Dilma Rousseff chega
hoje a Davos em má hora. A presidente brasileira partiu em busca da
credibilidade perdida, depois de anos esnobando um dos principais encontros de
líderes globais. Mas ela passeia pela vila suíça em meio a nuvens de
desconfiança, prognósticos negativos e maus resultados a mostrar em relação ao
desempenho de seu governo no Brasil.
Nos últimos anos, o
governo brasileiro fez-se representar por mirradas delegações nos encontros
promovidos pelo Fórum Econômico Mundial. Em 2012, só nosso chanceler foi – e alegou
que, convidados, nem Dilma nem o ministro da Fazenda se animaram a participar
das reuniões porque elas só atrairiam “pessoas interessadas em ganhar
projeção”, como lembrou ontem O Estado de S.Paulo.
A maré negativa, contudo,
forçou a presidente brasileira a mudar suas atitudes. Nos últimos meses, o
Brasil passou a ser visto cada vez mais como pária no concerto geral das
nações. Uma economia potente, mas ora com baixo vigor; uma administração
perdulária; uma gestão pouco transparente no trato das finanças públicas; um
governo avesso à iniciativa privada. Em suma, um país que é hoje alvo de desconfiança
ampla, geral e irrestrita do mundo.
Pelo que vêm
antecipando porta-vozes do governo, a tentativa agora é de mudar esta percepção
e indicar “um processo de gradual mudança rumo a uma aproximação do setor
privado e dos mercados”, conforme escreveu Claudia Safatle ontem no Valor Econômico. Com a água pelo nariz, a presidente tenta demonstrar
compromisso com a estabilidade e com a responsabilidade fiscal. Só se for para
suíço ver...
Depois do leite
derramado, com a enorme erosão da credibilidade do país promovida pelas medidas
tomadas nos últimos três anos pelo seu governo, modificar a visão e as
expectativas externas sobre o Brasil tornou-se tarefa muito mais difícil para
Dilma. Pelo histórico de frustrações, o palavrório da presidente e de seus
auxiliares não ajudará muito.
O que Dilma poderá
falar de estabilidade? Nossa inflação é um das mais elevadas do mundo, há anos
está alta e exibe resistência considerável à queda. Pior de tudo, por anos o
tema foi tratado pelo governo como se fosse de menor importância – na linha de
“uma inflaçãozinha a mais não dói” – e agora exigirá doses ainda mais cavalares de
juros, como deixou claro a ata do Copom divulgada ontem.
O que a presidente
poderá prometer em termos de responsabilidade fiscal? A despeito de toda a
criatividade e das grossas camadas de maquiagem, o superávit das contas
públicas caiu de 3,1% do PIB em 2011 para 2,4% em 2012 e deverá fechar o ciclo
de Dilma na presidência em cerca de 1,5%. Quem entende do assunto, afiança que,
dadas as condições atuais, o governo federal não tem espaço orçamentário para
melhorar tal desempenho – a menos que paralise de vez os investimentos
públicos.
Dilma fala hoje aos
participantes do Fórum Econômico Mundial – às 11h15 pelo horário de Brasília em
sessão aberta e novamente às 14h30 em encontro fechado com empresários – também
precedida de previsões sombrias sobre o desempenho presente e futuro da nossa
economia. Nos últimos dias, Banco Mundial e FMI fizeram prognósticos negativos
para o país neste e no próximo ano.
No panorama traçado
pelo FMI, estamos, literalmente, na contramão do mundo. Enquanto o órgão reviu
para cima as previsões para o crescimento global, as estimativas para o Brasil
foram revisadas para baixo: de 2,5% para 2,3% neste ano e de 3,2% para 2,8% em
2015. Foi nosso segundo rebaixamento consecutivo. Enquanto isso, o conjunto dos
emergentes crescerá 5,1% em 2014 e 5,4% em 2015.
Quando Dilma estiver
falando à plateia de líderes globais, muitos ali provavelmente também estarão
pensando no que acontece em nossa vizinhança e se perguntando em que medida o
Brasil também está metido em dificuldades como as que atravessam países como a
Argentina, às voltas com desvalorização expressiva de sua moeda e uma inflação
galopante.
A realidade é que,
na gestão petista, fomos, cada vez mais, nos aproximando do que há de pior no
mundo, ao invés de nos diferenciarmos. Um dos resultados é que, nos últimos 12
meses, a bolsa brasileira é a que mais se desvalorizou em todo o planeta, com
queda de 32%, como mostra hoje o Valor.
Quando se compara o período desde a crise de 2008, só não perde para a Grécia,
mas aí já é covardia...
A prevalecer o
histórico de más realizações, promessas não cumpridas e previsões furadas, a
máquina de propaganda petista e o palavrório da presidente não serão
suficientes para melhorar as expectativas globais em relação ao país, muito
menos para reverter a onda de desconfiança. A – possivelmente – única passagem de
Dilma Rousseff por Davos vai acabar se convertendo em pouco mais que um rolezinho
na montanha mágica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário