sábado, 28 de junho de 2014

As listas negras do partido da intolerância

O PT tem uma lógica muito peculiar de fazer política: quem não está com o partido é tratado como inimigo. O objetivo vai além de derrotar adversários, o que seria do jogo democrático. A ordem é simplesmente exterminar quem se interpõe no caminho dos partidários da intolerância. Sejam eles jornalistas, críticos ou políticos insatisfeitos com o estado geral das coisas no país.

Dois episódios recentes ilustram bem esta forma indecorosa de fazer política: a divulgação, por parte do vice-presidente petista, de uma “lista negra” de articulistas a serem combatidos pelos partidários da intolerância e a tentativa do ministro de Relações Institucionais – exercitando sua expertise aloprada – de emparedar prefeitos do PMDB do Rio que manifestaram apoio à candidatura de Aécio Neves, revelada ontem por O Globo.

Trata-se de método tipicamente petista de fazer política: a perseguição a adversários com vistas a aniquilá-los. A cada campanha, surge um novo estratagema gestado nos subterrâneos do partido. Nesta sanha, os petistas não se constrangem em utilizar estruturas de Estado para atacar quem querem destruir – vide também o uso de estatais e prefeituras petistas para difamar e disseminar ofensas contra Aécio pela internet.

Os episódios nefastos se sucedem: em 1998, o dossiê Cayman; em 2006, o escândalo dos aloprados; em 2010, o dossiê Erenice Guerra (para tentar atingir o presidente Fernando Henrique) e a violação de sigilo fiscal de familiares de José Serra. O que mais, além das duas novas famigeradas listas negras, nos espera na campanha que se avizinha?

Felizmente, a vigilância da imprensa sempre tem conseguido impedir que os partidários da intolerância prosperem. Não fossem a livre manifestação e o firme exercício democrático, estaríamos arriscados a ver o obscurantismo prevalecer. A luz da liberdade de expressão tem vencido as trevas do autoritarismo. Mas, até quando?

A perseguição a quem discorda dos ditames petistas não é fortuita, não é acidental nem irrefletida. O partido cuja bancada mais ilustre hoje dá expediente no presídio da Papuda considera que seu projeto é venturoso, mas esbarra na má vontade dos meios de comunicação, dos formadores de opinião – em suma, dos que não lhe dizem amém. Nesta lógica, a melhor arma é a mordaça.

Os petistas se julgam arautos de um projeto de transformação do país e, até quando fazem autocrítica, transferem para os mensageiros a culpa pela má mensagem. É o que acontece agora, também, quando admitem que a insatisfação com o governo Dilma não é apenas da “elite branca”, mas sim algo disseminado por toda a população.

A origem deste mal-estar seria “um pensamento conservador que se expressa fortemente por meio dos veículos de comunicação e que opera um cerco contra nós”, como disse Gilberto Carvalho em entrevista à Folha de S.Paulo publicada na segunda-feira passada. Por esta visão, ficamos assim combinados: a corrupção e a incompetência que marcam as gestões petistas foram inventadas em redações de jornal.

A lista negra de jornalistas e políticos também nos convida a refletir sobre a intenção já manifestada pela candidata-presidente de abraçar a proposta de regulação da mídia, acalentada há tempos por setores bastante influentes do PT.

Embora Dilma jure que não aceita discutir o controle de conteúdo, será que dá para acreditar na suposta boa fé da presidente diante da voracidade de um partido sobre o qual ela não tem qualquer ascendência?

Afinal, se, sem qualquer legitimidade, o PT já incita uma cruzada contra vozes dissonantes, o que aconteceria se lhe fosse dado poder efetivo para controlar conteúdos jornalísticos e encabrestar opositores? Melhor nem pensar. Melhor ainda é agir antes e impedir que os partidários da intolerância prosperem.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Palavra dada é palavra empenhada

Dilma Rousseff é uma pessoa de palavra. Quatro anos atrás, apresentou-se ao eleitorado como gerente gabaritada. Eleita, correu para vestir uniforme de faxineira. Há algumas semanas, assegurou que não mudaria sua equipe ministerial apenas em troca de alguns minutinhos a mais no rádio e na TV. As circunstâncias e o figurino podem mudar, mas Dilma Rousseff mantém a coerência: não cumpre nada do que fala.

Dilma havia dito há algum tempo que “faria o diabo nas eleições”. Mas, vê-se agora, é muito mais que isso: a candidata-presidente está disposta mesmo é a vender a alma ao diabo. Os lances mais recentes da montagem do palanque reeleitoral são pródigos neste sentido. No balcão de negócios, o céu é o limite.

A presidente da República trocou ontem mais um de seus ministros para assegurar o apoio de mais um partido à sua elástica coligação eleitoral. Dilma dissera que estava muito satisfeita com César Borges no Ministério dos Transportes – e, convenhamos, pelo histórico de inoperância da pasta na era petista ele até vinha bem – e jamais o tiraria do cargo.

A palavra dada pela presidente, contudo, não foi honrada. O partido do ministro, o PR, cobrou a substituição de Borges e Dilma prontamente atendeu. Entregou sua cabeça e trouxe de volta para o cargo o mesmo ministro afastado há menos de 15 meses. Se isso não é ser coerente, o que mais pode ser? A Borges, restou a Secretaria dos Portos como prêmio de consolação.

Em 2011, o mesmo partido e o mesmo Ministério dos Transportes estiveram no centro da “faxina” – aquela em que a sujeira é varrida para baixo do tapete – promovida pela presidente. Se havia alguma dúvida do artificialismo do figurino ético de Dilma, não remanesce nenhuma mais. Na alça da mira agora estão a diretoria-geral do Dnit e o comando da Valec, também num movimento de desfazer a limpeza que, embora timidamente, fora feita.

A coerência administrativa da presidente ao nomear sua equipe é de dar gosto. Basta lembrar, também, o que aconteceu no Ministério da Pesca três meses atrás. Lá o ministro que não sabia o que era uma minhoca deu lugar a seu suplente no Senado, um teólogo e jornalista que, possivelmente, não faz ideia do que seja pescar com caniço e samburá.

Em todos estes episódios, salta aos olhos a falta de autoridade da presidente e sua total ausência de controle e critérios para compor uma equipe. Já não bastassem os maus resultados que ela tem a exibir em termos de obras e realizações, cabe a pergunta: Que espécie de gerentona eficiente é esta?

No seu vale-tudo pelo poder, o PT faz uso de suas armas mais típicas, como a também odienta caça aos que ousam não compactuar com os planos eleitorais do partido. O Globo noticia hoje que o Planalto foi em busca dos nomes de cada um dos prefeitos do PMDB fluminense que hipotecaram apoio a Aécio Neves. Para que será?

Pego no flagra, o ministro de Relações Institucionais disse que pretendia apenas convidá-los para um convescote no Planalto. “Prefeito, quando você chama para almoçar, para conversar sobre algum assunto, ele vem. Isso é do jogo”, disse Ricardo Berzoini, de notáveis atuações no submundo da guerrilha petista em eleições passadas. Não parece um fidalgo?

A uma presidente sem autoridade e com um currículo de parcas realizações para mostrar ao eleitorado como justificativa para merecer um novo mandato, junta-se um partido disposto a tocar o terror para vencer as eleições e perpetuar-se no poder. Nem com todos os arranjos e malandragens do mundo isso vai dar certo. O vale-tudo tem limite.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Empregos a perigo

O governo Dilma sempre se recusou a discutir a sério os problemas da economia. Escuda-se na alegação de que o mercado de trabalho vai bem e que, sendo assim, não há que se falar em fraquezas. O que dirão agora que a geração de empregos despencou no país?

Porta-vozes oficiais têm adotado o mantra de que “PIB não enche barriga” no intuito de criar uma narrativa que – com o fracasso de Dilma Rousseff na promoção do crescimento – desdenha a importância da expansão econômica para o bem-estar da população. Mas, se PIB não enche barriga, é o emprego que põe comida na mesa. Ou não?

Neste sentido, são muito ruins os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados ontem pelo governo. Em maio, foram criadas apenas 58,8 mil novas vagas de trabalho em todo o país.

Parece bom? Uma frase ajuda a qualificar o dado: foi o pior resultado para meses de maio desde 1992, tempo em que Fernando Collor ainda era presidente da República. Lá se vão 22 anos. Nem em tempos de crise brava, como foi 2009, fomos tão mal assim.

Nos cinco primeiros meses deste ano, foram criadas 543 mil novas vagas de trabalho, com queda de 28% em relação ao mesmo período de 2013. Na comparação com os cinco meses iniciais do primeiro ano da gestão Dilma, a queda é bem mais significativa: 55% quando comparadas as médias mensais.

O segmento mais penalizado pelos cortes é a indústria da transformação: em maio, 28,5 mil postos de trabalho foram eliminados. É o segundo mês seguido com quedas no setor – em abril, o saldo fora negativo em 3,4 mil e, no acumulado no ano, a redução no emprego industrial já é de 2% em relação a 2013.

No ano, até maio, a indústria criou apenas 3,6 mil novas vagas de trabalho e caminha para fechar 2014 praticamente no zero a zero, na melhor das hipóteses. O pior é que, em geral, os ciclos de demissões na economia começam pelo setor industrial, o que permite acender luz amarela para o mercado de trabalho em geral nos próximos meses.

Ao mesmo tempo, a atividade industrial deve ter queda no ano (-0,14%), conforme as previsões mais recentes colhidas pelo Boletim Focus do Banco Central. Frise-se que são os empregos industriais justamente os mais bem remunerados e qualificados. O trabalhador brasileiro, portanto, empobrece.

São todos resultados muito ruins para um país em véspera de Copa do Mundo, como era o Brasil em maio passado. Se, dentro de campo, o Mundial de futebol está sendo um espetáculo, fora dele os sinais são frustrantes, como ilustra o mercado de trabalho. Deveríamos estar bombando, mas não.

O governo prefere culpar empresários e seu “pessimismo”, como se humores e não dados da realidade fossem o motor dos investimentos produtivos. Gente como Lula consegue ser ainda mais irrealista, ao dizer que Dilma está “mantendo a inflação na meta com manutenção de salário e emprego”. Só se for em Marte...

A meta de criação de 1,4 milhão de vagas neste ano não deve se confirmar e deve ser oficialmente revista pelo governo já no próximo mês. O governo Dilma diz que criou 5,1 milhões de empregos. Não é verdade. Segundo o Caged, foram apenas 3,6 milhões. É bom, mas é quase 30% menos do que a propaganda oficial apregoa.

A crise na criação de empregos no país é mais um efeito da duvidosa política econômica da presidente Dilma Rousseff. Se já tínhamos a mais perversa das combinações, com inflação alta e crescimento baixo, agora adicionamos uma pitada a mais de pimenta, com a forte perda de dinamismo do mercado de trabalho. O caldo entornou.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Velhas promessas e o ranço de sempre

Dilma Rousseff foi ungida no fim de semana como candidata à reeleição pelo PT com uma mistura de promessas recicladas, velhos ranços e slogans inverossímeis. É a demonstração mais evidente de que, em seu mandato, a presidente da República não produziu realizações suficientes para justificar mais quatro anos de governo.

Um marciano que descesse à Terra no sábado passado provavelmente concluiria que ali reunia-se um partido em guerra para assumir pela primeira vez o comando do país. Imaginaria que a mulher que discursava prometendo mundos e fundos jamais sequer passara perto de sentar-se numa cadeira no Executivo.

O mesmo marciano provavelmente levaria um susto ao saber que o partido que realizava sua rica e tecnológica convenção governa o Brasil há quase 12 anos e já está prestes a completar sua terceira gestão seguida no comando do país.

Nosso ET imaginário certamente cairia para trás ao saber que a mulher tão pródiga em prometer ocupa há quase quatro anos a cadeira de principal mandatária do país, além de ter participado, durante todos os dias, dos dois governos que a precederam.

O marketing petista parece crer na necessidade de tornar suas promessas mais vistosas. Para tanto, até criou um novo rótulo para enfeixá-las: Plano de Transformação Nacional, que chega para ocupar o vácuo do Programa de Aceleração do Crescimento. Um e outro se assemelham: não passam de vento, intenções ao léu, cantilena sem efeitos benéficos para a população.

O tal plano prevê desburocratização, investimentos em educação, reforma do sistema político através de plebiscito, revisão de pacto federativo e melhorias nos serviços públicos. “Aglutina programas de governo que já existem com ideias genéricas que ainda estão em discussão”, sintetizou a Folha de S.Paulo no domingo.

Aquilo que não é platitude foi xerocado de propostas que a oposição vem sustentando há anos, como a necessidade de arejar o Estado, desonerar o cidadão e reequilibrar direitos e deveres dos entes nacionais. E também há excentricidades como o “Banda Larga para Todos” num país em que metade da população nem esgotamento sanitário tem.

Se nos compromissos a plataforma petista é enganosa, no tom é beligerante. A retórica nervosa e agressiva deu o norte na convenção que ungiu a candidatura à reeleição. Para alguém que hoje tem a atribuição de governar para todos os brasileiros, nada mais explícito para comprovar o desequilíbrio da mandatária.

O PT vai insistir na tese de que representa o bem e seus adversários são o mal encarnado. Mas os petistas se julgam tão superiores que contra o “nós” deles cabem todos os demais. Ou seja, será uma espécie de luta do “nós” (os petistas) contra todos – tucanos, republicanos, democratas, pipoqueiros, indignados, taxistas, sindicalistas e qualquer um que não diga amém.

Tomando por base o que disse Dilma no sábado, ela e seu partido também não veem problema algum na rota que o país vem trilhando nos últimos anos. Parecem crer que basta fazer mais do mesmo, aprofundar a opção pela equivocada “nova matriz econômica” para que as portas da esperança finalmente voltem a se abrir.

Como o espírito do tempo não deixa margem a ignorar o sentimento de mudança que grassa na população, os petistas não se furtaram a tentar apropriar-se dele: “Mais mudança; mais futuro”, pede seu slogan. Impossível admitir que quem está aí há tanto tempo, e é hoje o real responsável por problemas que remanescem sem solução, seja o portador de qualquer transformação.

O que o PT não entendeu é que o passado hoje são eles. Quando Dilma diz, como fez ontem em Macapá, que programas como o Minha Casa, Minha Vida nasceram porque “no passado não se dava importância à casa própria”, esquece-se convenientemente que, quando o programa foi lançado, o PT já era governo há seis anos.

Na campanha que se aproxima, Dilma Rousseff terá que responder pelos seus atos, pelo governo que comandou, pelas promessas que não cumpriu, pelo pouco que realizou. Na convenção que a escolheu candidata, não fez nada disso. Certamente porque não tem resposta para nenhuma destas questões.

sábado, 21 de junho de 2014

O outono da presidente

Dilma Rousseff vai de mal a pior. Suas perspectivas eleitorais são muito ruins e a avaliação sobre seu governo é cada vez mais negativa. A presidente está hoje tão mal quanto estava no auge das manifestações de junho do ano passado. Em alguns casos, consegue estar bem pior. A petista parece estar vivendo seu outono.

Ontem o Ibope divulgou nova pesquisa de intenção de votos e de avaliação do governo. No aspecto eleitoral, mesmo com toda a superexposição produzida por sua estratégia de campanha, Dilma no máximo oscila.

Dilma tem hoje os mesmos 39% de intenção de voto que tinha em 2010 quando faltavam quatro meses para as eleições que a sufragaram. Sua situação, antes e agora, porém, era muito distinta: lá estava em ascensão e representava a continuidade de um governo bem avaliado; cá, está numa claríssima descendente.

A relativa manutenção das intenções de voto na presidente é fruto do desinteresse da população pelo processo eleitoral: nesta altura do campeonato, 55% dos entrevistados têm pouco ou nenhum interesse nas eleições de outubro. Ainda assim, já somam 43% os que dizem que hoje não votariam de jeito nenhum em Dilma Rousseff para presidente.

Enquanto o cenário eleitoral pode resultar de desinteresse momentâneo, a evidente piora na avaliação do governo e da presidente é uma manifestação real, efetiva, posto que decorre da visão que as pessoas têm do que está acontecendo no seu dia a dia.

Um, o voto, é decisão futura e, portanto, ainda postergada para depois. Outra, a avaliação de governo, é percepção presente, fruto da vivência cotidiana. E, naquilo que pensa de seu dia a dia, o brasileiro está claramente insatisfeito, contrariado, infeliz com as condições de vida que estão lhe oferecendo.

Para começar, pela primeira vez na série do Ibope, tornou-se majoritário o contingente de pessoas que consideram o governo Dilma ruim ou péssimo. 

A avaliação negativa da gestão atual é feita por 33% dos entrevistados pelo Ibope, enquanto os que a consideram ótima ou boa somam apenas 31%. Nem no auge dos protestos do ano passado isso chegou a acontecer (na ocasião, houve rigoroso empate em 31%).

Da mesma maneira, são maioria os brasileiros que desaprovam a maneira de a candidata-presidente governar: são 50%, contra 44% que ainda a aprovam. Neste quesito, isso se dá pela segunda vez na atual gestão: em julho do ano passado, Dilma também era mais rejeitada que aprovada (49% a 45%), situação que agora volta a acontecer.

A mesma coisa se passa com o grau de confiança nela. Segundo o Ibope, 52% simplesmente não confiam na presidente que os governa, enquanto 41% mantêm a confiança. É a maior marca negativa neste quesito registrada por Dilma – em julho de 2013, a desconfiança também superava a confiança, mas em menor margem (50% a 45%).

Em rigorosamente todas as nove áreas pesquisadas pelo Ibope, as políticas adotadas pela presidente Dilma são majoritariamente desaprovadas pelos brasileiros: educação, saúde, segurança pública, combate à fome e à pobreza, combate ao desemprego, meio ambiente, impostos, combate à inflação e taxa de juros.

A pesquisa do Ibope foi realizada após a abertura da Copa, sugerindo, quem sabe, que a população em geral não compartilhou o repúdio aos péssimos modos da torcida no Itaquerão, como o PT se encarregou de tentar fazer todos crerem – embora sequer os mais destacados porta-vozes petistas, como Gilberto Carvalho, demonstrem acreditar em suas versões...

O mais certo é que os brasileiros de fato compartilham a avaliação que o secretário-geral da Presidência da República externou entre militantes e ativistas amigos do PT: “(A percepção de que) Inventamos a corrupção, de que nós aparelhamos o Estado brasileiro, de que somos um bando de aventureiros que veio aqui para se locupletar, essa história pegou.” A pesquisa do Ibope mostra que ele está coberto de razão.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Tarde demais

O governo prepara para hoje o anúncio do que seria um “pacote de bondades” para aliviar a situação da economia, mais especificamente da indústria e do setor exportador. Como boa parte do que acontece na atual gestão, as medidas chegam com cheiro de improviso e, sem sombra de dúvida, com grande atraso.

Pode ser tarde demais para evitar o naufrágio, tanto econômico, quanto eleitoral – que é o que, efetivamente, interessa à presidente da República e sua equipe neste momento. O que move o governo é tentar minorar o mau humor de empresários e investidores que não exibem ânimo para continuar aturando as más condições que a gestão petista espalha pela economia.

O tal pacote conterá, segundo informam os jornais de hoje, estímulo a exportadores, novas facilidades tributárias e a manutenção de linhas de financiamento subsidiadas pelo BNDES. São importantes, sim, para tentar injetar alguma adrenalina numa economia que respira por aparelhos. Mas, possivelmente, são insuficientes para surtir o efeito pretendido.

Pontualmente, é válido que exportadores contem com um mecanismo de estímulo como o Reintegra no mesmo momento em que o câmbio não os ajuda. Mas são as péssimas condições gerais de competitividade da nossa economia que lhe tiram completamente o oxigênio na hora de disputar mercado no exterior com concorrentes em situação muito melhor para produzir.

Renegociação de débito tributário, por meio do Refis, já deixou de ser uma forma de atenuar a escorchante carga de impostos praticada no Brasil para se tornar um instrumento para aumentar a arrecadação e evitar resultados fiscais mais catastróficos. Permitir, pela enésima vez, que devedores parcelem e quitem suas dívidas deixou de ser novidade.

A manutenção do Programa de Sustentação do Investimento – há quem diga, como O Estado de S. Paulo, que é mais que isso, com o programa tornando-se permanente como linha regular do BNDES – é um pleito dos empresários. O problema tem sido a forma como se dá o processo de seleção dos (poucos) beneficiários.

O ideal é que os juros “padrão BNDES” não fossem só para uns poucos eleitos, mas para os muitos no país que precisam de fôlego financeiro para investir e fazer seu negócio crescer. Subsídios são necessários, mas hoje sequer se conhece que benefícios acarretam e quem paga ou deixa de pagar por isso. Poderiam ser muito melhor empregados.

Pelo que se noticia, exceto o Refis as novas medidas valeriam para o ano que vem. Ou seja, no duro do real, o governo da presidente Dilma Rousseff vende o que não tem, porque seu mandato acaba em 31 de dezembro próximo e as urnas ainda não lhe deram a recondução – se é que lhe darão...

O que se constata é que pode ser tarde demais para as bondades que o governo assaca agora da algibeira a fim de tentar reanimar uma situação econômica que já se encontra em estado tal que remendos não convencem, tampouco são suficientes. O buraco em que nos metemos está bem mais embaixo.

Mais grave ainda é o risco de, no afã de tentar manter-se no poder a qualquer preço, o atual governo lançar-se em iniciativas irresponsáveis que comprometam ainda mais o futuro e dificultem mais ainda a recuperação econômica. A inclinação petista a vender terreno na lua é, mais que uma evidência, prática a que se lançam sempre que o calo aperta.

Não se espera, contudo, que o governo fique imobilizado. Mas, sim, que adote medidas responsáveis e consequentes. Improvisar é tudo o que não se deve fazer numa economia que caminha para seu quarto ano de anemia, consolidando-se, sob a égide de Dilma Rousseff, como um dos patinhos mais feios entre todos os países do mundo.

terça-feira, 17 de junho de 2014

A união contra o ódio

Há duas forças políticas em disputa hoje no país. Uma prega o ódio; a outra defende a união. Uma quer dividir os brasileiros; a outra busca uma nação que seja melhor para todos, indistintamente.

Inverter estes papéis é a estratégia de quem sempre apostou num Brasil conflagrado e, quando colhe o que planta cotidianamente, age como o batedor de carteira que, apanhado, grita “pega ladrão”.

Quem, mais que o PT, vem insuflando o ódio e tentando, com seu discurso sectário, dividir o país entre pobres e ricos, entre brancos e negros, entre elite e miseráveis? Não há cargo nem liturgia que impeçam seus próceres de exercitar sua retórica da intransigência, onde quer que a oportunidade surja.

Os petistas usam todos os meios à mão, lícitos e, principalmente, ilícitos, para propagar sua ode à divisão do país. Quem não está a favor do governo é tachado de “pessimista”, de “perdedor”, de antipatriótico. Não apenas nos palanques, mas também em solenidades oficiais. Cadeias de rádio e televisão tornaram-se tribuna de honra para ataques partidários.

Os líderes petistas aproveitam todos os espaços disponíveis – e subvertem os que não deveriam estar disponíveis – para constranger adversários, sempre classificando-os como espécies de vendilhões da pátria, traidores da nação, feitores do povo. Quem não está conosco está contra nós – é esta a mensagem sempre veiculada pelos porta-vozes do PT.

Que militantes sectários ajam assim, até vá lá. Mas a coisa muda muito de figura quando até a presidente da República não se furta a desrespeitar quem pode interpor-se ao projeto de poder total de seu partido. Foi o que fez Dilma Rousseff ontem ao atacar um governador de Estado em mensagem gravada a petistas no lançamento de seu candidato ao governo de São Paulo.

É assim que o PT faz política: atacando, achincalhando, desrespeitando. Quando tomam apupos como respostas, posam de vestais. As vaias e os xingamentos são difusos, partem de gente insatisfeita com o governo, ainda que com maus modos. São uma réplica à forma de governar de um partido e não agressão a uma mulher.

A retórica agressiva do PT, em contrapartida, é parte essencial de sua estratégia política, espinha dorsal de sua lógica de comunicação. Tanto que partiu de seu marqueteiro, o 40° ministro da República, João Santana, a comparação dos adversários de Dilma a “uma antropofagia de anões, (que) vão se comer, lá embaixo”. Se nove meses atrás a ordem unida já era esta, imagina agora depois da Copa...

O mago das campanhas eleitorais petistas dá a nota, mas quem executa a sinfonia de diatribes é Luiz Inácio Lula da Silva. A cada vez que lhe abrem os microfones para falar, o ex-presidente mostra-se incapaz de produzir uma mensagem construtiva, uma palavra em favor de uma concertação nacional. Sua lógica sempre é a do sectarismo.

À guisa de “responder” a investida da oposição, o petista exercitou ontem, mais uma vez, sua pregação do ódio. Mais uma vez, apostou na divisão da sociedade. Mais uma vez, lançou mão de manipulações da história e da reescrita do passado. É assim, e só assim, que o PT busca conseguir seus triunfos.

Os brasileiros de bem não suportam mais a maneira conflituosa de fazer política que o PT pratica. Os brasileiros de bem querem, isso sim, a reconquista da união e da civilidade. A mesma união que fez o país superar a truculência política, a instabilidade econômica, o atraso social. A união que, nas últimas três décadas, construiu a nação que hoje somos. O Brasil é de todos os brasileiros e não de uma facção que dele considera ter se apossado.

sábado, 14 de junho de 2014

Vaias: ela merece!

Ela até que tentou, mas não teve jeito. Escondida no espaço mais recôndito da tribuna de honra do Itaquerão, a presidente Dilma Rousseff fez tudo para passar incólume pela abertura da Copa do Mundo. Mas foi brindada por milhares de torcedores com vaias e xingamentos impublicáveis. Ela merece.

Foram pelo menos quatro ocasiões durante a partida em que o Brasil – com nosso escrete reforçado pelo juiz japonês Yuichi Nishimura – venceu a Croácia por 3 a 1 na estreia do Mundial, em São Paulo. Dilma foi homenageada com a galera gritando a plenos pulmões que ela fosse tomar no... deixa pra lá. Coitadinha.

Toda uma operação de guerra foi montada para que a presidente da República fosse ao estádio que custou mais de R$ 1,2 bilhão, a maior parte custeada com dinheiro público, sem ser notada. A ordem era “blindar” Dilma para que ela não recebesse apupos. Reservaram-lhe a cadeira mais escura do canto mais escondido das tribunas. Mas não deu: o povo não é bobo.

As primeiras vaias vieram logo após a cerimônia de abertura – se é que aquilo pode ser chamado de cerimônia (será que até isso deixaram para a última hora?) Voltaram depois da execução do hino nacional – e olha que nem dá para falar de falta de patriotismo, porque a galera cantou toda a letra de Joaquim Osório Duque Estrada a plenos pulmões, mesmo que a Fifa não quisesse que fosse cantada.

Mas os xingamentos explodiram com força mesmo quando Dilma surgiu no telão após Neymar marcar seu gol de pênalti. Para desgosto da presidente, e contra as suas ordens, sua imagem foi mostrada pelas câmeras de TV para todo o mundo. E o Itaquerão veio abaixo, entoando seu grito por um tempo que, para a petista, deve ter soado como o mais longo da vida dela.

Vaias e Dilma Rousseff têm sido par indissociável de uns tempos para cá. O pontapé inaugural foi na memorável abertura da Copa das Confederações, um ano atrás em Brasília. Na ocasião, sobrou para a petistas declarar, em oito segundos e nada mais, “oficialmente aberta a Copa das Confederações Fifa 2013”. Agora, não deu nem para ela falar vírgula.

Em suas viagens pelo Brasil afora, Dilma tem sido brindada por vaias. Foi assim em abril, no Pará; em maio em Uberaba e na Paraíba. Até em show de música nossa querida presidente da República tem sido homenageada, como aconteceu no mês passado em Ribeirão Preto, com transmissão ao vivo e a cores para todo o Brasil de um corinho de mais de 40 mil vozes mandando Dilma ir tomar no... deixa pra lá.

Segundo o discurso oficial, gente assim, tão mal humorada, faz parte dos pessimistas que já entram em campo perdendo, como ela afirmou no pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão que fez à guisa de defender as memoráveis realizações de seu governo com vistas à Copa – e outras coisas que nada tinham a ver com o torneio.

Foram Dilma e seu partido que optaram por cindir o Brasil entre quem diz amém ao governo e quem mantém acesso seu espírito crítico e não corrobora com o estado atual de degeneração que a administração de turno pratica. A resposta tem vindo em altos decibéis: sobrou para a presidente colher, por ora apenas nos ouvidos, a indignação da nossa gente.

Seu patrono e tutor sequer ousa arriscar. Bem mais esperto que a pupila, Luiz Inácio Lula da Silva só se exibe perante plateias previamente docilizadas, sem o risco de topar de frente com o contraditório. De estádio, prefere nem passar perto – quanto mais ir de jumento, como jurou que era capaz de fazer para ver a seleção ou seu Corinthians jogar, porque de metrô é “babaquice”.

As vaias que se reproduzem pelo país afora não são atos isolados. Não são atitude de gente debochada. São, isto sim, gritos de protesto de milhões que não veem a hora de virar a página e começar a escrever uma nova fase da nossa história. O que hoje dói apenas nos ouvidos da presidente da República em breve vai doer-lhe fundo na alma e na urna.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Dilma, a campeã da mentira

Em tempo de Copa do Mundo, os povos costumam se irmanar. O sentimento de união tende a ser ainda mais forte quando o torneio acontece em países muito identificados com o esporte, como é o caso do Brasil. Mas ontem a presidente da República foi à televisão agredir os brasileiros que não comungam da visão rósea que seu governo busca propagar do Mundial.

Dilma Rousseff ocupou novamente uma cadeia nacional sob o pretexto de, segundo o Blog do Planalto, dizer que o Brasil “venceu os principais obstáculos e está preparado” para a Copa. Curiosa a razão do pronunciamento: fosse verdadeira, provavelmente a presidente não precisaria ir ao rádio e à TV para tentar convencer os brasileiros.

Basta andar nas ruas e ter olhos para ver que o Brasil que chega amanhã à Copa do Mundo não se parece nem um pouquinho com aquele que se projetava quando o país foi escolhido sede do torneio, em outubro de 2007 na Suíça. É abismal a distância entre o clima desalentado hoje reinante no país e o que a propaganda oficial vendeu em todos estes últimos anos.

Em seu pronunciamento, Dilma mirou a oposição, mas vilipendiou os brasileiros que ousam não compactuar com a mordaça com a qual o PT quer silenciar seus críticos e constranger os que não lhe dizem amém. Várias pesquisas de opinião mostram a desaprovação da nossa população à Copa ou a aspectos relacionados à promoção do torneio no Brasil.

Em abril, o Datafolha constatou que 55% dos brasileiros vêm mais prejuízos que benefícios na realização da Copa no país e só 36% acham o contrário. Outra pesquisa, feita pelo Ibope sob encomenda do Planalto, reforça: em 11 das 12 cidades-sede os que enxergam mais prejuízos que benefícios são ampla maioria, conforme publica O Globo em sua edição de hoje.

Sim, os brasileiros esperavam bem mais da Copa, mas o governo que nos governa há 12 anos foi incapaz de cumprir suas responsabilidades. Há um mês, a Folha de S.Paulo fez extenso levantamento no qual concluiu que somente 41% das 167 obras previstas relacionadas ao torneio foram realizadas.

Dilma tem razão quando diz que os estrangeiros não vão levar na bagagem os metrôs, os aeroportos e as obras de mobilidade associadas à Copa. Até porque elas não existem: só 10% ficaram prontas a tempo do Mundial.

O número de obras abandonadas também não cabe nos dedos das duas mãos, incluindo todos os cinco VLT (Veículos Leves sobre Trilhos) originalmente previstos. Corredores de ônibus, como o do Rio, e metrôs, como o de Salvador, estão sendo entregues incompletos.

Não é irrealista apenas a visão que Dilma apregoa sobre a Copa num espaço institucional que ela se especializou em desrespeitar. São falsas também boa parte das informações que ela destilou em seu pronunciamento – mais correto seria dizer que se tratou de um programa eleitoral – exibido ontem.

Dilma mente quando diz que “dobramos a capacidade dos aeroportos”. Melhoramos, é verdade, mas muito, muito menos: o aumento foi de 36%. Além disso, em 11 das 12 cidades-sede os aeroportos têm falhas, obras inacabadas, sujeira e desorganização, como mostrou a Folha na semana passada. Em Fortaleza, foi necessário erguer um terminal de lona; em Salvador, as obras foram simplesmente postergadas para depois da Copa.

Dilma afirmou que “estamos entregando, também, um moderno sistema de comunicação e transmissão que reúne o que há de mais avançado em tecnologia (...) em todas as 12 sedes”. Sabe-se, porém, que metade dos estádios não contará com redes de internet sem fio, tornando a comunicação bem lenta, conforme admitiu o Sinditelebrasil na semana passada.

Mas a presidente exagera mesmo é quando coteja os gastos com estádios da Copa aos investimentos supostamente feitos em saúde e educação. Diz que estes são “212 vezes” maiores que o valor aplicado nas arenas. Para chegar a esta esdrúxula comparação, Dilma somou despesas de estados e municípios, mas foi bem mais longe e adicionou desde salários a gastos com cafezinho na conta.

Considerando apenas investimentos feitos pelo governo federal em saúde e educação desde 2011 até hoje, foram despendidos tão somente R$ 24,5 bilhões, conforme dados do Siafi levantados pela assessoria do DEM. Para chegar aos R$ 1,7 trilhão que a presidente afiança ter torrado nas duas áreas ao longo de seu governo é preciso muita ginástica...

Amanhã começa oficialmente a Copa do Mundo do Brasil. É tradição que chefes de governo locais deem boas-vindas aos esportistas e aos que acompanham a festa ao redor do mundo. A presidente brasileira preferiu o ambiente frio de um estúdio de TV para fazer seu pronunciamento. Lá pôde mentir à vontade, sem temer as vaias que, num estádio, certamente receberia.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

As boas-novas do Datafolha

O detalhamento da mais recente pesquisa de intenção de votos feita pelo Datafolha sugere que a oposição tem uma pista livre para decolar nos próximos meses até a eleição de outubro. Tudo indica que o tempo do PT está chegando ao fim. Está se aproximando a hora da mudança. Ufa!

O resultado geral mais significativo é a persistente queda das intenções de voto na presidente Dilma Rousseff. Desde fevereiro, ela perdeu dez pontos e hoje tem 34%. As quedas mais acentuadas ocorreram no Norte e no Nordeste. Também não aconteceu a decantada decolagem que João Santana, no alto de toda a prepotência, previu em outubro do ano passado.

Num eventual segundo turno, a petista já sente o calor da aproximação de Aécio Neves. Na simulação feita no início deste mês, a diferença a favor da candidata-presidente é de apenas oito pontos percentuais: 46% a 38%. Há quatro meses, em fevereiro, na mesma simulação Dilma tinha simplesmente o dobro das intenções de voto do tucano: 54% a 27%.

Em estados cruciais como São Paulo, que reúne 22% do eleitorado brasileiro, a presidente já está atrás de Aécio nas simulações de segundo turno (46% a 34%) e aparece tecnicamente empatada com ele na disputa em primeiro turno: 23% a 20%, segundo informa a Folha de S.Paulo em sua edição de hoje.

Ainda em relação a um cada vez mais certo segundo turno, Aécio vence Dilma nas regiões Sul e Sudeste enquanto no Centro-Oeste há rigoroso empate. A rejeição à candidata-presidente vem subindo e hoje já é a maior entre todos os candidatos (35%), enquanto a de Aécio é declinante e hoje encontra-se em 29%.

O caldo geral a favor da mudança continua engrossando: 74% dos entrevistados pelo Datafolha pedem um governo que tome atitudes diferentes do que faz a gestão Dilma. Para 21% dos entrevistados, Aécio é quem está mais preparado para fazer as transformações que o Brasil precisa – o percentual equivale ao dobro dos que pensavam assim em fevereiro. Dilma é apontada agora por 16%.

Todo o bom desempenho do senador tucano acontece a despeito do bombardeio propagandístico que o governo federal promove em rádios e televisões de todo o país tentando apropriar-se de realizações que, na maioria dos casos, nem dele são – como acontece em Minas e em São Paulo, para ficar apenas em alguns poucos exemplos.

As chances de Aécio ganham ainda maior relevância quando se sabe que, segundo o Datafolha, ele ainda é pouco conhecido pela população em geral. Enquanto 55% dos entrevistados dizem conhecer Dilma muito bem, apenas 19% afirmam o mesmo em relação ao ex-governador de Minas Gerais. Ou seja, à medida que começa a ser mais bem conhecido, Aécio sobe.

Do potencial de maior conhecimento do candidato do PSDB também pode depender a migração dos que hoje se mostram desalentados com as eleições e indicam disposição para votar branco, nulo ou abster-se em outubro. Nesta condição encontram-se 30% dos brasileiros, que ora se declaram sem candidatos.

Os resultados do Datafolha – que ouviu 4.337 pessoas, mais que o dobro do usual – corroboram outras pesquisas de outros institutos. Ou seja, não são pontos fora da curva. A eleição, de fato, caminha para favorecer a escolha de um novo rumo para o Brasil. Não é por outra razão que o desespero ora campeia nas hostes petistas, a ponto de Lula deitar críticas, dia sim dia também, ao governo de sua pupila. Agora, Lula, é tarde.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Tungando os trabalhadores

O governo que se autoproclama “dos trabalhadores” está garfando os trabalhadores. Dois dos fundos públicos mais caros aos empregados brasileiros estão sob ataque: o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) estão sendo tungados pelos petistas.

Criado há 46 anos, o FGTS é uma espécie de poupança compulsória de todos os trabalhadores que têm carteira assinada no país. Os empregadores depositam o equivalente a 8% do salário mensalmente em contas individuais. O problema é como estes recursos são remunerados: taxa referencial (TR) mais 3% ao ano a título de juros.

Nos últimos anos, a TR tem sido mantida em patamar baixíssimo, segurando, também, os rendimentos das cadernetas de poupança. Com isso, o que já era ruim ficou pior: os depósitos feitos no FGTS passaram a perder feio para a inflação.

O economista Armando Castelar fez as contas. “Nos primeiros 38 meses do governo Dilma, o FGTS rendeu em média 3,6% ao ano, contra uma inflação média anual de 6,2%. Em média, portanto, o trabalhador viu sua poupança no FGTS sofrer uma perda de 2,4% ao ano”, escreveu em artigo publicado no Correio Braziliense.

Com Lula não foi diferente: a poupança do trabalhador também foi tungada pelo governo “dos trabalhadores”. Entre 2003 e 2010, calcula Castelar, a inflação média anual foi de 5,8%, enquanto o rendimento médio do FGTS foi de 5% ao ano, configurando, assim, um confisco médio real de 0,7% ao ano.

A situação contrasta com o que acontecia no governo Fernando Henrique. “Nos oitos anos de governo FHC, a inflação média anual foi de 9,1%, enquanto o FGTS rendeu em média 11,9% ao ano. O trabalhador teve, portanto, um ganho real médio 2,6% ao ano”, estimou Castelar.

No fim do ano passado, o instituto FGTS Fácil estimou quanto o trabalhador brasileiro terá perdido nos últimos tempos por ter recebido do governo remuneração tão abaixo da inflação. Na última década, considerando uma inflação média anual de 5,5%, o rombo chegaria a R$ 150 bilhões, informou o Estado de Minas, em outubro passado.

Há uma disputa em andamento para que o dinheiro mantido compulsoriamente pelo trabalhador no FGTS seja mais bem remunerado. No mínimo, ser corrigido pela inflação ou, talvez, pela mesma taxa de juros que o Tesouro paga a quem adquire seus títulos: enquanto o FGTS paga 3% de juros ao ano, o mercado cevado por Selic recebe 11% anuais...

Os problemas com a má gestão do patrimônio do trabalhador não param aí. O FAT também se tornou um dos potes de ouro alvos da cobiça petista. Suas reservas vêm sendo exauridas ano após ano e correm o risco de zerar nos próximos cinco anos, segundo publicou O Globo em sua edição de sábado.

O rombo é crescente. Em 2013, o déficit do FAT foi de R$ 10,3 bilhões. Neste ano, deverá chegar a R$ 12,7 bilhões e em 2015 poderá alcançar R$ 19,7 bilhões, conforme proposta orçamentária a ser votada nesta semana pelo Condefat (Conselho Deliberativo do FAT). “O FAT não dura mais do que cinco anos. O buraco vai engolir todo o patrimônio do Fundo”, resume um conselheiro ouvido pelo jornal.

Os maus negócios com o dinheiro do trabalhador também alcançam o FI-FGTS. Trata-se de um fundo de investimentos gerido pela Caixa Econômica Federal que aporta parte do FGTS dos trabalhadores para financiar obras de infraestrutura em empresas escolhidas. Hoje há R$ 40 bilhões alocados, alguns deles em micos homéricos como a Rede Energia e a Nova Cibe, que quebraram logo depois de receber aportes.

É assustadora a balbúrdia que o governo do PT faz disseminar sobre as contas do país. A responsabilidade fiscal foi árdua conquista da sociedade brasileira e ora vê-se cotidianamente erodida pelos gestores petistas. É bom segurar a carteira, porque a sanha do pessoal de Brasília não tem limites. É o dinheiro suado do trabalhador escorrendo pelo ralo da inépcia petista.

sábado, 7 de junho de 2014

O Brasil em desalento

Os brasileiros têm motivos de sobra para voltar às ruas. Têm motivos para estarem insatisfeitas com o país. Têm motivos para protestar contra um governo que não mostrou a que veio e aproxima-se de um fim de feira melancólico. Tornamo-nos um país de desalento.

É este o clima reinante hoje no Brasil, e justamente às vésperas do que a propaganda oficial vendeu como a maior festa de todos os tempos. A “Copa das Copas” só não é um fiasco completo porque os jogadores da seleção de futebol se esforçam para manter acessa a chama da esperança. Na vida cotidiana, está tudo uma dureza só.

Pesquisa do Datafolha divulgada hoje confirma o clima de desânimo. Otimista inveterado, o brasileiro caiu na real e tornou-se um pessimista empedernido. São maioria (36%) os que acreditam que a situação do país na economia vai piorar. Parte relevante dos que antes achavam que tudo continuaria como está agora enxerga o futuro com viés negativo.

Teme-se a inflação, que voltou a subir no acumulado em 12 meses – agora para 6,37%, conforme divulgou o IBGE nesta manhã. Segundo o Datafolha, a expectativa de alta nos preços voltou a seu patamar mais alto: 64% dos entrevistados apostam nisso. Nesta semana, o Pew Research também listou a inflação como maior preocupação atual dos brasileiros.

Teme-se também o desemprego. Para 48% dos entrevistados pelo Datafolha, a falta de trabalho vai aumentar no país. O patamar só é menor que o registrado em março de 2009, no auge da crise econômica que se seguiu à quebra do banco americano Lehman Brothers. Sintetiza a Folha de S.Paulo: o pessimismo “bate recorde”.

Decerto não é “canalhice”, como acusa o falastrão Luiz Inácio Lula da Silva, a amarga constatação. Decerto a sensação expressa nas pesquisas e vocalizada por formadores de opinião e empresários é a mesma que acomete quem toma ônibus lotado, quem não obtém atendimento decente em hospital e não consegue comprar na feira o mesmo que comprava no mês anterior.

Nossa gente parece ter se cansado do blábláblá das autoridades. Chega de diagnóstico, chega de promessas. Até porque ninguém mais que eles conhece tão bem o que os diagnósticos expressam. Sabe tão bem o que as promessas não cumpridas acarretam em forma de uma vida cada vez mais dificultosa.

Há esperança, porém. O mesmo Datafolha mostra que as intenções de voto em Dilma Rousseff continuam mergulhando, o que permite antever riscos concretos de derrota do projeto de reeleição que ela encarna. Em quatro meses, dez pontos percentuais foram para o buraco, levando junto a candidata-presidente.

O Datafolha constata que a insatisfação com o governo petista ainda não se reverteu em votos para os candidatos da oposição. De fato. Mas é de se ressaltar a enorme distância entre os meios à mão do governo e os disponíveis àqueles que tentam apear Dilma do poder. É abissal e ainda está longe de ser transposta.

A exposição das opções, a partir de julho, na campanha eleitoral tende a fazer o quadro se alterar. É o que quase sempre ocorre, com foi em 2010, neste caso a favor da hoje presidente. Os brasileiros estão convictos de que é hora de mudar. Só precisam de um pouco mais de informação e tempo para saber qual o rumo tomar. A mudança chegará.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

A indústria em recessão

A indústria brasileira continua sua triste sina. A produção do setor voltou a recuar, indicando que a recessão veio para ficar. Até quando, ninguém sabe. As linhas de produção começam a parar, no que parece ser o primeiro passo para o início de uma indesejável onda de demissões. Onde isso vai parar?

Segundo o IBGE, em abril a produção industrial caiu 0,3% em relação a março. Foi a segunda baixa consecutiva no ano. Quando comparado a abril de 2013, o tombo é bem pior: 5,8%. É o maior, nesta base de comparação, desde setembro de 2009, isto é, em quase cinco anos. Para nossas fábricas, o segundo trimestre começou com pé esquerdo.

A continuar no ritmo atual – e nada indica que será diferente – a indústria brasileira vai acumular quatro trimestres seguidos de queda. Ou seja, um ano afundando buraco adentro, sem esboçar reação. Nos três últimos trimestres, o setor acumula três baixas consecutivas, com recuo de 1,1%, segundo o IBGE.

Em abril, 70% dos 805 produtos acompanhados pelo IBGE apresentaram queda na produção. Termômetro do que pode advir no futuro, a fabricação de bens de capital simplesmente despencou, com queda de 14,4% na comparação com igual mês de 2013. Traduzindo: quase ninguém mais investe no Brasil.

Tecnicamente, a indústria do país já está em recessão. Não há quem creia em recuperação no curto prazo. As projeções dominantes entre analistas dão conta de que o crescimento antes esperado para 2014 está sendo revisto para, no máximo, uma alta modestíssima, só levemente acima de zero. Há quem fale em queda, que seria a segunda em três anos – em 2012, houve recuo de 2,3% na produção industrial. Enferrujamos de vez.

O processo de desindustrialização acentuou-se nos anos do governo do PT. Dez anos atrás, a indústria de transformação, segmento industrial mais dinâmico, ainda respondia por 19% do PIB brasileiro. Hoje, esta fatia caiu para 13%, ou seja, uma perda superior a 30% em apenas uma década.

Nosso setor industrial produz hoje nos mesmos níveis de 2008. Isso significa que a indústria brasileira perdeu seis anos numa corrida pela competitividade em que não dá para desperdiçar nem um dia. Nossas exportações de manufaturados caem e a fatia do mercado interno suprida por importados nunca foi tão alta: 22,5%, segundo a CNI.

Os sinais de crise pipocam, mas o governo parece atordoado. Instada por jornalistas estrangeiros a tentar explicar por que as coisas vão tão mal e o país anda para trás sob sua gestão, Dilma Rousseff limitou-se a responder: “Não sei”, segundo relata Merval Pereira n’O Globo. É a nossa rainha da sucata em ação – ou melhor, em inação.

Entre 2011 e 2013, cerca de 230 mil empregos industriais foram eliminados. Teme-se que piore, porque as empresas já começaram a deixar seus empregados de molho em casa. As montadoras devem dar férias coletivas a mais de 20 mil funcionários neste e no próximo mês. Fabricantes de linha branca e eletroeletrônicos também vão parar.

É improvável, para não dizer impossível, que o governo que aí está consiga salvar a indústria brasileira do naufrágio. Suas iniciativas são erráticas e contraditórias, como demonstra mais uma alteração na cobrança de IOF em operações no exterior. Eles não sabem o que fazem, mas não dá para perdoá-los.

A indústria brasileira só vai ressuscitar se tivermos uma nova orientação política, uma nova lógica econômica, uma visão adequada aos desafiadores tempos atuais. Nossos empresários querem mais e não menos inovação; mais e não menos integração comercial com o resto do mundo; menos e não mais interferência do Estado. Com Dilma, terão sempre o oposto disso.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Quando novembro chegar

É preciso dar razão à presidente Dilma Rousseff: a situação do país vai melhorar quando novembro chegar. Vai melhorar porque o eleitor brasileiro terá decidido por ponto final à experiência de governo do PT. Quando novembro, finalmente, chegar, o Brasil estará a um passo de começar a mudar. Ninguém aguenta mais o que aí está.

O país atravessa hoje uma de suas mais graves crises de confiança. O futuro parece turvo, se não para todos, para grande maioria. O brasileiro olha para a governante no Palácio do Planalto e não enxerga nela quem possa lhe conduzir a um amanhã melhor. Afinal, foi a mesma governante quem o trouxe a este presente penoso.

As expectativas estão ruins. Do empresário que desiste de produzir ao consumidor que prefere não comprar, passando pelo investidor que migra seu dinheiro daqui para bem longe. Dilma e um monte de petistas acha que é pura birra de quem faz “beicinho”, como decretou o ministro Paulo Bernardo há uns meses. Não entendem – ou não querem compreender – como funcionam as coisas no mundo real.

Os indicadores de confiança e expectativa estão todos apontando para baixo. Os da indústria, do comércio e dos consumidores estão nos menores níveis desde a crise de 2008, ano em que o mundo todo mergulhou numa profunda recessão. Ao contrário de antes, contudo, o mau humor agora é propriedade nossa, exclusividade dos brasileiros.

A constatação é reforçada por pesquisa feita pelo Pew Research Center divulgada ontem nos EUA. Os números são acachapantes. Para começar, 72% dos brasileiros estão insatisfeitos com a situação do país. O nível de insatisfação, porém, não é de agora: supera sistematicamente o de satisfação desde 2012, embora o abismo entre um e outro tenha se acentuado nestes últimos 12 meses.

A situação da nossa economia é ruim para 67% dos pesquisados, numa situação completamente inversa à de um ano atrás, quando 59% a avaliavam como boa. Neste caso, a reversão é total: desde 2010, quando o Pew Research fez sua primeira pesquisa nacional, até 2013, as avaliações positivas sobre o ambiente econômico brasileiro sempre superaram as negativas.

Os resultados colhidos não decorrem de avaliações aleatórias. O brasileiro sabe exatamente o que lhe incomoda: 85% apontam a alta de preços, a inflação, como principal problema do país atualmente. Insegurança e falta de saúde aparecem logo na sequência, com 83%. Também preocupam a corrupção política (78%) e a perda de oportunidades de trabalho (72%).

A visão que os entrevistados professam em relação à forma com que Dilma Rousseff cuida dos principais assuntos do país é amplamente negativa. O Pew Research apresentou nove temas e áreas aos pesquisados e em absolutamente todos a relação é de, no mínimo, dois que desaprovam para cada um que aprova, chegando a seis para um no caso da corrupção, da segurança e da saúde.

“O atual nível de frustração que os brasileiros expressam em relação à direção do seu país, a sua economia e os seus líderes não tem paralelo nos anos recentes”, resumem os pesquisadores. Segundo Juliana Horowitz, brasileira responsável pelo trabalho, o instituto fez levantamentos em 82 países desde 2010 e só viu oscilações tão acentuadas em lugares que passaram por crises ou rupturas institucionais, como o Egito, registra O Estado de S. Paulo.

O que o Pew Research, um dos principais institutos de pesquisa dos EUA, constata é algo que os que vivemos no Brasil atestam cotidianamente. Tornou-se insuportável aceitar a degradação das condições de vida, o desleixo com conquistas econômicas e sociais, a corrosão de valores que se tornaram norma nos anos recentes. Já deu. Que novembro chegue rápido, para enxotar o quanto antes esta gente do governo.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Padrão Dilma

A Copa do Mundo está logo ali na esquina, mas o Brasil está a milhas de distância do país que emergiria do torneio, como, durante anos, prometeu o discurso oficial. A preparação para o campeonato legará poucos benefícios duradouros à população. E o pouco que foi feito exibe um padrão de qualidade muito abaixo da crítica.

As decepções começam logo na porta de entrada do país. Com honrosas exceções, os aeroportos continuam tão ruins quanto sempre foram. O cenário é quase de terra arrasada, como descreve a Folha de S.Paulo em sua edição de hoje. Não parecemos um país às vésperas de uma grande festa, mas sim um país depois da guerra.

Das 12 cidades sedes, 11 têm aeroportos com falhas, obras inacabadas, muita sujeira e, sobretudo, desorganização. Que cartão postal! Tem até obra que começou e foi abandonada pelo caminho, por absoluta inépcia dos realizadores, como é o caso do aeroporto de Fortaleza, substituído por um puxadinho.

Levantamento mais amplo, divulgado há três semanas, mostrou que apenas 41% das 167 obras previstas para a Copa, conforme a chamada matriz de responsabilidade, estavam prontas. O número mais atualizado dá conta de que o percentual subiu para 50%. Ou seja, sete anos depois de escolhido sede do torneio, o Brasil do PT só fez metade do que deveria. Quanta competência!

Não é apenas nas obras relacionadas ao campeonato de futebol que este padrão lambão de fazer as coisas transparece. Ele está presente também na gestão cotidiana do governo, no comando das empresas públicas, no descompromisso com a boa aplicação do dinheiro dos contribuintes, na forma errática de conduzir a economia. Dá para sintetizar numa expressão: é o padrão Dilma de governar.

Neste padrão, promessas só servem para não serem cumpridas e, um pouco mais à frente, serem oportunisticamente recicladas. É o que acontece com as sucessivas fases de programas como o PAC, o Minha Casa, Minha Vida, o Ciência sem Fronteiras e o Pronatec – todas anunciadas ou por serem anunciadas muito antes de as metas originais terem sido atingidas, quando o são.

O padrão Dilma envolve não apenas inapetência, mas também o gosto pelo engodo. Tome-se o PAC. Sua segunda versão, lançada no início de 2010, serviu para reembrulhar o muito que a primeira, datada de 2007, não entregara. O expediente, claro, foi insuficiente para transformar saliva e discurseira em realizações de verdade.

Das 49.905 obras do PAC 2, apenas 12% foram concluídas nos três primeiros anos de governo Dilma. Pior: mais da metade das obras (53%) sequer foram iniciadas, de acordo com levantamento divulgado em abril pela revista Veja, com base em dados da ONG Contas Abertas. A presidente, contudo, prepara-se para anunciar a terceira fase do programa...

Este padrão chumbrega também está na gestão de empresa como a Petrobras, onde investimentos bilionários, como os da Abreu e Lima, em Pernambuco, são feitos nas coxas, na base da “conta de padeiro”, no dizer de seu mais notório dirigente: o hoje presidiário Paulo Roberto Costa. Não espanta que a refinaria – decidida à época em que Dilma presidia o conselho de administração da estatal – tenha se tornado a mais cara já feita em todo o mundo.

O retrocesso que o país experimenta nos anos recentes, com crescimento anêmico e inflação renitente, é produto direto deste método medíocre de gestão. O Brasil foi posto na mão de aprendizes de feiticeiro que transformaram a nação num laboratório e num mero detalhe de seu projeto de poder eterno. Com o padrão Dilma de governar, fomos para o buraco. De lá, temos que sair rápido, antes que afundemos irremediavelmente.

terça-feira, 3 de junho de 2014

A farsa da democracia direta

Sociedades maduras devem muito de sua prosperidade a suas instituições. O contrato social estabelece regras de convívio e funcionamento das diversas instâncias. A perenidade das normas orienta o comportamento dos cidadãos e a democracia oferece meios para participação e representação. Tudo dentro da ordem.

Há, porém, os que não comungam destes valores. Querem subverter a ordem, atropelar as instituições, instituir seus próprios princípios de convivência. Consideram regras consagradas como meros instrumentos de “dominação burguesa”. Opõem-se, com vigor, à democracia representativa e lutam por formas diretas de manifestação popular.

Esta é uma visão que predomina entre petistas. Trata-se de um vezo segundo o qual tudo o que se interponha no caminho de seu projeto de poder merece repúdio. Assim se dá com o tratamento dispensado a órgãos de fiscalização e controle, à imprensa e ao Judiciário, sempre que não comungam das teses do petismo.

Assim é também em relação ao Congresso. No passado, Lula disse que lá havia “300 picaretas”; hoje, ele e o PT aliam-se às piores picaretagens de que se tem notícia na história republicana. Mas o PT quer mais: quer subverter a representação e impor na marra a vontade das massas. Quer fazer valer suas vontades na pressão.

A nova Política Nacional de Participação Social (PNPS) insere-se neste contexto. Lançada há dez dias pela presidente Dilma Rousseff por meio de decreto, expressa como objetivo “fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração pública federal e a sociedade civil”.

No papel, tudo muito bonito. Na prática, nem tanto. O que o PT parece querer é implantar mecanismos de democracia direta no país, ao arrepio dos canais institucionais da nossa democracia representativa. De acordo com a pregação petista, a sociedade não interfere na administração pública e no processo legislativo. Será?

Nossos representantes são democraticamente eleitos para atuar no Parlamento e para governar. Há inúmeras formas de fiscalizá-los e de cobrá-los, sem que, no entanto, seja necessário criar novas estruturas burocráticas e instâncias passíveis de manipulação por parte de movimentos ditos sociais. O voto é a melhor arma para punir quem não cumpre os desígnios emanados da sociedade.

O governo petista brada o slogan “Todo brasileiro tem direito de participar” como se vivêssemos hoje numa ditadura. Como se não participássemos. Como se o voto fosse algo de somenos importância. Como se o que valesse mesmo fossem apenas as formas de pressão direta das massas sobre os governantes.

Há milênios, a humanidade testa formas de participação que vêm se aperfeiçoando, mas nenhuma delas mostrou-se mais saudável que a democracia e seu caráter representativo. O PT prefere outros caminhos, inspirado, talvez, nas malfadadas experiências que pipocam pelo nosso continente – usadas, claro, sempre em favor de governantes caudilhescos.

A PNPS é mais uma forma de subverter a ordem democrática, de usurpar o papel das nossas instituições e de fazer valer vontades na marra. A participação popular precisa, sim, ser fortalecida, com cobrança firme sobre governantes e decisores. Mas não inventaram nada melhor para isso do que o voto. A urna é a forma mais adequada e direta de melhorar o país.