segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Vestibular para fiascos

No passado, os estudantes brasileiros ficavam angustiados às vésperas das provas de vestibular. O que os atemorizava era ter de enfrentar o funil da entrada numa universidade. Agora, o sobressalto vem a cada edição do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e o temor é de ver-se diante de logros e fraudes. É o que passou a acontecer rotineiramente: há três anos seguidos tem sido assim.

Uma boa ideia, o Enem tornou-se um rosário de fiascos. Este ano, parte da prova foi conhecida antes por alunos de um colégio de Fortaleza. Isso é o que se sabe por ora. Diante do histórico de lambanças, não será surpresa se outros desvios e mais falhas tiverem acontecido, mas ainda não tenham vindo a conhecimento público.

Ontem, depois de dias de silêncio, o ministro da Educação dedicou-se a conceder entrevistas para expiar a culpa pelo fracasso. Ele acusa funcionários do colégio cearense de terem cometido um “ato delituoso”. Mas o que faz o MEC quando transforma o sonho de milhões de jovens de ingressar numa universidade em pesadelo? Caridade é que não é.

Cerca de 5 milhões de jovens fizeram as provas no último fim de semana. Num primeiro momento, o MEC comemorou o sucesso da empreitada, ao concluir, prematuramente, que tudo transcorrera bem.

Comemorou cedo demais, ignorando indícios clamorosos de irregularidades, como o caso de uma repórter que foi recrutada na porta de uma escola para fiscalizar a aplicação das provas. O Enem é um prato cheio para bizarrices...

O MEC de Fernando Haddad gasta uma fortuna para produzir seus fiascos em série. Neste ano, a despesa para realizar o Enem subiu a R$ 372 milhões, o que significa um encarecimento de 190% em relação aos R$ 128 milhões dispendidos em 2010. Nem assim, a pasta conseguiu blindar-se de fracassos.

O ministério diz que as questões que foram conhecidas pelos alunos do colégio de Fortaleza constavam de um pré-teste aplicado na mesma escola em outubro do ano passado. O que não se entende é como questões já aplicadas foram agora novamente cobradas dos estudantes. Há, no mínimo, uma grave falha nas rotinas e nos procedimentos de segurança do Enem.

Haddad vocifera contra a escola de Fortaleza e mandou que o MEC anulasse a prova de seus 639 alunos. O Ministério Público Federal viu aí flagrante equívoco: ou cancelam-se as 14 questões vazadas ou derruba-se a prova inteira de todos os mais de 5 milhões de participantes no país inteiro. Punir só os estudantes de uma escola, que já sofrem discriminação por um delito que não cometeram, não – sob pena de desequilibrar totalmente a disputa.

Especialistas dizem que o estoque de questões que o MEC tem para aplicar no Enem é insuficiente. São apenas cerca de 6 mil, quando o mínimo deveria ser 10 mil. O ideal, explicam, seria 40 mil, universo que garantiria isonomia entre os participantes e a certeza de que as provas são, de fato, equivalentes.

O Enem nasceu em 1998 como ferramenta nacional de avaliação do último ciclo da educação básica. A partir de 2009, ganhou status também de vestibular e já é adotado pela maioria das universidades federais do país, além de ser usado como critério para concessão de bolsas do ProUni.

Desde então, repete-se um histórico de fiascos. Em 2009, o Enem foi prejudicado por fraudes. Em 2010, falhas na montagem das folhas de resposta obrigaram milhares de estudantes a refazer o exame. Este ano, centenas de candidatos já haviam recebido cartões de confirmação com local da prova errado.

O MEC já prometeu realizar mais de uma edição do Enem por ano. Sob o peso de sua incompetência, jamais esteve perto de cumprir a promessa. A realização da prova em várias datas poderia ter o condão de minimizar a ocorrência de fraudes, além de diminuir consideravelmente a angústia dos estudantes, que não precisarão se concentrar numa data apenas dos 365 dias do calendário do ano.

O rebuliço em torno de mais uma falha na aplicação do Enem vai crescer. E da forma mais saudável possível. Os estudantes brasileiros estão indignados com o desrespeito do MEC e prometem ir às ruas. Diante de tanta barbeiragem, já preferem até a volta do vestibular. Pelas redes sociais se mobilizam e já marcaram data para fazer seu protesto: 13 de novembro. Motivos para reclamar, não faltam.

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