Desde o escândalo do mensalão é assim: quando se vê acuado por denúncias e evidências de corrupção e malfeitos, o PT acena com a possibilidade de “mobilizar as massas” em defesa de seu governo “democrático e popular”.
Acontecerá de novo nesta quinta-feira, quando ONG, sindicatos, agremiações estudantis e entidades amaciadas pelo ervanário público protestarão contra o “golpismo midiático”. Mas o que se pretende é muito mais: caçar o direito de divergir do governo petista, algo que esse pessoal simplesmente não suporta.
O evento desta quinta-feira não é ato isolado. Há algumas semanas, desde que foram sendo reveladas as violações na Receita Federal e as falcatruas na Casa Civil, o próprio presidente da República partiu para o ataque contra a imprensa. Comício após comício, ato público após ato público, Lula vem insuflando seu público, afrontando a liberdade de informar dos meios de comunicação. A turma do protesto simplesmente seguiu a senha dada pelo líder. Encena agora o corolário da intolerância.
Os tais “representantes” de entidades civis cumprem o papel que o petismo lhes reservou na Era Lula: servir de vassalos de um governo que muitas vezes lhes paga o salário e noutras tantas lhes garante gordas verbas públicas em forma de polpudos convênios. O PT transformou centrais sindicais, MST, UNE e confrarias do gênero em correia de transmissão dos interesses oficiais: funcionam como cães de guarda que o petismo põe em campo toda vez que alguma de suas maracutaias é descoberta.
O protesto desta semana também tem lá seu caráter preventivo. É como se o petismo quisesse dizer: “Não nos venham querer derrotar nas urnas, porque, se assim for, não deixaremos pedra sobre pedra neste país.” Não foi uma nem duas vezes que já se ouviu de próceres do lulismo que os tais “movimentos sociais” não dariam sossego a um eventual governo de alguém da oposição – tendo, claro, Lula como maestro. É desta maneira que esta gente respeita a democracia e a vontade popular...
Nem sempre Lula e o PT viram a imprensa como sua inimiga nº 1. Na realidade, ela lhes foi, no mais das vezes e por anos a fio, companheira. Muito do mito erigido em torno do líder popular deve-se aos meios de comunicação. Muito do denuncismo que sustentou a atividade parlamentar dos petistas por décadas só prosperou em razão do espaço que os jornais lhes franquearam. Mas, para o petismo, isso ainda é pouco: só serve a unanimidade.
O ataque do PT em busca da concordância absoluta se dá em duas frentes. Por um lado, ataca-se a liberdade de a imprensa independente atuar, o direito de algumas cabeças pensantes divergir. É a elite intelectual que precisa ser exterminada.
De outro, instrumentalizam-se vozes chapas-brancas para defender o governo a qualquer preço e a toda hora. O governo montou uma barricada guerrilheira na internet (basta observar quem patrocina os blogs alinhados ao governismo), espraiou a subserviência por jornais do interior do país cevados a gordas publicidades oficiais e engendrou uma potente máquina de propaganda por meio de empresas públicas travestidas de jornalísticas. Uma estratégia de guerra para aniquilar vozes dissonantes e amplificar a de áulicos.
Tudo considerado, estamos diante de um dos piores legados da era Lula: a intolerância com o contraditório. Divergir do discurso oficial tornou-se crime no Brasil, coisa de quem “torce contra”, a ser punido com as garras do aparato estatal (a Receita Federal está aí para isso...). Uma verdadeira herança maldita que só encontra competidora à altura na leniência com o malfeito – algo que este governo não só pratica como tenta inocular na sociedade. Marcas de uma era que o país ainda demorará um tempo para eliminar, mas que é preciso começar já a varrer.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
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