sexta-feira, 12 de maio de 2017

Sobrou pra Marisa

Triste o país que praticamente para a fim de acompanhar um interrogatório, por mais graves que sejam as acusações que recaiam sobre o réu. Assim foi nesta quarta-feira com o depoimento de Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sergio Moro em Curitiba. Um simples procedimento da Justiça foi transformado pelos petistas em ato de campanha.

Que fique claro que a transformação do interrogatório de Lula em circo não foi culpa do juiz, que, aliás, pediu para ninguém se mobilizar ou comparecer a um “ato normal do processo” que apura o recebimento de quase R$ 4 milhões em propina paga pela OAS ao ex-presidente em troca de favores nos governos do PT.

Quem transformou o interrogatório em ato de campanha foram os petistas. Nenhuma novidade. Eles vivem assim há 37 anos, ou seja, desde que a sigla foi criada no ABC Paulista. O que menos interessa ao petismo são os problemas do país. A legenda confirma-se ensimesmada numa única coisa: recuperar, obter e manter o poder. Sua clássica estratégia de guerra de dividir e conquistar.

A presença numerosa de alguns “líderes” petistas em Curitiba ontem – pagos para estar naquela mesma hora cumprindo seus deveres no Congresso, a milhares de quilômetros dali – ladeados por magra militância retrata o vazio de poder em torno do partido.

O PT é hoje muito mais um happening (ainda barulhento e incômodo, é certo) do que um movimento que expresse de fato parcela expressiva dos brasileiros – a presença de Dilma Rousseff num palanque depois de ter levado o Brasil à ruína encarna isso à perfeição. O PT esperneia para mostrar-se maior do que é. E para sobreviver.

Lula e o PT já tiveram, lícito admitir, importância para a história e a democracia brasileiras. Hoje são um cancro. Insuflam sua militância a resistir às mudanças necessárias para corrigir os estragos que seus governos causaram. Contaminam o debate político. Envenenam o convívio social. Sabotam o ambiente produtivo. O PT, afinal, hoje só serve a si mesmo.

Lula cumpre papel de protagonista neste enredo tóxico. Mantém-se em campanha eleitoral permanente, a despeito de ter patrocinado os governos mais corruptos e ruinosos da história da república brasileira. Naquilo que diz respeito às investigações de que é alvo, sua desfaçatez não tem limites, seu oportunismo choca.

Réu em cinco processos, ele já havia transformado o velório da esposa, morta em fevereiro, em comício. Agora, diante do momento de esclarecer as suspeitas que lhe pesam sobre os ombros, transformou a própria Marisa Letícia em bode expiatório e imputou-lhe os principais atos e decisões sobre o tríplex que ganhou de presente como propina. Nada mais previsível do que o enredo de culpar quem já não pode se defender, típico de quem tem contas a acertar e não tem argumentos a apresentar.

Lula, mais uma vez, disse que nada viu, nada sabia. Mais uma vez, apresentou-se como vítima – embora tenha encontrado do outro lado um juiz técnico, frio e objetivo que não se sujeitou a servir-lhe de escada, tampouco em permitir que um ato corriqueiro da Justiça virasse palanque. Novamente, novidade alguma nisso. Minutos depois o petista estava num comício de fato, como a corroborar os reais objetivos da passagem de sua caravana pelo Paraná.

O líder dos petistas age mesmo, e sempre, para usar sua militância como joguete e para manter a nação paralisada, como marionete de seus desejos. Triste o país em que alguém como Luiz Inácio Lula da Silva ainda desfruta do destaque que a ele ainda é dado. Que a Justiça se cumpra e dê jeito de pôr fim a esse mito, que hoje só serve mesmo para impedir que a vida dos brasileiros siga em ritmo normal, como aconteceu ontem, mais uma vez, em Curitiba.

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