quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A perversa privatização dos Correios

Toda vez que se vê acuado ou instado a mostrar qual rumo propõe e quais as propostas tem para o país, o PT abre seu baú de mistificações e tenta desviar a atenção da opinião pública. As privatizações são seu tema predileto para fugir da raia. Como teve algum efeito eleitoral em 2006, os petistas julgaram que seria útil assacá-lo novamente agora, mas ninguém mais vai engolir esta lorota.

Melhor seria se o PT e sua candidata explicassem como sujeitaram algumas das mais vistosas empresas públicas do país a interesses privados e partidários, numa privatização às escuras e sem benefícios para a sociedade. É o que acontece a olhos vistos hoje nos Correios, à beira de uma débâcle sem precedentes.

Não vai longe a época em que a empresa que tem o monopólio dos serviços postais no país sempre pontuava como a instituição mais respeitada pelos brasileiros em pesquisas de opinião feitas de tempos em tempos. Na era petista, tamanha eficiência foi solapada por interesses partidários, muito embora a dedicação de seus funcionários continue irretocavelmente a mesma.

Por tratar diuturnamente com o dinheiro miúdo, mas constante, de quem recorre aos serviços postais, os Correios se tornaram alvo da cobiça de quem usa o serviço público em benefício próprio. Não foi por outra razão que de lá saiu a primeira centelha da descoberta do esquema de compra de votos que o PT armou a partir do gabinete de José Dirceu, o “chefe da quadrilha” do mensalão, “companheiro de armas” de Dilma Rousseff e então ministro-chefe da Casa Civil de Lula.

O tempo passou, a Lusitana girou, e os Correios continuaram a ser parasitados pelos escusos interesses do petismo. Erenice Guerra, braço direito de Dilma desde os primeiros dias do governo Lula, e sua parentela foram os próximos a ser pilhados com a boca na botija usando a empresa para fazer soturnos negócios. A vampirização era tão flagrante que, iluminada pelo escrutínio da imprensa, quase toda a direção da estatal foi defenestrada e a empresa que se beneficiava das negociatas dos Guerra agora agoniza.

Em setembro, o Valor Econômico deu cores vivas ao prejuízo que a incúria petista está impondo à centenária instituição postal: grandes clientes dos Correios simplesmente estão debandando em busca de prestadores privados de serviços de entrega e encomenda – dos quais a empresa não é monopolista.

“Só em São Paulo, cerca de 40 empresas já enviaram cartas às franquias informando que estudam propostas de empresas privadas para evitar o risco de atraso nas entregas do último trimestre do ano”, informou o jornal. O contrato de centenas de franqueados corria o risco de expirar sem que uma solução fosse dada. Acabaram de ser prorrogados por mais sete meses.

Todo este quadro é muito distinto do processo transparente de privatização levado a cabo pelos presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso nos anos 1990. Nenhuma delas, vale sublinhar, foi sequer contestada por alguma medida tomada em oito anos de governo Lula – que, aliás, privatizou dois bancos (do Maranhão e do Ceará) e milhares de quilômetros de rodovias. Se, quando são governo, os petistas também privatizam, por que em época de eleição dizem-se oportunisticamente contra?

Os resultados das benéficas privatizações feitas à época do governo tucano estão aí para todo mundo ver. Pincemos o exemplo da Vale do Rio Doce. Durante os 54 anos em que foi uma estatal, investiu em média US$ 481 milhões anuais. De 1998 em diante, já sob controle privado, tal cifra saltou para US$ 6 bilhões. “O retorno para a sociedade foi além – o recolhimento de impostos pulou de US$ 31 milhões para US$ 1,093 bilhão por ano”, escreveu Cristiano Romero no Valor Econômico.

Não são apenas os Correios que ilustram a visão distorcida que o PT tem das estatais. Para o partido interessam muito mais os dividendo$ político-partidários que as empresas podem render, não seus benefícios para a sociedade. O setor elétrico está coalhado de concessionárias postas pelo governo Lula sob as asas da Eletrobrás cujo único resultado é drenar os cofres públicos. A lista de exemplos é infindável e inclui os portos, usados como apetitosa moeda de troca pelos petistas.

A sociedade brasileira já demonstrou que está madura para avaliar os benefícios que políticas de Estado lhe rendem, muito distante de simplórias mistificações eleitorais. Dizia Karl Marx, filósofo político que os petistas adoram citar, embora nunca o tenham lido, que a história só se repete como farsa. Vale para a ressurreição das privatizações intentada pelo discurso petista: o eleitorado reconhece os ganhos que obteve e vai mudar de canal.

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