Depois de um ano, o
texto voltará a ser apreciado pelos deputados, que, em maio de 2011, impuseram
à presidente uma de suas mais ácidas derrotas parlamentares até agora. Depois
disso, o Código passou por votação do Senado, em dezembro, onde ganhou uma
versão mais equilibrada.
Na semana passada,
porém, Piau apresentou relatório alterando 21 pontos do texto aprovado pelos
senadores. Entre os principais aspectos modificados, está o que define as áreas
de preservação permanente a serem recompostas pelos produtores. O deputado
tornou a regra bem mais amena, no que está sendo considerada uma “anistia” a
desmatadores.
O texto aprovado
pelo Senado – que representou uma conciliação possível entre a visão
ambientalista e a dos produtores rurais – estabelece faixas mínimas de
recuperação da vegetação entre 15 e 100 metros, dependendo da largura
dos rios. Para pequenos produtores, há gradações e atenuantes à norma.
Pela proposta de
Paulo Piau, caberia a cada estado estabelecer regras sobre quando, quanto e como
os proprietários rurais terão de recuperar das áreas de preservação permanente.
Opta-se por uma orientação mais fluida, ao invés de uma regra geral que
discipline a aplicação do Código em todo o país. Não parece ser a melhor saída.
Embora possa não ser
perfeita, a versão aprovada pelos senadores no fim do ano passado aponta uma
concordância possível entre posições que, na maioria das vezes, nunca
convergem. Parece ser, portanto, a solução aceitável para o impasse florestal,
que se arrasta há anos no país.
Como Piau insiste em
levar as propostas contidas em seu relatório a voto, sem mais margem para
negociações, o governo federal enxergou na intransigência uma excelente
oportunidade de dar verniz ambiental a suas posições.
O Planalto já fez
circular que, do jeito que está, o Código não passará pelo crivo da presidente
da República. A intenção governista, manifestada aos jornais, é vetar o trecho
que trata das áreas de preservação permanente e editar uma medida provisória
recompondo o espírito do texto que foi aprovado no Senado.
Poder vetar um
projeto que, aos olhos da opinião pública, serve para “anistiar quem desmata” é
tudo o que Dilma mais sonha. Justo ela, que de meio ambiente sempre guardou
profilática distância...
Recentemente,
algumas das mais proeminentes entidades da área ambiental, como WWF e SOS Mata
Atlântica, divulgaram documento em que classificam o primeiro ano de gestão da
presidente como o de “maior retrocesso da agenda socioambiental desde o fim da
ditadura”. Um dos exemplos é que não foi criado nenhum hectare de novas áreas
de proteção desde o último ano.
Desde que ocupava o
comando do Ministério de Minas e Energia, Dilma protagonizou a função de trator,
a quem cabia derrubar tudo o que se opusesse ao desenvolvimentismo. Sua política
energética resulta hoje em maiores emissões de carbono, com uso intenso de
combustíveis fósseis em usinas termelétricas. As obras de hidrelétricas na Amazônia
também não primam pelo respeito ao meio ambiente. E por aí vai.
O imbróglio em torno
da votação do Código Florestal revela, também, como a base parlamentar de
sustentação do governo Dilma funciona sem qualquer organicidade. Com os votos
de que dispõe, a presidente poderia, facilmente, ter encaminhado uma proposta que
contemplasse os reais interesses da sustentabilidade, tendo em vista o futuro
do país. Mas este imenso capital só é usado para outros fins, bem menos nobres.
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