O Tribunal de Contas da União (TCU) vota nesta tarde o relatório em que analisa a viabilidade da construção do trem-bala. Trata-se de projeto bilionário que para uns é um sonho e para outros pode vir a se tornar um pesadelo. No mínimo, o TAV (trem de alta velocidade) é empreendimento para ser cuidadosamente avaliado.
Inicialmente o trem-bala custaria US$ 11 bilhões, ou R$ 20 bilhões nas cotações atuais. Agora já se estima que serão necessários R$ 34,6 bilhões para construir os 530 km de trilhos entre Campinas e Rio de Janeiro. Apenas ao longo do processo de avaliação, os custos já saltaram 70%. O que dizer quando, e se, saírem da prancheta para a realidade?
Como obra desta magnitude não é qualquer um que faz, a mãozinha salvadora do BNDES foi acionada. Até 70% do investimento poderá vir de financiamento e de aporte direto de capital por parte da União. A participação pública não para aí. O governo também já disse que pretende criar uma estatal só para cuidar do TAV: a Empresa de Pesquisas Ferroviárias. Estamos dispostos a pagar por isso?
Colocadas todas estas condicionantes, a discussão que realmente interessa é: o país precisa, de fato, de um trem-bala?
É claro que melhorar as condições de transporte atende a um “país que se agiganta” (para lembrar o hino do Brasil Grande tão amado por Lula...). Mas há obras viárias, e mais especificamente ainda, ferroviárias, muito mais relevantes para desatar os nós logísticos e prover melhores condições de mobilidade e vida para a população.
Com o dinheiro enterrado no trem-bala seria possível implantar 500 km de linhas de metrô, segundo dizem analistas do setor. Esta extensão é suficiente para pôr em funcionamento linhas que há anos não saem do lugar, como as dos metrôs de Salvador, Recife, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre, para não falar na sempre necessária ampliação da malha paulistana.
Investimento desta natureza é bem-estar na veia dos brasileiros, notadamente os mais pobres. A Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009, divulgada na semana passada pelo IBGE, mostra que transportes é o item que mais cresce entre as despesas de consumo das famílias brasileiras hoje. Responde por 20%, tanto quanto alimentação e só abaixo dos dispêndios com habitação. Aprimorá-los é, pois, o grande desafio dos administradores públicos.
Saindo dos centros urbanos e indo em direção ao interior do país há mais uma pá de ferrovias à espera de recursos para deslanchar. É o caso da Transnordestina, da Norte-Sul, da Ferronorte, da Leste-Oeste e do ramal ligando o norte de Minas ao litoral. Nestas, o efeito é sobre o chamado “custo Brasil”, que hoje torna o transporte de uma tonelada de soja entre o Centro-Oeste e o porto paranaense de Paranaguá tão caro quanto dali até a China.
Tendo à disposição uma gama tão extensa de projetos ferroviários bons e comprovadamente necessários para o desenvolvimento do país e o bem-estar da população, as dúvidas quanto a implantar o TAV ficam ainda mais salientes. Já não há ponte aérea suficiente entre as duas metrópoles para suprir adequadamente a demanda?
O trem-bala é mais um dos projetos mastodônticos que o governo do PT põe na pauta no apagar das luzes. Junta-se à usina de Belo Monte, igualmente bilionária e igualmente envolta em dúvidas e contestações, e às atabalhoadas redefinições do marco de exploração do petróleo com vistas ao pré-sal.
Todos eles têm potencial para redesenhar, para o bem, o futuro do país, dando-nos mais competitividade e alavancando o crescimento. Mal calibrados, porém, têm capacidade para se transformar num peso morto que resultará numa conta descomunal a ser paga pelas próximas gerações. Não se pode rifar assim as oportunidades de uma nação.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário