Dilma recebeu Lula
no Palácio do Alvorada ontem para um encontro de cerca de quatro horas. Posaram
para fotos com descontraídos óculos 3D, mas miraram mesmo foi no andamento dos
trabalhos da comissão do Congresso que irá apurar as ligações do submundo do
crime com a banda podre da política.
Há cerca de um ano,
às voltas com as primeiras revelações do show dos milhões de Antonio Palocci,
Dilma também correu a Lula e, juntos, ensaiaram um discurso unificado de defesa
do então todo-poderoso chefe da Casa Civil. Nada adiantou: 15 dias depois, o
ministro caiu, sob o peso de contratos que nunca conseguiu explicar.
Agora, como naquela
ocasião, a atitude governista é idêntica: tentar reverter as acusações transformando
suspeitos em vítimas. Os primeiros movimentos petistas na CPI do Cachoeira apontam
na mesma direção: tentar dificultar investigações, dirigi-las a adversários
políticos e impedir que as verdadeiras irregularidades sejam apuradas a fundo.
A CPI tem muito a
passar a limpo, mas começa com enormes dificuldades para apurar o que realmente
interessa. Para começar, dos 32 titulares apenas 7 são de partidos de oposição –
ou seja, pouco mais de 20%. Há uma muralha colocada para barrar qualquer investigação
mais séria no Congresso.
Mesmo em folgada
maioria, o Planalto dobrou a precaução e instalou na CPI um comando teleguiado para
sustar qualquer apuração que “vá para cima do Planalto ou qualquer membro do
governo”, como admitiu
Odair Cunha, o petista de Minas Gerais escalado para relatar os trabalhos da
comissão.
Mas, ao contrário do
que diz o deputado, o fato é que governo e PT já estão mergulhados até os
cabelos nas cascatas torrenciais do bicheiro Carlos Cachoeira. Seja por causa
de um assessor palaciano de farta ligação com o contraventor, o petista goiano Olavo
Noleto, seja pela escandalosa intimidade de Agnelo Queiroz, governador petista do
Distrito Federal, com as teias nebulosas da corrupção.
Ontem, Lula teria
dito aos comensais do Alvorada que a CPI pode revelar coisas “surpreendentes”. Ele deve saber o que diz. Afinal, o que se sabe até agora, fruto da Operação Monte
Carlo da Polícia Federal, já indica que um azeitado balcão de negócios funcionou
ancorado em polpudos contratos de empresas queridinhas do PAC.
A Delta Construtora desponta
como a vilã da hora, mas apenas por ter sido a mais saliente das sócias do
programa que – a despeito de sua pouca efetividade em termos de obras e benefícios
para a sociedade – catapultou a trajetória política de Dilma. Certamente, há
muito mais a descobrir por trás dos bilionários contratos.
Por isso, a
estratégia do governo e do PT será por restringir ao máximo as investigações,
inclusive desviando ao extremo os holofotes para negócios da Delta, enquanto
tudo o mais permanece na penumbra. “O partido não quer permitir a ampliação do
foco para evitar que a CPI acabe por investigar as obras de infraestrutura do
PAC, uma das vitrines do governo”, aponta hoje a Folha de S.Paulo.
Lula e Dilma sabem o
que estão fazendo quando afinam sua estratégia refratária diante da CPI. Sabem que
o que veio a público até agora é uma gota d’água na torrente de falcatruas que
pode ter jorrado da relação promíscua movida por desvio de dinheiro público de
obras do PAC. Sabem que, como um relógio suíço, o interesse de um e da outra
caminharam lado a lado com o submundo da corrupção. Por isso, temem tanto a
CPI.
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