A presidente Dilma Rousseff
deu início ontem à única reforma que é capaz de fazer: a dança de cadeiras ministeriais
para turbinar suas chances de reeleição. O pontapé inaugural ressalta a falta
de critérios de mérito para o preenchimento das vagas. Aloizio Mercadante foi
escalado para ser todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil sem que tivesse
mostrado a que veio na pasta da Educação. É o padrão vigente na Esplanada.
Segundo publicam os
jornais hoje, Mercadante será uma espécie de “superministro”,
respondendo na Casa Civil por uma miríade de atribuições que há tempos não se
via por lá. Vai monitorar as ações do Executivo, o andamento dos programas de
governo e também cuidar da articulação política com a base aliada no Congresso.
Por pouco, não assumiria também a cadeira da presidente, como ele sonha...
Como eleição é item
central na reforma que Dilma dedica-se a fazer, Mercadante também deve fazer as
pontes do governo com a campanha petista, tanto a presidencial quanto as
estaduais. Para não deixar dúvidas sobre os reais objetivos da primeira mexida –
e de todas as demais que virão – no ministério realizada pela presidente neste
ano, tudo está sendo feito sob a tutela do ex-presidente Lula, novamente
onipresente em Brasília.
A questão que salta
é: que realizações Mercadante exibiu no Ministério da Educação para
credenciá-lo a gerente-mor do último ano do governo petista? Aqui, de novo
repete-se o padrão reinante na gestão da presidente Dilma: quase nenhuma. A
ausência de feitos, porém, não significa empecilho algum para ser um notável no
governo atual.
Para começar, o ainda
ministro da Educação dedicou-se muito pouco à aprovação do Plano Nacional de
Educação (PNE), votado no fim do ano passado no Congresso depois de três anos
de tramitação. No pouco que atuou, o fez para desidratar algumas metas e para alongar
prazos para o cumprimento do plano, como é o caso do objetivo que destina
percentual maior do PIB para a educação.
Mercadante também
foi o responsável por anunciar que a taxa de analfabetismo voltou a subir no
país, conforme revelado pela PNAD no ano passado. Ainda na gestão dele, o
Brasil continuou a figurar entre os piores colocados no Pisa, ranking de
educação elaborado pela OCDE: estamos em 58° lugar numa lista formada por 65 países,
atrás de nações como Cazaquistão, Vietnã, Malásia e Costa Rica.
Sob Mercadante, o
Brasil também continuou a exibir a menor média de anos de estudo em todo o
continente sul-americano (7,2 anos) e a ter quase metade da população sem
concluir o ensino fundamental. Num governo mais sério, não deveriam ser
credenciais suficientes para alguém tornar-se um “superministro”, mas já que estamos
tratando do padrão Dilma...
O futuro ministro da
Casa Civil considera que sua atuação na criação de creches foi digna de nota. Longe
disso. A despeito de sequer chegar a um entendimento sobre quantas unidades
prometeram ao país, Dilma e seu ministro da Educação só haviam entregado, até
outubro do ano passado, perto de 1,2 mil creches de um total de 8.685
prometidas, como mostrou O Globo à época.
Mas o novo todo-poderoso
ministro de Dilma tem atributos ímpares para exibir e que podem ser valiosos
numa campanha eleitoral como a que se aproxima. Nunca se deve esquecer que
foram assessores de Aloizio Mercadante que se envolveram na aloprada tentativa
de incriminar tucanos com dossiês forjados em 2006, que terminou fracassada com
a apreensão, pela Polícia Federal, de R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo. Trata-se
de expertise preciosa dentro do modo petista de fazer política.
O ministro também
foi um dos artífices da malsinada proposta de convocação de uma assembleia
constituinte exclusiva para fazer a reforma política, apresentada pela
presidente como “resposta” aos protestos de junho do ano passado. Pelo que se
percebe, currículo é o que não falta para o novo ocupante do cargo que já
abrigou gente como José Dirceu, Erenice Guerra e a própria Dilma. Um celeiro de
talentos como estes merece ter Aloizio Mercadante.
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