A Síntese dos Indicadores
Sociais (SIS) 2012, divulgada
ontem, buscou averiguar como andam as condições de vida do brasileiro, não se
limitando à mera aferição de indicadores de renda. Constatou que o país não apenas
mantém-se muito desigual, como também continua sem prover serviços básicos como
saneamento adequado, água encanada, lixo coletado e luz elétrica a uma larga
parcela da sua população.
Segundo o
levantamento, 22,4% dos brasileiros ainda vivem em situação considerada “vulnerável”.
Isso significa que, simultaneamente, não têm água tratada, nem esgoto coletado
(seja por meio de redes públicas ou por meio de fossas sépticas), não têm lixo recolhido, não dispõem de eletricidade, não têm acesso à educação e estão
excluídos do mercado formal de trabalho. Também ganham menos de R$ 370 por mês.
Em números absolutos, 41,2 milhões de pessoas sobrevivem assim no Brasil hoje.
O grupo dos que têm
renda classificada como “suficiente”, ou seja, acima de R$ 370 mensais, mas não
têm acesso aos serviços básicos soma 30,6% dos domicílios urbanos do país ou
cerca de 64 milhões de pessoas. Isso equivale a dizer que, para cada duas
moradias habitáveis, há uma sem condições mínimas de vida. Entre 2001 e 2011, o total
de domicílios com acesso simultâneo a todos os serviços subiu de 67,1% para
69,4%, um avanço muito tímido.
É verdade que a
desigualdade de renda vem diminuindo entre nós, o que merece lauta comemoração.
O coeficiente de Gini – parâmetro usado para medir a disparidade de rendimentos
entre os mais ricos e os mais pobres – caiu a 0,508 em 2011. É a mais baixa
taxa em 30 anos – em 1980, estava em 0,583. Quanto mais se aproximar do zero,
melhor.
Ainda assim, o
Brasil ainda é uma das mais desiguais nações do mundo. Na América Latina, conseguimos
deixar alguns países para trás nas últimas décadas, mas ainda somos o quarto
mais desigual do continente, como mostrou a ONU-Habitat
em agosto. Aqui os 20% mais ricos ganham 16,5 vezes mais que os 20% mais pobres,
relação que nos países desenvolvidos costuma ficar entre quatro e seis vezes
apenas.
Ao analisar tanto as
carências de renda quanto as sociais, o SIS fornece um retrato mais fiel das
condições de vida no país. Permite jogar luz sobre as políticas públicas que
vêm sendo praticadas pelo governo e analisar até que ponto elas têm sido bem
sucedidas em efetivamente melhorar a vida dos brasileiros. A conclusão é que,
onde mais é necessário, o Estado fracassa.
Nos últimos anos, a
ênfase das políticas públicas levadas a cabo pelas gestões petistas tem sido
ampliar o acesso ao mercado de consumo. A distribuição massiva de benefícios
sociais e o aumento do salário mínimo foram orientados nesta direção, com
sucesso. Mas viver bem é muito mais do que poder ter acesso a bens de consumo,
e nisso o Estado petista tem malogrado de maneira recorrente.
Melhorar os serviços
de saneamento, oferecer educação pública de qualidade, facilitar a formalização
do mercado de trabalho e criar ambiente favorável à expansão da oferta de
energia são, todas, atribuições do Estado. Não que a execução dos serviços seja
necessariamente prerrogativa do poder público, mas cabe a ele gerar condições
para que isso se dê de forma adequada.
Num Estado dominado
pela ineficiência e pela predação, como temos visto no país nos últimos anos, as
circunstâncias adequadas para que os avanços na prestação dos serviços públicos
não se apresentam. Por mais dinheiro no bolso que o cidadão tenha, há atribuições
inalienáveis ao aparato estatal, que, cada vez mais, menos cumpre o seu papel.
O levantamento do
IBGE mostra, claramente, os limites das políticas públicas patrocinadas pelo PT,
seu viés meramente consumista e distributivista. Escancara a ineficiência do
Estado em prover bons serviços à população mais vulnerável e também seu retumbante
fracasso em criar condições para que o investimento privado floresça em áreas
essenciais. Com tanta pobreza e desigualdade, não há como transformar o Brasil
num país rico.