sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Baixa diplomática

O governo Michel Temer perdeu ontem seu oitavo ministro. Foi, porém, a baixa mais significativa sofrida nestes nove meses de gestão. Neste curto espaço de tempo, José Serra reorientou a política externa brasileira e ajudou a reatar o país ao mundo. Fará muita falta à atual administração federal.

Em carta divulgada ontem, o chanceler informou que deixou o cargo para cuidar da saúde. Problemas na coluna vinham dificultando sua agenda, calcada necessariamente numa exaustiva rotina de viagens de longa duração pelo mundo afora. Em dezembro, Serra passou por cirurgia que deveria ter sido seguida de tratamento rigoroso, feito, contudo, de modo insatisfatório nas últimas semanas.

Passados apenas nove meses, o Itamaraty é outro em relação ao que existia no governo petista. Nossa diplomacia abandonou a política de anos de alinhamento a regimes autoritários e bolivarianos, como Venezuela e Cuba, e voltou suas atenções às economias mais dinâmicas do globo. Além disso, imprimiu mais ímpeto à integração regional no âmbito do Mercosul.

O principal lance deste período foi a decisão, capitaneada pelo chanceler brasileiro, de punir o governo venezuelano com a suspensão do bloco regional, ao qual aderira em agosto de 2012. Sem cumprir mais de 200 cláusulas e 40 acordos nestes quatro anos, e, em especial, por reiteradas agressões a princípios democráticos, a Venezuela foi afastada provisoriamente do Mercosul em dezembro passado.

O foco da gestão Serra foi reavivar a agenda de integração global e de promoção comercial do Brasil no exterior. Em sua última viagem como ministro das Relações Exteriores do Brasil, à Alemanha na semana passada, Serra buscou estreitar relações com o novo governo norte-americano. Também duplicou esforços para acelerar o acordo de livre-comércio que, há quase duas décadas, Mercosul e União Europeia cozinham sem chegar a bom termo.

Nestes nove meses, o Itamaraty também ganhou novo protagonismo na área de promoção comercial do país no exterior. Com a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) agora incorporada à estrutura do ministério, em agosto passado Serra lançou o programa “Be Brasil”, voltado a atrair investimentos estrangeiros para o país para ajudar na retomada do crescimento e na geração de empregos aqui.

A gestão Temer perde muito com a saída de José Serra, o mais preparado dos quadros que compõem o atual governo. Em compensação, poderá dispor do espírito público do agora ex-chanceler na aprovação e discussão da pesada agenda de reformas estruturais que precisam ser apreciadas pelo Congresso nos próximos meses. À nossa diplomacia, restará perseverar na boa trilha que o então ministro tucano apenas teve tempo de inaugurar.

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