quarta-feira, 9 de março de 2011

É difícil fazer turismo no Brasil

Os brasileiros orgulham-se de, todos os anos, exibir ao mundo o maior espetáculo da Terra. Os brasileiros orgulham-se de suas paisagens maravilhosas, seu Carnaval animadíssimo, sua gente bonita. Do que os brasileiros não se orgulham é da infraestrutura que o país oferece para receber os turistas. Nisso, temos ido de mal a pior.

Na segunda-feira de Carnaval, o Fórum Econômico Mundial divulgou relatório analisando as condições da indústria do turismo no mundo. Apesar de suas belezas naturais, campeãs absolutas, o Brasil figurou mal, muito mal, na fita. As razões foram a infraestrutura precária, os problemas regulatórios, a insegurança, a falta de mão de obra qualificada e os investimentos insuficientes.

A indústria do turismo é um maná que ainda pouco sabemos aproveitar. O setor movimenta 9,2% do PIB e 4,8% das exportações globais e recebe 9,2% dos investimentos mundiais. No Brasil, segundo o relatório, a economia do turismo girou US$ 110 bilhões em 2010, ou 6% do PIB local. Emprega 5,3 milhões de pessoas. Pode ir muito mais adiante.

Entre 139 países avaliados pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil apareceu apenas na 52ª classificação no ranking da indústria do turismo, despencando sete posições na comparação com o levantamento anterior, de 2009.

O país liderou o ranking no quesito recursos naturais, em razão da riqueza da fauna e dos nossos muitos lugares considerados patrimônios da humanidade. Foi bem, ainda, em bens culturais (23º) e em sustentabilidade ambiental (29º).

Mas foi um verdadeiro desastre em infraestrutura de transportes (estradas, portos e ferrovias): só saiu-se melhor do que 23 dos 139 países que compõem o ranking. Ou seja, o Brasil figurou apenas na 116ª colocação. Há problemas também quanto aos preços praticados aqui, em função, diz o relatório, de passagens caras, taxas aeroportuárias salgadas e impostos elevados em geral: com isso, ficamos na 114ª colocação no quesito.

O setor de turismo serve para ilustrar um problema de ordem mais geral que é a carente infraestrutura nacional. Os resultados do PIB de 2010, conhecidos na semana passada, deixaram claras, mais uma vez, as limitações que ela impõe ao crescimento sustentado do país.

O comportamento dos investimentos na composição geral do PIB foi, novamente, a nota dissonante a pôr em dúvida a capacidade do país de alçar voos mais altos de longo prazo. Em seus anos no poder, o PT pouco fez para melhorar esta situação.

É voz corrente que, para elevar o ritmo de crescimento sem comprometer a estabilidade da moeda, o Brasil precisa investir pelo menos 25% do PIB. É um patamar alto para nosso padrão atual, mas muito baixo quando comparado a nossos concorrentes diretos, como a China, que investe cerca de 40% da soma de suas riquezas – o que explica por que os chineses são o que são no mundo contemporâneo.

No ano passado, o Brasil investiu 18,4% do PIB. Como era de se esperar, houve alta sobre o recessivo ano de 2009. Mas a recuperação foi insuficiente para, pelo menos, reconquistar o padrão anterior à crise: 19,1% do PIB, a melhor marca em anos recentes.

Disso, uma parte ínfima equivale a investimentos públicos – algo como 1% do PIB. O restante vem da iniciativa privada e poderia ser muito, muito mais alto. Mas o PT não convive bem com esta alternativa, ao mesmo tempo em que demonstra enorme dificuldade para fazer o investimento público deslanchar no país. É preciso agir.

A indústria do turismo é uma das que mais cresce hoje no mundo, caminhando junto com a expansão dos rendimentos. Contribui, portanto, para a geração de emprego, para o aumento da renda nacional e pode ajudar na balança de pagamentos.

Se quer mesmo atacar o problema de pobreza extrema entre os brasileiros, a presidente Dilma Rousseff deveria olhar o setor do turismo com olhos mais abertos e sem os preconceitos que a trava petista tem imposto à realização dos investimentos no país. Se conseguir fazer isso, será Carnaval o ano inteiro.

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