quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Aos 45 minutos do segundo tempo

Orlando Silva não deve resistir muito mais no Ministério do Esporte. Sua permanência no cargo está “entrando nos acréscimos”, como se diz nas partidas de futebol. Mais do que a sua demissão, o que importa agora é o que o governo fará para dar cabo da rede de falcatruas que foi tecida na pasta em conluio com partidos da base aliada e ONG instrumentalizadas para drenar dinheiro público.

O Planalto está louco para pôr ponto final em seu quinto escândalo de corrupção em menos de dez meses de governo. Em todos os casos, agiu a reboque das revelações da imprensa. Desta vez, além do noticiário, também ficou refém do Supremo Tribunal Federal (STF), que ontem abriu inquérito para investigar o ministro do Esporte e as denúncias de desvios de dinheiro de programas sociais da pasta, como o Segundo Tempo.

A abertura é resultado de representações encaminhadas pela oposição à Procuradoria-Geral da República. Silva encontra-se agora na incômoda condição de primeiro ministro do governo a ser investigado pelo STF. Junto também será analisado processo em tramitação no Superior Tribunal de Justiça no qual o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, é investigado por desvios quando ocupou o cargo de ministro do Esporte, entre 2003 e 2006.

Ao demorar a demitir Orlando Silva, Dilma Rousseff perdeu por completo a oportunidade de agir por moto próprio. Fica nítido que, desta vez, a presidente tentou tratar o caso de maneira diferente dos anteriores, quando o afastamento do ministro corrupto e de alguns de seus auxiliares foi definido rapidamente. Agora, ela, também escorada em Lula, parece ter tentado travar uma queda de braço com os fatos, mas estes falaram muito mais alto.

Não estamos falando de episódios isolados, mutretas praticadas por subalternos de quinta categoria e baixo escalão. Trata-se, na realidade, de grosso desvio de dinheiro do contribuinte, articulado pela alta cúpula do ministério responsável por cuidar do esporte num país que sediará uma Copa do Mundo de futebol e uma Olimpíada nos próximos cinco anos.

Trata-se, mais que isso, de esquema operado pelos dois ministros que comandaram o Esporte desde o primeiro dia do governo do PT. Ou seja, são quase nove anos de ataque ao erário, de desrespeito ao dinheiro do contribuinte, de achincalhe ao interesse público. Orlando Silva está umbilicalmente ligado a Agnelo Queiroz, hoje no PT.

“Há fortes indícios de irregularidade na execução do Programa Segundo Tempo do Ministério do Esporte, cujos recursos seriam desviados em proveito de integrantes do PCdoB, entre os quais, supostamente, o ministro Orlando Silva e o governador Agnelo Queiroz”, escreveu o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no pedido enviado ao STF.

Uma das imagens mais fortes destas irregularidades é descrita hoje em detalhes pelo motorista Célio Soares em entrevista a O Globo. Nela, ecoando o que contou à revista Veja há duas semanas, ele narra como entregou um pacote de dinheiro destinado ao ministro Orlando Silva. A cena relatada chega a ser grotesca.

“Levei um R$ 1 milhão em notas de R$ 50, R$ 100. Parei do lado, desci, abri o porta-malas do carro, peguei o dinheiro. O motorista abriu o porta-malas do carro oficial. Fui eu quem botou com a ajuda do motorista”, afirma ele, que também falará hoje à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara junto com o policial militar João Dias Ferreira. O motorista diz ter sido ameaçado duas vezes pelas revelações que já fez.

Em 2006, o mensalão foi descrito pela mesma Procuradoria-Geral da República que ora investiga Orlando Silva como uma “sofisticada organização criminosa” envolvida em formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva. Diante das muitas revelações sobre maracutaias no governo petista conhecidas nos últimos meses, é de se concluir que esta organização criminosa continua instalada e funcionando a pleno vapor, com ramificações por toda a Esplanada.

É preciso não perder de vista o mal real que esta “quadrilha” causa aos brasileiros. O dinheiro que é surrupiado para financiar a perpetuação do projeto de poder petista é o mesmo que falta, por exemplo, para dar tratamento médico à altura a doentes de câncer – algo que está longe de ser realidade no país, como mostra hoje O Globo.

Auditoria do TCU revela com cores fortes a penúria a que são submetidos pacientes da doença – a segunda que mais mata no Brasil – que dependem de atendimento do SUS. Menos de metade dos que precisam de uma cirurgia oncológica conseguem passar pelo procedimento; a espera por uma sessão de radioterapia supera 90 dias; a primeira quimioterapia é feita em 76 dias e a primeira radioterapia, em 113 dias. “O quadro resulta de uma cadeia de deficiências, fruto do baixo investimento público”, sintetiza o jornal.

A sobrevida de Orlando Silva no ministério caminha para seus estertores e até seus pares já dão a queda como certa. Mas o pior é que, em vez de buscar uma mudança que colabore para desinfetar o Ministério do Esporte, todas as alternativas até agora aventadas obedecem a conveniências eleitorais do PT. Nomes como os de Aldo Rebelo, Manuela D’Ávila e Flávio Dino são considerados porque limpariam a área em disputas por cargos que interessam aos petistas, como a presidência da Câmara e prefeituras de capitais.

A situação de Silva revela-se insustentável. Se Antonio Palocci teve rejeitada a denúncia pelo procurador-geral da República e, mesmo assim, teve de deixar o cargo, a condição do ministro do Esporte é muito pior, já que ele se tornou o primeiro ministro do governo submetido a investigação do Supremo Tribunal Federal. Seu assento, definitivamente, não pode ser uma cadeira de ministro de Estado. 

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