segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Dedo na ferida

Nos últimos anos, o governo federal tem apresentado suas realizações sob o manto do Programa de Aceleração do Crescimento. Como estratégia publicitária, foi eficiente para mascarar o pouco que efetivamente vem sendo realizado no país. Mas o PAC vem aos poucos revelando suas evidentes falhas e limitações; tanto que aquela que já foi apontada como “mãe” do programa agora sequer cita o filho.

A explicação para isso é que o país continua devendo, e muito, quando o assunto são gargalos em infraestrutura. Não por acaso, a área comandada por Dilma Rousseff no governo Lula foi uma das que menos andou nos últimos anos. Recursos há, mas a falta de habilidade na gestão e o inchaço da máquina imperaram. O resultado, infelizmente, é fácil de constatar. Há “estradas da morte” em todas as regiões do país, portos não conseguem escoar a produção e, ao se viajar de avião, perde-se mais tempo em filas nos aeroportos do que nos deslocamentos aéreos.

Em outras palavras, em um momento de grande crescimento, o Estado parece não ter feito sua parte. Se o país cresceu, com certeza, não foi devido ao PAC – esquecido, na prática e na retórica, por Dilma. O Brasil é hoje uma das piores nações do mundo quando o critério é infraestrutura, conforme revelou O Estado de S. Paulo em sua edição de ontem.

Segundo estudo da LCA Consultores, comparado a outros 20 países com os quais concorre no mercado global, o Brasil ficou apenas na 17ª colocação no quesito qualidade geral da infraestrutura, empatado com a Colômbia. A má qualidade das estradas, portos, ferrovias e aeroportos brasileiros não chega a ser novidade. Mas faltava uma comparação internacional que desse uma noção mais clara de quão atrasados estamos.

No item qualidade da infraestrutura portuária, o Brasil teve o pior desempenho; no setor ferroviário, o padrão brasileiro só não é pior que o da Colômbia. O desempenho do setor aeroportuário só não perde da Rússia e da Argentina. A qualidade das estradas brasileiras supera apenas a das russas. Há mais um monte de estudos com conclusões similares, mas a ex-ministra prefere menosprezá-los.

Coube a José Serra denunciar o engodo, durante o debate realizado na Band na semana passada. Ele foi cirúrgico e, para não cansar o telespectador, apontou paradigmáticos exemplos de como as ações sob a batuta de Dilma fracassaram. Casos de obras fundamentais para o país que, nos últimos setes anos, ficaram inacabadas, pararam ou simplesmente nem começaram.

Para iniciar, se há algo impróprio a falar sobre a demora na duplicação BR-381 (Belo Horizonte-Governador Valadares), citada por Serra, é de que se trata de reivindicação periférica. A estrada liga o Vale do Aço, nosso maior polo siderúrgico, a São Paulo, maior mercado consumidor. É também rota usada por turistas mineiros em direção às praias do Espírito Santo, que enfrentam uma roleta russa: a cada 30 horas, morre alguém na 381. Mas Dilma esqueceu-se dela. Nem dinheiro para a execução do projeto executivo o governo atual liberou. Desesperados, os usuários até criaram um blog para tentar salvar a rodovia.

Outro caso é o da BR-470, em Santa Catarina, que atravessa o estado de leste a oeste, cortando o movimentado Vale do Itajaí. Nas pistas da rodovia, morre uma pessoa a cada 2,7 dias. Estreita e com filas de caminhões, qualquer ultrapassagem na estrada é risco de morte. Na publicidade do PAC, a obra parece até ir bem: constam R$ 1,4 bilhão para a duplicação. Mas quanto dinheiro a BR-470 efetivamente recebeu nesses últimos anos? Apenas R$ 28,8 milhões, ou míseros 2%, segundo o Siafi.

Por fim, o porto de Salvador. É considerado um dos piores do mundo pelas companhias do setor e hoje funciona quase exclusivamente com cabotagem, como mostrou a edição de sábado de O Globo. Isto é, empresas embarcam na Bahia com destino a Santos ou Suape (PE), de onde efetivamente a carga segue para o exterior. É um vexame internacional que dispensa maiores comentários.

Esses casos não são exemplos isolados. Os atrasos são a regra, não a exceção. José Serra poderia ter dito também que a Transnordestina ainda é um sonho; que a Cuiabá-Santarém é tão perigosa quanto a BH-Valadares; que o Maranhão não conta com um bom porto; que o Arco Rodoviário do Rio de Janeiro mal teve iniciadas suas obras de terraplanagem.

Serra também poderia citar as dezenas de cidades médias do interior do Brasil cujo desenvolvimento está travado pela falta de expansão de um aeroporto, como Barreiras (BA) ou Poços de Caldas (MG). Poderia, ainda, dizer do mato que cresce em obras de expansão de metrôs, como em Salvador, Belo Horizonte ou Fortaleza.

Por tudo isso, é possível constatar que os setores que Dilma tocou, na maioria das vezes, não saíram do lugar. Imagine se ela virar presidente e todo o país estiver em suas mãos? Não precisa nem imaginar: o risco é de um colapso geral.

Nenhum comentário:

Postar um comentário