segunda-feira, 28 de junho de 2010

Pré-sal afunda Petrobras

A Petrobras anunciou na semana passada seu plano de investimentos para o período até 2014. Os números da estatal são gigantescos, assim como o são as dúvidas quanto à possibilidade de se tornarem realidade. A companhia encontra-se às voltas de um intrincado processo de capitalização que tem levado seus ganhos literalmente a um mergulho nas profundezas do oceano.

O xis da questão é a bolada que a Petrobras prevê investir nos próximos anos, principalmente na exploração do pré-sal, do qual foi designada pelo governo Lula como única operadora. São US$ 244 bilhões em quatro anos. Ocorre que a estatal já tem dívidas de R$ 100 bilhões e capacidade limitadíssima de endividar-se ainda mais.

Hoje a relação entre dívida líquida e patrimônio líquido esbarra no limite de 35% que garante à empresa o selo de grau de investimento. Para 2010, a Petrobras prevê investir R$ 88,5 bilhões, mas só conta com R$ 68 bilhões – entre o que tinha disponível em dezembro e o que prevê gerar neste ano. Por isso, depende da capitalização, cujo processo só tem tido percalços e não deve sair antes de setembro.

Sem a capitalização, a conta não fecha e seriam necessários mais R$ 20,5 bilhões, os mesmos capazes de estourar o limite entre dívida e patrimônio que orienta a avaliação de risco das agências de rating. Neste estado de coisas, a gigante e toda-poderosa Petrobras está a um passo de ser considerada investimento especulativo, com expressiva perda no seu valor. Basta que a capitalização não ocorra até setembro, hipótese bastante provável.

Não é surpresa constatar que foram as mudanças patrocinadas pelo governo federal no marco legal do setor de petróleo que desencadearam os prejuízos.

Desde que as novas regras foram anunciadas, em 31 de agosto do ano passado, as ações da Petrobras caíram 10,8%. No mesmo período, o Ibovespa subiu 14,7%. A companhia perdeu R$ 45 bilhões de valor de mercado – o que, apenas para comparação, equivale a fatia expressiva do que se pretende obter com a capitalização da empresa, algo em torno de R$ 100 bilhões.

O mergulho das ações e as dúvidas em torno do futuro da empresa nasceram da opção equivocada do governo petista por implodir um modelo de exploração que até agora se mostrara adequado e bem sucedido: nos 12 anos em que o sistema de concessões vigora, a produção da Petrobras avançou a uma média de 5,8% anuais; seus lucros cresceram 943%.

A opção pelo sistema de partilha, tendo a Petrobras como única operadora, gerou toda uma sorte de dúvidas que ora cobra seu preço. O modelo atual seria melhor porque os investimentos poderiam ser divididos com o mercado como um todo. “Há um esforço fora de propósito de uma companhia só”, comparou Miriam Leitão na edição de ontem de O Globo.

“O maior problema da Petrobras é político, na medida em que uma simples operação de aumento de capital resolveria seu problema. Mas o governo insiste em uma operação complexa envolvendo barris de petróleo repassados com base em uma lei que ainda precisa ser sancionada pelo presidente da República”, avalia o Valor Econômico hoje.

Para piorar, há uma série de decisões eminentemente políticas sendo tomadas na condução dos negócios da petrolífera. A mais saliente delas é a que envolve a construção de novas refinarias.

O problema é que não há, segundo análises técnicas feitas pela própria Petrobras, qualquer necessidade, neste momento, de aumentar a capacidade de refino no país. Mas Lula bateu no peito e mandou a companhia incluir as novas unidades no seu plano de investimento. São módicos US$ 35 bilhões para esta finalidade.

O mais surpreendente é que decisões desta complexidade, envolvendo tantas variáveis e consequências, estão sendo tomadas em ano de eleições gerais, em que o país redefinirá seu futuro. Já se dizia que a imprevidência com que age o governo do PT em relação ao pré-sal logo, logo cobraria seu preço. O que não se esperava é que a fatura começasse a ser apresentada tão cedo. A Petrobras e seus acionistas estão sentindo isso no bolso.

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