Não fossem os ventos da concorrência privada talvez a Petrobras não tivesse chegado tão longe quanto chegou. A maior empresa do país e quinta maior petrolífera do mundo ganhou impulso significativo desde que o mercado de petróleo foi aberto a novos competidores, em 1997. A Petrobras de hoje é fruto direto da Lei do Petróleo promulgada pelo governo tucano.
A estatal ganhou nova direção ontem, numa cerimônia de equivocados tons ufanistas. Maria das Graças Foster assumiu a presidência da empresa em substituição a José Sérgio Gabrielli, numa troca saudada pelos analistas como positiva: sai o político de carteirinha, entra a técnica de carreira. Oxalá seja de fato isso.
O mais importante é que a Petrobras não seja abusada como joguete político, ou como arma de manipulação na disputa ideológica que o PT adora esgrimir, embora sua prática constantemente divirja do discurso. Mas a tentação à mistificação parece manter-se grande, a julgar pelas palavras de Dilma Rousseff na cerimônia de ontem.
“Felizmente, [a Petrobras] sobreviveu a todos os ventos privatistas e persistiu como empresa brasileira, sob controle do povo brasileiro, e hoje exerce papel fundamental em nosso modelo de desenvolvimento”, disse a presidente da República.
Não se sabe ao certo a que ventos ela se refere, já que há décadas não se vê de governantes brasileiros qualquer real intenção de privatizar a companhia – existe até uma proposta de emenda constitucional do deputado tucano Otávio Leite (RJ) proibindo tal possibilidade. Ocorre que o PT gosta muito de ver, e criar, fantasmas. Aliás, depende destes espectros assombrosos para perpetuar-se no poder.
Com as mistificações de sempre, o governo petista tenta escapar de explicar por que o desempenho da maior empresa do país tem sido tão decepcionante nos anos mais recentes, após a decolagem vertiginosa registrada logo após a abertura do mercado brasileiro à concorrência privada, nos anos 1990.
Tome-se, como exemplo emblemático, o que ocorreu com a produção da Petrobras na era petista. De 2003 a 2011, o avanço foi de 30%, com média de menos de 3% anuais. Parece bom? Pois entre 1997 e 2002, o crescimento médio foi de 9,6% ao ano, ou 58% no acumulado em cinco anos.
Atualmente a produção anda de lado, a despeito de os investimentos terem se multiplicado por quase três vezes desde 2003. Custos e despesas operacionais da companhia também são ascendentes e, só no ano passado, subiram 27%. Navegam mal os negócios da petrolifera.
Algumas decisões empresariais, mas de verniz eminentemente político, têm dificultado a vida da Petrobras. A principal delas é a política de reajuste de preços dos derivados de petróleo que a empresa adota: a fim de colaborar no combate à inflação, gasolina e diesel estão com valores congelados há anos.
Com o consumo interno em alta, a empresa tem de importar como nunca. Em decorrência, só no ano passado a Petrobras deixou de arrecadar quase R$ 8 bilhões com a diferença de preços dos dois derivados nos mercados internacional e doméstico. Consequência imediata: os lucros da companhia foram afetados na veia, e caíram pela metade no último trimestre de 2011.
“Essa é uma política populista, à Argentina, suicida a longo prazo, sustentada com o caixa da Petrobras”, escreve Celso Ming na edição de hoje de O Estado de S.Paulo. Como efeito colateral, a política adotada pela empresa também acaba por garrotear o desenvolvimento do mercado brasileiro de etanol, uma vez que os preços dos derivados fósseis seguram o do combustível renovável – cujo consumo no país caiu 40% em janeiro.
Outro efeito deletério da política petista imposta à Petrobras se dá no desenvolvimento do pré-sal. Pelas regras estipuladas no novo regime, a empresa tem de, obrigatoriamente, integrar todos os consórcios exploratórios, na proporção de pelo menos 30% e mesmo estando premida por um plano de investimentos bilionário até 2015. Com isso, desde 2008 novas rodadas de licitação estão congeladas pela ANP.
Maus caminhos trilhados nos últimos anos levaram a Petrobras a valer hoje menos de um terço do que valia em fins de 2007, quando seu valor de mercado atingiu o ápice. A empresa surfava então a boa maré gerada pela abertura do mercado à concorrência privada, que a levou a se modernizar e a avançar como nunca. Com o sobrepeso do uso político-partidário verificado a partir de Lula, a companhia estancou. É hora de o vento voltar a soprar a favor.
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