sexta-feira, 3 de junho de 2016

O fundo do poço

A economia brasileira desceu a uma condição tão dramática que até notícia ruim ganha conotação positiva. A nova queda do PIB no primeiro trimestre foi comemorada por ter sido menos acentuada do que se especulava. Há esperança de que tenhamos chegado ao – ou estejamos próximos do – fundo do poço. A questão é que o buraco onde adentramos é imenso.

Com a nova queda trimestral, a quinta consecutiva, o PIB brasileiro retrocedeu ao nível de 2011. São, portanto, cinco anos jogados no lixo – não por coincidência os cinco anos em que estivemos sob o jugo de Dilma Rousseff e do aprofundamento da anacrônica matriz econômica petista. A queda acumulada neste período é de 7,1%.

Em termos per capita, ou seja, quando se considera a riqueza produzida dividida pela população, a baixa acumulada em apenas dois anos já alcança 9%. É mais do que o verificado nos 12 anos da chamada “década perdida” (anos 1980/1990), calcula o Goldman Sachs. Além disso, nosso PIB potencial, que antes rodava perto de 4%, agora não passa de 1%. O estrago petista faz história.

É possível separar a dinâmica atual da economia em dois polos: o que acontece dentro do país vai muito mal; o que nos salva é a dimensão externa, ou seja, o comércio com o resto do mundo. É justamente o oposto do que as gestões petistas sempre alegaram: pelo discurso que prevaleceu até outro dia, o inferno sempre foram os outros.

Os componentes mais danosos desta equação são o investimento e o consumo. Ambos em franca queda livre, em alguns casos num patamar nunca antes visto. Ambos ainda devem demorar a reagir.

Até o fim do ano, os investimentos deverão acumular baixa de 40% em relação ao pico, alcançado em 2013, informa o Valor Econômico. A despeito de todas as iniciativas supostamente destinadas a excitar o “espírito animal” dos empresários, o país empreende hoje muito menos do que empreendia no passado. Vê-se com clareza, pela Operação Lava Jato, aonde foi parar a montanha de dinheiro que o governo torrou nestes incentivos...

Neste processo, a indústria brasileira foi dizimada. Hoje a atividade manufatureira encontra-se no mesmo nível em que estava em 2004. Quando se consideram os 13 anos da era petista, é ainda pior: a indústria da transformação, setor tradicionalmente mais dinâmico e empregador, retrocedeu 10,5% desde 2002, calcula a Folha de S.Paulo.

O consumo das famílias também esfriou, e muito: em um ano, acumula queda de 6,3%. Trata-se da outra face do desemprego, do aperto no bolso, da inflação corroendo o salário – um mal-estar que demorará bem mais a sumir, a reboque da ainda tênue melhora das expectativas dos empresários, que deve reagir primeiro.

De todo modo, a avaliação corrente é de que, muito provavelmente, o pior passou ou está perto de passar. De uma forma objetiva, faz sentido: um país que consegue se livrar de uma gangue como a do PT pode, sim, festejar ter deixado a penúria no passado. Na economia, contudo, ainda precisamos esperar um pouco mais para comemorar.

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