quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Novos rumos na Petrobras?

Dilma Rousseff oficializou ontem a mudança no comando da maior empresa do país. A partir de fevereiro, a presidência da Petrobras será ocupada por Maria das Graças Foster, que ocupará o lugar que hoje é de José Sérgio Gabrielli. A alteração pode representar um alento para a companhia, que nos últimos anos vem sentindo o peso da ingerência política.

A Petrobras está em parafuso desde a megacapitalização da empresa, ocorrida em agosto de 2010. Foi o início de um período em que os preços de suas ações mergulharam, novos negócios e contratações se viram paralisados e o plano de investimentos da companhia – considerado “irrealista” pelo próprio governo – teve de ser várias vezes revisto e revisado.

Até 2015, a Petrobras deverá investir a montanha de US$ 224,7 bilhões. Mas as regras definidas para exploração do pré-sal têm dificultado a consecução do plano. A empresa tem de estar em todos os consórcios com participação mínima de 30%. Tem também de dar preferência a fornecedores com maior conteúdo local. Tudo isso vem retirando-lhe oxigênio e travando o setor como um todo no país.

O comportamento dos papéis da petrolífera no mercado acionário não é tudo, nem o principal; mas é indicador adequado e eficaz do desempenho empresarial da Petrobras neste ambiente dificultoso. No ano passado, ela foi a segunda companhia que mais se desvalorizou no mundo, atrás apenas do Bank of America.

Em 2011, a Petrobras não só perdeu US$ 72,4 bilhões em valor de mercado, segundo levantamento com mais de cinco mil empresas da base de dados da Bloomberg News, como também caiu duas posições no ranking das maiores petroleiras do mundo, para o quinto lugar.

Pelo segundo ano consecutivo, a companhia não conseguiu alcançar a meta de produção traçada. Em 2011, a produção de petróleo da Petrobras no Brasil ficou 3,7% abaixo da meta anual de 2,1 milhões de barris/dia. Analistas estimam que só haverá aumento significativo em 2013.

Desde a descoberta do pré-sal, a Petrobras perdeu mais de 30% de valor de mercado: evaporaram R$ 138 bilhões entre 2007 e o fim do ano passado. Pelo menos este início de ano tem sido mais venturoso para os papéis da companhia na bolsa: as ações preferenciais e ordinárias têm alta de quase 20%, o dobro do Ibovespa.

Outros fatores têm pesado no desempenho da Petrobras. Desde a gestão Lula, a empresa passou a ter de responder por incumbências exóticas como a participação na geração de energia elétrica e investimentos na produção de etanol, ao mesmo tempo em que os preços da gasolina que fabrica são garroteados para segurar a inflação. Muitas vezes a companhia também foi usada como instrumento da geopolítica companheira, para agrados dos petistas a aliados como a Bolívia, a Argentina e a Venezuela.

É esta, em linhas gerais, a empresa que Graça Foster herdará de José Sérgio Gabrielli. Indicativo de que o governo não está satisfeito com o que a Petrobras está entregando é o fato de que, além da presidência, quatro das seis diretorias atuais também deverão ser trocadas. Vai ter muita gente reclamando, já que cada naco de poder da empresa é comandado e explorado por partidos diferentes, como PT, PMDB e PP.

Graça é tão petista quanto Gabrielli, a ponto de ter estrelinhas do partido tatuadas no antebraço. Mas exibe credenciais que ele não tinha, como uma larga trajetória dentro da companhia, iniciada em 1978, e ampla vivência no setor de energia, com passagens por vários cargos importantes.

Seu perfil técnico pode representar uma esperança, mas seu nome não está livre de polêmicas. Quando ela já respondia pela diretoria de Gás e Energia da Petrobras, a firma do marido dela – a C.Foster – teve 20 contratos firmados sem licitação para fornecimento de componentes eletrônicos para a petrolífera. Entre 2007 e 2010, envolveram R$ 614 mil.

É positivo que a indicação de Graça Foster venha acompanhada da expectativa de que a gestão da maior companhia do país torne-se mais profissional e menos sujeita a politicagens. Por enquanto, isso é apenas uma possibilidade, que pode ou não se concretizar.

A lista de órgãos estatais que precisariam ser igualmente saneados é extensa. Apenas para citar alguns dos envolvidos nos escândalos do momento no fatiado Ministério da Integração Nacional, inclui o Dnocs, a Codevasf, a Sudene e tantos outros. A Petrobras pode ser o início de uma mudança, mas, dado o histórico de malversações das gestões petistas, pode ser apenas mais uma frustração. 

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