sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Rumo ao Pibinho

A economia brasileira pisou forte no freio e corre risco de estacionar de vez. A expansão no ano deve ser bem menor do que vinha prevendo o governo. O país caminha para conviver com a indesejável combinação entre crescimento baixo e inflação alta.

O Banco Central divulgou ontem o IBC-Br de agosto. O indicador, que serve como uma espécie de prévia do PIB oficial, apontou queda de 0,53% na atividade econômica no mês, em comparação com julho último.

Foi a terceira vez no ano em que houve retração: maio e junho também haviam exibido queda na comparação com o mês anterior. Ou seja, noves fora o crescimento verificado em julho, a economia brasileira já vem perdendo força desde o início do segundo trimestre.

O país não deve ter crescido nada no terceiro trimestre do ano. Alguns dizem que a economia pode até mesmo ter encolhido entre julho e setembro. Será uma marca expressiva, principalmente quando se tem em conta que desde o primeiro trimestre de 2009 não se registra resultado negativo.

A expansão prevista para o PIB em 2011 já está rodando bem abaixo do que antevia o governo no início do ano. Por muito tempo, a gestão Dilma Rousseff previu crescimento entre 4,5% e 5% para economia brasileira neste ano. No fim de setembro, o BC jogou suas estimativas para 3,5% e nesta semana foi a vez do Ministério da Fazenda depor armas e também cortar suas expectativas para a casa entre 3,5% e 4%.

A julgar pelo IBC-Br de agosto, todos os prognósticos oficiais feitos até agora são otimistas demais. Analistas privados consultados pelos jornais preveem, majoritariamente, um crescimento ao redor de apenas 3%, ou seja, menos da metade do verificado em 2010. Vale lembrar que o Brasil foi, entre 35 países analisados pela OCDE, o que teve a mais forte desaceleração nos últimos 12 meses.

Por ora, o que está pesando são fatores internos: o mau desempenho da indústria e a perda de vigor do comércio varejista, hoje já em marcha lenta. A primeira teve queda de 0,2% em agosto sobre julho e o segundo recuou 0,4% no mesmo período. Pode ficar pior, até porque os impactos da desaceleração mais forte da economia mundial ainda não se fizeram sentir aqui.

É de se prever mais dificuldades à frente, com base, por exemplo, em dados sobre o comércio exterior chinês, também divulgados ontem. O superávit comercial deles caiu em setembro a menos da metade do que era em julho: foram US$ 17 bilhões a menos. Não custa lembrar que a China compra hoje 20% de tudo o que o Brasil exporta...

Com base nos números ora conhecidos, tornam-se favas contadas novos cortes na taxa básica de juros, a começar pelo que deve ser determinado na reunião do Copom prevista para a semana que vem. Há muitas dúvidas, porém, sobre se a desaceleração em curso será suficiente para segurar a inflação.

Eis alguns fatores a inspirar preocupação com o comportamento dos índices de preços nos próximos meses: o ainda pujante mercado de trabalho; o aquecido setor de serviços, que será ainda mais estimulado com o aumento de 14% do salário mínimo em janeiro; o alto nível de consumo das famílias brasileiras.

O balanço da situação coloca em questão a calibragem da política econômica posta em marcha pela presidente Dilma. Por ora, o que se conseguiu foi trazer a atividade produtiva no país para um nível abaixo do seu potencial, ao mesmo tempo em que a inflação veio em escalada desde o começo do ano.

Tratar de projeções para o crescimento econômico não é exercício de futurologia. O desempenho da atividade produtiva tem impacto direto na atitude e no humor da população. Com perspectivas mais sombrias, também tendem a crescer o nível de insatisfação com o governo e a intolerância em relação à corrupção. Tudo isso coloca a economia, definitivamente, na agenda política deste fim de ano.

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