Não dá para ficar satisfeito com a microscópica melhora das notas médias do Enem de 2010 divulgadas pelo governo federal. Os resultados confirmam a lentidão da evolução do ensino no país e o abismo que nos separa das nações que encontraram na melhor formação educacional de suas crianças e jovens um caminho para o desenvolvimento.
O Ministério da Educação comemorou o fato de a nota média nas provas objetivas – únicas nas quais é possível fazer comparações entre um exame e outro – ter passado de 501,58 para 511,21 pontos entre 2009 e 2010. Seria o mesmo que um pai ficar satisfeito em saber que, ao invés de ser reprovado com nota igual a 50, o filho tomou bomba tendo obtido média de 51.
Fernando Haddad disse que a evolução, equivalente a uma melhora de menos de 2% de um ano para o outro, “está dentro do esperado”. Só se for para ele. O que a sociedade brasileira espera do governo é que acelere este processo e não que fique a observá-lo avançar a passos de cágado.
Numa pontuação que vai de 0 a 1.000, o MEC fixou como meta atingir a média de 600 até 2028. Se a evolução verificada no ano passado se repetir, o objetivo poderá ser alcançado antes, em uma década. Ocorre que o alvo perseguido pelo governo equivale ao patamar observado nos países desenvolvidos em 2003, ou seja, na melhor das hipóteses estamos pelo menos duas décadas atrasados.
Mesmo com a ligeira melhora na nota média, o quadro geral é desalentador. A maior parte dos estudantes (53%) teve nota abaixo da média global (553,73 pontos), que considera tanto o desempenho nas provas objetivas quanto na redação.
Na rede pública, a proporção é alarmante: oito em cada dez escolas ficaram aquém da média geral do Enem. Nas particulares, foram 8%, ou menos de uma em cada dez. Em números absolutos, aparecem nesta situação 8.926 estabelecimentos da rede estatal e 397 da particular, num universo de quase 24 mil colégios avaliados.
O Enem repisa um problema que já vem sendo verificado em outras avaliações como o Ideb, o Pisa, a Prova ABC, a Prova Brasil: o fosso que separa a qualidade do ensino na rede privada daquele que é oferecido nas escolas públicas.
Das 20 escolas com maiores médias no Enem, 18 são privadas e as duas públicas são vinculadas a universidades federais. Na outra ponta, entre as mil escolas com piores médias, 995 são públicas e apenas cinco privadas, mostrou O Globo no domingo.
A defasagem pode ser medida em anos de estudo. Segundo o professor Ocimar Munhoz Alavarse, da USP, ouvido também por O Globo, os alunos do ensino médio público teriam de estudar mais dois anos para alcançar os colegas da rede particular de ensino. Em termos qualitativos, equivale ao estudante da escola pública deixar o ensino médio com apenas a formação do fundamental.
Diante do quadro, não espanta que também a formação de nível superior no Brasil exiba um estado de penúria. Relatório da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) a ser divulgado hoje mostra que o Brasil tem apenas 12% da população entre 25 e 34 anos de idade com ensino superior. É o menor percentual em uma lista composta por 42 países.
Uma das explicações é que o país gasta mal os recursos destinados à educação – na proposta orçamentária de 2012, R$ 69 bilhões estão previstos para o MEC. Nas escolas públicas de nível fundamental e médio, a média aqui é de US$ 2.098 ao ano, enquanto o patamar de dispêndios da OCDE é de US$ 8.111. Tal relação inverte-se no ensino superior: o custo do estudante brasileiro é de US$ 11.610, enquanto a média da OCDE é US$ 10.543, revela a Folha de S.Paulo.
Não é segredo para ninguém que um país só avança no seu nível de desenvolvimento quando joga todas as suas forças na educação. Tome-se, na mesma pesquisa da OCDE, o exemplo do que ocorreu na Coreia: entre uma geração e outra, a média de formandos de nível superior avançou 50 pontos percentuais – enquanto no Brasil aumentou apenas três.
A educação brasileira encontra-se diante do desafio de elevar considerável e rapidamente a qualidade do ensino oferecido em sala de aula, bem como de diminuir a distância entre os que podem e os que não têm como pagar por um bom estudo. É o passo seguinte ao enorme avanço que foi ter colocado todas as crianças na escola, vencido no governo Fernando Henrique.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
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