quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Nação indignada

Os brasileiros foram novamente às ruas ontem protestar contra a corrupção. O número de manifestantes pode até ter sido menor que o das marchas realizadas em 7 de setembro, mas o relevante é que as mobilizações contra malfeitos e roubalheiras vão se tornando recorrentes e a indignação começa a envolver instituições poderosas como a Igreja.

Houve manifestações ontem em pelo menos 19 cidades do país, segundo números d’O Estado de S.Paulo. Os atos reuniram cerca de 28 mil pessoas, de acordo com O Globo. Assim como no feriado da Independência, a maior movimentação aconteceu em Brasília, com em torno de 20 mil pessoas.

Outros 2 mil desfilaram na avenida Paulista, em São Paulo, e 1.500 na praia de Copacabana, no Rio, segundo cálculos oficiais da Polícia Militar. Também houve protestos em Porto Alegre, Florianópolis, Belo Horizonte, Goiânia, Recife, Manaus, Fortaleza e Curitiba.

Três foram os principais temas das manifestações de ontem: o fim do voto secreto no Congresso, a manutenção da Lei da Ficha Limpa e a defesa do poder do Conselho Nacional de Justiça para investigar e punir juízes corruptos.

Novamente, os organizadores se valeram de redes sociais para arregimentar participantes. Novamente, buscaram dar caráter apartidário aos eventos. Novamente, entidades hoje acomodadas na máquina governamental, como CUT e UNE, mantiveram distância das marchas.

Ainda que o número de participantes tenha sido ligeiramente menor que o dos protestos de um mês atrás, que reuniram 30 mil pessoas, deve-se considerar também a força e a extensão que alcança, por exemplo, uma manifestação como a de Dom Odílio Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, feita ontem e registrada pela Folha de S.Paulo.

“Quando não somos mais capazes de reagir e nos indignar diante da corrupção, é porque nosso senso ético também ficou corrompido. (...) Quando o povo começa a se manifestar, a coisa melhora. É isso que precisa acontecer”, pregou ele, em sermão em missa de comemoração pelo Dia de Nossa Senhora Aparecida, na capital paulista.

São palavras que, tanto quanto quaisquer mobilizações no mundo virtual, calam fundo em corações e mentes de milhões de brasileiros. Em Aparecida (SP), Dom Raymundo Damasceno, presidente da CNBB, também pediu que o povo fiscalize os governos: “Não podemos concordar com nenhuma forma de corrupção”. Esta é uma luta que une a todos.

A maior dificuldade dos manifestantes tem sido materializar a indignação latente na sociedade brasileira em causas mobilizadoras. Os temas brandidos nas marchas de ontem têm, porém, capacidade suficiente para catalisar a força dos descontentamentos, a começar pela aplicação enfática da Lei da Ficha Limpa como forma de moralizar a ocupação de cargos públicos.

Esta é uma iniciativa que começou na sociedade, por meio da apresentação de um projeto de lei de iniciativa popular suportado por mais de 2 milhões de assinaturas, e vai se tornando parte integrante da vida pública nacional. A população, decididamente, apoia e quer mais.

A lei vale desde junho de 2010 e já ganhou filhotes em estados e municípios, como relata O Globo hoje. São pelo menos 22 cidades e sete unidades da Federação que já aprovaram ou estão em vias de aprovar legislações que proíbem a contratação de quem tenha problemas com a Justiça para cargos públicos.

Em vários municípios, parlamentares do PSDB ou do DEM estão envolvidos na aprovação de leis da ficha limpa locais. É o caso, por exemplo, da capital fluminense e de Belo Horizonte, onde a legislação é considerada a mais rigorosa do país, por atingir qualquer ocupante de cargo de direção, chefia e assessoramento da administração direta e indireta.

Adotar a ficha limpa em âmbito municipal pode ser um compromisso assumido nas eleições de 2012 por candidatos comprometidos com uma real faxina nas instituições brasileiras. Está aí uma bela bandeira capaz de magnetizar o interesse de milhões de indignados em todo o Brasil. Pode até não encher ruas, mas é capaz de melhorar bastante o país.

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