EUA e União Europeia
(UE) planejam acertar os ponteiros até 2015. É tarefa difícil para prazo tão
exíguo em se tratando de negociações comerciais, que costumam se arrastar por décadas.
Mas, se bem sucedida, envolverá mercado equivalente à metade da produção e a um
terço do fluxo de comércio no mundo. Tem poder suficiente, portanto, para reconcentrar
a dinâmica da economia global nos seus dois polos mais tradicionais.
Já em retrocesso nos
últimos dez anos, o comércio exterior do Brasil tem ainda mais a perder com o
novo acordo. Na era petista, a diplomacia brasileira apostou nas famigeradas
relações sul-sul, o que significou a opção pelo terceiro-mundismo mais
rastaquera. Os grandes centros econômicos foram desdenhados, novos acordos
comerciais só contemplaram mercados irrelevantes e o país juntou-se aos
bolivarianos do Mercosul num abraço de afogados.
Desde o fracasso da
Alca, que buscava formar uma área de livre comércio do Alasca à Terra do Fogo,
a área de comércio exterior brasileira está estagnada. A diplomacia petista só fechou
três acordos bilaterais em dez anos: com Israel, Palestina e Egito. Tudo o mais
parou nas regras adotadas pelo Mercosul: acordos só com a concordância unânime,
algo impossível num bloco que tem a Argentina e agora está acolhendo a
Venezuela como sócia.
O que move a nossa
diplomacia hoje é a ideologia e não o desejo de produzir mais comércio e
prosperidade. Vigora por aqui a crença de que só mais proteção gera crescimento
e de que acordos com países desenvolvidos criam dependência, como analisa Diego
Bonomo, diretor do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos, em artigo n’O
Estado de S.Paulo.
O Mercosul tornou-se
o espaço privilegiado desta opção equivocada. Dali nada sai, exceto atrasos e diatribes,
quando não golpes, como o imposto ao Paraguai no ano passado. Há mais de uma
década, o bloco negocia um acordo com a UE, sem sucesso. Não espanta que tanto
Brasil quanto a América do Sul em geral sejam hoje tratados como irrelevâncias pela
política externa de governos como os de Barack Obama.
Estados Unidos e
União Europeia já são mercados relativamente abertos. A alíquota de importação
média está em 3,5% nos EUA e 5,2% na UE, de acordo com o Estadão.
Mesmo assim, apostam em mais liberalização para reativar os motores de suas
economias e, desta maneira, também reagir à ofensiva global chinesa.
O Brasil, ao
contrário, é um país relativamente fechado. Nossas tarifas médias são de 12% e,
vira e mexe, uma nova fornada de protecionismo é servida por Brasília – como no
ano passado, quando 100 produtos tiveram suas alíquotas de importação elevadas ao
teto permitido pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
O maior risco é o
Brasil ficar muito para trás na nova conformação do comércio global. Além do
acordo com a UE, os Estados Unidos também têm entabuladas negociações
bilaterais com vários outros países, incluindo Coreia, Chile, Colômbia, Peru, México
e boa parte da América Central e do Caribe. O que nos restará?
Se todas estas
negociações de fato avançarem, o comércio exterior brasileiro ficará confinado a
economias periféricas, com dificuldade para entrar nos maiores mercados e em
condições de competição desvantajosas em relação a seus concorrentes mais
diretos – principalmente a China, que desviará ainda mais para cá produtos
antes direcionados para EUA e UE. Não parecem grandes as nossas chances de sucesso.
Ficaremos a ver navios – transatlânticos.
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