A pesquisa divulgada no domingo pelo Datafolha permite vislumbrar alguma perspectiva na corrida eleitoral que se aproxima. Longe de ser um cenário perene, posto que com muitas candidaturas capengas, traz contornos um pouco mais nítidos para delimitar os campos ideológicos em disputa.
Há maior clareza nos extremos e uma enorme incógnita no centro. Isso tende a obrigar uma definição mais célere das alternativas que pretendem ocupar este espectro político, sob risco de ver nacos dele engolidos de forma oportunista pelos antagonistas situados em cada uma das pontas.
Dizia-se até pouco tempo que, na corrida eleitoral que se avizinha, o centro político está congestionado. Mais correto seria dizer, com base na pesquisa desta semana, que ele é um vazio a ser habitado por alguma candidatura mais consistente e mais condizente com a gravidade do momento atual.
A miríade de alternativas ditas centristas claramente não se sustentará e irá minguar daqui até a eleição. Até por razões financeiras. Partidos pragmáticos como MDB e em ascensão parlamentar como o DEM não vão torrar dezenas de milhões de reais – o limite são R$ 70 milhões no primeiro turno – apenas para que seus candidatos façam figuração na eleição.
Caricaturas como as apresentadas pelo PRB, pelo PSC, pelo Solidariedade, pelo Novo, por mais bem intencionadas, e até qualificadas, provavelmente passarão em branco na luta pelo voto liberal-conservador não radical.
Resta o PSDB. Seja pela tradição ou pela densidade eleitoral que ainda conserva, o partido ainda tem condições de galgar o espaço que está aberto e assegurar sua vaga no segundo turno. Vai precisar, contudo, de postura diferente da que vem assumindo.
O que parece estar claro é que o eleitorado exige do próximo presidente que assuma posições claras, tome atitudes inequívocas, compre as brigas necessárias para demonstrar sua firme disposição de mudar o estado de coisas em que o país ainda encontra-se afundado. Até porque, com ou sem Lula, o lulismo e o petismo ainda serão atores relevantes desta eleição – e provavelmente de muitas outras.
Não é por outra razão que uma parte significativa de brasileiros se seduz pelo canto da sereia de um ex-capitão do Exército que encarnou o antipetismo e vive a prometer o que os mais conservadores gostam de ouvir. Seu problema, contudo, é que suas ideias não correspondem aos fatos, tampouco aos atos de sua longa trajetória de político.
O maior risco do centro viável é ver-se tentado a mimetizar-se com o espectro ideológico mais à esquerda – este, sim, um campo já congestionado pelas candidaturas da Rede, do PDT e do PSB. São três forças com potencial que podem se parasitar e inviabilizar-se mutuamente, numa disputa tão fragmentada.
Se souber evitar estes caminhos enganosos, o centro tem uma avenida aberta diante de si. Precisa ter a virtude da temperança, da busca de entendimento amplo, mas não pode furtar-se a travar o combate e a denúncia dos erros que levaram o país a estar no fosso em que está. Não se superará a crise passando uma borracha no passado recente.
Uma boa alternativa de centro também precisará demonstrar que, ao contrário da maior parte de seus adversários, tem competência e experiência comprovadas. Necessitará transmitir à população que pensa, sente e age como o brasileiro comum, que experimenta na pele a dificuldade que é viver no Brasil atual. E, sobretudo, que tem a convicção necessária para mudar o país.
quarta-feira, 18 de abril de 2018
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