A confusão da vez
deve-se à declaração dada por Mantega na última sexta-feira em Moscou. Presente
lá para uma reunião do G-20, ele informou
que os juros serão a arma que o governo brasileiro irá usar para debelar a
inflação – que nos próximos meses certamente ultrapassará o teto da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional.
Foi a senha para que
os agentes de mercado passassem a apostar numa alta expressiva dos juros ainda
neste ano – há quem preveja que a taxa básica possa chegar a 9% ao ano em
dezembro, num aumento de quase dois pontos percentuais em relação ao nível
atual.
Trata-se de sinal
absolutamente contraditório em relação ao que vinha sustentando o Banco Central
em suas manifestações oficiais. Em suas últimas atas, o Copom vinha manifestando a intenção
de manter a Selic no nível atual (7,25% ao ano) por um “período suficientemente
prolongado” de tempo, como “estratégia mais adequada para garantir a convergência
da inflação para a meta”.
Exatamente uma
semana atrás, o ministro da Fazenda manchetara os jornais brasileiros em pleno
sábado de Carnaval por ter afirmado que o governo poderia permitir um piso mais
baixo para a cotação do dólar (R$ 1,85) como forma de baratear importações e ajudar
a combater a inflação. Não se conhece as armas que a gestão petista pretende usar,
mas uma certeza há: eles não sabem o que fazem.
Ainda que as
manifestações de Mantega valham tanto quanto uma nota de três reais, constata-se
que: 1) o governo Dilma está mais assustado do que gostaria de transparecer com
o descontrole inflacionário; 2) as perspectivas da economia são mais sombrias
do que vem sendo dito; e 3) o arsenal de pirotecnias não foi suficiente para dar
conta dos problemas de condução da política monetária, mais especialmente em
relação à escalada dos preços.
A consequência imediata
da má condução dos assuntos da economia pelos petistas é a perda de credibilidade da política econômica brasileira. Ato contínuo, arrefece também o
ânimo dos empreendedores privados em acreditar no Brasil. Consequentemente, sem
investimentos o país tende a manter-se estagnado como esteve nestes dois
últimos anos – as previsões para 2013 e 2014 voltaram a cair, de acordo com o Boletim
Focus desta segunda-feira.
“As novas
declarações do ministro Mantega passam a impressão de que o governo brasileiro
não sabe o que quer”, comentou Celso Ming n’O
Estado de S.Paulo de sábado. “Não há mais espaço para voluntarismo na
política econômica”, cobra a Folha
de S.Paulo em editorial em sua edição de hoje.
Por seu otimismo delirante
e muitas vezes irresponsável, Guido Mantega já virou motivo de piada em salões
internacionais. A imprensa estrangeira especializada já lhe taxou a pecha de
rei do “jeitinho”, em alusão às manobras contábeis de que o governo petista
passou a lançar mão para fechar as contas públicas. O Financial
Times já disse que os condutores da política econômica brasileira “não
têm ideia do estão fazendo” em relação ao câmbio.
As declarações erráticas
do ministro da Fazenda são apenas a manifestação mais evidente de um governo
desnorteado. Há um problema sério à vista, o da inflação, sem que se saiba como
debelá-lo. Há um desafio crônico, a falta de crescimento, sem que se faça ideia
de como agir para reativá-lo. O que a presidente da República tem a dizer a
respeito?
No clássico livro de
Gabriel Garcia Márquez, o general enredado em seu labirinto espera a morte chegar.
Nos seus dias finais, delira e mistura o que é sonho e o que foi realidade. Na ficção,
é um assunto para uma bela história. Mas, na vida real, não é aceitável ter um
ministro da Fazenda que não saiba como tirar o país da encalacrada em que ele o
enfiou.
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