quarta-feira, 14 de julho de 2010

Em busca do heptacampeonato da desfaçatez

Aconteceu de novo e provavelmente não será a última vez: Lula voltou a fazer propaganda ilegal para a candidata do PT. O presidente da República sabia exatamente o que estava fazendo; sabia claramente que estava afrontando a lei. No entanto, deu de ombros. Belo exemplo.

Lula persegue o heptacampeonato da desfaçatez. Já foi multado seis vezes pela Justiça Eleitoral, que lhe aplicou multas de R$ 42,5 mil. Para não deixá-lo sozinho na ilegalidade, Dilma Rousseff recebeu ontem sua quarta penalização eleitoral e já deve R$ 21 mil ao erário.

Mas o presidente da República e a candidata do PT parecem insatisfeitos com seu nível atual de afronta. Demonstram preferir dobrar as apostas. Afinal, como comenta Fernando Rodrigues na edição de hoje da Folha de S. Paulo, deve valer a pena incorrer em multas de algumas dezenas de milhares de reais no bojo de uma campanha disposta a torrar R$ 157 milhões para perpetuar-se no poder.

Lula cometeu mais um abuso de poder político ao dizer, durante um evento de governo, que Dilma é responsável por “fazer este TAV (trem de alta velocidade)”. Isto porque, no governo petista, teria sido praticado o mais esmerado planejamento de ações – coisa, aliás, que o “falta tudo” dito pela Fifa sobre o andamento das obras da Copa de 2014 só atesta...

A Lei Eleitoral proíbe agentes públicos de ceder ou usar em benefício de candidato bens móveis ou imóveis pertencentes à administração. Ou seja, estamos diante de mais uma ilegalidade evidente, e premeditada, praticada pelo primeiro mandatário.

Isso posto, vale analisar o mérito da declaração de Lula: afinal, o que é mesmo que foi feito por Dilma “neste TAV”, presidente?

Ontem, depois de mais de um ano de atraso, foi lançado o edital para a implantação do trem-bala ligando Campinas ao Rio de Janeiro. Neste período, seu custo estimado saiu de US$ 11 bilhões – o que daria cerca de R$ 20 bilhões em dinheiro de hoje – para R$ 33 bilhões, já com o ajuste (para baixo) nos custos imposto pelo TCU. Grande planejamento.

A obra vai se tornando pule de dez para empresas privadas interessadas em faturar bilhões sem incorrer em riscos. Uma estatal (uma das 11 já criadas pelo governo Lula) integrará os negócios; nela serão postos R$ 3,4 bilhões. O BNDES oferecerá financiamento de até 60% do empreendimento, o que dá R$ 19,9 bilhões. Negócio pra China.

Continuemos a analisar a eficiência do “planejamento” dos gestores petistas. Inicialmente, o prazo de execução da obra era estimado em cinco anos e agora já se fala, otimistamente, em seis. Dizia-se que o trem-bala estaria circulando quando a bola rolasse na Copa do Mundo de 2014, e agora fala-se que, provavelmente, algum trecho pode estar pronto para a Olimpíada do Rio, em 2016. Que diabo de gerente fez este “planejamento”, presidente? Não é o caso de demiti-la?

Ter um trem-bala ligado a zona conurbada e mais rica do Brasil é bacana. Muita gente vai se sentir importante vendo aquele bólido passar zunindo, mesmo que jamais ponha o pé nele um dia. Será mesmo que isso é o que mais interessa ao país nesta altura?

Com a dinheirama do TAV dá para assentar 500 km de metrô, contemplando as necessidades de praticamente todos os nossos centros urbanos, melhorando a vida de milhões de pessoas que dependem cotidianamente de um transporte público mais eficiente. Dá para fazer também ferrovias capazes de revolucionar o nosso interior, disseminando o desenvolvimento pelo país, sem agredir o meio ambiente.

Esta é uma opção que cabe ao povo brasileiro fazer: prefere o ar-condicionado do trem-bala ou o suor e o emprego das ferrovias transportando a soja do Maranhão, os minérios do norte de Minas, os automóveis do Paraná?

É espantoso que o cronograma divulgado ontem preveja que o leilão se realize em 29 de novembro e o contrato seja assinado em fevereiro, já pelo novo presidente, que ninguém sabe ainda quem será. Ou seja, no lusco-fusco entre um governo e outro leva-se à disputa uma obra bilionária como esta, à qual se juntam outras como a igualmente bilionária Belo Monte.

Não parece difícil nem insensato concluir que as afrontas à lei eleitoral são apenas a ponta do iceberg das ilegalidades que o governo do PT está a cometer. Tem coisa muito pior a caminho, na velocidade do trem-bala.

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