Nesta semana, a
gestão Dilma Rousseff anunciou que está revendo as condições em que ofertará
7,5 mil quilômetros de rodovias federais. O mesmo deverá acontecer com o pacote
de concessões de 10 mil quilômetros de ferrovias e também com o dos portos,
como mostra hoje O
Globo. É como numa famosa música de Caetano Veloso:
Aqui tudo parece que ainda está em construção e já é ruína. Com o PT, está tudo
fora da ordem.
Os petistas passaram
anos negando o inegável e postergando o impostergável. Nos palanques, demonizaram
as privatizações e só tardiamente aderiram a elas, depois de constatar que o
Estado que tanto veneram é incapaz de acompanhar as premências de um país que
precisa crescer.
Mas, mesmo depois de
uma década no comando do país, miraram o caminho certo e pegaram a estrada
errada. Mais uma vez, estão tendo que refazer o que mal fizeram. O governo do
PT vive em ziguezagues, cambaleando num eterno ir e vir. Como é possível
demorar tanto para decidir e, logo em seguida, voltar atrás?
Os aprendizes de
feiticeiro da gestão Dilma tiveram agora que dobrar-se à constatação de que, da
forma como fora anteriormente oferecido, em agosto passado, o pacote de
concessões não pararia de pé. Muito menos atrairia o interesse dos
empreendedores privados. Naquelas condições, quem se exporia a assumir
investimentos que beiram R$ 130 bilhões ao longo de 25 anos?
Mesmo sabendo que a melhoria
da nossa infraestrutura é crucial para que o país não trave de vez, o governo petista
só voltou atrás depois que os primeiros leilões baseados no seu modelo de Professor
Pardal deram com burros n’água. Na semana passada, fracassou a tentativa de conceder
trechos da BR-040 e da BR-116 à iniciativa privada. Ninguém se interessou em
correr o risco.
Anteontem, o ministro
Guido Mantega foi obrigado a anunciar que as condições serão modificadas, tornando-se
mais amigáveis aos investidores. Sobe o período de financiamento para os
projetos, diminuem os juros cobrados nos empréstimos e aumenta o prazo de
concessão dos ativos. A mudança mais relevante, porém, foi a da taxa de retorno
dos investimentos, chamada de TIR no jargão do mercado.
Nas condições originais,
ela seria de 6% a 7% ao ano, e agora passará a algo como entre 10,8% a 14,6%,
segundo a Folha
de S.Paulo. Constata-se que o governo Dilma topou bancar uma taxa de pai
para filho. O PT mostra que não apenas privatiza, como o faz como nem o
privatista mais renhido jamais ousou fazer.
A TIR agora admitida
aproxima-se das que vigoraram nas primeiras concessões rodoviárias federais, realizadas
em fins da década de 1990. Ocorre que as condições gerais de mercado de então eram
completamente diferentes das de hoje: o crédito era muito mais escasso, os
juros básicos muito maiores e o risco de mercado mais alto. Naquela situação, justificava-se
uma taxa maior.
Hoje, não só há
crédito abundante em todo o mundo, como os juros estão em níveis historicamente
baixos também em todo o mundo. Com isso, a disposição do investidor para assumir
riscos e buscar ganhos mais altos naturalmente cresce. Ou seja, as taxas de retorno
também têm como ser, naturalmente, bem mais baixas do que no passado.
Na realidade, a gestão
petista está tendo que pagar o preço da desconfiança dos investidores em relação a suas práticas atrapalhadas e
intervencionistas. Quem se aventura a pôr dinheiro num país em que o governo é capaz
de destruir sua maior empresa, a Petrobras, e implodir a solidez de um setor
inteiro, como fez com as empresas concessionárias de energia elétrica? Quem ousa
acreditar em governantes que, a cada seis meses, contradizem tudo o que fizeram
nos últimos seis meses? Quem topa correr o risco Dilma?
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