terça-feira, 12 de setembro de 2017

Frutos estranhos de uma árvore podre

As delações feitas pelos executivos da JBS estão caindo de podre. Desde a semana passada, está ficando cada vez mais explícita a farsa em torno da qual foi montado o estratagema para sabotar o governo, alvejar alguns de seus principais aliados, nivelar todos na mesma lama do PT e tentar bloquear a agenda de reformas do país.

As gravações que o Brasil pôde conhecer desde a última terça-feira deixaram claro o caráter e os reais objetivos daqueles que foram tratados a pão-de-ló pela Procuradoria-Geral da República. Trata-se de deferência nunca antes vista neste país dispensada a criminosos desse quilate e, sabe-se agora, com beneplácito direto de procuradores federais.

O episódio já obrigou o Ministério Público Federal a rever a imunidade concedida aos Batista e companhia. Mas fez mais: jogou a credibilidade de Rodrigo Janot, que nesta semana se despede da PGR, no fundo de poço – o mesmo de onde suas atitudes quase impediram o país de sair. Repara-se assim, pelo menos em parte, os excessos que o acordo de colaboração premiada firmado entre eles implicava.

Mas agora é preciso encarar outras questões, tão severas quanto. A mais relevante delas diz respeito ao conteúdo das acusações urdidas por Joesley e seus asseclas, em conluio, inclusive, com setores da PGR. Estando claro que toda a estratégia foi cuidadosamente planejada, direcionada a boicotar o governo e criminalizar a atitude de algumas pessoas, fica a questão: elas permanecem válidas?

Melhor deixar a resposta àquele que, desde a primeira hora, contra muitos, defendeu incondicionalmente os termos da delação: o próprio Janot. Em entrevista concedida a Roberto DÁvila em 5 de julho deste ano, ao ser perguntado se as gravações de Joesley “foram combinadas com o Ministério Público”, ele afirma com todas as letras:

“De jeito algum. Toda colaboração tem que se espontânea, tem que ser voluntária. Se o Ministério Público provoca qualquer ato de colaboração, ele está anulando toda a colaboração”. Portanto, é o próprio procurador-geral da República quem está dizendo que, se a árvore está contaminada, seus frutos são podres.

Sobre Marcelo Miller, disse Janot, na mesma ocasião: “Ele jamais trabalhou, em um dia, uma hora, um segundo sequer na questão da colaboração premiada dos réus colaboradores”. Suspeita-se agora que o ex-procurador não só participou como orientou as delações, “inclusive no que diz respeito a auxílio prestado para manipular fatos e provas, filtrar informações e ajustar depoimentos”, conforme sustentou Janot no pedido de prisão de Miller. Ou seja, atuou diretamente para empestear as delações.

Vale lembrar que, nesta mesma entrevista, Janot defende sem pestanejar a integridade, a licitude, a correção e a pertinência do acordo que havia fechado com Joesley Batista e a turma da J&F, o mesmo que ora ruiu de podre. Diante disso, fica a pergunta: faz sentido considerar como íntegras acusações feitas sob manto tão corrompido? Difícil defender que sim, até pelas palavras do próprio Janot a DÁvila e no pedido de prisão de Miller, negado, porém, por Edson Fachin.

Para complicar, o procurador-geral protagonizou o mais embaraçoso episódio do fim de semana, ao ser flagrado tomando uma amistosa cervejinha justamente com quem? Com um dos advogados do grupo J&F! Encontro realizado no sábado, dia seguinte ao pedido de prisão de Joesley, fora da agenda oficial, algo “à sorrelfa”, como ele costuma acusar suas vítimas de cometer.

Com suas atitudes, no apagar das luzes de sua gestão, o procurador-geral jogou um facho de suspeição sobre seu trabalho e ajudou a engrossar o caldo de contestações à Operação Lava-Jato. Também agiu de forma inconveniente ao apresentar, nas suas últimas horas à frente da PGR e já sob a sombra das desconfianças despertadas pelas gravações da semana passada, denúncias em série tendo como foco Lula, Dilma e seus petistas graúdos. Matéria de tamanha gravidade deveria ter ficado para sua sucessora, Raquel Dodge.

Ontem, em mais um episódio da reviravolta que se processa desde a última terça-feira, o ministro Edson Fachin suspendeu o acordo da JBS. Agora vai analisar se anula ou não o conteúdo da delação. Nesta semana, a decisão será referendada ou não pelos demais integrantes do STF, cuja agenda está cheia de julgamentos importantes para desanuviar a agenda do país.

Parte da lambança de Rodrigo Janot já foi remendada: Joesley agora está preso. Espera-se que, pela ficha corrida de crimes contra o patrimônio dos brasileiros que cometeram ao longo dos governos do PT, ele e seus comparsas tenham condenação exemplar. Falta, porém, recolocar em termos equilibrados a delação feita pelos Batista e sua turma. Por tudo o que ora se sabe, seu destino deveria ser um só: a lata de lixo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário