Está dura a vida de quem batalha pela aprovação de uma reforma da Previdência digna desse nome. Conta-se nos dedos os votos e o apoio que o governo – ou, para ser mais exato, uma fatia dele, circunscrita a meia dúzia de pessoas – tem conseguido manter. Para desgraça do Brasil, não parece ser suficiente para aprovar as mudanças.
Tudo conspira para que o problema fique para o próximo presidente, a ser eleito em outubro. Seria até sensato se as chances de algum candidato alinhado às reformas fossem robustas, mas não é esta a realidade medida até agora pelas pesquisas de intenção de voto. Ou seja, a reforma pode acabar ficando para as calendas.
O Congresso, a quem cabe assumir responsabilidades e votar matérias de olho no interesse público, prefere olhar para o próprio umbigo. Aprovar novas regras para concessão de aposentadorias e pensões está longe de ser agenda de apelo popular e muito menos eleitoral. Mas é iniciativa fundamental para o país – como atestam os R$ 182 bilhões do rombo previdenciário no ano passado. Isso parece importar pouco, contudo.
Para piorar, o governo acena com a mais nefasta das alternativas: abrandar o texto da reforma, mantendo os privilégios que prometia extirpar, com fito de alimentar uma derradeira tentativa de aprovação. Se assim for, melhor deixar como está.
Estão sobre o tecido verde as insustentáveis regras em vigor que hoje asseguram a funcionários que ingressaram no serviço público antes de 2003 aposentadorias integrais e os mesmos reajustes de quem está na ativa. Coisa de marajá que só existe no Brasil.
A reforma passa a exigir idade mínima – a mesma cobrada dos demais mortais – para que esta casta mantenha os benefícios da integralidade e da paridade. Mas essa gente acha que é sacrifício demais.
Não são, como é fácil enxergar, moinhos de vento os obstáculos que os defensores da reforma precisam vencer. São resistências bem concretas. Não raro, são bem conhecidas, como também poderosas e muito, muito bem pagas.
Como juízes e promotores que ontem, de terno, gravata, salto alto, tailleur e salários estratosféricos para o padrão nacional, protestaram em Brasília pela manutenção dos privilégios que a reforma lhes retira e, como ninguém é de ferro, por aumentos nos seus vencimentos e novos penduricalhos no contracheque.
Diante de tamanha resistência, Michel Temer indica ter lavado as mãos. Diz que o problema agora é convencer a população da necessidade da reforma. Se o presidente topasse dar nome aos bois, talvez afirmasse que a real dificuldade está em fazer aqueles que deveriam zelar pelo bem do país – governos, Congresso, Judiciário, lideranças em geral – exercer a sua responsabilidade. Mas este artigo está em falta no mercado.
sábado, 3 de fevereiro de 2018
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