quarta-feira, 14 de junho de 2017

A ética da responsabilidade

A decisão tomada ontem pela Executiva Nacional do PSDB de manter apoio ao governo do presidente Michel Temer baseia-se, sobretudo, na responsabilidade e no compromisso com o país. Prevaleceu a ética da responsabilidade sobre a ética da convicção. Venceu a defesa enfática das mudanças estruturais pelas quais o Brasil precisa passar por meio do prosseguimento das reformas.

O PSDB até poderia ter adotado a posição de desembarcar do governo, entregar os cargos, mas manter apoio formal às reformas. O problema é que esta seria uma falsa solução. Simplesmente porque, sem os tucanos, não haveria mais que se falar em reformas e esta agenda estaria sepultada.

As reformas estruturais estão no DNA do PSDB. As mudanças hoje em discussão no sistema de previdência – em busca de um modelo que ataque privilégios e assegure maior equanimidade entre os beneficiários – e nas relações trabalhistas – mantendo intocados os direitos protegidos pela Constituição – são fundamentais, ainda que tímidas.

É preciso perseverar porque apenas assim o crescimento econômico voltará, e com ele os empregos. A aposta num novo governo, neste momento, apenas com o que se tem de denúncias até agora, equivaleria a jogar todo o esforço de recuperação empreendido até o momento para a estaca zero. Vale a pena?

Sempre haverá os que alegarão que o PSDB está se automutilando, autosabotando, ao seguir abraçado com o governo de Michel Temer. Mas o PSDB está, antes de tudo, tentando ajudar o Brasil. Está agindo pelo país, pelas muitas mudanças que é preciso fazer, pelo muito que será necessário reconstruir após o tsunami chamado PT.

Tirar Temer em troca de quê? De quem? A única certeza é que, por até 180 dias, o comando do país ficaria nas mãos do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Depois, ninguém sabe. Poderia ser até o próprio parlamentar do DEM, poderia ser algum outro nome de consenso e de mais estofo, mas poderia ser também alguma incógnita.

Numa hora tão difícil, cabe ao PSDB cumprir papel que sempre cumpriu em todas as crises pelas quais o país passou nestes quase 30 anos de existência do partido: o de moderador, fiador da governabilidade, fiel de equilíbrios. Não é a tarefa mais simples, mas é a mais útil ao país. Voltar para a oposição seria mais cômodo, mas deletério.

Ao mesmo tempo, o partido deve exercer firmemente a crítica a descaminhos em que o governo vier a incorrer. O PSDB não precisa ser sócio de erros, mas deve pretender ser um indutor de acertos. O partido estará atento a acusações e denúncias que porventura vierem a surgir, desde que baseadas em provas e não apenas em idiossincrasias que parte das instituições de fiscalização e controle vêm manifestando.

É preciso estar atento a medidas que deponham contra o imperioso ajuste das contas públicas e não ceder a voluntarismos. Nesse sentido, cabe reparo à suposta intenção de parte do governo de alterar a cobrança de imposto de renda, baixando a alíquota de quem ganha mais. A medida é regressiva, beneficia os mais ricos, sem favorecer os pobres. Cabe também cautela em relação a franquear mais bondades a governos estaduais.

Algum governo é sempre melhor que nenhum governo. Nenhum governo é o que tinha o Brasil até 13 meses atrás. Nenhum governo é o que o país corre risco de ter ao longo dos próximos 18 meses até a assunção dos eleitos nas urnas em outubro de 2018, se nova e imediata mudança de presidente da República houver. O que é melhor?

É possível que a tribuna apressada das redes sociais condene o PSDB pela decisão tomada ontem. Mas o tempo da política e das instituições não é o tempo veloz, muitas vezes insensato, da internet. O compromisso de um partido político responsável deve ser com a construção do bem-estar do povo que representa, e ela é demorada, custosa, difícil. Também por isso, o tempo de partidos políticos realmente sérios é o da história.

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