Nunca antes na
história, uma comissão parlamentar de inquérito obteve tantas assinaturas de
apoio. Na última parcial divulgada ontem à noite pela Secretaria Geral do
Senado, 385 deputados e 72 senadores haviam firmado o requerimento de instalação.
Deve-se manter a pressão para que a CPI vá a fundo, doa em quem doer.
A oposição já deixou
claro que não teme as investigações e, por isso, aderiu maciçamente: 50 dos 53
deputados tucanos assinaram o requerimento e, no DEM, todos os 27, de acordo
com O
Globo. Partidos da base, entretanto, emprestaram menos apoio à
investigação: no PMDB, apenas 60 dos 79 deputados apoiaram.
Também na composição
da CPI, o ímpeto é divergente. A oposição já começou a escalar um time parlamentar
de primeira linha, auxiliado por assessores tarimbados em investigação, como policiais
federais – entre eles alguns que ajudaram na prisão de traficantes como Fernandinho
Beira-Mar e Juan Carlos Abadia – e auditores da Receita Federal.
Em contrapartida, o
time governista – que ocupará quase 80% das vagas da CPI – terá gente como o
ex-presidente Fernando Collor de Mello e o senador Romero Jucá (PMDB). Indicado
pelo PTB, Collor responde na Justiça por corrupção ativa e passiva. Já o
ex-líder governista, tem nas costas acusação de crimes contra a administração
pública, entre outros.
O governismo não estará
representado apenas por gente da estirpe de Collor e Jucá na CPI. Na defesa do
bicheiro Carlos Cachoeira, estará Marcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça
de Lula. Ele foi contratado pelo contraventor pela bagatela de R$ 15 milhões. O
advogado explica-se: “Minha profissão é minha prioridade”. Sei...
A investigação que logo
se iniciará tem tudo para voltar a percorrer os meandros que a CPI dos Correios
trilhou em 2005. São evidentes as semelhanças entre o valerioduto que irrigou o
mensalão e as conexões agora conhecidas entre empresas beneficiadas pelo PAC –
a Construtora Delta é apenas a mais saliente delas – e campanhas eleitorais.
Com uma diferença
relevante: é muito maior a proporção entre o que pode ter sido surrupiado dos
cofres públicos no presente a partir dos bilionários contratos do PAC e o que
foi desviado lá atrás pelas empresinhas de Marcos Valério.
A constatação é
triste: na origem desta teia de corrupção, está um modelo de financiamento da
política que incita o relacionamento promíscuo entre interesses privados e a
coisa pública. Com o mensalão, o PT levou isso ao paroxismo, e não há bravata
que consiga transformar o maior esquema de desvio de dinheiro público da história
em “farsa”, como quer Rui Falcão. Em breve, o STF cuidará de dar a sentença
final sobre o crime.
É sintomático que,
no mesmo momento em que a sociedade cobra mais rigor no trato público, maior
combate ao fisiologismo, maior intolerância ante a corrupção, o governo
petista, mais uma vez, atua para afrouxar a fiscalização e o controle sobre a contratação
de obras públicas e a aplicação do dinheiro dos cidadãos.
Segundo O
Estado de S.Paulo, o governo Dilma Rousseff trabalha para estender o Regime
Diferenciado de Contratação a todas as licitações do PAC. O chamado RDC –
questionado na Justiça pela oposição e pela Procuradoria-Geral da República – aplica-se
a obras da Copa e da Olimpíada. Mas o governo tentará emplacar um liberou
geral.
A CPI do Cachoeira
está em perfeita sintonia com o que quer a sociedade brasileira, e em conflito
com o espírito permissionário que marca as ações e posturas do petismo. O Congresso
tem diante de si uma excelente oportunidade de limpar toda a sujeira que tem
sido jogada para debaixo do tapete pela leniência do PT. A hora é de investigar,
apurar e punir.
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