Dilma Rousseff criou
enorme expectativa em torno do discurso que faria em Davos na última
sexta-feira. Mas frustrou quem esperava que ela fizesse o que realmente importa
para o Brasil e para os brasileiros: emitir sinais críveis e inequívocos que
permitam iniciar a recuperação da confiança – lá fora e aqui – no futuro do
país.
A presidente da República
falhou no exercício do papel que, diante das principais lideranças econômicas
mundiais, dela se esperava e desperdiçou uma das últimas oportunidades que
tinha para reverter a onda de descrédito e de baixa credibilidade que acompanha
as medidas tomadas pela sua gestão. Foi decepcionante.
Dilma reiterou
compromissos que sua prática de governo simplesmente não confirma. Para quem
acompanha amiúde os passos da presidente e de seus principais auxiliares, sua
fala na Suíça soou falsa. Quem há de hipotecar novo voto de confiança a diagnósticos
e discursos que não admitem equívocos flagrantes e prometem o que não entregam?
A carta de intenções
que Dilma leu em Davos não difere muito do que ela dissera
em setembro, em Nova York, durante seminário organizado pelo banco Goldman
Sachs. E o que mudou de lá para cá? Quase nada. “Prometer é uma coisa. Entregar
é outra”, sintetizou um analista do mercado financeiro ouvido pelo Valor Econômico.
O momento exigia de Dilma
um passo ousado, um discurso em que fizesse leitura fidedigna da situação do
país, em que se comprometesse com mudanças necessárias e sinalizasse a correção
de rumos indevidamente trilhados pela sua mal sucedida política econômica. Mas ela
enveredou pela ficção. Quem chegasse da lua a Davos e ouvisse a presidente brasileira
imaginaria que ela falava de algum paraíso na Terra.
Ao dizer que seu
governo “busca o centro da meta de inflação” e tem “as contas públicas sob
controle”, Dilma parecia estar discorrendo sobre outro país, não o Brasil,
infelizmente. Afinal, nos últimos anos o custo de vida tem sempre rodado perto
do teto da meta e, em muitos casos, muito acima dela – a cesta básica subiu
mais de 10% na maior parte das capitais em 2012.
Aqui também, as
despesas públicas crescem em ritmo muito mais acelerado do que as receitas do
governo, mas quase nada é empregado em investimento público. Neste mesmo país,
as contas externas estão em acentuado ritmo de piora, como mostrou o Banco
Central na sexta-feira: nosso rombo nas transações com o exterior cresceu 50% e
se aproximou de 3,7% do PIB, no pior resultado em 12 anos.
Um dos trechos que
suscitou mais indignação nos brasileiros foi aquele em que ela disse que o
Brasil está pronto para fazer “a Copa das Copas” – mais um ufanismo boboca que,
de tão distante da realidade, irrita até o mais comum dos mortais. Basta dizer
que uma de cada quatro obras previstas simplesmente não vai ficar pronta a
tempo do Mundial, conforme o G1.
Também não dá para
levar a sério quando a presidente da República fala em “qualidade
institucional” quando é flagrante a ocupação fisiológica da máquina pública e o
desmonte dos órgãos regulatórios. Menos ainda quando afiança que seu governo
preza o “respeito a contratos”, tendo presente as intervenções truculentas no
setor de energia e a manipulação dos preços dos combustíveis observadas nos
últimos anos.
Uma das únicas
coisas realmente corretas que a presidente disse é que “nosso sucesso nos
próximos anos estará associado à parceria com os investidores do Brasil e de
todo o mundo”. Pena que ela esteja fazendo muito pouco em prol deste êxito. Na
verdade, sua prática de governo foi sempre na direção contrária a isso – mesmo com
as correções pontuais executadas mais recentemente – numa relação permanentemente
tensa com o setor privado.
No fim das contas,
Dilma Rousseff fez um discurso para suíço ver, com compromissos pouco críveis
com a austeridade e a preservação da solidez do país. Foi pouco mais que um rolezinho
aos pés da montanha mágica que inspirou Thomas Mann – ao qual a nossa exausta presidente
engatou um rolezão em Lisboa em hotel com diária de R$ 26 mil e 30 quartos
ocupados por sua comitiva... Tempo e dinheiro do contribuinte desperdiçados.
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