Prévia divulgada na
terça pela Polícia Rodoviária Federal apontou que, nos três primeiros dias do Carnaval,
o número de mortes nas estradas federais no país havia caído 25,4% e o de
feridos, 15,7% em relação a 2012. Os dados finais sobre a malha federal serão
divulgados hoje à tarde pelo Ministério da Justiça.
Ainda ontem, o governo
de São Paulo foi o primeiro a divulgar seus resultados definitivos: o número de
mortes registradas nas rodovias paulistas no feriado caiu 13% e o de feridos, 57%.
Em termos absolutos, foram quatro mortes e 632 feridos a menos, feito
considerado “histórico”
pela Polícia Militar do estado.
Em Brasília, o
balanço parcial também foi animador. Neste Carnaval, mortes e acidentes fatais podem
ter caído à metade em comparação com 2012. A se confirmar, terá sido o
resultado mais positivo em uma década, segundo o Correio Braziliense. Infelizmente, o Rio Grande do Sul foi nota
dissonante: o estado teve o mais violento Carnaval dos últimos dez anos, com 33
mortes até ontem, conforme O Globo.
A maior segurança
nas vias urbanas e estradas é consequência direta do maior rigor e da menor
tolerância em relação à mistura explosiva de álcool e direção. A nova versão da
lei seca foi aprovada pelos congressistas no fim do ano passado e não deixou
brecha para que a negligência no trânsito perdure.
Pela nova regra, os níveis
de álcool tolerados tornaram-se significativamente menores, as multas muito mais
salgadas e os meios para comprovar a infração à lei mais abrangentes. Válida desde
o fim de dezembro passado, ela já havia mostrado bons resultados na virada do
ano, mas o teste definitivo veio agora, no Carnaval. A lei passou no bafômetro.
A lei mais rígida
era fator necessário, mas ainda insuficiente para o êxito no enfrentamento do
problema de motoristas irresponsáveis que dirigem embriagados, com o qual o país
conviveu por décadas, numa leniência que ainda grassa em muitos outros aspectos
da vida na sociedade brasileira.
Aprovada a lei, faltava
as autoridades policiais se lançarem com vigor na fiscalização, como foi o caso
neste Carnaval. Mostrou-se uma combinação tão eficiente, quanto bem-vinda: leis
adequadas para a gravidade do problema e fiscalização severa do seu cumprimento,
com benefícios diretos para a população.
O sucesso da lei
seca ilustra o quanto a sociedade brasileira clama pelo poder ordenador de legislações
capazes de produzir paz social. É em situações como esta que o Estado é
absolutamente necessário – e não em tantas outras nas quais ele é usado como
panaceia, mas se mostra um estorvo.
Toda a discussão
sobre o conteúdo da lei desenrolou-se no Congresso, que reagiu no diapasão certo
ao que exigia a sociedade. Assim como a lei seca, há milhares de propostas bem
intencionadas vagando pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Mas fazerem-nas
se tornar leis é desafio hercúleo diante do gigantismo do Poder Executivo, que raramente
deixa o Legislativo exercer as funções e as atribuições constitucionais que lhe
compete.
A lei seca é um
exemplo de como, quando as instituições cumprem seu papel, o país consegue galgar
degraus e patrocinar mudanças que nos aproximam de nações em que padrão
civilizatório há muito não deixa brechas para jeitinhos ou para uma dose de bebida
a mais.
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