As informações mais recentes – e não apenas os resultados das pesquisas de intenção de votos – trazem uma clara mensagem do eleitor: ele quer aprofundar a discussão sobre o futuro do país. Para os que já perfazem a maioria da população, a eleição presidencial não deve se encerrar no próximo domingo. Vamos a um desejável e necessário segundo turno para escolher o melhor para o Brasil.
Pesquisa do Datafolha mostra que em duas semanas a distância entre as intenções de voto em Dilma Rousseff e os demais candidatos diminuiu de 14 para dois pontos – ou seja, está agora dentro da margem de erro. A petista caiu em todas as regiões do país e notadamente entre as mulheres; entre os que têm curso superior, entre os quais José Serra lidera, ela já é hoje apenas a terceira colocada.
É a voz rouca das ruas se fazendo ouvir, a contragosto do PT. A partir de meados de agosto, a campanha petista tentara mergulhar o país num torpor paralisante, segundo o qual o destino da nação estava selado. Não contava que a realidade se interpusesse e, mais uma vez, o PT e seus candidatos tropeçassem em falhas morais. A face do petismo revelou-se e o eleitor abespinhou-se.
A descoberta do balcão de negócios montado na Casa Civil, chefiada até outro dia por Dilma, e a devassa fiscal feita por meio da Receita Federal na vida de adversários políticos levaram os cidadãos a dizer ‘não’ a esta escalada de desmandos. A candidata petista sofre neste instante uma sangria de votos – seis milhões de eleitores teriam desistido de votar nela nos últimos 15 dias, segundo o levantamento do Datafolha.
E quem são, majoritariamente, os que estão desembarcando da candidatura Dilma? Segundo as mesmas pesquisas, são, em grande medida, os que foram os maiores beneficiados pelas políticas de inclusão empreendidas ao longo dos últimos anos. Entre os estratos de renda de dois a cinco salários mínimos, Dilma teve a maior erosão nas intenções de voto. O recado desse grupo é evidente: não basta ter mais dinheiro no bolso, é preciso um país decente.
São justamente as camadas onde se forma a opinião pública que estão se voltando contra Dilma e os descalabros que ela encarna. Aos poucos, a mesma percepção vai se espraiando pelo resto da sociedade, numa resposta à arrogância do presidente Lula, que, na semana passada, arvorou-se “dono” do que pensam os brasileiros. A população dá cada vez mais mostras de que não aceita pratos feitos, tampouco a tutela de quem quer que seja.
É este estado de coerção que afugentou os eleitores. O Brasil com o qual se sonha é um país de liberdades e oportunidades, de esforços reconhecidos, de méritos recompensados. É o oposto do sistema de compadrio, de achaques, de mistificações e obscurantismos que a candidatura Dilma encarna. Um modelo em que um Estado agigantado solapa as alternativas dos que não são amigos do poder, como relata Miriam Leitão na edição de hoje de O Globo: “A mistura é explosiva: de um lado, um Estado com poder de vida ou morte sobre as empresas; do outro, emissários do partido do governo com ameaças embutidas na formulação de pedidos”.
Dilma Rousseff tentou a todo custo evitar o confronto direto de ideias, muito provavelmente porque careça delas. (Os cercadinhos que a separam do povo e da imprensa são a face simbólica desta postura.) Agora, assustada com a possibilidade de ter de defrontar-se sem subterfúgios com um adversário único e direto, apela mais uma vez ao patrono de sua candidatura para tentar se livrar do segundo turno. Não conseguirá.
A candidata do PT ainda não entendeu o recado do eleitor: ele quer vê-la exposta ao contraditório, sujeita a contestações, instada a explicar-se. Quer ver fluir um debate franco e aberto de ideias e propostas para fazer um país melhor, menos desigual, repleto de justas oportunidades. A sociedade brasileira deu-se conta de que estava prestes a assinar um cheque em branco, e recusou-se. Até porque ele podia estar sem fundos.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
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