sábado, 29 de abril de 2017

Greve de razão

Um bando de gente vai ficar hoje de braços cruzados emendando o feriadão que deveria servir para comemorar o Dia do Trabalho. Parte irá parar para protestar nas ruas, contra tudo e contra todos; muitos pararão não porque querem, mas porque terão seu direito de ir e vir cerceado por uma minoria.

Sobra verbo e falta razão na greve geral convocada para esta sexta-feira, noves fora o direito democrático que a Constituição Federal lhes assegura – o que não justifica os abusos de sempre. Seus participantes preferem que tudo no Brasil continue como está, ou seja, ruim, desigual, atrasado e desumano.

Diz-se que a paralisação é contra a reforma da Previdência, as novas regras trabalhistas e a regulamentação da terceirização. Nesta linha, não surpreenderia que fosse também contra a água encanada, a vacina antirrábica e a luz elétrica. O espírito dos manifestantes é mais ou menos o mesmo.

Quem convoca a greve são sindicatos, centrais e castas profissionais que tremem de medo de perder seus privilégios, a começar pelo imposto que cada trabalhador é obrigado a lhes pagar anualmente, dedicando-lhes graciosamente um dia de labuta – maná a que a reforma laboral recém-aprovada dá fim.

Seus adeptos mais numerosos são os trabalhadores abrigados nos benefícios da CLT, funcionários públicos protegidos no conforto da estabilidade no emprego, profissionais ansiosos por se aposentar aos 50 e poucos anos de idade com vencimento integral até a morte. A eles juntam-se os baderneiros de sempre e a moçada que é contra tudo isso que está aí.

É curioso que não se tenha visto nenhuma destas entidades, dessas categorias, destas corporações ocupar as ruas enquanto o país afundava sob o governo do PT. Não se viu protestarem contra a roubalheira, contra a implosão do orçamento público, contra a desconstrução da nossa economia.

É ainda mais curioso que justamente quando estes problemas começam a ser enfrentamos de maneira decidida estes mesmos grupelhos resolvam cruzar braços e reclamar – não sem antes atazanar a vida da maioria que prefere trabalhar. Quando o país conserta, quando os privilégios são atacados, quando as iniquidades são enfrentadas, eles não gostam.

Sob o pretexto de que faltou discussão sobre as reformas em marcha, os grevistas as desqualificam na íntegra. Esse é um argumento cansativo, de quem não quer mudar rigorosamente nada. A discussão ad infinitum, eminentemente protelatória é a melhor forma de manter tudo como está – como, aliás, foi a tônica nos governos de Lula e Dilma.

Na sua estreiteza, os grevistas não conseguem sequer admitir que há, sim, sérios problemas num sistema de previdência cujo rombo triplicou em quatro anos – e que, não, nem de longe será coberto nem se todas as dívidas forem sumariamente executadas e todos os devedores, presos. Um problema que, no limite, fará com que todos deixem de receber suas devidas aposentadorias e pensões.

Enquanto essa gente refuta a aritmética básica, que agora até alunos precisam ensinar a seus professores, os gastos do país simplesmente arruínam-se. Só em um trimestre, o rombo da Previdência bateu em R$ 40 bilhões, com alta de 38% sobre o mesmo período de 2016.

Ao mesmo tempo, os investimentos públicos encolheram a pouco mais de um terço do que eram no início do ano passado. Esta é a marcha que aguarda o país em caso de fracasso da reforma previdenciária: todo o dinheiro tirado do contribuinte só servirá para pagar benefícios e pensões, até o dia em que nem isso mais pagará.

Os protegidos pela CLT e os albergados na estabilidade do emprego público também não estão nem aí para quem vive de emprego informal, toca seu próprio negócio e, pior ainda, se lixam para os mais de 14 milhões de brasileiros desempregados, como divulgou o IBGE nesta manhã. Enquanto a maioria vive quase sem proteção alguma, querem fazer crer que os direitos que assistem a esta minoria – que mal perfaz um terço do total de trabalhadores – são intocáveis.

Para essa gente, falar de modernização da legislação trabalhista, superando um entrave burocrático de mais de 70 anos, é heresia. Falar da normatização de relações de trabalho que envolvem mais de 13 milhões de profissionais terceirizados é pecado. Ao mesmo tempo, sofismam que direitos estão sendo vilipendiados e omitem que as novas leis trazem miríades de salvaguardas aos trabalhadores, sem falar no fato de que lei ordinária alguma se sobrepõe à Constituição, que continua intocada.

A esta parcela que hoje cruza os braços contra a recuperação do país, contra reformas essenciais para atacar privilégios, para criar novas oportunidades de emprego, para evitar a perpetuação de desigualdades contrapõe-se uma imensa maioria que irá ao trabalho para continuar reconstruindo o Brasil, para superar o atraso, para que prevaleça a razão e não o grito, para que o país progrida e não retroceda, como foi a tônica nos últimos anos, quando os que hoje berram ficaram bem caladinhos.

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