.

O depoimento de Araújo e a lembrança de outros episódios da mesma natureza podem ajudar a reavivar a forma nada democrática e nem um pouco honesta e transparente com que o PT obteve nas urnas seu quarto mandato presidencial. 

Valeu na época da eleição a máxima: o que é bom (e é cada vez mais raro), o governo petista propagandeia; o que é ruim, esconde. Cabe à Justiça agora julgar se dá carta branca ao vale-tudo despudorado que a chapa Dilma-Temer empregou para chegar à vitória no ano passado.

sábado, 11 de julho de 2015

Golpes contra os trabalhadores

O emprego dos brasileiros está sendo golpeado pelo governo do PT. O desemprego não para de aumentar, os salários estão apanhando da inflação e, como contrapartida, o que a presidente Dilma Rousseff tem a oferecer é limar direitos dos trabalhadores ou propor algum plano de efeito restrito.

Segundo a Pnad Contínua, do IBGE, o desemprego atingiu 8,1% no trimestre entre março e maio. Mais ampla entre as três que auscultam o mercado de trabalho, com campo em 3.500 cidades, a pesquisa mostrou que temos agora 8,2 milhões de desempregados. Em um ano, este exército aumentou 18%, o que significa mais 1,3 milhão de pessoas sem emprego.

Estão diminuindo tanto os empregos com carteira assinada quanto os sem carteira. Motor do mercado de trabalho nos últimos anos, as micro e pequenas empresas já demitem mais do que contratam – é a primeira vez que isso acontece desde 2009. A saída dos demitidos tem sido fazer bicos, os chamados empregos “por conta própria”.

Nos últimos 12 meses, de cada 100 pessoas que tentaram entrar no mercado de trabalho, apenas 19 conseguiram emprego, mesmo assim de forma precária. Há um ano, quem procurasse uma ocupação encontrava. No ano, segundo o Caged, já houve 244 mil demissões a mais do que contratações no país; o saldo negativo registrado em maio foi o maior em 23 anos.

Sem emprego e com a inflação comendo solta, os brasileiros estão ficando mais pobres. No final de junho, outra pesquisa do IBGE, a PME, havia revelado queda expressiva no rendimento médio dos trabalhadores: 5% em maio. Além disso, nos seis meses desde novembro a massa salarial já diminuiu 10% no país, calculou o Valor Econômico.

Numa tentativa de resposta à crise, nesta semana o governo anunciou um plano para evitar demissões. Seu principal ingrediente é cortar os salários dos trabalhadores em até 15%, junto com a jornada de trabalho. Numa hora em que o desemprego surge como maior fantasma, ganhar menos pode até não soar tão mal.

Mas a abrangência do programa limita-se a 50 mil trabalhadores de alguns poucos setores, o que é, segundo todas as pesquisas hoje disponíveis, apenas uma fração da quantidade de gente que perde emprego em apenas uma semana hoje no Brasil. O plano é, portanto, acanhadíssimo.

Direitos trabalhistas já haviam sido açoitados pelo governo como parte do arrocho fiscal em marcha. Primeiro foi o seguro-desemprego e, na semana passada, com requintes de crueldade, o pagamento do abono salarial de milhões de trabalhadores foi postergado deste ano para o ano que vem. Com a medida, cerca de R$ 8 bilhões da conta do ajuste foram empurrados para os que menos têm. São os golpes da gestão petista doendo no lombo e na carteira – de dinheiro e de trabalho – dos brasileiros que mais precisam.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

O golpe da inflação

Havia quase 20 anos a inflação registrada num único mês não era tão alta no Brasil. Tratada durante anos com leniência pelo governo Dilma, a carestia foi subindo de escala no país até chegar a níveis insuportáveis como os atuais. Os preços estão pela hora da morte.

Em mais uma das diabruras produzidas pelo governo do PT, o índice oficial de inflação atingiu 0,79% em junho, o maior percentual para o mês desde 1996. Segundo o IBGE, a alta acumulada em 12 meses chega agora a 8,89%, maior patamar nesta base de medição desde o fim de 2003.

A inflação acumulada em apenas metade do ano já está pertinho do limite superior admitido para o ano todo, segundo a política monetária em vigor: são 6,17%, para um teto de 6,5%. Nos seis primeiros meses de 2014, havia sido 3,75%; em todo o ano passado, foi a 6,41%. Em tudo, ficou mais difícil viver no país nestes últimos meses.

A alta dos preços é generalizada. De cada 100 produtos, 68 ficaram mais caros no mês passado. Preços como o da cebola, que subiu 148% desde janeiro, ou o da energia, com alta acumulada de 58% ao longo dos últimos 12 meses, estão de chorar.

O pouco alívio identificado por analistas repousa sobre a inflação dos serviços, que continua alta, mas subindo menos. Ainda assim, isto se deve à maior dificuldade das pessoas para consumir, por causa do dinheiro mais curto. Em compensação, a possível alta do dólar em consequência da crise que ameaça arrastar a China tende a manter os preços mais altos.

As apostas predominantes são de que os índices de preços subirão mais de 9% até o fim do ano. Para os mais pobres, esta já é a inflação que está lhes corroendo o bolso atualmente. O índice que mede a inflação da baixa renda (IPC-C1) acumula alta de 9,52% nos últimos 12 meses, segundo a FGV.

Em cidades como Curitiba, a inflação oficial já voltou a ser de dois dígitos, algo que era comum até que o Plano Real derrotou a carestia, mas há muitos anos não se via no país. Na capital paranaense, o índice acumulado em 12 meses alcançou 10,2% em junho.

Na notória entrevista concedida à Folha de S.Paulo na segunda-feira, a presidente Dilma se disse disposta a “fazer o diabo” para segurar a recessão e consertar a economia. Se for isso mesmo, estamos fritos. Da última vez que invocou o capeta, ela assaltou os cofres públicos e protagonizou a maior empulhação eleitoral da história para obter a reeleição.

Resta esperar que as iniciativas da presidente – sempre eivadas de enorme improviso e, não raro, embaladas em equívocos – não tornem ainda mais difícil a vida dos brasileiros, já torturados pela inflação, pelo desemprego e pela total ausência de perspectiva para a retomada do crescimento. São os golpes que o governo do PT desfere na população.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

O que pesa contra Dilma Rousseff

Dilma Rousseff perde seu tempo acusando a oposição e vendo “golpismo” onde não há. A presidente deveria é se preocupar em esclarecer as graves denúncias e suspeitas que pesam contra ela, não apenas no exercício do cargo como também na campanha que lhe deu mais quatro anos de mandato. O que ameaça o futuro da petista é o rigor das leis e não a luta política, ainda que legítima.

A presidente da República é alvo de investigações em curso em pelo menos três diferentes órgãos: o Tribunal de Contas da União, o Tribunal Superior Eleitoral e a Procuradoria-Geral da República.

A lista de acusações é extensa: abuso de poder político e econômico, captação e/ou gastos ilícitos na campanha de 2014, em ação aberta pelo PSDB que tramita na Justiça Eleitoral; uso indevido de dinheiro de bancos públicos, maquiagem de dados e fraude fiscal, na análise das contas por parte do TCU; prática continuada de crimes contra as finanças públicas e crime de falsidade ideológica, em ação penal em marcha na PGR; e, por fim, crime de extorsão praticado por sua campanha, ao exigir dinheiro do empreiteiro Ricardo Pessoa, também em andamento na Procuradoria.

A chapa que elegeu a presidente e seu vice também tem contra si as suspeitas levantadas pelas investigações conduzidas pela Justiça Federal no Paraná, pelo Ministério Público e pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava-Jato. A mais grave é a de que milhões de reais em dinheiro sujo desviado da Petrobras – em negócios feitos, nunca é demais relembrar, à época em que Dilma presidiu seu principal órgão de governança, o conselho de administração da estatal – abasteceu a campanha presidencial, tanto em 2010 quanto em 2014.

É a este leque amplíssimo de ilegalidades, fraudes, malversação de dinheiro público e desvios de recursos de empresas públicas que Dilma Rousseff e seus porta-vozes tentam denominar “golpismo”. 

São, na realidade, uma robusta e consistente lista de evidências que indicam os desvãos pelos quais a presidente enveredou o país com sua má gestão e os métodos espúrios por meio dos quais o partido dela, o PT, tem buscado preservar-se no poder.

Todos os caminhos que podem levar ao afastamento da presidente do cargo antes do fim de 2018 passam pela investigação, pela apuração e pelo julgamento de órgãos de fiscalização e controle, de instituições do Estado e de cortes da Justiça. Não há nada sendo cogitado ao arrepio da lei. 

É sobre o que de fato foi cometido e sobre as afrontas que foram perpetradas que irão se manifestar aqueles de direito. O rol de ilegalidades patrocinadas por Dilma Rousseff e seu partido é suficientemente grave para que as instituições da democracia brasileira tomem a decisão correta para o país.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Golpe é o governo que Dilma faz

Acuados por todos os lados, por crises de todas as naturezas, Dilma e seu governo decidiram ontem balbuciar uma reação. Entre frenéticas reuniões, uma longa entrevista exclusiva da presidente e uma ordem unida articulada, o grupo no poder sintetizou sua contraofensiva na tentativa de transformar acusações e suspeitas que pesam sobre a petista em “golpismo”. Golpe, isto sim, é o governo que Dilma Rousseff faz.

Todas as denúncias e revelações que têm vindo a público comprometendo severamente a campanha que reelegeu a presidente da República e seu vice são emanadas de iniciativas legais e órgãos institucionais, seja o Ministério Público, a Justiça, a Polícia Federal, o TCU ou o TSE, e respeitam rigorosamente os limites constitucionais. Ninguém, nenhum dos adversários do governo, busca chicanas jurídicas para forçar a saída de Dilma do cargo.

São a presidente e seus porta-vozes que tentam nublar o debate, confundir argumentos, falsear realidades. Por exemplo, quando, em entrevista à Folha de S.Paulo publicada hoje, ela busca igualar repasses comprovadamente derivados de negócios escusos na Petrobras transferidos à sua campanha com doações feitas por empresas a adversários sem qualquer ligação com o aparato estatal.

E também quando tenta equiparar as fraudes fiscais cometidas reiteradamente ao longo do seu primeiro mandato com atrasos episódicos que podem ter ocorrido em passado remoto. O que se discute nas chamadas “pedaladas” não são contas que ficaram de um mês para o outro para ser pagas. O que se discute é que o Tesouro tomou dinheiro emprestado de bancos públicos, o que é proibido, o governo maquiou dados e mentiu ao país.

Já a interpretação de nossa principal mandatária sobre leis e instituições é das mais singulares. À Folha, Dilma diz que “as pessoas caem quando estão dispostas a cair”. Não, presidente, as pessoas caem quando fazem coisas erradas, quando afrontam as normas, quando manipulam orçamentos e, em razão disso, são condenadas com base no que preveem as leis e a Constituição. Não é ato de vontade, é ato de direito.

São os fatos, as revelações quase diárias da Operação Lava-Jato, as confirmações dos abusos denunciados pelos adversários da presidente (por todos eles) na campanha de 2014 que estão engrossando o caldo pelo afastamento de Dilma. Não há golpismo, tramoia ou manipulação. Há leis e há a dura realidade. Só na Lava-Jato há depoimentos de cinco diferentes envolvidos apontando uso de dinheiro sujo na campanha de Dilma e seu vice.

Dilma Rousseff é hoje rejeitada por dois de cada três brasileiros e seu afastamento do cargo é visto como desejável pela maioria dos brasileiros – sempre dentro dos estritos limites institucionais – porque ela faz um governo que golpeia os interesses da população, que trai a vontade popular manifestada nas urnas no ano passado e porque se revelou capaz de “fazer o diabo” na campanha para ficar mais quatro anos no cargo. É disso que os brasileiros, que passam longe de ser golpistas, se encheram e ora fortemente repelem.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Unidade e coragem para mudar o Brasil

O PSDB realizou ontem sua convenção nacional, reafirmando seu compromisso com a busca de um novo caminho que faça os brasileiros voltarem a acreditar num futuro melhor para o país. O senador Aécio Neves foi reconduzido para mais dois anos de mandato na presidência do partido, tarefa a ser cumprida, como ele próprio ressaltou, com unidade e coragem.

A convenção serviu para realçar, com cores vívidas, a coesão partidária em torno de uma convicção: o Brasil não aguenta mais conviver com as revelações quase diárias de degradação moral do partido que há 13 anos ocupa o poder federal; com a incompetência que leva o país a ser lanterninha na corrida mundial pelo desenvolvimento; e com o desrespeito ao interesse público reiteradamente manifestado pela presidente da República e seu governo.

Nas diversas intervenções deste domingo, o PSDB mostrou que tem capacidade para oferecer respostas às crises política, econômica e social nas quais o Brasil vem sendo mergulhado por Dilma Rousseff, às voltas com as bombas-relógio legadas por Lula. Estas respostas vêm das realizações tucanas no passado, são ratificadas pelas posições partidárias no presente e atestadas pela plataforma defendida por Aécio na campanha presidencial de 2014.

Os líderes tucanos reiteraram a profissão de fé do partido em princípios, valores e sentimentos que são caros ao PSDB desde a sua fundação, 27 anos atrás, “longe das benesses oficiais, mas próximo ao pulsar das ruas”.

Em síntese: respeito às instituições, à democracia e às liberdades; busca do desenvolvimento econômico com justiça social e sustentabilidade; responsabilidade e eficiência no trato da coisa pública; compromisso com a ética; valorização da cidadania; obediência incondicional à lei; e a construção de um Estado reformista e transformador.

A recuperação do país passa pela reconquista da confiança de quem trabalha, de quem investe e de quem produz na nossa capacidade de superar o atual momento difícil. É o primeiro passo para que o Brasil volte a inspirar expectativas positivas, superando o asfixiante ambiente tóxico em que fomos confinados pelo PT. É um passo que a atual presidente da República e seu partido, sem mais nenhuma reserva de credibilidade, são incapazes de dar.

Em sua convenção nacional, o PSDB e seus principais líderes apresentaram ao país, mais uma vez, as credenciais de um partido reformista, responsável e preparado para reconduzir o Brasil a um novo porvir, bem diferente do presente de desesperança em que o país encontra-se estacionado, mas amplamente amparado num passado em que os tucanos já provaram ser capazes de transformar, para muito melhor, a vida de todos os brasileiros.

sábado, 4 de julho de 2015

As peças se encaixam

São cada dia mais inócuas as tentativas dos petistas de transformar as revelações advindas das investigações da Operação Lava Jato em episódios isolados e/ou fruto da manipulação de delatores, ora tratados pela presidente Dilma Rousseff como “traidores”. O que foi descoberto até agora forma um todo absolutamente coerente. No quebra-cabeça da corrupção, todas as peças se encaixam.

Desde a divulgação da delação de Ricardo Pessoa, no fim de semana passado, as lideranças petistas buscam desqualificar o empreiteiro e rechaçar o conteúdo de sua colaboração com a Justiça. Se insistir nesta estratégia, o PT terá trabalho crescente: boa parte das descobertas tem convergido para ratificar o assalto de que o país foi vítima nas mãos de Dilma e Lula. É muita gente falando a mesma coisa.

Segundo levantamento feito por O Globo, pelo menos mais quatro delatores da Lava Jato já afirmaram o mesmo que Pessoa, ou seja, que o dinheiro da corrupção desviado da Petrobras e de outras estatais foi usado para irrigar campanhas políticas, em especial as do PT – e, mais especialmente ainda, aquelas que levaram o partido à Presidência da República.

São vários os testemunhos de que Lula e Dilma venceram com dinheiro sujo. Com quanto, não se sabe ainda. Mas certamente uma montanha de recursos da corrupção abasteceu os cofres dos petistas. Uma nova avaliação feita pela Polícia Federal, e divulgada hoje por O Estado de S. Paulo, indica que, só na Petrobras, a roubalheira pode ter chegado a R$ 19 bilhões.

O dinheiro desviado pode ter carcomido 20% do valor dos contratos firmados pela estatal, hoje em processo de desmanche em função do misto de predação e má gestão imposto pelos petistas à Petrobras nos últimos anos. O PT se esmerou na montagem da sua engrenagem corruptora.

O dinheiro que alimentava as campanhas circulava entre seus operadores tanto aqui quanto no exterior. Mostra a edição da Folha de S.Paulo de hoje que, no início de 2014, o partido acionou o doleiro Alberto Youssef para tentar repatriar R$ 20 milhões que os petistas mantinham lá fora. Não há confirmação de que a transação aconteceu.

Para justapor mais algumas peças do quebra-cabeça, ontem foi preso o quarto ex-diretor da Petrobras envolvido com o petrolão. Na definição dos investigadores, agora está composta, atrás das grades da PF, a “camarilha dos quatro”. Não há dúvida de que são apenas a parte mais vistosa da quadrilha que agiu durante todos estes anos com o aval de Brasília.

O quebra-cabeça da corrupção já tem quase todas as suas partes montadas. A figura que ele revela é feia, abjeta. Mas é extremamente salutar que, com a atuação decidida de instituições do Estado, o país esteja perto de completar o enigma, encaixar as últimas peças que faltam e despachar esta gente para acertar as contas com a Justiça, de preferência atrás das grades e por um tempo bem longo.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Dilma desce do futuro e embarca no passado

Nunca antes na história uma presidente da República foi tão rejeitada pelos brasileiros. A aversão ao governo de Dilma Rousseff tornou-se ampla, geral e irrestrita. Alcança todos os extratos sociais, todas as idades, todas as regiões do país e todas as áreas de atuação. É mais que rejeição ou aversão: é repulsa ao engodo que ela representa.

Segundo pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem, 68% dos brasileiros consideram o governo Dilma péssimo ou ruim. É a pior avaliação negativa da série histórica do instituto, inaugurada em março de 1986, no governo de José Sarney. Ou seja, em mais de 29 anos.

Além disso, 83% desaprovam a maneira de a petista governar e 78% não confiam nela. Todos os indicadores pioraram em relação à pesquisa anterior, feita em março. Na ponta oposta, a avaliação positiva da presidente caiu abaixo de um dígito: agora apenas 9% a aprovam. Como Dilma pode continuar presidindo o país numa situação assim?

A repulsa a Dilma só encontra comparação com a ojeriza que a população brasileira nutria por Sarney, que chegou a 7% de aprovação e 64% de desaprovação, em julho de 1989. Mas há duas diferenças abissais: o ex-presidente só atingiu a ribanceira onde Dilma está quando terminava seus cinco anos de governo, após seguidos fracassos econômicos e sociais. E, diferentemente da petista, ele não fora eleito.

Por segmento, as piores avaliações de Dilma ocorrem entre os mais jovens (16 e 24 anos) e nas periferias dos grandes centros, entre os quais ela só obtém 6% de aprovação. Reflexo, provavelmente, do aumento do desemprego, que nesta faixa etária saltou de 10% para 16% desde dezembro. E, também, em razão da porta que a gestão petista bateu na cara dos interessados em estudar com os agora desfigurados Fies, Prouni e Pronatec.

Em todas as áreas de atuação, o governo de Dilma é fartamente rejeitado, sempre num patamar superior a 60%. Em temas como taxa de juros, impostos, combate à inflação e ao desemprego, a ojeriza é quase absoluta, próximo ou acima de 90%. Parece tão ruim que é difícil acreditar que pode piorar. Mas pode.

O fundo do poço ainda não chegou, como anteveem analistas mais gabaritados. O desemprego ainda vai subir mais, beirando os 10%. A atividade econômica ainda vai desacelerar mais, fechando o ano na pior recessão desde o governo Collor. O nível de confiança de consumidores e empresários não dá sinais de que irá reagir.

Ontem nos EUA, Dilma, alheia, passeou num veículo sem motorista. Depois de sair do automóvel, disse: “Acabei de descer do futuro”. O veículo do Google tem tecnologia de ponta que o livra de colisões. Não é o caso do Brasil da presidente: desgovernado, o país ruma contra o muro ou a caminho do precipício. Tem gente precisando, urgentemente, tomar um carro e ir embora de vez, apeada do presente. Ao passado, mostrou a pesquisa da CNI/Ibope, Dilma Rousseff já chegou.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Real, 21 anos

Na manhã de uma sexta-feira, 21 anos atrás, entrava em circulação a moeda que viria a derrotar a inflação que durante anos destruíra o horizonte do país e tornara a vida dos brasileiros um verdadeiro martírio. O Plano Real completa hoje mais um aniversário, no mesmo momento em que a alta dos preços tem aterrorizado a população.

Aquela foi a oitava tentativa de estabilização da moeda desde o fim do regime militar, recebida com enorme expectativa pela população – cansada de conviver com preços que chegavam a dobrar em apenas um mês – e a desconfiança costumeira daqueles que eram então oposição.

Candidato do PT à presidência da República pela segunda vez, Luiz Inácio Lula da Silva classificava o plano como “estelionato eleitoral”. No Congresso, seu partido votaria repetidamente contra a MP n° 1.027, que criou a nova moeda. Mas o plano saiu-se vitorioso do embate.

Relembrar as dificuldades da implantação da nova moeda neste momento é importante para a preservação desta conquista crucial para o país que temos hoje. A estabilização da economia lançou as bases de todas as conquistas econômicas e sociais que o Brasil viria a alcançar nestes últimos 21 anos.

Até 1994, os brasileiros haviam se acostumado a uma rotina em que o salário chegava ao fim do mês valendo metade do que valia quando era pago. No ano anterior, o índice geral de preços atingira 2.477%. No último mês de vigência da antiga moeda, o cruzeiro real, que circulara durante menos de um ano, a inflação havia chegado a 47%. Definitivamente, não dava para viver assim.

O real foi concebido por uma equipe de economistas comandada pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, com apoio decidido do presidente Itamar Franco. A entrada em vigor da nova moeda foi precedida por um rigoroso ajuste nas contas do governo, iniciado em junho de 1993.

À nova moeda seguiram-se, já no governo Fernando Henrique, um ambicioso programa de modernização do Estado, as privatizações, a maior integração do Brasil ao mundo e, já no segundo mandato, a definição de uma política estruturada de responsabilidade fiscal. Tais alicerces permitiram ao país continuar avançando mesmo no governo do PT.

Nos últimos anos, estas conquistas vêm sendo ameaçadas por um governo incompetente, sob o manto de uma visão equivocada do papel do Estado, da enorme irresponsabilidade no trato das contas públicas e o do assalto aos cofres públicos patrocinado por uma organização criminosa que dilapidou a herança bendita que recebera. 

Em risco está o esforço de milhões de brasileiros posto na construção de um país melhor inaugurada duas décadas atrás pelo Plano Real, uma realização genuinamente tucana.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Trocando as bolas

A primeira, e natural, reação é achar que Dilma Rousseff não está bem da bola. Suas proverbiais falas desconexas estão se tornando mais frequentes, reflexo de um desgoverno que se afunda em crise política, recessão econômica e seriíssimas acusações de corrupção. Mas a atitude da petista é pior: Dilma ataca para não se ver atacada, acusa quando é acusada, tenta transformar-se de suspeita em vítima.

Na semana passada, foi a mandioca e a “mulher sapiens”. Agora é a investida contra o principal delator da Operação Lava Jato, o empreiteiro Ricardo Pessoa. Dilma usa a velha tática petista de buscar igualar todos na lama, tenta comparar o incomparável. Na sua lógica torta, um colaborador da Justiça vira traidor. É típico de organizações criminosas.

Dilma vai mais fundo na maionese ao também nivelar instituições da República envolvidas na investigação da Lava Jato – Justiça, Ministério Público, Polícia Federal – com aparelhos da repressão que agiam à sombra do regime militar. É grave: revela o desapreço de uma presidente da República por valores e princípios republicanos.

Não é ela, na condição de suspeita de ter sido reeleita financiada por dinheiro sujo da corrupção, que tem que “respeitar delator”. Dilma é, neste momento, alvo de investigação, não bedel da Justiça. Ao voltar a tentar envergar o figurino da “Coração Valente” que lutou contra a ditadura, a petista posiciona-se agora como cúmplice de bandidos.

Na entrevista de ontem em Nova York, Dilma também faltou com a verdade. Ela sustenta nunca ter recebido Ricardo Pessoa. Pode até ser que ele não tenha subido ao gabinete dela no Planalto, mas a presidente e o delator já estiveram bem juntinhos.

Foi em 13 de julho de 2012, quando a petista dividiu com o presidente da UTC o palanque da cerimônia de batismo da plataforma P-59, realizada em Maragojipe (BA). Na foto oficial, os dois aparecem bem pertinho um do outro, pouco antes de Dilma citar Pessoa no discurso. 

Em outro descontraído momento registrado pelo fotógrafo da Presidência da República, Dilma e Pessoa quebram a tampa de um barril de saquê e brindam “para trazer bons resultados ao novo empreendimento”, como registra o site da UTC. Blogs financiados pelo governo comemoraram a “associação ao capital privado nacional e estrangeiro”. Deu no que deu.

Em sua primeira manifestação pública sobre a delação de Ricardo Pessoa, Dilma aproximou-se do limite da delinquência. O que ela tem de esclarecer agora é a suspeita – plena de provas, como atesta o fato de a colaboração ter sido homologada por um ministro do Supremo – de que sua campanha foi bancada com dinheiro desviado de estatais.

Fazer discursos estapafúrdios é típico da atual presidente da República. Mas a sua manifesta incapacidade de comunicação não pode servir de salvo-conduto para que Dilma Rousseff tente constranger a Justiça, travar investigações, inverter o ônus da prova e nivelar a todos num padrão de baixeza que os brasileiros não suportam mais.