O Brasil está novamente em Davos. Desta vez, pela porta da frente. Depois de anos figurando como patinho feio do encontro anual da elite econômica global, nesta edição o país ressurge com algum brilho – ainda não muito, é verdade, mas já alguma coisa para quem até outro dia só via um buraco sem fundo sob os pés.
Não é tarefa simples apresentar com otimismo ao mundo das finanças esta nação em processo de reconstrução. As dificuldades legadas pelo antigo regime – a década perdida petista – ainda superam em larga margem as perspectivas positivas. É enorme, contudo, a distância entre o país de hoje e o desacreditado Brasil de ontem.
O Brasil figura em Davos como a economia com pior perspectiva de crescimento entre todas as do G-20 neste ano. No concerto global, só se sairá melhor que outras cinco nações, segundo projeção divulgada ontem pelo FMI: apenas Síria, Venezuela, Guiné Equatorial, Equador e Trinidad e Tobago aparecem abaixo.
Mesmo toda esta penúria, no entanto, já é bem melhor do que o Brasil conseguia apresentar ao mundo nos anos recentes. Foram quase três anos de recessão, com queda superior a 8% do PIB, mais de 12 milhões de desempregados e uma destruição de riqueza que supera todas as crises mais graves vividas pelo país em sua história republicana.
O Brasil ainda não encanta, mas seus empresários já conseguem demonstrar algum otimismo, conforme pesquisa da PwC divulgada em Davos e publicada na edição de ontem do Valor Econômico. Mesmo com toda a debacle petista, os investimentos estrangeiros não cessaram e a confirmação de novos ares na economia local – consequência de reformas estruturais em marcha – poderá ter o condão de multiplicá-los.
Um ano atrás, Davos recebeu um cabisbaixo ministro da Fazenda, constrangido com a lambança que seu governo patrocinava no Brasil. Agora tem-se uma reforma fiscal em andamento para apresentar, com um rigoroso controle das despesas públicas, um ambiente institucional mais estável e pelo menos uma vitória efetiva na algibeira: a derrocada da inflação. Não é pouco para tão pouco tempo.
Há muito, muito mesmo, ainda a realizar. A gestão do presidente Michel Temer deve redobrar o ímpeto em enfrentar e dar cabo a privilégios há muito arraigados na nossa sociedade, do que o atual sistema de Previdência fornece exemplo mais pródigo. Deve também levar adiante uma lipoaspiração que reduza bastante o peso do balofo Estado brasileiro e melhore a vida da população.
Davos é apenas uma fotografia simbólica do Brasil de ontem e de hoje. Melhoramos, mas ainda estamos longe do topo que as montanhas geladas dos Alpes suíços costumam exprimir no imaginário global. A escalada já começou; resta agora saber se haverá fôlego suficiente para sustentar a sempre árdua subida.
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