quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Não vai ser fácil para ninguém

O que já não seria fácil, a partir de hoje ficou bem mais difícil. A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos turva bastante o horizonte mundial, mas afeta em particular as chances de recuperação do Brasil. Num mundo mais fechado, mais avesso a comércio e mais beligerante, gerar desenvolvimento e bem-estar ficará muito mais complicado.

A perplexidade com o resultado, conhecido por volta das 5h30 desta madrugada, envolve todo o mundo – até mesmo o vencedor transparecia surpresa no discurso que fez logo depois... A primeira reação generalizada é de temor, uma vez que a retórica do republicano carrega tudo o que a comunidade global não gostaria de – nem precisava – assistir neste momento.

Se levar adiante sua plataforma de campanha, Trump deverá fechar as fronteiras dos EUA ao livre-comércio, adotará postura belicosa em relação a alguns grupos e nações, confrontará consensos como o do aquecimento global e tornará um suplício a vida de imigrantes naquele país. Alguns já afirmam que a vitória dele marca o início de uma nova era histórica – bem pior que a atual.

Para o Brasil, o triunfo do republicano chega em péssima hora. A política e a economia brasileira não mereceram atenção alguma de Trump na campanha e pode ser que continue assim pelos próximos quatro anos – nem com o democrata Barack Obama vinha sendo diferente. Mas os efeitos da guinada americana para os nossos destinos são ainda mais insofismáveis.

Dado o discurso francamente protecionista de Trump – um dos principais pilares de sua campanha – possivelmente ficará muito mais difícil para as empresas brasileiras vender e fazer negócios lá fora. Nossas exportações para os EUA, que no ano passado já haviam diminuído 12,2% em relação à máxima histórica, anotada em 2008, tendem a cair mais. Outros mercados, como a China, hoje nosso principal comprador, também serão afetados.

Com os EUA mais reticentes à globalização e o resto do mundo mais temeroso em relação aos destinos do globo, o empuxo que poderia vir do exterior para ajudar a economia brasileira a deixar para trás a recessão perde muito de sua força. A alta de 1% do PIB nacional com que o ministro Henrique Meirelles contava para 2017, conforme manchete da edição de hoje do Valor Econômico, pode ter virado fumaça com o passar desta madrugada.

A eleição de Donald Trump obriga uma mudança de patamar no grau de urgência das mudanças necessárias no Brasil. Se antes já era preciso barrar o aumento de gastos, agora é obrigatório. Se antes as reformas para retomar o desenvolvimento eram desejáveis, agora são inadiáveis.

Num mundo francamente mais inóspito, como se anuncia, ao Brasil não restará outra alternativa senão ser muito mais incisivo na guinada que apenas ensaiou até aqui, mas que agora se tornou premente.

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