Ontem, o Ministério
do Trabalho informou que o país teve, no ano passado, a menor nível de geração
de empregos dos últimos dez anos. Foram criadas 1,117 milhão de novas vagas,
com baixa de 14% na comparação com 2012. O número ainda é robusto, mas veio bem
abaixo da previsão oficial para o ano (1,4 milhão) e é bem mais fraco do que era
pouco tempo atrás.
No ano passado, o
país gerou menos empregos, por exemplo, do que em 2009, ano de crise econômica
aguda aqui – naquele exercício, o PIB brasileiro retraiu-se 0,9% – e em todo o
mundo. Naquela época, foram criados 1,296 milhão de postos de trabalho, o que
representa 16% a mais do que em 2013, ano de condições bem mais amenas.
Na comparação com o
superaquecido 2010, ano de recorde na geração de vagas, o recuo do mercado de
trabalho foi bem mais dramático. A geração de empregos caiu, no ano
passado, a menos da metade do nível de apenas três anos antes, quando haviam
sido criadas 2,5 milhões de vagas, de acordo com a série histórica ajustada do Caged.
“Esse comportamento
pode ser entendido como sendo o de uma capacidade cada vez menor do setor real
da economia em gerar empregos, reflexo direto da baixa atividade econômica que
o país tem apresentado nos últimos anos”, analisa O Estado de S.Paulo em sua edição de hoje.
Os dados do Caged
vêm se somar aos da nova Pnad Contínua, divulgada na sexta-feira passada pelo
IBGE com estatísticas bem mais abrangentes do que as anteriores sobre o mercado
de trabalho brasileiro. Agora, ao invés de medir o desemprego em apenas seis
regiões metropolitanas, é acompanhado o comportamento em 3,5 mil municípios.
O IBGE mostrou que a
taxa de desemprego no país é mais alta do que a revelada até então pela Pesquisa
Mensal de Empregos (PME). Com um retrato muito mais panorâmico, que alcança o
interior do país e abarca todas as regiões brasileiras, o índice de desocupação
alcançou 7,4% no segundo trimestre do ano passado – pela PME eram 5,9%.
Quando os resultados
são desagregados, surgem revelações bem mais preocupantes. No Nordeste, como já
vem mostrando a PME, o desemprego é bem mais alto, alcançando 10%. Entre
jovens, a desocupação chega a 15,4% na média nacional e a 19,8% entre os
nordestinos – no mundo como um todo, a média nesta faixa etária é de 13%,
segundo a OIT.
A Pnad Contínua
permite inferir que existem hoje 29,8 milhões de pessoas em idade ativa – ou seja,
de 18 a 60 anos – que estão fora da força de trabalho, isto é, nem trabalham
nem procuram uma ocupação. Pela PME, este contingente somava 7,3 milhões de
pessoas apenas. Quando se consideram os brasileiros em idade de trabalhar – com
mais de 14 anos – são 61 milhões de pessoas nesta condição, mostrou Gustavo
Patu na Folha de S.Paulo.
Com alguma polêmica,
o governo alardeou durante os últimos anos que o Brasil vive uma era de pleno
emprego. Nem sempre houve concordância de especialistas em relação a isso. Até porque
a informalidade ainda é muito alta, o número de pessoas fora do mercado é
elevadíssimo e as condições de empregabilidade ao redor do país são muito
díspares, como deixa clara a nova pesquisa do IBGE.
O Brasil ainda tem
uma taxa de desemprego que pode ser considerada baixa pelos nossos padrões históricos,
mas que está longe de ser uma das menores do mundo como apregoa o marketing
oficial – considerando-se os 7,4% da Pnad Contínua, pelo menos umas três dezenas
de países estão melhores que nós.
Melhor do que
insistir em falar em pleno emprego, o governo petista fará se agir para que as condições
gerais da economia melhorem, os investimentos voltem a acontecer e as
oportunidades de trabalho tornem a surgir. Não há mercado de trabalho que
resista a crises de confiança como a que hoje acomete o país – e as novas estatísticas
de desemprego são apenas mais uma manifestação deste quadro.
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